Vereador Tiago Andrino diz que pesquisas indicam que 54% do eleitorado palmense votaria num candidato apoiado pelo ex-prefeito em 2020

Tiago Andrino, vereador de Palmas | Foto: Aline Batista

Tiago Andrino é um dos homens fortes do grupo do PSB, estadualmente capitaneado pelo ex-prefeito de Palmas, Carlos Amastha. Até o final de outubro, o grupo político vai definir – entre Andrino, Alan Barbiero e Ricardo Ayres – quem vai às urnas como candidato a prefeito de Palmas em 2020. Um dos três terá o apoio e a força política de Amastha para tentar lograr êxito no pleito municipal.

Considerado um dos melhores vereadores de Palmas, pela postura, consistência nas ações e legalista na essência, Andrino é graduado em Direito, mineiro de Itajubá-MG, mas migrou para Palmas ainda em 2009, após convite do empresário e então pré-candidato a prefeito da capital Carlos Amastha.

Andrino tem um histórico de militância política no movimento estudantil no sul do país. Já foi candidato a deputado federal em Santa Catarina e, também, no Tocantins, nos anos de 2014 e 2018, alcançando votações expressivas. Atualmente é suplente na Câmara dos Deputados e vereador em Palmas, pelo PSB, desde 2016.

Qual a sua percepção acerca dos cinco anos e meio que o seu partido (PSB) governou a capital do Tocantins?
Temos muito orgulho do nosso legado. Deixamos a cidade, em vários setores, com altos patamares de excelência, como na saúde, por exemplo, onde conquistamos o primeiro lugar entre as capitais do Brasil, segundo os indicadores do SUS. Na educação não foi diferente, um dos melhores IDEBs [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do país e, disparado, o melhor da região norte.

Assumimos uma cidade que antes era suja e mal cuidada, cujos habitantes tinham perdido o orgulho de morar aqui. Mostramos que uma gestão eficiente faz sobrar dinheiro até para paisagismo e investimentos em lazer, praias, praças, etc. Esta era e, ainda é, a concepção de cidade que todos os imigrantes desejavam.

Claro que nós respeitamos as gestões anteriores e reconhecemos seus avanços, como Eduardo Siqueira no que concerne à infraestrutura; Nilmar Ruiz no turismo, lazer e ações sociais; Odir Rocha na saúde e Raul Filho na educação. Mas tenho certeza que o ex-prefeito Amastha resgatou o sentimento de orgulho ao implantar um projeto audacioso e desenvolvimentista, deixando a cidade pronta para receber novos investimentos, turistas, entre outros, deixando de depender apenas do poder público.

Isso vai ser lembrado, naturalmente, nas eleições de 2020, quando seu grupo político tentará retomar o poder municipal…
Sem dúvidas. Esse legado vai ser lembrado durante nossa campanha no próximo ano, independentemente do candidato escolhido. Encomendamos pesquisas para consumo interno – com base científica, quantitativa e qualitativa – para entendermos a tendência do eleitorado.

Estamos convictos que a eleição do próximo prefeito passa pela nossa história na cidade e, logicamente, se soubermos defender isso, passar credibilidade e confiança aos eleitores que vamos retomar aquele projeto, teremos grandes chances de obter êxito.

Nossas pesquisas indicam que 54% do eleitorado palmense votaria em um candidato indicado ou apoiado pelo ex-prefeito Amastha, uma prova inequívoca que há um legado daquela gestão.

A atual prefeita Cinthia Ribeiro – vice de Amastha – abandonou o projeto e as plataformas apresentadas na campanha eleitoral de 2016?
Com absoluta certeza. Ajudamos eleger a atual prefeita e acreditávamos que ela daria continuidade ao projeto. Mas ela rompeu conosco – politicamente e socialmente – perdendo a continuidade, infelizmente.

Hoje não percebemos nenhuma agenda positiva na gestão, não há projetos ou planejamentos, não há comando, não trabalha com indicadores, além do retorno da familiocracia e a paralisia total do diálogo com a câmara de vereadores.

Não temos problemas pessoais com a prefeita, gostaríamos que ela obtivesse sucesso, todavia, as práticas adotadas por ela, nos separou. Por isso, nosso caminho é nos postar, novamente, ao lado da sociedade e defender nosso projeto. Erramos com a escolha da nossa vice e seremos obrigados a recomeçar. Precisamos de menos política e mais gestão, mais transparência e menos privilégios.

E a sigla já definiu um candidato para a disputa?
A executiva estadual da sigla, liderada pelo presidente Amastha, decidiu que em algumas cidades, participaremos da construção das candidaturas, que visa consolidar um plano audacioso que passa, também, pela eleição de 2022. Palmas, a maior cidade do Estado, naturalmente, também será inclusa nesse processo. Três membros interessados se manifestaram: o deputado estadual Ricardo Ayres, o professor Alan Barbiero e eu, Tiago Andrino. Até o final de outubro, baseado em pesquisas e articulações partidárias, o PSB escolherá um de nós três para ser o pré-candidato a prefeito da cidade.

Tanto a sua carreira política, quanto a do deputado Ricardo Ayres está consolidada, não resta dúvidas. Logo, não serão classificados como outsiders. Entretanto, existe rejeições naturais – em razão do poder que exercem – ao candidato do Palácio Araguaia e a ocupante do Paço Municipal. Isso não pode render muitos votos a qualquer um dos pessebistas, exatamente em virtude do antagonismo que representam?
A primeira eleição do Amastha em 2012 representou o novo. Naquele cenário, a junção de todos os políticos tradicionais, em outros dois palanques, acabaram por sucumbir os nossos adversários, Marcelo Lelis e Luana Ribeiro.

Hoje a situação é diferente. Há um legado da nossa gestão em Palmas. E outra, não há as ultrapassadas práticas da política tradicional em nosso grupo. Ao contrário, fiz o mandato de vereador mais econômico da história da capital, rejeitando benefícios e outras benesses. Prezo pela eficiência, acima de tudo. Infelizmente, isto não é uma tradição no meio político. Mas a população tem enxergado isso e sabe que somos capazes de fazer uma gestão, cujo foco é o bem-estar das pessoas.

É necessário ser um gestor que corte regalias, penduricalhos, auxílios desnecessários e abusivos. As economias resultam em sobra de caixa e esses recursos podem ser investidos em benfeitorias para a população, servindo à sociedade.

“Ajudamos eleger a atual prefeita e acreditávamos que ela daria continuidade ao projeto” | Foto: Aline Batista

Há uma gama de políticos brasileiros engajados com essa bandeira de extinção de privilégios no país, não é mesmo?
Sim, sou um deles. Aderi e faço parte ativamente desse movimento. O deputado federal paraibano, Pedro Cunha Lima, é o percussor. A concepção é que o Brasil tem um grande problema de corrupção e desperdício e essas duas questões dependem de fatores humanos, relacionados à moral.

Contudo, mais grave que isso, é que assumimos como nosso, o privilégio legalizado. Servidores públicos que já ganham acima do teto constitucional, como magistrados, por exemplo, gozam de auxílio-livro, auxílio-creche, auxílio-moradia, etc. Isso também ocorre nos legislativos estaduais e municipais. Esses penduricalhos podem até ser legais, neste momento, todavia, são manifestamente imorais.

O sr. deu exemplo adotando essas práticas durante o seu mandato?
Perfeitamente. Adotei a conduta de não aceitar privilégios que a Câmara municipal de Palmas me ofereceu. Recusei carros alugados, petróleo, auxílio para materiais gráficos, entre outros. Não estou criticando os colegas que recebem, longe disso, mas eu preciso fazer minha parte, dar o meu exemplo. No primeiro mandato, de 2013 a 2016, meu gabinete economizou R$ 700 mil. Provei que é possível ter uma atuação parlamentar com um custo menos oneroso para a sociedade, que é, na verdade, quem paga a conta.

Nestas circunstâncias, a quebra da cultura dos privilégios é o desafio do século XXI, no Brasil. Os políticos, o judiciário e o executivo tem que se unir em prol desta causa. Por exemplo, estamos alterando as regras das aposentadorias. A grande maioria dos atingidos são pessoas simples, que vão ser obrigados a fazer sacrifícios. Mas e as regalias dos poderosos? Não foi cortado um centavo sequer, no que diz respeito a carros de luxo, gastos excessivos com petróleo, cotas de passagens de avião, apartamentos funcionais ou auxílio-moradia, etc. Isto está completamente equivocado.

E outra: como é que uma pessoa que trabalha no congresso nacional, servindo cafézinho, pode ganhar mais de dez mil reais, enquanto que as mesmas pessoas que fazem a mesma função, no resto do Brasil, ganham um salário mínimo? Isso vale também para motoristas e seguranças de agentes políticos. Há muitas distorções e cabe a nós, enquanto políticos, consertarmos essa série de desmandos.

Na minha visão, esse é o maior problema do Brasil. É uma fratura exposta. Se não houver uma quebra de cultura e paradigma, em pouco tempo, tornar-se-a o caos. Essas regalias, protegidas por lei, poderão ser extintas, se a “PEC dos Peduricalhos”, em trâmite no Congresso Nacional, sair da gaveta, for analisada e votada.

Seu eventual governo apresentará respostas rápidas aos problemas das comunidades?
Um gestor tem que tomar decisões rápidas, decidir e gerir o patrimônio e as coisas públicas com responsabilidade, já que nada é do prefeito ou do governador e sim da população. O chefe do poder executivo é apenas um gerente e deve desempenhar seu papel com modernidade, dinamismo, eficiência e moralidade. Um eventual governo do PSB terá isso como obrigação. Esse é um dos nossos compromissos.

Neste aspecto, o sr. conseguiria agregar o eleitorado composto pela juventude?
Militei por muitos anos no movimento estudantil, já tenho 38 anos, mas continuo falando com esse público com muita tranquilidade, porque conheço seus anseios e valores. Trata-se de uma importante fatia do eleitorado, que está indignada com a velha forma de fazer política, baseada no patriarcado, na familiocracia, no abuso do poder econômico, etc. Faremos, junto com eles, o processo de transformação da cidade.

O sr. já foi testado pelas urnas por quatro vezes e sempre obteve votações expressivas, sempre vinculado ao mesmo grupo político. Qual seria o seu posicionamento, caso o seu nome não fosse escolhido pela executiva estadual para ser o candidato a prefeito do grupo?
O deputado Ricardo Ayres é um bom nome para a disputa, não tenho dúvidas. Um entusiasta do nosso projeto, que entende a nossa dinâmica e que fez um precioso trabalho, quando foi convocado para ajudar na regularização fundiária de Palmas. O professor Alan Barbiero é outro nome, cujas virtudes são inquestionáveis.

Assim sendo, se eu fosse preterido, qualquer um deles que fosse escolhido contaria com o meu mais irrestrito apoio. Aprendi fazer política no movimento social, construindo alianças, respeitando o diálogo e as decisões coletivas. Tenho orgulho do nosso grupo e não estou no projeto para desagregar e sim para crescermos juntos.

Caso o sr. seja o escolhido para a disputa da Prefeitura, enfrentará duas máquinas administrativas poderosas. Caso perca a eleição, seu projeto político não estaria comprometido, uma vez que o Sr. se reelegeria vereador até com certa facilidade?
Obrigado pelo prestígio (risos). Se eu conseguisse me reeleger como vereador, seria o reconhecimento do eleitorado ao meu trabalho. Trabalhei com afinco, cumpri os desafios que me propus a cumprir. Mas o chamado da política agora é diferente. A sociedade precisa de pessoas na política que não estejam atreladas a mandatos. Temos que ter outras atividades e eu as tenho, pois exerço, paralelamente, a advocacia. Se hipoteticamente não for eleito, a vida vai seguir do mesmo jeito. Este paradigma, que é impossível viver sem mandato, não pode existir na política. Não podemos ter quaisquer dependências de mandatos, sob pena de topar pagar qualquer preço para mantê-los.

A renúncia do ex-prefeito Amastha encaixa-se nesse contexto?
Perfeitamente. Ele conseguiu avançar em todas as áreas, enquanto prefeito da capital, e acreditou que poderia contribuir com o desenvolvimento do Estado do Tocantins. Isso é uma prova do desapego do nosso grupo, porque Palmas era a maior e a melhor prefeitura para administrarmos e implantarmos nossas ideias.

Dentro do projeto político do grupo, o ex-prefeito Carlos Amastha é candidato a vereador em Palmas em 2020, invertendo os papéis contigo, ou seja, ele no parlamento e o sr. comandando o Paço Municipal?
(Risos) Vamos com calma. Eu ainda nem sou o pré-candidato do partido, ainda estou lutando por esse espaço. Eu defendo que ele seja candidato, porque isso fortaleceria demais o nosso grupo. Nossa campanha tem que passar pelas periferias, escolas de ensino médio, pelas universidades e não pode se resumir a partidos políticos, coligações, tempo de TV ou fundo partidário. Temos que promover uma gestão de excelência na saúde, tecnologia, sustentabilidade, turismo, segurança, educação, meio-ambiente, geração de emprego e renda, etc. É muito mais amplo, entende?

Respondendo seu questionamento, nas nossas reuniões, ele tem dito que se houver unanimidade do grupo – se todos realmente quiserem isso – ele topa ser candidato a vereador em Palmas. Hoje, o grupo está coeso neste propósito. Então, acho que ele vai registrar a candidatura sim. Se dependesse apenas de mim, já estaria decidido (risos).

E quanto ao presidente da câmara, Marilon Barbosa? Ele continua filiado no PSB, contudo, seu irmão, o vice-governador, Wanderlei Barbosa também é pré-candidato a prefeito da cidade em 2020. Como lidar com tal situação?
Creio que o Marilon se desfilie do partido na janela partidária do ano que vem. Não vamos lhe impor quaisquer punições, porque é uma situação bem diferenciada. Como vamos exigir que ele não apoie o irmão dele, que faz parte de outro projeto político? Cabe a nós respeitar essa ocorrência. Então, considerando tudo que o Marilon já fez pelo partido, além do reconhecimento e consideração que temos por ele, jamais iniciaríamos quaisquer processos para puni-lo por essa conduta, mesmo porque o processo eleitoral só se inicia após fechamento da janela de transferências.

Houve um erro de estratégia do PSB nas eleições de 2018, que culminou com a perca do comando da Prefeitura de Palmas e a não ascensão ao Palácio Araguaia?
A bem da verdade, o problema não foi perder nas pequenas cidades ou ganhar apenas em municípios grandes. O que contribuiu com a derrota foi o fato de termos eleito apenas um alvo como adversário: Marcelo Miranda. Construímos uma consistente oposição ao então governador, mas diante de sua cassação, o adversário foi alterado. Era como se tivéssemos preparados para jogar contra o time A e na hora do jogo, enfrentamos o time B. Talvez nosso erro consistiu no fato de não termos avaliado isso com clareza. Mudou-se a conjuntura e nós não conseguimos acompanhar.

O governador que foi eleito era um desconhecido, dentro de um cenário que lhe favorecia, pois gozava do apoio de toda a bancada de deputados e, até aquele momento, não era reconhecido e nem tinha rejeição. Na eleição ordinária de outubro, o governador Carlesse fez valer o uso da estrutura governamental e, lutando contra o poder, pela segunda vez no ano, não conseguimos derrotá-lo.

Especificamente sobre o seu mandato de vereador, gostaria que o sr. expusesse suas razões para alterar o regimento interno da Câmara e a lei orgânica do município.
Quando assumi o cargo de vereador, ainda em 2013, uma das primeiras coisas que percebi foi a fragilidade da lei orgânica, com sérios problemas de inconstitucionalidade e, porque não dizer, ultrapassada. Os três turnos de votação, por exemplo, só foi implantado lá no passado, porque os parlamentares eram remunerados por sessões extras. Atualmente, não existe mais essa sacanagem com os recursos públicos. O problema é que, mesmo após extinguirmos o pagamento extraordinário, o vício dos três turnos ainda prevalece. É algo que precisa ser modificado, porque não há qualquer sentido.

O voto secreto também não pode proteger posicionamentos obscuros. Ele só deveria existir apenas para proteger quem, eventualmente, estivesse sofrendo ameaças ou algo do gênero. O voto secreto tem que ter o viés de excepcionalidade e isso não é o ocorre na Câmara hoje.

Por sua vez, a lei orgânica também tem vários problemas também, como o fato de não fazer qualquer referência ao estatuto do idoso ou da juventude, que na época da promulgação não existiam. Também não trata de agricultura familiar, meio-ambiente, proteção ambiental em áreas rurais. Enfim, a lei tem fragilidades de conteúdo e de forma. Por isso, entrei com o projeto de revisão e pedi a relatoria. Fiquei por quatro meses envolvido nesse trabalho técnico, aproveitando, inclusive, meus conhecimentos jurídicos.

Infelizmente, o meu relatório não teve outros andamentos. Não tive o apoio dos colegas para esse trabalho de ajustes. Agora, tento readequar a lei, por intermédio de projetos individuais, um por um. A minha alternativa foi fragmentar a reforma da lei orgânica, de forma paulatina.