Em 33 anos, a última capital planejada do Brasil tentou várias vocações até se consolidar como a nova metrópole da região

Vista ampla de Palmas, que fez 33 anos | Foto: Divulgação

No princípio era a cidade administrativa que iria inspirar o desenvolvimento do novo Estado do Tocantins. Uma nova Brasília, erguida entre duas grandes belezas naturais, o Rio Tocantins (transformado em grande Lago da Usina Luiz Eduardo Magalhães) e a Serra do Carmo. Uma cidade planejada, estudada nos mínimos detalhes, com avenidas amplas, estruturada ao longo de dois grandes eixos, as avenidas JK e Teotônio Segurado, esta última com 150 metros de largura.

No dia 20 de maio de 1989, apenas cinco meses de implantação do Tocantins, o então governador Siqueira Campos aciona os tratores, dando início a construção do que chamou de “capital ecológica do ano 2000”, a última capital planejada do século 20. Com o tempo, a cidade administrativa foi conquistando outras funções e experimentando outras vocações. Polo de educação, polo de saúde, polo atacadista, capital do Matopiba, até se consolidar como a nova metrópole do Cerrado.

Palmas tem apenas 350 mil habitantes, segundo dados do IBGE, mas é inegável a sua vocação para exercer o papel de metrópole. Papel que já desenhava no início da construção e que, com o tempo, foi mudando de perspectiva. Metrópole não no sentido de grande, mas na importância como referência regional, resultado da sua capacidade de se reinventar.

A cidade nasce com uma missão bem definida, ser a cidade administrativa, que deveria irradiar o progresso para o novo Estado. Pelo menos era o que o seu idealizador, o ex-governador Siqueira Campos, dizia na época. A função era muito mais pretensão do que propriamente possibilidade de vir a ser.

Era justificativa política para a concentração de recursos públicos na construção da capital, em detrimento do restante dos municípios com carência histórica de investimentos em todas as áreas. Era visível o descontentamento dos gestores municipais com aquele projeto que só consumia os parcos recursos do Estado e de certa forma, se alcançasse sucesso, concorreria para esvaziar as maiores cidades. Por algum tempo, Palmas era vista como uma “teimosia do Siqueira” e não como a cidade que ajudaria a ordenar o desenvolvimento do Estado.

Não há como negar que, por muito tempo, Palmas cresceu às custas do esvaziamento das cidades de Miracema, Paraíso, Gurupi e Porto Nacional. Algumas enfrentaram um período de desequilíbrio, com a fuga de profissionais e de empreendimentos de vários ramos de negócios. A função administrativa ainda é a característica mais acentuada de Palmas, mas a cidade é mais do que apenas sede de órgãos públicos.

Com o tempo Palmas se transforma em polo de educação. Conta com mais de dez instituições de ensino superior: Universidade Federal do Tocantins (UFT); Universidade Estadual do Tocantins (Unitins); Instituto Federal do Tocantins (IFTO); Centro Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra); Universidade Católica do Tocantins (UniCatólica); Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC – Palmas); Faculdade Serra do Carmo (Fasec); Faculdade Objetivo (IEPO- Palmas); Faculdade Palmas (Fapal); e a Faculdade Itop. Isso totaliza mais de 20 mil estudantes de graduação nas diversas áreas do conhecimento, com vários programas de mestrado e doutorado, o que significa dizer que é uma cidade que se destaca também como produtora de conhecimento. Um ativo importante na organização das sociedades do futuro.

Com a inauguração do Hospital Geral de Palmas Francisco Ayres da Silva, em 2005, um hospital de referência para o Norte do Brasil, e um conjunto de estruturas de saúde que ganhou a partir dessa grande obra, Palmas passou a ser polo de saúde. A cidade conta com pelo menos mais quatro hospitais de grande porte – Hospital e Maternidade Dona Regina, Hospital da Criança, Hospital Osvaldo Cruz e Hospital Ortopédico – e ainda uma gama de clínicas e outros serviços. Em breve, deve ganhar mais um hospital de referência, o Hospital de Amor, ligado à rede Hospital de Câncer, de Barretos.

Com a construção de um novo shopping em 2010, Palmas assume uma nova vocação: polo atacadista. O empreendimento conseguiu atrair para Palmas lojas que só se instalam em cidades com mais de 500 mil habitantes. O argumento usado para convencer as empresas a virem para Palmas é que o mercado consumidor da capital, contando a sua área de influência, soma quase 1 milhão de pessoas. A partir do shopping, grandes grupos atacadistas se instalaram em Palmas, consolidando essa sua nova vocação.

O certo é que Palmas pode ser considerada metrópole do Cerrado, encravada no coração do Brasil e que impacta o desenvolvimento de toda a região do chamado Matopiba, a nova fronteira do agronegócio do Brasil que contempla, além do Tocantins, as regiões oeste da Bahia, sul do Maranhão e sul do Piauí. Palmas é a maior e mais importante cidade dessa região. Aos 33 anos, Palmas segue se reinventando, descobrindo novas possibilidades e mantendo um ritmo de crescimento que ainda hoje chama a atenção. Já não tem mais canteiros de girassóis, mas mantém sua simbologia: a cidade onde o sol nasce para todos.