Comportamento de outsider retira força política de Carlos Amastha e Kátia Abreu
20 janeiro 2018 às 10h37

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Prefeito e senadora menosprezam os políticos ditos tradicionais e apreciam políticos sem expressão, os aduladores de praxe. Mas disputa pra cargo majoritário exije aliança ampla

O prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PSB), e a senadora Kátia Abreu (sem partido), são políticos, mas eventualmente posam de não-políticos — comportando-se como se fossem outsiders. O que são de fato? São políticos e articulam como políticos — mais Kátia Abreu e menos Carlos Amastha. Os dois têm um sonho: querem governar o Tocantins.
Carlos Amastha às vezes sugere que vai ficar na Prefeitura de Palmas até 2020, quando termina seu mandato. Tudo indica que nem o próprio prefeito acredita nisto. Outras vezes, em conversas não mais reservadas, afiança que pode ser candidato a senador, compondo não se sabe com quem (ele teria o sonho de ser embaixador do Brasil noutro país — inclusive na sua Colômbia natal). Porque, como suposto outsider, avalia que pode compor com quem quiser, porque não absorverá, em tese, o desgaste de nenhum aliado. Porque tem um perfil definido. No fundo, porém, quer disputar o governo do Estado.

A principal dificuldade de Carlos Amastha (PR) é que não tem um grupo político sólido. Ao seu lado figuram, quase sempre, apaniguados, áulicos, aduladores. Não há ninguém de sua estatura ao seu lado. Seu principal desafio, se quiser ser candidato a governador ou mesmo a senador, é a montagem de uma frente política — a mais ampla possível. Não dá para ser eleito governador sem a construção de uma base de apoio nos municípios. É preciso ter candidatos a deputado estadual e federal qualificados, porque são eles que frequentarão todas as cidades pedindo votos e fortalecendo o nome do postulante ao cargo executivo. Como passa a impressão de que menospreza os políticos ditos tradicionais — no fundo, todos os políticos são tradicionais, uns menos e outros mais —, o prefeito não consegue formatar alianças confiáveis e duradouras. Suas alianças atuais têm a ver mais com cargos na prefeitura. São alianças apropriadas para a governabilidade, mas não necessariamente para disputas eleitorais.
Não se está sublinhando que Carlos Amastha tem de mudar integralmente, porque, se fizer isto, descaracteriza-se — e ele é um político vitorioso, ainda que apenas em nível municipal. O que se está dizendo é que, se não agregar valor — ampliando sua frente política, que é meramente municipal —, dificilmente terá condições de ser candidato vitorioso a governador ou a senador. Carlos precisa ser mais tocantinense — vivenciar mais o Estado — e menos “amasthalista” ou “palmense”.
Kátia Abreu é uma senadora vigorosa. Mas, como Carlos Amastha, não agrega, não participa de um grupo sólido. Seu grupo político são os dois filhos, um deputado federal (Irajá Abreu) e um ex-vereador (Iratã Abreu). Uma familiocracia — o que indica falta de modernidade e sugere que, para além do discurso, não difere dos políticos ditos tradicionais. A senadora, que foi expulsa do PMDB — sob acusação de infidelidade partidária —, já foi aliada de vários líderes políticos do Tocantins, como Siqueira Campos (DEM) e Marcelo Miranda (MDB), e adversária de quase todos. Ela se elege graças à aliança, mas, uma vez eleita, costuma abandoná-la, buscando novos aliados, sempre com o objetivo de fortalecer seus interesses políticos pessoais. A senadora joga para si e só muito raramente para o grupo político e, mesmo, para o Estado “adotivo”, o Tocantins. Não é à toa que alguns políticos a chamem de “Amastha de saia”.
Há alguns anos, Kátia Abreu era ardorosa defensora de Siqueira Campos. Mas, com a queda do siqueirismo, bandeou-se para o lado do governador Marcelo Miranda. Elegeu-se senadora como integrante de uma frente política liderada pelo emedebista. Logo depois, com a garantia de um mandato de oito anos, mudou de lado, comportando-se como se tivesse sido eleita unicamente pelos próprios méritos.
Resulta que os principais políticos do Tocantins não confiam no “katismo” — quer dizer, na política do tudo para “a” Kátia Abreu e nada ou quase nada para os aliados. Ela parece perceber os demais políticos, de maior ou de menor estatura, apenas como escadas para seus projetos. Depreende-se que não quer e não precisa de aliados — e sim de súditos. Até quando?
A aposta na política do outsider — do político que passa a impressão de que não tem compromisso com nada da política vigente — é ilusória. Um dia, mesmo aquele se julga um vencedor nato, como são os casos de Carlos Amastha e Kátia Abreu, pode sofrer uma derrota fragorosa. O prefeito e a senadora têm tempo para mudar? É possível que sim. Mas não será fácil convencer os possíveis aliados de que poderão confiar nos seus projetos e promessas. O caso de Kátia Abreu talvez seja um pouco pior, porque está há mais tempo na política e precisou de vários políticos, nas suas várias disputas, e depois deixou-os na chapada. Carlos Amastha disputou apenas duas eleições, ambas para prefeito de Palmas, portanto tem menos desgaste. Mas, ao se comportar como outsider — como se não precisasse de aliados altivos, e sim de áulicos, de meros seguidores —, pode não ter cabos, sargentos e generais eleitorais na disputa de 2018.
Carlos Amastha e Kátia Abreu deveriam ler, com certa urgência, o livro “Tancredo Neves — O Príncipe Civil” (Objetiva, 648 páginas), de Plínio Fraga. A versão impressa custa R$ 74,80. A versão digital vale R$ 39,90. Como gostam de viajar de avião, o prefeito e a senadora deveriam adquirir a biografia e lê-la em viagens. Aprenderiam que política, ao menos de termos de executivo — notadamente, na disputas para presidente da República e governador de Estado —, se faz com todos, e não apenas com alguns. Se faz, insista-se, com todos, e não necessariamente com os melhores. Não querem aliança com Newton Cardoso? Pois Tancredo Neves queria e até elogiava o político, que, sim, é dado à política fisiológica.