Os colégios estaduais Olavo Bilac e Duque de Caxias, assim como o Cmei Aeroviário I, estão localizados no Setor Aeroviário, em Goiânia, nas proximidades da rodoviária de Campinas e do terminal do Dergo, no Eixo Anhanguera. A região é chamada pelos moradores e comerciantes de “Cracolândia da Capital”. Isto por conta do grande número de usuários de drogas e moradores de rua presentes em praticamente todas as ruas no entorno das unidades de ensino.

Para muitos alunos, estudar, ir à escola é um momento agradável. No entanto, este não é o sentimento de grande parte dos estudantes das duas escolas na região, principalmente para aqueles que estudam no período noturno. A reportagem do Jornal Opção esteve no local, motivada por denúncias sobre o perigo que passam estudantes, funcionários, pais e responsáveis pelos alunos.

Conforme apurado, há relatos de assaltos praticados pelos usuários de drogas contra alunos, principalmente na saída, às 22h30. Além disso, são frequentes episódios de aliciamento de adolescentes, tanto para comprar drogas como para servir de aviãozinho (aquele jovem usado pelo traficante para passar “mercadorias”). Os relatos dão conta de  que as abordagens acontecem, muitas vezes, à luz do dia, ainda que a menos de 500 metros do local estejam instaladas a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), o Batalhão Rodoviário e a Polícia Civil.

Equipe ameaçada

Moradores da região são acusados de aliciar e ameaçar estudantes nos arredores das escolas | Foto: Fernando Leite

Para se ter uma ideia do quanto é perigoso passar por ali, ao chegar no local para colher imagens e depoimentos, a equipe de reportagem foi alvo de hostilidade. Alguns usuários de drogas e moradores de rua começaram a gritar e perguntar o que estava sendo feito ali, partindo para cima do carro com pedaços de pau nas mãos e obrigando a saída imediata, dando a ideia de que são eles que mandam no local.

De fato, muitos entrevistados informaram que buscam os filhos há bastante tempo e é muito difícil ver uma viatura policial passando no momento da saída dos alunos. A reportagem do Jornal Opção esteve no local em duas oportunidades no período noturno e constatou que realmente é deficitária a ronda policial.

Medo e insegurança

Durante o dia, o Colégio Duque de Caxias oferece aulas do sexto ao nono ano, e média de idade dos alunos é de 11 a 16 anos entre os alunos. São praticamente crianças. Mesmo sendo durante o dia, os estudantes revelam que não se sentem seguros. “Sabe a Cracolândia de São Paulo? Aqui é a de Goiânia”, disse uma das estudantes adolescentes, que pediu para não ser identificada, por receio de ser “marcada” pelos traficantes.

O perigo é tão frequente que, enquanto a reportagem apurava informações dentro da unidade, houve correria e gritos do lado de fora. Em reação, os próprios alunos já identificaram a situação corriqueira: uma briga entre os próprios usuários de drogas da região. “Está vendo, ‘seu repórter’, é disso que tenho medo. Por isso nós temos que ficar aqui dentro trancados, mesmo com as aulas terminadas. É como se nós fôssemos os ‘malas’”, relatou a adolescente.

No mesmo colégio, no período noturno, um funcionário narrou, pedindo privacidade, que a situação para todos é de muito medo e tensão. “Já presenciei um assalto na minha frente. E já aconteceu de a gente ligar para a polícia e demorar mais de 40 minutos para chegar. Alunos são perseguidos no trajeto da escola até o terminal, que fica a uns 150 metros de caminhada. Não se vê por aqui nem uma viatura”, denuncia.

À noite, no Duque de Caxias, é oferecido o Ensino para Jovens e Adultos (EJA). A aluna Márcia Cristina, de 36 anos, revela que o local é muito perigoso, principalmente na hora da saída. “Não me sinto segura, fico com muito medo. A região aqui é muito perigosa. Se não fosse o meu esposo vir me buscar, eu não estudaria aqui. Moro no Setor Nova Esperança, mas lá não tem o EJA, o mais próximo é esse”, relatou.

O marido da Márcia, Jhonny Luidy, busca a companheira às vezes de moto, às vezes de carro, mas, quando vai de carro, não fica dentro do veículo por medo. “Quando eu venho de carro, eu saio e fico de olho. Já tentaram me roubar. Eu jamais deixaria minha mulher ir para o terminal sozinha. Tem dois meses que ela estuda aqui e eu nunca vi uma viatura nem passar na rua. Poderia ter uma viatura nesse horário para dar segurança aos alunos dos dois colégios. Muitos precisam pegar o ônibus no terminal para ir para casa.”

Alunos relatam medo e crimes recorrentes nas proximidades de unidades de educação | Foto: Fernando Leite

Procurado pela reportagem, um funcionário do Colégio Olavo Bilac, que trabalha no local há 29 anos, pediu para não ter sua identidade revelada, com medo de represálias. Ao discutir a falta de segurança em volta das escolas, foi categórico: “Já foi bem pior, depois deu uma melhorada. Contudo, vieram os usuários de drogas que foram expulsos pela polícia lá das proximidades do terminal Padre Pelágio e aqui ficaram. Já vi muitos pais relatarem que tiraram o filho daqui por causa da falta de segurança. Alguns alunos voltam chorando porque foram assaltados indo para o terminal. Os usuários tomam os celulares dos alunos às vezes colocando arma branca [facas, punhais] nas costas deles”. Ele confirma que, quando precisaram acionar o Batalhão Escolar, a demora sempre foi maior do que 30 minutos. Quando os agentes chegam, os criminosos já desapareceram.

Josué Oliveira da Silva, pai de um aluno de 14 anos, disse que seu filho já foi assaltado quando estudava pela manhã. “Colocaram uma faca nas costelas do meu filho e levaram o celular. Não existe segurança nem para os alunos nem para nós, pais, que precisamos ficar esperando na rua. Queria pedir para a polícia ficar aqui nesse momento de saída dos alunos, pois eu nunca vi uma viatura no local.”

Diretora cobra policiamento

A reportagem ouviu a diretora do Colégio Estadual Olavo Bilac, Ana Catarina Feitosa de Araújo de Assis, para saber se a direção da escola está ciente dos problemas relatados pelos alunos, pais e funcionários.

Ana Catarina é gestora nos três períodos e trabalha na unidade de ensino há 15 anos, sendo que em dez deles como diretora. Ela diz que a má fama da região é antiga. “São pontos de prostituição e venda de droga, nos fundos e entre a sede da Secretaria de Segurança Pública e a escola. Sem contar as ruas em volta, que são muito perigosas. Nossos alunos sempre são abordados no terminal, e sofrem tentativas de aliciamento para comprar e vender drogas. Ultimamente os alunos têm sido assaltados no trajeto para casa ou para o terminal, normalmente com o uso de arma branca”, assinala.

A gestora explica que o percurso da escola até o terminal é muito perigoso, tanto pela manhã, quanto à noite. “O policiamento externo deixa a desejar. Quando temos algum problema dentro da unidade, o Batalhão Escolar sempre está presente quando é chamado. Porém, lá fora carece de mais rondas, principalmente nos horários de trocas de turmas. Não somente à noite, mas também durante o dia”, sugere.

A diretora conta que já fez vários ofícios para a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e para a Secretaria de Educação (Seduc), pedindo mais segurança nos arredores da escola. Ela diz que ambas as secretarias sabem da fama da região. “Somos até atendidos por um tempo, com viaturas fazendo rondas ostensivas. Depois param e não voltam mais. Queremos um trabalho constante. Sei que é uma situação complicada de resolver. Retirar esse pessoal das ruas não é fácil e é um trabalho a longo prazo. Mas poderia colocar pelo menos uma viatura nas proximidades das escolas na hora de entrada pela manhã, no momento de troca de turno vespertino e na saída à noite. A presença policial inibe o infrator. Esta seria uma solução a curto prazo.” E uma solução factível.

Resposta da Secretaria da Educação

Indagada sobre o assunto, a Secretaria de Educação, por intermédio do coronel Mauro Vilela, superintendente de Segurança Escolar e Colégios Militares, esclarece que a secretaria está de olho nessa situação e será dada uma atenção maior para as escolas citadas.

“Estamos tomando as devidas providências junto ao Batalhão Escolar e outros batalhões que estejam envolvidos com aquela área. Reconhecemos que é uma região perigosa e no que depender da Secretaria de Educação, essa situação será resolvida”, garante o coronel.

O superintendente informa que está em trâmite final uma verba extra para o Batalhão Escolar, que poderá ser utilizada na convocação de policiais em regime de hora extra para atuar nos horários mais críticos. “A função primordial do Batalhão Escolar é garantir a segurança dentro das unidades escolares; porém, como a situação exige, eles contribuirão também com as rondas ostensivas nas ruas adjacentes das unidades.”

Em relação a reivindicação de muitos pais, alunos e da gestora, no que diz respeito a presença de ao menos uma viatura nos horários mais perigosos, o coronel afirma que isto é possível. “Tivemos uma reunião na manhã da sexta-feira, 10, nas escolas e ficou certo o nosso comprometimento com a segurança dos nossos alunos e funcionários.”

Em nota, a Polícia Militar de Goiás reforça que a demanda foi repassada para o Comando do Batalhão Escolar, unidade responsável pelo policiamento escolar. “Ressaltamos que as rondas são feitas diariamente naquele local, mas reiteramos que todas as atividades serão intensificadas.”

CMEI

Mato alto em lote baldio localizado ao lado de Cmei | Foto: Fernando Leite

Em relação ao Cmei, que é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME), uma funcionária — que pediu para não ser identificada — relatou ao jornal que o local já sofreu vários furtos de equipamentos eletrônicos e outros objetos de valores. Segundo a funcionária, o medo é geral.

“O último assalto aconteceu em julho de 2022. Depois que colocaram uma cerca de concertina [cerca feita com arame farpado] não aconteceu mais. Acredito que são os usuários que fazem os furtos para poder comprar drogas”, disse ela.

Ao lado do Cmei, existe um lote baldio onde o mato está muito alto. A funcionária conta que os usuários estão sempre por ali e isso deixa todos com muito medo.

Pais de crianças também dizem que falta segurança e cobram a presença da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no local. “Eu nunca vi um guarda, quanto mais uma viatura aqui ou fazendo ronda pela manhã e nem no final da tarde”, manifestou uma mãe.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação (SME) de Goiânia e com a Guarda Civil Metropolitana (GCM), porém, ao contrário das escolas que são de responsabilidade do Estado, até o momento não obtivemos resposta.

Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.