Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins diz que não se pode depender mais do governo na geração de emprego

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto), Roberto Pires

A princípio, pode se pensar que Roberto Pires, um dos empresários mais bem sucedidos do Tocantins, é um homem inatingível. Contudo, o convívio por alguns momentos ou horas joga por terra tal ideia. Pires é sujeito simples, expressivo em suas ideias e compromissado com suas atividades. Mantém negócios nos Estados do Tocantins, Pará, Maranhão e Minas Gerais nos segmentos da agropecuária, construção civil, imobiliário, automotivo e de hotelaria.

Sua família se estabeleceu em Araguaína quando sequer o Estado do Tocantins havia sido dividido, ainda na década de 1980. Pires interrompeu o curso de Medicina Veterinária para trabalhar nos negócios da família ao fixar residência em Araguaína no ano de 1987.

Foi presidente do Sinduscon-TO [Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado do Tocantins] e, a partir de outubro de 2009, assumiu a presidência da Fieto [Federação das Indústrias do Estado do Tocantins]. Em 2012, foi eleito por unanimidade presidente da federação para o quadriênio 2012/2016. Simultaneamente, presidiu também o Conselho Deliberativo do Sebrae Tocantins. Em 2016 foi reeleito como presidente da Fieto para o período 2016/2020.

O sr. considera que seu histórico empresarial lhe credenciou a ser alçado à condição de presidente da Fieto e depois reeleito?
Minha família fixou residência e negócios no Tocantins ainda na década de 1980, especificamente em Araguaína, que servia de entreposto para as atividades familiares nos Estados do Maranhão e Pará. Hoje nossa atuação está focada em hotelaria, concessionárias automotivas, construção civil e pecuária.

Por certo, os empreendimentos de sucesso levaram meus pares a confiar no meu trabalho, a ponto de representar seus interesses à frente da Fieto. A minha responsabilidade, portanto, é enorme.

O conglomerado Fieto é composto pelo Sesi, Senai e IEL [Instituto Euvaldo Lodi]. Como se dá a confluência das três instituições e qual o segredo para administrar tudo sem percalços?
O Sistema Fieto é composto pelas quatro casas e tem por missão defender os interesses das indústrias no Tocantins. É uma instituição sem fins lucrativos e foi criada em 1992, gerida por um conselho formado por representantes de 12 sindicatos patronais da indústria. 

O Sistema Fieto é reconhecido no Estado como principal interlocutor dos interesses do setor industrial entre empresários, sociedade e poder público por participar ativamente das principais ações que determinam os rumos da economia tocantinense. Isso é possível graças às diversas atividades desenvolvidas por suas casas, tais como pesquisas, publicações e parcerias firmadas pela Fieto.

Já os projetos sociais são mantidos pelo Sesi, que tem primazia pela educação básica, aulas em 3D, robótica, saúde e segurança do trabalhador. A formação de mão de obra qualificada e aprendizagem industrial fica por conta dos cursos promovidos pelo Senai. Por fim, o IEL promove o elo e a interação entre a classe industrial e instituições de ensino e pesquisa. Todas essas atividades se interligam e contribuem sistematicamente para o crescimento socioeconômico do Estado do Tocantins.

O IEL também é voltado para o seguimento da inovação?
Sem dúvidas. Essa é uma das outras missões do IEL. A agenda da inovação para o empresariado é de crucial importância e deve ser contínua, face ao ambiente extremamente globalizado. Os empresários precisam inovar com eficiência, sob pena de estarem fadados a não ter sucesso em seus negócios. Temos entregado prêmios pelos projetos de inovação mais bem sucedidos. Creio que isto seja uma forma de promover as boas ideias.

Como é a relação com a CNI [Confederação Nacional da Indústria]?
A CNI tem a visão de ajudar os Estados pouco industrializados exatamente porque é necessário incentivar e fomentar esses entes federados a crescer. São subvenções e projetos que são mantidos graças ao auxílio da confederação. Nossa captação de receita – obtida junto à cobrança de percentuais da folha de pagamento das empresas – é muito pequena se comparada a outros Estados. Contudo, há uma redistribuição dos investimentos pela CNI e isso nos ajuda a prosperar e crescer.

Quais seriam as alternativas, na visão do sr., para que o Estado do Tocantins encontre o caminho da industrialização?
A participação do PIB da indústria no Tocantins já representou 22%, mas hoje se resume a 13%. Não significa que a indústria encolheu, mas o fato é que os outros segmentos experimentaram crescimentos vertiginosos.

Certamente a logística da ferrovia Norte-Sul é um grande passo para a industrialização do Estado, uma vez que várias atividades comerciais e industriais vão se instalar – nos próximos cinco anos – no pátio multi-modal da ferrovia, localizada em Luzimangues. Acredito que, em breve, as rodovias mais importantes do Estado do Tocantins serão duplicadas e isso facilitará a industrialização.

Contudo, antes de tudo, se a nossa economia está voltada para o agronegócio, não podemos deixar que 100% das commodities sejam exportadas de forma “in natura”. É necessário agregar valor e transformar esses insumos. Isto gera pouco emprego e renda, naturalmente. Por isso, nossa industrialização está ligada – intimamente – à transformação dos alimentos.

Recentemente fizemos um estudo sobre as cadeias produtivas do Tocantins. Entregamos o relatório final do governo do Estado com todas as orientações para alavancar o segmento. De posse dessas informações, deve o governo criar políticas públicas para atrair capitais e investimentos.

Não se pode mais depender do governo para gerar empregos, algo em torno de 42% das pessoas sobrevivendo da máquina pública, enquanto nos Estados industrializados esse percentual não ultrapassa 15%. É preciso mudar esse quadro e há mecanismos para isso.

E qual a percepção do sr. quanto à Agenda Legislativa, recentemente entregue pela Fieto ao presidente da Assembleia Legislativa e ao vice-governador?
Elaboramos anualmente essa Agenda e entregamos aos governantes. É uma forma de mostrar ao legislativo o impacto das leis nacionais e estaduais sobre a indústria e o comércio. Compilamos tais normas e expressamos nosso parecer, se convergente ou divergente e o porquê, como também as eventuais ressalvas.

Temos um bom capital humano e um grande número de estudos, documentos e informações que podem ser disponibilizados aos parlamentos. São frutos de sérios estudos, que podem ajudar os governantes a se orientar melhor sobre os temas.

Palmas é o município que mais exportou e importou, de acordo com dados da Balança Comercial do primeiro trimestre de 2019. Como o sr. recebeu esses números?
Por ser capital, é natural este protagonismo e potencial. O número impressiona. Porém, tem de ser levado em consideração que esses números incluem o desembaraço das mercadorias para sair ou chegar do Tocantins. Isso, naturalmente, deve ter influenciado. Independente disso, as cidades de Porto Nacional, Pedro Afonso, Formoso do Araguaia, Araguaína, entre outras, também apresentaram números expressivos. 

A comunhão entre indústria e comércio obriga da Fieto a manter uma relação estreita com a Acipa [Associação Comercial e Industrial de Palmas] e a CDL [Câmara de Dirigentes Lojistas]?
Nossa relação institucional com Acipa, CDL, Fecomércio, Sebrae – como também com o governo – é a melhor possível. Os interesses comuns nos aproximam e a união dos esforços são, quase sempre, convergentes. Especificamente à Acipa, vamos participar da FenePalmas [Feira de Negócios de Palmas] deste ano. O convênio já está firmado.

No que concerne ao Feirão de Crédito, sabemos que os grandes gargalos são o acesso ao crédito, a carga tributária e a informalidade. Assim sendo, temos um núcleo de apoio que tem o objetivo de promover a aproximação das instituições financeiras ao nossos representados. Isso facilita muito os negócios e abre novas perspectivas. No ramo da energia solar, por exemplo, um mercado em franca ascensão, ficamos impressionados com a quantidade de empresários interessados, como também a quantidade de bancos propensos a financiar os negócios.

Qual a percepção do sr. acerca da Agrotins [Feira Agropecuária do Tocantins]?
Fantástica. Essa feira tecnológica – a maior da Região Norte – representa o que há de melhor em avanços para a agropecuária. Pretendemos fazer o mesmo com a indústria de alimentos, agregar valor, além de fomentar a economia em breve espaço de tempo. Logicamente, o governo precisa fazer incentivos fiscais, na medida em que as indústrias localizadas em outros Estados só teriam interesse em se instalar no Tocantins dessa forma. O Estado ainda não possui um “poder de consumo” considerável, mesmo porque só possui 1,5 milhão de habitantes. Neste caso, para atrair indústrias para cá, faz-se necessário a implantação de políticas de incentivos fiscais.