Prefeito e senadora menosprezam os políticos ditos tradicionais e apreciam políticos sem expressão, os aduladores de praxe. Mas disputa pra cargo majoritário exije aliança ampla

Carlos Amastha, prefeito de Palmas, comporta-se como se não precisasse da maioria dos políticos, mas não é assim que funciona a realpolitik

O prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PSB), e a senadora Kátia Abreu (sem partido), são políticos, mas eventualmente posam de não-políticos — com­portando-se como se fossem outsiders. O que são de fato? São políticos e articulam como políticos — mais Kátia Abreu e menos Car­los Amastha. Os dois têm um sonho: querem governar o Tocantins.

Carlos Amastha às vezes sugere que vai ficar na Prefeitura de Pal­mas até 2020, quando termina seu man­dato. Tudo indica que nem o pró­prio prefeito acredita nisto. Ou­tras vezes, em conversas não mais reservadas, afiança que pode ser candidato a senador, compondo não se sabe com quem (ele teria o sonho de ser embaixador do Bra­sil noutro país — inclusive na sua Colômbia natal). Porque, co­mo suposto outsider, avalia que po­de compor com quem quiser, porque não absorverá, em tese, o desgaste de nenhum aliado. Porque tem um perfil definido. No fundo, porém, quer disputar o governo do Estado.

A senadora Kátia Abreu já se aliou com quase todo mundo para se eleger, mas depois abandona os aliados, comportando-se como outsider

A principal dificuldade de Carlos Amastha (PR) é que não tem um gru­po político sólido. Ao seu lado figuram, quase sempre, apaniguados, áulicos, aduladores. Não há nin­guém de sua estatura ao seu lado. Seu principal desafio, se quiser ser candidato a governador ou mes­mo a senador, é a montagem de uma frente política — a mais am­pla possível. Não dá para ser elei­to governador sem a construção de uma base de apoio nos mu­nicípios. É preciso ter candidatos a de­putado estadual e federal qualificados, porque são eles que frequentarão todas as cidades pedindo votos e fortalecendo o nome do postulante ao cargo executivo. Co­mo passa a impressão de que menospreza os políticos ditos tradicionais — no fundo, todos os políticos são tradicionais, uns menos e outros mais —, o prefeito não consegue formatar alianças confiáveis e duradouras. Suas alianças atuais têm a ver mais com cargos na prefeitura. São alianças apropriadas para a governabilidade, mas não necessariamente para disputas eleitorais.

Não se está sublinhando que Carlos Amastha tem de mudar integralmente, porque, se fizer isto, descaracteriza-se — e ele é um político vitorioso, ainda que apenas em nível municipal. O que se está dizendo é que, se não agregar valor — ampliando sua frente política, que é meramente municipal —, dificilmente terá condições de ser candidato vitorioso a governador ou a senador. Carlos precisa ser mais tocantinense — vivenciar mais o Estado — e menos “amasthalista” ou “palmense”.

Kátia Abreu é uma senadora vigorosa. Mas, como Carlos Amas­tha, não agrega, não participa de um grupo sólido. Seu grupo político são os dois filhos, um deputado fe­deral (Irajá Abreu) e um ex-ve­re­a­dor (Iratã Abreu). Uma familiocracia — o que indica falta de modernidade e sugere que, para além do discurso, não difere dos políticos ditos tradicionais. A senadora, que foi expulsa do PMDB — sob acusação de infidelidade partidária —, já foi aliada de vários líderes políticos do Tocantins, como Siqueira Campos (DEM) e Marcelo Miranda (MDB), e adversária de quase todos. Ela se elege graças à aliança, mas, uma vez eleita, costuma abandoná-la, buscando novos aliados, sem­pre com o objetivo de fortalecer seus interesses políticos pesso­ais. A senadora joga para si e só mui­to raramente para o grupo político e, mesmo, para o Estado “adotivo”, o Tocantins. Não é à toa que alguns políticos a chamem de “Amastha de saia”.

Há alguns anos, Kátia Abreu era ardorosa defensora de Siqueira Campos. Mas, com a queda do si­quei­rismo, bandeou-se para o lado do governador Marcelo Miranda. Elegeu-se senadora como in­tegrante de uma frente política li­de­rada pelo emedebista. Logo depois, com a garantia de um mandato de oito anos, mudou de lado, comportando-se como se tivesse sido eleita unicamente pelos próprios méritos.

Resulta que os principais políticos do Tocantins não con­fiam no “katismo” — quer dizer, na política do tudo para “a” Kátia Abreu e nada ou quase nada pa­ra os aliados. Ela parece perceber os demais políticos, de mai­­or ou de menor estatura, apenas como escadas para seus projetos. Depreende-se que não quer e não precisa de aliados — e sim de súditos. Até quando?

A aposta na política do outsider — do político que passa a impressão de que não tem compromisso com nada da política vigente — é ilusória. Um dia, mesmo aquele se julga um vencedor nato, como são os casos de Carlos Amastha e Kátia Abreu, pode sofrer uma derrota fragorosa. O prefeito e a senadora têm tempo para mudar? É possível que sim. Mas não será fá­cil convencer os possíveis aliados de que poderão confiar nos seus pro­jetos e promessas. O caso de Ká­tia Abreu talvez seja um pouco pior, porque está há mais tempo na política e precisou de vários po­lí­ticos, nas suas várias disputas, e depois deixou-os na chapada. Car­los Amastha disputou apenas duas eleições, ambas para prefeito de Pal­mas, portanto tem menos desgaste. Mas, ao se comportar como out­sider — como se não precisasse de aliados altivos, e sim de áulicos, de meros seguidores —, pode não ter cabos, sargentos e generais elei­torais na disputa de 2018.

Carlos Amastha e Kátia Abreu deveriam ler, com certa urgência, o livro “Tancredo Neves — O Prín­cipe Civil” (Objetiva, 648 páginas), de Plínio Fraga. A versão impressa custa R$ 74,80. A versão digital vale R$ 39,90. Co­mo gostam de viajar de avião, o pre­feito e a senadora deveriam ad­qui­rir a biografia e lê-la em viagens. Aprenderiam que política, ao menos de termos de executivo — notadamente, na dis­putas para presidente da Re­pública e governador de Estado —, se faz com todos, e não apenas com alguns. Se faz, insista-se, com to­dos, e não necessariamente com os melhores. Não querem aliança com Newton Cardoso? Pois Tan­credo Neves queria e até elogiava o político, que, sim, é dado à política fisiológica.