O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) realiza um governo razoável, algo próximo ao bom, mas ainda distante do que poderia ser classificado como ótimo. A imagem do governo, porém, é de excelência, sem críticas ou questionamentos. O silêncio da oposição faz com que o governo Wanderlei Barbosa pareça um dos melhores de todos os tempos. Se houvesse oposição minimamente ativa, talvez não passasse de regular.

É preciso reconhecer que o governo Wanderlei tem inúmeros acertos, mas também, naturalmente, muitos erros. Aliás, seu maior acerto está na humildade em reconhecer os erros e voltar atrás para corrigi-los. O governador não hesita em recuar quando percebe desgaste. Ele deixou bem claro essa postura ao solicitar a retirada da pauta da Assembleia Legislativa o Projeto de Emenda à Constituição da reforma da previdência, que é uma bomba que virá cedo ou tarde.

A matéria estava pautada na Assembleia Legislativa para ser votada às pressas no final do ano legislativo, em meio a um pacote de medidas sem discussão alguma. A gritaria dos sindicatos que representam os servidores públicos, apontando manobras para aprovar uma matéria impopular, fez o governo recuar e chamar para o debate. O recuo não apaga a prática pouco transparente de governos autoritários. O governador agora garante que a matéria que enviará aos deputados será aquela que receber da comissão criada especialmente para debater o assunto.

Na área da saúde, o governador adotou como prioridade acabar com a fila de cirurgias eletivas, que ultrapassava 10 mil. O governador já está há quase 20 meses no cargo e a fila ainda permanece.

O que faz o governo Wanderlei parecer excelente, melhor do que realmente é, não se deve propriamente aos bons resultados do governo, que ainda são poucos, mas à inexistência ou incompetência da oposição. Isso, de fato, parece ser um grande desafio para os líderes que não acompanham o governo. Não são poucos, mas, no momento, se tornaram inexpressivos por não exercerem mandato, e aqueles que têm mandato, independentemente da origem, querem ser governo.

Para se ter uma ideia, dos 24 deputados que integram a Assembleia Legislativa, todos apoiam o governador de forma incondicional. Desse total, pelo menos oito foram eleitos por partidos de oposição e não veem nenhuma incoerência em defender o governo. Uma frase do deputado Eduardo Fortes (PSD) ilustra bem o contexto: “Eu nunca fiz oposição na minha vida”. Eduardo Fortes é um dos eleitos pela oposição com o qual não se identifica.

No Congresso Nacional, os representantes do Tocantins também estão bem alinhados com o governador Wanderlei Barbosa. Dos oito deputados federais que compõem a representação do Estado na Câmara Federal, todos apoiam o governo, assim como dois dos três senadores tocantinenses – Professora Dorinha (UB) e Eduardo Gomes (PL). Apenas o senador Irajá Abreu (PP) se apresenta como oposição, sem nenhuma convicção, mas insiste em fazer o papel.

A inoperância da oposição tem nome: Ronaldo Dimas (PL), Marcelo Miranda (MDB), Eduardo Gomes (PL), Carlos Amastha (PSB), Kátia Abreu (PP) e Paulo Mourão (PT) que, após as eleições, desapareceram ou silenciaram. São nomes tradicionais da política tocantinense que defenderam outros projetos nas urnas, mas que foram atropelados pelo fenômeno Wanderlei Barbosa, que é um fenômeno essencialmente da força do poder e que se torna ainda mais representativo quando não há oposição.

Ronaldo Dimas não disse uma palavra sequer após as eleições. O silêncio é um sinal de que não apenas assimilou a derrota, mas também passa despercebido. Para piorar, seu filho, o ex-deputado Tiago Dimas (Podemos), não conseguiu se reeleger. Seu preposto, o prefeito de Araguaína, Wander Rodrigues (SD), está cada vez mais próximo do Palácio Araguaia. Wagner sabe que seu grande adversário será escalado pelo Palácio Araguaia, mas a disputa pode ser mais equilibrada se ele também for um aliado do Palácio Araguaia. Neste caso, faz bem Dimas se manter em silêncio.

O ex-governador Marcelo Miranda lidera um partido que já foi o maior do Tocantins, o MDB, mas hoje é uma legenda pequena, sem representação parlamentar. Esse insucesso eleitoral tem sido atribuído ao comodismo dos dirigentes, que pouco ou nada fizeram para revitalizar uma legenda tradicional que aos poucos vem perdendo prestígio para siglas novas que têm melhores respostas para os desafios partidários dos novos tempos. A própria candidatura do ex-governador a deputado estadual foi considerada um fiasco. Marcelo tem sido provocado a promover um movimento para resgatar o velho MDB, mas não reagiu às provocações.

O senador Eduardo Gomes (PL), fiador do projeto Dimas, parece ter esquecido que já esteve na oposição. No meio político, Gomes já é visto como aliado e pode até mesmo aproximar o Dimas, abrindo caminho para a construção de uma super chapa para 2026. Gomes é governo, seja quem for o governante. Certamente não terá dificuldade em compor com Wanderlei. É uma questão de tempo. Se a oposição quisesse, faria. Mas não é do seu perfil.

O ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) é oposição declarada ao governador Wanderlei Barbosa, mas seu foco é Palmas e não o Estado. Ele é candidato a prefeito e, nessa condição, inevitavelmente irá confrontar o governador. Amastha tem opinião própria, gosta do debate e sabe dos pontos fracos do governo, mas já aprendeu que, em política, é preciso ter foco. Sua luta no momento é retomar o comando da prefeitura da Capital. Seguramente, guardará munição para atacar o deputado Ricardo Ayres (Republicanos), se esse for o candidato do Palácio Araguaia. Os dois não se dão bem. Amastha já pediu a Ayres que deixasse o seu partido quando era deputado. Já existe animosidade entre ambos.

O ex-prefeito Paulo Mourão (PT) tem veia de oposição, conhece a política tocantinense por dentro e sabe como ninguém onde o governo poderia ser melhor do que se apresenta. Talvez o líder petista esteja mais preocupado com os resultados do governo Lula e o impacto que isso pode ter na esquerda no Tocantins. Mourão é o principal nome da esquerda no Estado. Por ele devem passar acordos importantes para 2024 e 2026, envolvendo a Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PC do B). A tendência é que, quanto mais o governador Wanderlei se aproximar do governo Lula, mais Mourão deve se manter neutro em relação ao governo estadual.

A ex-senadora Kátia Abreu (PP), outrora uma voz vigorosa e estridente da oposição, perdeu força por não possuir mais um mandato. Kátia deve ter razões de sobra para a solene indiferença com o andamento do governo Wanderlei. Foi aliada de primeira hora e preterida na escolha do nome para o Senado em 2022. Kátia é uma liderança de peso e certamente ainda voltará aos palanques. Com certeza, é um nome a reforçar a união da oposição, quando isso acontecer.

O senador Irajá Abreu é o único parlamentar com mandato que tem se aventurado a exercer a função de fiscalizar os atos do governo e denunciar o que acha que são decisões equivocadas. Entretanto, como não possui vocação para o papel, tem parecido mais um “menino birrento”, que reclama por reclamar, diferente de um parlamentar de oposição que aponta erros e conquista adesão da opinião pública e promove mudanças importantes no andamento do governo.

Enquanto isso…
Enquanto isso, o governador Wanderlei Barbosa segue em alta. Governando com tranquilidade, sem pressões nem críticas da oposição, ele tem desempenhado suas funções com sucesso e recebido tratamento de gestão impecável. O governo ainda está no início, mas já é considerado o mais bem avaliado da história do Tocantins. Não se pode negar o mérito do governador, que é um jovem esforçado, humilde e carismático. No entanto, ele ainda não é uma unanimidade, exceto no Parlamento, onde sua popularidade muitas vezes é resultado de outras razões, nem sempre republicanas.

A cooptação por meio de cargos públicos pode ser eficaz, mas costuma ter um preço alto. O ex-governador Mauro Carlesse seguiu esse caminho e, em determinado momento, tornou-se tão poderoso que confundiu os interesses públicos com os privados. Ele transformou secretários em chefes de negócios, usou a polícia para fins particulares e privatizou áreas de interesse público e comunitário. Isso teve consequências graves. A oposição pode significar questionamentos ou críticas, mas também pode significar um governo saudável, democrático e transparente, características essenciais para que qualquer governo possa merecer a credibilidade e a confiança da sociedade.