Amastha “fecha” com Kátia Abreu e diz que projeto de poder é para 50 anos
13 junho 2015 às 12h51

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Aliança entre “inimigos” mostra que cenário político para as eleições do ano que vem em Palmas promete ser inusitado. Agora, se será bom para o prefeito, apenas o futuro poderá dizer

Gilson Cavalcante
Em mais um episódio pitoresco, o prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PSB), deu demonstração clara de como não se deve fazer política com previsões longínquas. Na semana que passou, ao fechar acordo formal com o grupo político da senadora licenciada e ministra Kátia Abreu (PMDB), abrindo sua gestão para a participação do PSD do deputado federal Irajá Abreu, o prefeito prolatou que essa aliança significa um projeto de poder para 50 anos. E provocou: “Ninguém vai nos tirar o poder pelos próximo 50 anos”.
Muita pretensão e ousadia de um líder político fazer tais previsões, quando se sabe que os adversários de hoje são os aliados de amanhã. E o prefeito se esqueceu disso ou fez vista grossa para um passado recente: nas eleições do ano passado, Amastha parecia que era o candidato a governador ao atacar a então senadora candidata à reeleição Kátia Abreu, cujo filho, o vereador licenciado Iratã Abreu, foi o maior desafeto político do prefeito na Câmara Municipal de Palmas. Tornaram-se, portanto, inimigos viscerais desde o início da gestão.
Amastha lembrou em seu discurso que a aliança é perene e para um futuro longo, mas ressalvou que não é hora de lançar nomes ao governo. “Outro dia me lançaram governador. Eu digo que o governador é Marcelo Miranda e, se for bem, é o candidato natural à reeleição”, ponderou, com os pés em dois caminhos, dando um passo maior do que as pernas permitem.
O que se cogita é que Iratã pode ser o candidato a vice-prefeito de Amastha em 2016. E o projeto é que o prefeito, na hipótese de ser reeleito, deixaria o cargo para disputar uma das duas vagas de senador em 2018. Até aí, tudo bem. Todo político tem o direito de fazer suas projeções, mas daí contar com uma aliança de cinco décadas no poder é muita infantilidade política ou jogo de cena para acender a fogueira sucessória municipal e, com isso, ganhar mais visibilidade para 2018.
Se o prefeito estava de namoro com o PSD desde o pedido de licença do vereador Iratã Abreu, em fevereiro deste ano, por que se filiou ao PSB, que é um partido adversário da presidente Dilma Rousseff, e não aguardou para ingressar na legenda do ministro Gilberto Cassab, das Cidades? Pelo visto, suas atrapalhadas políticas talvez sejam para confundir possíveis e eventuais adversários.
O prefeito Amastha usou como cenário para as suas declarações nada menos que a chácara da senadora Kátia Abreu, em Palmas. E quem estava por lá, com cara de paisagem? O deputado federal Carlos Gaguim (PMDB), do grupo da ministra da Agricultura. Todo mundo sabe que Gaguim trabalha para disputar a prefeitura de Palmas e anda fazendo sérias críticas ao prefeito da capital. Este é um dos nós góticos da questão sucessória. A gestão de Amastha conta com o apoio, inclusive do PMDB, além do PT, PSB, PSDB e agora do PSD. O que se pergunta nos bastidores da política é se o prefeito vai conseguir manter esse grupo coeso em torno de seu nome. Até os menos desavisados sabem que dificilmente Amastha continuará até o final do ano que esse elenco de legendas a seu favor, a começar pelo PMDB e PT. O PSB, o mais novo aliado do Palácio Araguaia, também deve seguir o mesmo caminho.
Nada mais que quatro membros do PSD fazem parte, agora, da gestão do prefeito Amastha. E veja a justificativa do presidente estadual do PSD, Irajá Abreu: “Tenho certeza que o prefeito de Palmas está dando a oportunidade para pessoas competentes, com perfil político e técnico que estão preparadas para exercer essa função. Os novos secretários municipais estarão buscando recursos e oportunidades em Brasília através da força e a representatividade que o partido tem junto ao governo federal, em especial junto ao Ministério das Cidades, Ministério da Agricultura e outros importantes órgãos federais”.
Controvérsias
Irajá Abreu ressalta que o espaço que o seu partido não conseguiu no governo estadual, foi oferecido pela Prefeitura da Capital. Peemedebistas históricos do Estado acham que o parlamentar está equivocado ao sustentarem que o PSD participa do governo ao citar as nomeações de Hermes Azevedo na secretaria executiva da Seagro, de Ho-Che-Min Vieira no comando do Hospital Regional de Augustinópolis, além de vários cargos de assessoramento na estrutura do Executivo estadual.
Apesar das animosidades entre o grupo de Kátia Abreu e Marcelo Miranda, a avaliação que se faz é de que, apesar das declarações do deputado Irajá Abreu, o relacionamento entre os dois líderes políticos vem sendo restabelecido paulatinamente, mas com muita cautela, para evitar futuras dissensões, pelo menos até as eleições de 2016.
“Esta semana (semana que passou), vimos o prefeito selar a sua união com políticos que ele sempre classificou como aqueles que atrasavam Palmas, como aqueles que eram o retrocesso. Com esta atitude, o prefeito deixou claro que suas palavras ditas em campanha não eram espontâneas, não eram de coração, mas sim uma artimanha política. Palavras que foram ensaiadas com o único objetivo de se chegar ao poder”.
O comentário, em tom de provocação, é do vereador Joaquim Maia (PV de Palmas) e se refere à aproximação do prefeito Carlos Amastha com o grupo político da senadora e ministra Kátia Abreu. “Ele (Amastha) que se anunciou como o novo, condenando a prática da ‘velha política’, demonstrou que tudo não passou de um marketing previamente elaborado”, resumiu o parlamentar.
“Percebendo a vontade popular que ansiava por mudança, decorou um discurso e se apresentou como o novo, mas hoje mostra que tudo não passou de uma estratégia para se chegar ao poder”, acrescentou Maia, para quem o prefeito chegou a dizer que, com esta união, o grupo irá governar Palmas pelos próximos 50 anos, “justamente o contrário do que sempre pregou quando criticava que a política deveria ter alternância”.