Nos últimos cinco anos, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) catalogou os registros de violência contra mulheres no Estado. De acordo com os dados, de 2018 até 2022, os casos de feminicídio foram de 218, com 99.364 casos de violência doméstica e a concessão de 32.629 medidas protetivas. Isto é, no período, foi como se a cada meia hora uma mulher sofresse qualquer tipo de agressão.

No entanto, as autoridades alertam que os casos são subnotificados. Uma vez que muitos deles não chegam ao Poder Judiciário ou à polícia. Por isso, denuncie, ligue no Disque Mulher 180. Para se ter uma ideia, apenas em Goiânia há registros de 11.524 de casos cadastrados na Justiça. 

Embora haja uma lei mais severa em relação a agressões contra mulheres, no ano passado, os índices aumentaram. Feminicídio registrou 65 casos; violência doméstica, 24.884; e foram emitidas 16.210 medidas protetivas em Goiás.

Rede de proteção

Diante da exposição a tanta violência, a própria sociedade tem se organizado para a busca de prevenção. No Setor JK, por exemplo, um grupo de moradoras criou o Coletivo de Mulheres Região Noroeste, para se ajudarem. Coordenadora desse movimento, a pedagoga Welda Peres Damasceno, 50 anos, recorda que o primeiro ato foi um “grande apitaço contra o assédio dentro dos ônibus” no Terminal Padre Pelágio.

Depois disso, periodicamente, o grupo promove oficinas e ações, que tentam resgatar a estima das vítimas. Assim também, há orientações e prevenções sobre a violência doméstica. “Alertamos as mulheres para perceberem o início dessa violência, porque ela tem um ciclo. Às vezes ela começa com palavras, com xingamentos, com empurrões… O agressor se arrepende. Fica doce. Começa a dar presentes. Começa querer agradar. Mas depois vem de novo com a agressão verbal, até chegar a violência física ou até ao feminicídio”, alerta, acrescentando que a mulher precisa buscar ajuda.

Integrante do Coletivo, a servidora pública Elizabeth Osório da Silva Alves, 53, percebeu que as mulheres vítimas de violência necessitavam de uma rede de apoio, em quem pudessem confiar. “Nós fazemos um papel de formiguinha, porque quando nós decidimos sentar para nos organizarmos para esse grupo, nós pensamos naquelas mulheres mais vulneráveis, naquelas mais sofridas, que não tinha um sustento em casa e que não tinha nenhum aparo”, acentua.

Atualmente, o grupo conta com cerca de 50 colaboradoras, que prestam atendimento de apoio em média para quase 80 mulheres. “Trabalhamos com psicólogas, nós temos ajuda da assistência social para atenderem essas mulheres, que queiram chegar até a gente, pois chegar até a vítima de violência é muito difícil”, ressalta. Segundo ela, tudo ocorre por meio da confiança “para elas se abrirem com a gente”. 

O Coletivo atua também diretamente nos casos mais graves. “Buscamos apoio da prefeitura contra a retirada dessa mulher violentada da residência. E se necessário acompanhamos ela na delegacia. Se elas aceitarem nosso apoio”, frisa a agente de Saúde, Sirleide Oliveira da Silva, 42 anos. As três compõem a base de 25 mulheres do grupo que coordenam semanalmente as atividades e ações de combate à violência contra mulheres na região. 

“O trabalho é árduo e muitas vezes ficamos pensando que estamos enxugando gelo, mas vez ou outra temos um testemunho e vemos que o trabalho tem efeito e que ajudamos alguma mulher, então reanimamos e continuamos na luta”, compartilha Welda. Ela conta que nos encontros aos poucos os homens estão sendo incluídos, com o intuito de mudar a cultura de violência. “Esse trabalho com os homens chamamos de Campanha do Laço Branco”.