Professora que venceu a oligarquia nativitana conta que migrou de partido não por troca de favores, mas para lutar na mesma frente de batalha da vice-governadora, Claudia Lelis

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Dock Júnior

Levar um campus da Unitins para a cidade do Sudeste do Estado é, talvez, a grande bandeira da prefeita Martinha Rodrigues. Natural da cidade que ela administra desde o dia 1º de janeiro deste ano (foi eleita pelo PTN no pleito de 2016, com 60% dos votos válidos), servidora pública concursada do Estado do Tocantins, é professora do ensino médio, graduada em matemática e já havia se candidatado ao cargo de prefeita em 2008 e 2012, pelo PMN, sem êxito.

De origem muito humilde, Professora Martinha, como é conhecida, concedeu entrevista ao Jornal Opção, expondo todas as dificuldades para ascender ao poder sem força econômica, exaltando as potencialidades culturais do seu município, além de abordar temas inerentes à política local e estadual.

Recentemente a sra. deixou o PTN, agora denominado Podemos, para se filiar ao PV, presidido pela vice-governadora Claudia Lelis. Por que a sra. saiu do partido pelo qual se elegeu em 2016?
Desde que assumi a Prefeitura de Natividade, empunhei três bandeiras prioritárias: segurança, saúde e educação. Necessito de uma Companhia da Polícia Militar, repassar a gestão do Hospital de Pequeno Porte (HPP) para o governo do Estado e, ainda, implantar uma faculdade na cidade, uma vez que os jovens acabam por não terminar seus estudos, face às dificuldades encontradas para migrar para outros polos universitários.

Baseado nisso, me aproximei politicamente do Palácio Araguaia, na pessoa da vice-governadora, que me garantiu estar firme no propósito de levar um campus da Unitins para Natividade. A cidade é um polo referencial para outros municípios da região Sudeste, mesmo localizada no entroncamento Norte/Sul e Leste/Oeste, e necessita de mais investimentos. O fato de ter me filiado ao PV não significa necessariamente uma troca de favores, mas sim, a prova que eu estou disposta a lutar na mesma frente de batalha da vice-governadora, Claudia Lelis.

Havia incompatibilidades ideológicas com o Podemos que contribuíram com sua migração partidária?
Não, absolutamente. Fui eleita por esse partido em 2016 e tive muito apoio da sigla.

No que concerne à eleição que lhe alçou ao poder, como a sra. classifica o embate político?
Havia uma oligarquia política que dominava os destinos da cidade há muitos anos e não foi fácil lutar contra isso. Tentei por três vezes me eleger prefeita da cidade e só obtive êxito no último pleito, justamente porque eu sempre lutei contra a força do poder econômico.
Contei com o apoio dos deputados federais Carlos Gaguim (Podemos) e Irajá Abreu (PSD), como também da senadora Kátia Abreu (PMDB) na última eleição. As outras forças políticas do Tocantins, naturalmente, tomaram partido na eleição municipal e por tal razão, a disputa foi bem acirrada. Conseguimos, por fim, derrotar os grandes expoentes da política na cidade – inclusive o candidato do prefeito que me antecedeu – e isso, por si só, é uma prova de confiança da população. Sou a primeira mulher a ser eleita prefeita de Natividade e, para mim, é motivo de muito orgulho.

E o parlamento municipal? Como é sua relação com os vereadores?
No início foi bem complicado, uma vez que dos nove vereadores elegemos apenas dois. Hoje estamos com quatro vereadores na base de apoio e cinco contrários. A relação é muito difícil e por mais simples que a proposta seja, há dificuldades para aprová-la. Quando assumi a gestão, por exemplo, encaminhei o projeto para estruturação e contratação de servidores para a saúde e educação, que se arrastou por longos meses e praticamente parou o município.

E sua relação com o governo estadual antes da aproximação da vice-governadora? Estava abalada?
Não. Sempre tive um bom trânsito no Palácio Araguaia, mesmo não representando o grupo político do governador na eleição de 2016.

E no que se refere aos apoios parlamentares?
Posso dizer que não há nenhum deputado estadual que represente efetivamente a nossa cidade. Evidente que há emendas parlamentares individuais, como da Luana Ribeiro (PDT), para reforma e ampliação do ginásio de esportes e outra do presidente Mauro Carlesse (PHS) para adquirir uma ambulância.

No geral, em relação ao empréstimo contraído pelo governo estadual, que vai beneficiar todos os municípios, a Assembleia Legislativa definiu que nossa cidade será agraciada com R$ 1,7 milhão, verba essa que deverá ser aplicada necessariamente em asfalto nos Setores Orquídea e Aeroporto II, bairros abertos pelas gestões anteriores.

Quanto aos deputados federais, mesmo tendo saído do Podemos, tenho um excelente convívio político com o deputado Gaguim, como também com o deputado Irajá. Ambos têm feito esforços para beneficiar nosso município.

Considerando que a sra. é oriunda da área educacional, como esse tema é tratado na sua administração?
A educação básica é responsabilidade dos entes municipais e atualmente contamos com três escolas: uma na zona urbana, outra no distrito do Príncipe e outra no Assentamento Jucubinha, atendendo em média, cerca de 600 alunos. A qualidade do ensino está dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e a maioria dos professores é concursada, utilizando poucos contratados.

Quanto ao transporte escolar para a zona rural, estamos melhorando gradativamente, uma vez que herdamos veículos bem sucateados da gestão anterior. Há muito para fazer, sem dúvida.

No que se refere a cultura e turismo, há projetos para uma melhor exploração do potencial da região?
Temos trabalhado muito nesse sentido junto aos ministérios ligados ao tema. O incentivo ao turismo traz bons frutos, na medida em que, além de proporcionar emprego e renda aos guias turísticos, também destina verbas para os cofres públicos municipais. O patrimônio arquitetônico possui aproximadamente 250 imóveis no perímetro tombado, com destaques para as igrejas, imóveis e espaços públicos como praças e largos.

Estamos organizando os passeios turísticos de forma tal que o visitante conheça a história, visite os pontos turísticos como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, os casarões, a antiga cadeia, como também participe do contexto histórico cultural, como o acompanhamento da fabricação do famoso biscoito “amor perfeito”, assistir e aprender os passos da “dança da sússia”, da capoeira, entre outras atividades. Vamos incentivar também – aguardamos apenas a liberação do Naturatins – o ecoturismo e a exploração de cavernas na região.

Posso afirmar que a fé é um ponto forte que marca o calendário festivo local com celebrações religiosas de abrangência estadual, tais como festejos do Divino Espírito Santo, Romaria Senhor do Bonfim e Padroeira Nossa Senhora da Natividade – padroeira do Estado e da cidade, além de inúmeras manifestações artísticas.

Além disso, a ourivesaria, uma tradição centenária da cidade, está sendo bem divulgada por intermédio da nova novela da Rede Globo, “Do outro lado do Paraíso”. No mesmo folhetim, a excelente atriz Fernanda Montenegro personifica Dona Romana, um ícone referencial da nossa cidade, em razão de suas histórias e tradições.

Há em Natividade, como em toda aquela região, uma população predominantemente negra, descendentes dos escravos trazidos para a exploração do ouro, há dois séculos. No seu governo há uma política para a inclusão social dessas pessoas?
Não apenas em razão da situação de pobreza extrema, como também pelo fato da existência, até os dias atuais, da segregação racial. Há uma comunidade Quilombola, distante 30 quilômetros da cidade, que necessita ser incluída no projeto que visa agregar essas pessoas e gerar oportunidades, numa espécie de resgate cultural. Essa é uma das minhas metas, enquanto gestora pública.