Amélio Cayres e Leo Barbosa, os próximos presidentes da Assembleia Legislativa

29 janeiro 2023 às 00h02

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O deputado Amélio Cayres (Republicanos), em seu quinto mandato consecutivo, inicia a nova legislatura com chances reais de se tornar o próximo presidente da Assembleia Legislativa. O parlamentar deve ser candidato único ao pleito de 1º de fevereiro para o primeiro biênio 2023-2025. Tem experiência, goza da confiança do Palácio Araguaia e conseguiu superar os concorrentes – Nilton Franco (Republicanos), Jair Farias (UB), Ivory de Lira (PCdoB), Olyntho Neto (Republicanos) e Cleiton Cardoso (Republicanos) – na disputa pelo cargo. A tendência mais provável é que os pré-candidatos a presidente que não conseguiram avançar na disputa aceitem compor uma das duas chapas.
Cayres venceu os concorrentes com uma articulação que começou bem antes de apurado o resultado da eleição, quanto os concorrentes ainda estavam em campanha para conquistar o mandato. Cayres também estava em campanha, mas já de olho na presidência da Casa. Percebeu que uma estratégia ousada e eficiente seria atacar os prováveis eleitos. Com essa estratégia, conseguiu se aproximar dos candidatos com maiores chances de se eleger. Identificou os que tinham maiores chances de eleição e buscou estabelecer entendimentos. Após a eleição, Cayres aprofundou os entendimentos e conseguiu arrebanhar os deputados novatos.
A eleição da mesa diretora para o primeiro biênio parece plenamente consolidada, sem possibilidade de surpresa. A articulação está bem amarrada. A eleição segue a lógica de “o que é bom para o Palácio Araguaia é bom para a Assembleia Legislativa”. Esse alinhamento garante ao governador apoio quase unânime da Assembleia Legislativa, que a partir de fevereiro terá uma renovação de oito parlamentares. Pelo menos metade integra a base; os outros poucos deputados mais próximos de seus apoiadores – Ronaldo Dimas (PL) e Irajá Abreu (PSD) – estão se aproximando do governo via eleição da mesa diretora da Assembleia, tendo em vista que só terão candidatos a presidente da base do governo.
O entendimento para a eleição da mesa diretora para o segundo biênio (2025-2027) também está consolidado. Os deputados, porém, preferem dizer que o processo ainda está em aberto. Há certa cautela em escancarar o nome do candidato, por se tratar do deputado Leo Barbosa (Republicanos), filho do governador. Ninguém sabe ainda como a opinião pública vai reagir, visto que pode ser entendido como concentração de poder. Ainda que do ponto de vista legal não haja nenhum impedimento, é no mínimo questionável um Parlamento dirigido pelo filho com a atribuição de fiscalizar, com autonomia, as contas do governo comandado pelo pai.
A verdade é que não é de hoje que o Parlamento estadual se deixou pautar pelos interesses do Executivo. A parceria cada vez mais estreita entre governador e deputados transformou a Assembleia Legislativa em laboratório de governador. Três dos seis que passaram pelo comando do Palácio Araguaia – Carlos Henrique Gaguim (UB) Sandoval Cardoso (SD), Mauro Carlesse (Agir) – nos últimos 12 anos não teriam sido eleitos se antes não tivessem ocupado a presidência da Assembleia. Entra ainda nessa relação o próprio governador Wanderlei Barbosa: em que pese não ter dirigido a Assembleia, foi deputado e, nessa condição, formou chapa com um presidente da Casa, Mauro Carlesse, e se elegeu vice-governador, de onde saiu para ocupar o comando do governo.
A ideia de que a sucessão estadual passa de alguma forma pela Assembleia Legislativa é que levou o deputado Ricardo Ayres (Republicanos) a apresentar o projeto de emenda à Constituição (PEC) alterando a data da eleição da mesa diretora da Casa. A propósito de quê, essa mudança? Não tem uma resposta objetiva, já que a mudança da data da eleição em tese não altera muito o resultado final. Mas olhando-a pelo ponto de vista do interesse político que une governador e deputados, temos algumas hipóteses.
Sendo duas eleições numa mesma ocasião, é possível contemplar um maior número de candidatos, evitando disputas internas e permitindo uma previsibilidade maior do resultado. Outro aspecto que se pode levantar é que, logo após as eleições, o ocupante do Palácio Araguaia tem capital político para bancar qualquer nome que desejar, em qualquer nível de disputa. Ou seja, no início de mandato todo governante tem mais força para impor suas preferências. Bem diferente do que pode ser daqui a dois anos, quando o governo já terá tido algum desgaste e a oposição estará bem mais articulada com condições de enfrentar as disputas que surgirem.
A antecipação da eleição da mesa diretora da Assembleia é apresentada pelos deputados como algo simples, legal e constitucional, mas revela uma preocupação com os desdobramentos com a política, sobretudo com a sucessão em 2026. Tudo indica que o governador Wanderlei Barbosa renuncie ao mandado em abril de 2026 para concorrer ao Senado, com chances reais de se eleger. A eleição do deputado Leo Barbosa para a presidente da Assembleia Legislativa assegura ao pai deixar o governo do Estado com mais tranquilidade. Com a renúncia o vice-governador Laurez Moreira (PDT) ascende ao cargo e o presidente da Assembleia Legislativa do 2º biênio passa a ser o primeiro na linha sucessória estadual, uma compensação que garante uma maior tranquilidade para todo o grupo que está no poder.
Não é preciso que os líderes envolvidos nestas articulações estejam pensando exatamente assim, pois há muitas outras possibilidades que permitem alcançar o objetivo final que é manter o poder por mais tempo possível, nas mãos do mesmo grupo, ou das mesmas pessoas, ainda que seja preciso mudar as posições.
Na presidência da Assembleia, Leo Barbosa pode alcançar a visibilidade política necessária para exercer forte influência na sucessão estadual, podendo ser candidato, a vice-governador, a governador ou a suplente de senador. Wanderlei é um líder jovem, eleito senador, ainda terá condições de disputar o governo do Estado pelo menos mais uma ou duas vezes. Em 2030, estará com 66 anos, com idade e experiência para pleitear voltar ao comando do Palácio Araguaia. Se eleito, o suplente terá quatro anos de mandato no Senado.
As possibilidades são muitas. Mas é preciso levar em conta o imponderável, aquilo que é impossível se prever. Por isso a necessidade de um planejamento muito antecipado, única forma de tentar assegurar o resultado que se espera. Ademais, como dizia o ponderado Tancredo Neves, em política não existe cedo, só tarde.