Após quase um mês de debate interno e organização da estrutura, a campanha finalmente toma o caminho das ruas. A partir de agora começa a temporada de comícios, principal suporte do palanque eletrônico que pode ter influência decisiva no pleito 

Ruy Bucar

Tocantins_1885.qxd

Até aqui a campanha foi morna. Meio improvisada, com movimentação de menos e especulação de mais, talvez em função da expectativa em torno do julgamento dos pedidos de registro de candidaturas que tramitam junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e que ainda traz certa insegurança jurídica, principalmente para os candidatos de oposição, alvos das impugnações.

Fora isso não há nenhuma justificativa para o atraso no calendário da campanha no Tocantins. A desculpa de falta de recursos apresentada por alguns não serve para todos. O senador Ataídes Oliveira (Pros), que vai financiar a sua campanha totalmente, e o candidato do governo, Sandoval Cardoso (SD), certamente não se ressentem de falta de recursos para decolar suas campanhas. Segundo dados do TRE com base na declaração dos candidatos, a campanha no To­cantins terá um custo total de mais de R$ 100 milhões.

Os advogados dos candidatos com pedidos de impugnação garantem que o resultado deste processo de julgamento não deve alterar o contexto da disputa. As impugnações apresentadas não os tornam inelegíveis.

Até agora a campanha praticamente não existiu em termos de rua, mas daqui para frente tudo caminha para ser diferente. Pelo menos é o que se espera e o que os marqueteiros preveem. Em agosto começa a temporada de comícios, principal suporte de conteúdo do horário eleitoral no rádio e na TV, que pode ter forte influência na decisão dos eleitores, e onde de fato a campanha acontece, segundo os profissionais do marketing encarregados do conteúdo do palanque eletrônico.

A menos de 70 dias da eleição os candidatos a governador Marcelo Miranda da coligação “A experiência que faz a mudança” (PMDB, PV, PT e PSD); Sandoval Cardoso, da coligação “A mudança que a gente vê (SD, PSDB, PTB, PDT, DEM, PPS, PSB, PRB, PP, PR, PTC, PEN, PHS, PSL, PRP e PSC); Ataídes Oliveira, da coligação “Reage Tocantins” (Pros, PTN, PCdoB, PMN, PPL, PSDC e PTdoB; Carlos Potengi (PCB); Joaquim Rocha (PSol); e Luis Cláudio (PRTB) não têm mais tempo a perder. Quem não colocar a campanha na rua começa a perder na largada.

Com exceção do governador Sandoval Cardoso, que tem feito campanha no embalo das ações do governo, ainda assim de forma tímida em função dos próprios problemas da gestão, os outros candidatos têm tido dificuldade de dar o próximo passo, levar a campanha para a rua. Na semana passada o candidato governista fez um apelo os integrantes da sua chapa para iniciar a campanha. Certamente porque considera que a campanha para a base governista ainda não começou.

Sandoval tem recursos e estrutura de campanha, o que falta é apelo popular. O candidato governista tem outro grande desafio, reduzir o impacto da imagem negativa do governo com problemas de toda ordem acontecendo todos os dias, os mais graves nas áreas da saúde, da segurança e na recuperação das rodovias.

Sandoval está em campanha desde que assumiu o governo, em abril. A partir de agosto deve concentrar no foco nos locais onde seu nome não é conhecido, ou onde o seu governo não tem graves problemas. O marqueteiro Duda Men­donça aposta todas as suas fichas no palanque eletrônico.

O senador Ataídes Oliveira foi o primeiro a montar a es­tru­tura de campanha, mas ainda mantém o trabalho em nível interno. A­taídes é um dos nomes mais preparados desta campanha. Tem co­nhecimento de causa, tem discurso afinado com os sentimentos populares, tem recursos e estrutura de campanha. Aliás, foi o primeiro a montar um comitê bem estruturado, uma espécie de central de logística para dar suporte à campanha. Mas tem um grave problema: o artificialismo.

Talvez em função do poderio econômico e do gosto pelo planejamento que vem da iniciativa privada, a campanha do senador é muito bem organizada, de bom gosto e indiscutível profissionalismo, mas falta povo. E sem povo nada resolve em campanha. Não basta ter estética, refinamento e qualidade, é preciso visibilidade. O próprio candidato espelha bem a imagem da sua campanha. Um belo desafio para o marqueteiro Vieira de Melo, que certamente está atento a tudo, senão não estaria onde está.

O candidato Marcelo Miranda é o mais cotado nas pesquisas de intenção de voto. Conseguiu formar uma chapa quase imbatível, mas talvez seja o mais atrasado na organização da campanha. Até agora não dispõe de estrutura e toca a campanha de forma improvisada com apoio de voluntários, que nem sempre têm a agilidade que se exige nesta fase delicada da construção da campanha. Marcelo não tem recursos, mas tem como conseguir. O seu marqueteiro predileto, Marcus Vinicius Queiroz, ainda não deu as caras no Tocantins.

Marcelo Miranda tem obrigação de montar uma estrutura bem articulada capaz de contrapor a propaganda dos governistas de que não será candidato e se for não poderá tomar posse, o que de alguma forma pode in­fluen­ciar o eleitor. Não fosse assim, esse mote não estaria sendo usado exaustivamente pelos governistas, como de fato vem sendo. Os governistas sabem que não podem impedir Miranda de ser candidato, mas podem desgastá-lo, lembrando a eleição para o Senado em que não tomou posse. Vai que cola.

Quando entrar em campanha pra valer, Miranda com sua chapa de peso tende a modificar o cenário e vai obrigar o restante a acelerar os passos. O peemedebista, pelo nível de organização da sua campanha até aqui, deve ser o último candidato a entrar em campo. É possível que a estrutura desta coligação só entre em operação a partir do dia 5 de agosto. E com força total, somente a partir do dia 19 de agosto, quando começa o palanque eletrônico.

Os candidatos alternativos, Joaquim Rocha, Carlos Potengy e Luis Cláudio, estão no mesmo nível de organização, ainda na captação de recursos para custear as despesas com o palanque eletrônico. Todos já decidiram que vão concentrar a campanha em Palmas, com poucas viagens ao interior. Eles decidiram manter foco no palanque eletrônico e participação em debates.

No Tocantins já virou tradição. A campanha eleitoral só começa efetivamente depois da Romaria do Senhor do Bonfim. Aliás, os candidatos a governador costumam marcar presença no encerramento da romaria, que tradicionalmente vira o primeiro dia de campanha com disputa por espaço na celebração religiosa que todos os anos leva uma multidão ao povoado do Bonfim, em Natividade. Este ano certamente não vai ser diferente. Portanto a partir do dia 1º de agosto a campanha eleitoral no Tocantins entra numa nova fase e finalmente, depois do dia 15, tomará o caminho das ruas.