Entra em cartaz nesta sexta-feira, 7, no Teatro do Sesc, em Palmas, às 20 horas, o espetáculo Cão Sem Plumas, da coreografa Deborah Colker, baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto. É seu primeiro espetáculo de temática explicitamente brasileira.

A primeira apresentação foi em 3 de junho de 2017, no Teatro Guararapes, em Recife. Cão Sem Plumas recebeu um dos mais importantes prêmios da dança mundial, o Prix Benois de la Danse, em 2018, na categoria Coreografia. Os palmenses tem até domingo para assistir esse espetáculo consagrado internacionalmente.  

 Publicado em 1950, o poema acompanha o percurso do Rio Capibaribe, que corta boa parte de Pernambuco. Mostra a pobreza da população ribeirinha, o descaso das elites, a vida no mangue, de ‘força invencível e anônima”. A imagem do “cão sem plumas” serve para o rio e para as pessoas que vivem no seu entorno. “O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana. Destruir a natureza, as crianças, o que é cheio de vida”, diz Deborah.

A dança se mistura com o cinema. Cenas de um filme realizado por Deborah e pelo pernambucano Cláudio Assis – diretor de longas como Amarelo Manga, Febre do Rato e Big Jato – são projetadas no fundo do palco e dialogam com os corpos dos 14 bailarinos. As imagens foram registradas em novembro de 2016, quando coreógrafa, cineasta e toda a companhia viajaram durante 24 dias do limite entre o sertão e agreste até Recife.

A jornada também foi documentada pelo fotógrafo Cafi, nascido em Pernambuco. Na trilha sonora original estão mais dois pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha (cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator), além do carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde o trabalho de estreia, Vulcão (1994). Outros antigos parceiros estão na cenografia e direção de arte – Gringo Cardia – e na iluminação – Jorginho de Carvalho. Os figurinos são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia.

Bicho-homem
Os bailarinos se cobrem de lama, alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O animal que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908- 1973), autor de Geografia da Fome e Homens e Caranguejos, e do cantor e compositor Chico Science (1966-1997), principal nome do mangue beat. O movimento mescla regional e universal, tradição e tecnologia. Como Deborah faz.

Para construir um bicho-homem, conceito que é base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba, jongo, kuduro e outras danças populares. “Minha história é uma história de misturas”, afirma ela. O espetáculo já foi apresentado em mais de 30 cidades brasileiras, tendo um público de mais de 150 mil pessoas, e, internacionalmente, nos Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Uruguai.