A Saúde em Goiânia vive momentos dramáticos. Pacientes estão morrendo na fila de espera de vagas na UTI, servidores e contratos estão com pagamentos atrasados, a dívida da pasta está na casa das centenas de milhões de reais, faltam insumos básicos nas unidades de saúde, empresas de limpeza abandonaram os postos por falta de pagamento, entre outros reflexos da má gestão da pasta. A presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde do Estado de Goiás (SindSaúde-GO), Neia Vieira, e o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia, Venerando Lemes, fazem um balanço geral do atual cenário na capital. 

Atraso nos pagamentos de contratos com empresas que gerem hospitais, falta de insumos básicos como medicamentos, paralisação no serviço de limpeza por inadimplência com as empresas terceirizadas, morte de pacientes na fila de espera por vagas na UTI, prisão do ex-secretário de saúde Wilson Pollara (suspeito de superfaturamento de contratos), entrega do cargo por Cynara Mathias (secretária que assumiu na sequência) e toda sua equipe, suspensão do serviço de home care (atendimento domiciliar), dívidas que ultrapassam a casa das centenas de milhões de reais, entre outros pontos destacam o caos que se vive na Saúde Pública de Goiânia. 

Ao Jornal Opção, Neia Vieira diz que “crise é algo agudo, e nós estamos vivendo um problema crônico na saúde”. Os descasos com os servidores e com o sistema público de saúde em Goiânia já vêm sendo denunciados pelo sindicato há anos, e sem respostas eficientes do poder público. 

Para a representante dos servidores da Saúde, tanto a gestão de Rogério Cruz quanto o poder Legislativo são responsáveis pelo cenário que se tem nos dias atuais. “A Prefeitura de Goiânia não chegou nessa situação sozinha. Não foi apenas responsabilidade do Executivo. Nós temos que responsabilizar também o Legislativo. Vereadores têm o papel de fiscalizar a administração e o que o Executivo faz”, resumiu Neia. 

A presidenta do SindSaúde compartilha que acompanhou diversas prestações de contas de Rogério Cruz na Câmara e que grande parte dos parlamentares aplaudiram os feedbacks do prefeito, indicando que ele estava “na direção certa”. 

Quando questionada sobre a abertura dos órgãos oficiais ao diálogo com a categoria, Neia diz que não existe espaço para conversa e negociação. Tanto na atual gestão quanto na equipe de transição do prefeito eleito Sandro Mabel (UB), os representantes da categoria não conseguiram reuniões para expor suas perspectivas e demandas sobre o atual cenário.

Conselho Municipal de Saúde

O caos na saúde pública de Goiânia foi denunciado pelo presidente do Conselho Municipal de Saúde, Venerando Lemes de Jesus, que apontou a falta de planejamento estratégico e a predominância de critérios políticos nas gestões municipais como os principais fatores para os problemas enfrentados pela população.

De acordo com Venerando, a atenção primária, pilar do sistema de saúde, sofre com a ausência de equipes completas e fechamento de salas de vacinação. “Hoje, temos muitas unidades básicas sem vacinas, o que sobrecarrega as urgências e emergências. É reflexo da falta de um planejamento consistente”, afirmou.

Outro ponto crítico é a falta de autonomia do secretário de Saúde para tomar decisões financeiras, já que as decisões dependem da Secretaria de Finanças. “Sem essa autonomia, o gestor fica de mãos atadas. Isso impacta diretamente na execução de serviços e no pagamento de contratos”, disse o presidente do conselho.

A situação do SAMU também foi destacada, com relatos de sucateamento e dificuldades para manter a operação. Venerando apontou a tentativa de terceirização como um agravante para a crise no atendimento de urgências. “O SAMU chegou ao ponto de não ter ambulâncias suficientes em operação. Isso é inadmissível.”

Os problemas de gestão impactaram até mesmo os trabalhadores terceirizados, como equipes de limpeza, que enfrentam atrasos no pagamento. Segundo Venerando, essas questões refletem a falta de planejamento de longo prazo. “Quando se faz gestão apenas para resolver problemas imediatos, os serviços essenciais ficam comprometidos”, ressaltou.

Ele também criticou o distanciamento entre a administração municipal e o conselho. “O diálogo é limitado. O Conselho de Saúde, que deveria ser parte das discussões estratégicas, muitas vezes sequer é convidado a participar das decisões”, lamentou.

Diante do cenário, o presidente reforça a necessidade de mudanças estruturais na forma como a saúde pública é gerida em Goiânia. “A população mais vulnerável não pode continuar pagando o preço por uma gestão ineficiente e politizada”, concluiu.