Aumenta especulação de uma possível debandada de prefeitos do PSD

25 junho 2023 às 00h02

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Uma comprovação clara de que as críticas do senador Irajá Abreu (PSD), ainda que pouco consistentes, começam a incomodar o Palácio Araguaia, são as especulações cada vez mais fortes sobre uma possível debandada de prefeitos do PSD para esvaziar o partido do senador. Operação estaria sendo articulada por líderes governistas numa resposta às críticas que o senador tem feito ao governador Wanderlei Barbosa (Republicanos).
O PSD tem uma bancada na Assembleia Legislativa formada por três deputados e soma 22 prefeitos, a maioria integra a base do governo e não endossa as críticas do senador. Deputados e prefeitos dizem que suas decisões de acompanhar o governo são respeitadas pelo partido, mas que numa eventual convocação do Palácio Araguaia, não pensariam duas vezes em abandonar a legenda. O deputado Luciano Oliveira (PDS) diz que não consegue cumprir as promessas de campanha sem o apoio do Palácio Araguaia. Para o deputado, acompanhar o governo é uma questão de sobrevivência política.
Líderes governistas não confirmam a existência da operação de esvaziamento do PSD, mas não escondem a chateação com o filho da senadora Kátia Abreu (pP) que segundo eles, se comporta como um menino mimado que se coloca às vezes contra os interesses do Estado para fazer oposição de qualquer jeito ao governo. Governistas alegam que o senador busca criar uma instabilidade política, com suas tentativas de questionamento às ações do governo.
Recentemente o senador teve requerimento aprovado no plenário do Senado solicitando ao Tribunal de Contas da União (TCU) auditoria nas contas do governo do Estado, referente a contratos na área da saúde e na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas). Na época Irajá questionou valores pagos com aluguel de ambulância. De acordo com o senador os contratos “somam incríveis R$ 201 milhões e um exemplo chocante é o aluguel de 30 ambulâncias por R$ 30 milhões ao ano. Com esse montante, seria possível comprar 120 ambulâncias novas todo ano. Com o dinheiro de cada ambulância alugada, em três meses daria para comprar uma ambulância nova”, explica o senador.
Antes mesmo de terminar o pleito eleitoral, Irajá já estava entrando com ação judicial contra o governo. No final de setembro de 2022, em nome da coligação “O Futuro é prá já”, o senador apresentou na Justiça Eleitoral, uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), solicitando o afastamento e inelegibilidade do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e do seu vice Laurez Moreira (PDT), com alegação de abuso de poder econômico, com uso de servidores efetivos, comissionados e temporários durante o expediente na campanha eleitoral.
Irajá tem manifestado por meio de suas redes sociais que apenas cumpre sua obrigação de fiscalizar as ações do governo.
O PSD criado pela ex-senadora Kátia Abreu (pP) e pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PDS) chegou a ser o maior partido no Tocantins, em número de prefeitos eleitos. Em 2016 elegeu 28 prefeitos. Nas eleições de 2020 baixou para 22 prefeitos, passando a ocupar a terceira posição. Em 2022, em função da candidatura do senador Irajá Abreu (PSD) ao governo do Estado, em que ficou m quarto lugar, o partido elegeu três deputados estaduais – Luciano Oliveira, Wiston Gomes e Eduardo Fortes – que fazem parte da base de apoio do governo.
No Tocantins o PSD é um partido grande. Tem um senador, três deputados estaduais, 22 prefeitos, incluindo o presidente da Associação Tocantinense de Municípios (ATM) Diogo Borges, prefeito de Talismã, vários vice-prefeitos e mais de 200 vereadores. Partido de centro direita nasceu com vocação para ser governo e não tem nenhuma tradição de oposição. No Tocantins o partido é tido como legenda dos Abreu.
Se essa operação de esvaziar o PSD ainda não existe, não vai demorar ser anunciada publicamente. Isso se as críticas do senador Irajá Abreu ao governador Wanderlei Barbosa subirem de tom ou conseguir acertar alguma fragilidade do governo. Até agora o senador tem feito denúncias pouco consistentes. Não que o governo não tenha fragilidades, longe disso.
A crise da saúde, sobretudo em Palmas, com denúncias de morte de pacientes por falta de transferência para o Hospital Geral de Palmas (HGP) e que obrigou o governador vir a público anunciar a construção do Hospital de Urgência e Emergência de Palmas, mostra que a crise na saúde se mantém e pouco mudou desde a ascensão de Wanderlei Barbosa. Outra questão que ameaça arranhar a imagem do Palácio Araguaia é a onda de violência em Palmas que já chega a 88 assassinatos só este ano, um aumento de 300%, em relação ao ano passado.
Entidades de defesa dos direitos humanos começam a denunciar uma matança indiscriminada de jovens, negros e pobres, moradores da periferia, vítimas do crime organizado e ineficiência do poder público, no caso as forças de segurança, que são muito ágeis na defesa do patrimônio dos ricos, mas pouco fazem para proteger a vida de pessoas pobres da periferia que estão morrendo por motivos banais.
Num estado que estabeleceu a política sem oposição, qualquer crítica, mesmo que seja para alertar o governo das suas fragilidades e ineficiência, incomodam. Não será nenhuma surpresa se o PSD esvaziar de um dia para a noite. Isso já aconteceu a outras legendas. Na legislatura passada, o MBD era o partido com maior bancada, tinha seis deputados. Ao optar pela oposição o partido ficou apenas com um deputado que não conseguiu se reeleger. A sigla que tinha o ex-governador Marcelo Miranda como candidato a deputado pela primeira vez na história não tem representante na Assembleia Legislativa nem no Congresso Nacional.
O esvaziamento do PSD é algo previsível de acontecer. Em 2026 estarão em disputa duas cadeiras do Senado, uma deve ocupada pelo governador Wanderlei Barbosa, outra para um aliado de primeira hora, e não será o senador Irajá Abreu. Como aconteceu com a senadora Kátia Abreu, Irajá poderá ficar isolado, sem condições de concorrer à reeleição, ou concorrer sem chances reais de brigar pela cadeira. O esvaziamento do PSD é uma questão de tempo, determinado pela intensidade das críticas do senador Irajá.
A maioria dos prefeitos e deputados do partido integram a base do governo e avaliam que os questionamentos do senador são no mínimo, inoportunos, para não dizer o mínimo. Se a debandada acontecer será uma demonstração de que o senador alcançou o seu objetivo. Incomodar o Palácio Araguaia. O governo terá passado recibo atestando a competência do senador, o único a fazer oposição ao Palácio Araguaia. Em algum momento isso pode virar capital eleitoral. Difícil saber quando.