UPA Itaipú: “Aqui morre pacientes toda semana por falta de leitos em UTI”, diz técnica de enfermagem
02 dezembro 2024 às 17h25
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“Falta insumos, falta medicamentos, falta antibióticos, medicação essencial para quem está em uma situação grave em decorrência de infecção generalizada, falta até a dieta que os pacientes precisam usar quando estão usando sonda. Aqui morre pacientes toda semana por falta de leitos em UTI. Quem dera se fosse somente essas mortes noticiados pela imprensa, contou ao Jornal Opção uma técnica de enfermagem que pediu para não ser identificada, da Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) do Residencial Itaipú, em Goiânia.
A crise na saúde pública de Goiânia, que culminou na prisão do secretário de saúde, Wilson Pollara, ganhou repercussão nacional, inclusive na grande imprensa. A situação se agravou nas duas últimas semanas de novembro, com a morte de seis pacientes internados nas chamadas salas vermelhas — áreas destinadas ao atendimento emergencial de casos graves — enquanto aguardavam vagas em leitos de UTI. Entre as vítimas, três estavam internadas na UPA do Residencial Itaipu à espera de transferência.
A técnica de enfermagem relatou que a UPA está funcionando com recursos mínimos, que, segundo ela, são insuficientes para atender à demanda. Ela destacou que três pacientes permanecem internados na sala vermelha, aguardando vaga em UTI há mais de quatro dias. Por lei, o prazo máximo de permanência nessas condições é de 24 horas. “Há pacientes que chegam a esperar de 30 a 40 dias nesta sala. Trabalho aqui há 12 anos, e sempre foi complicado, mas confesso que esta é a pior gestão da saúde que já presenciei”, afirmou.
A reportagem também ouviu um médico, que corroborou os relatos sobre a precariedade do sistema de saúde da capital. Ele mencionou um paciente de 53 anos, entubado na noite de domingo, 1º de dezembro, devido a uma infecção generalizada. Segundo o médico, o pedido de vaga em UTI foi feito no dia 27 de novembro e reforçado na manhã de segunda-feira, 2 de dezembro, após a piora do quadro clínico do paciente.
“O problema é a falta de medicamentos essenciais, como antibióticos adequados para estabilizar casos graves. Muitas vezes, os familiares precisam comprar medicamentos por conta própria, pois os disponíveis não são eficazes para os casos mais críticos. O mesmo ocorre com as dietas específicas. O que temos aqui é boa vontade para salvar vidas, mas, infelizmente, nas condições atuais, só fazemos milagres”, desabafou o médico.
Outra técnica de enfermagem revelou que a máquina de esterilização da unidade está quebrada há meses e não foi consertada nem substituída. Com isso, os materiais precisam ser enviados ao Cais do Novo Horizonte para esterilização, o que atrasa os atendimentos. “O problema é que várias UPAs estão com as máquinas de estufa quebradas e utilizam o mesmo serviço do Cais, o que torna o retorno dos materiais ainda mais demorado”, explicou.
Vânio Mendes, que acompanhava um amigo com um corte no braço causado por um acidente de trabalho, relatou que não havia insumos para realizar a sutura. “É um descaso com a população. Uma UPA que não consegue fazer uma sutura? Não tem lógica”, lamentou.
Cibele Batista, moradora do Residencial Ipanema, levou a filha para realizar um exame de raio-x e ficou impressionada com as condições da unidade. “Tudo está deteriorado. Os bancos estão rasgados e sem espuma. É desolador”, afirmou. Apesar disso, ela elogiou os servidores, que se esforçam para atender bem, mesmo em um cenário tão caótico. “Os médicos daqui não são deuses, mas fazem milagres todos os dias”, completou.
Por outro lado, Kelly Lima, coordenadora geral da UPA, contestou as denúncias. Segundo ela, havia apenas um paciente intubado aguardando vaga em UTI. “No sistema, consta apenas um pedido de transferência para UTI. Quanto aos demais pacientes, é possível que já tenham sido estabilizados”, disse. Sobre a falta de medicamentos, Kelly afirmou que está sendo feito um remanejamento, e alguns itens já foram repostos. Quanto ao paciente entubado, ela ressaltou que foram oferecidas duas vagas em Nerópolis, mas a família recusou.
A reportagem pediu resposta para a Secretaria Municipal de Saúde, mas até o momento não tivemos retorno. O espaço fica aberto para esclarecimentos.
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