Prefeito de Palmas anuncia que pode trocar projeto político da terceira via para aderir ao governo, caminho inverso ao que fez Vicentinho Alves . Oposição segue dividida entre candidato próprio ou se aliar ao governismo

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Prefeito Ronaldo Dimas (PR): seu apoio ao governo é estratégico / Foto: Ascom-Prefeitura Municipal

Ruy Bucar

O deputado José Boni­fácio (PR) diz que o cenário político no Tocantins ainda está indefinido, sujeito a profundas mudanças, talvez irreconhecíveis aos olhos de hoje. Na previsão do deputado muita gente que é governo pode virar oposição e muita gente que é oposição pode se tornar independente ou virar governo. O que Bonifácio previa acontecer em junho, nas convenções, na verdade já está ocorrendo: mudanças bruscas que podem levar a desdobramentos imprevisíveis.

A renúncia do ex-governador Siqueira Campos (PSDB) e do seu vice João Oliveira (DEM), que provocou a realização de nova eleição, precipitou o processo. A saída de Siqueira Campos de cena sugere a recomposição das forças políticas do Estado em torno de novos acordos e novas perspectivas de poder. O prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (PR), foi o primeiro a anunciar apoio ao governador Sandoval Cardoso. É possível que o prefeito não tenha nenhum voto no plenário da Assembleia, mas manifestou apoio, segundo ele preocupado com a governabilidade. Dimas está mais interessado na reeleição de Cardoso do que na eleição e na governabilidade propriamente dita.

Senão vejamos. Dimas é candidato à reeleição em 2016, se reeleito será fatalmente candidato a governador em 2018. O prefeito precisa do Palácio Araguaia para fazer um bom governo e conquistar a reeleição. Isso já seria suficiente para apoiar o candidato governista por já poder ajudar o seu município agora e não somente a partir de 2015, como é o caso dos candidatos de oposição. Ainda melhor para justificar o apoio quando este novo gestor é impedido de ser candidato à reeleição, o que deixa o cenário livre, imagina. Sandoval Cardoso não poderá ser candidato à reeleição.

Corroborando com esta tese o prefeito de Palmas, Carlos Amastha, anunciou que pode trocar o projeto político da terceira via que vinha articulando em apoio ao governo de Sandoval Cardoso. Amastha fez apenas uma condição para aderir ao governo de vez: se o empresário Roberto Pires não for candidato ao governo. Amastha sabe que o empresário já perdeu a condição de ser candidato ao governo do Estado e que a falta de empenho do prefeito é uma das razões que levaram o projeto a não decolar. Acordo de parceria para obras em Palmas e entendimento político futuro certamente estão na pauta das tratativas que levaram as manifestações de apoio ao governo de um dos principais líderes da oposição.

Amastha, que comanda o segundo maior orçamento do Estado (quase R$ 1 bilhão) e o maior colégio eleitoral, tem condições de exercer influência decisiva neste processo, como vinha prometendo. Pelo peso político do cargo que ocupa é considerado um dos líderes mais influentes do Estado, atrás apenas do ex-governador Siqueira Campos (PSDB), do ex-governador Marcelo Miranda (PMDB) e da senadora Kátia Abreu (PMDB). O que muda agora é que Amastha falava em derrotar as forças do atraso com as quais se aliou.

Na contramão deste processo o senador Vicentinho Alves (SD), um dos nomes mais próximos do ex-governador Siqueira Campos e que estaria insatisfeito com os rumos do governo, busca acordo com o empresário Roberto Pires, numa clara manifestação de que pode romper com o siqueirismo. Indepen­dentemente do nível do acordo, Vicentinho e Roberto Pires estão chegando tarde neste processo e se estão chegando tarde é porque de alguma forma dormiram demais ou foram usados como trampolim por projetos políticos que não foram avante.

Enquanto isso a oposição segue dividida com vários candidatos e cada vez mais distante de uma união que a favoreça. O PMDB, o maior partido de oposição, se dá ao luxo de ter um bloco de oposição e outro do governo. Nesta condição a implosão do partido é inevitável e quando isso acontecer todos perdem, só o governo ganha. Afinal dividir o PMDB tem sido uma estratégia até aqui vitoriosa de Eduardo Siqueira Campos, que só tem alguma chance nesta disputa se Marcelo Miranda ficar fora.

Ainda é cedo para se saber as reais mudanças que a renúncia de Siqueira Campos e do seu vice provocaram no cenário político-eleitoral do Estado, com a realização de uma nova eleição, indireta. Só com o tempo vai ser possível dimensionar a influência desses eventos na sucessão estadual. O certo é que, como diz o deputado Bonifácio, muita coisa ainda está para acontecer. Afinal de contas ainda não ficaram clarar as reais intenções da renúncia de Siqueira Campos. Ninguém abre mão de nove meses de governo à toa. Muito menos quando este alguém se chama Siqueira Campos. É aguardar para ver os novos desdobramentos com um olho no gato e outro na frigideira, como dizem por aqui.