Os hospitais filantrópicos da capital ameaçam fechar as portas caso o Município de Goiânia não regularize os repasses do Ministério da Saúde no prazo estabelecido em portaria do órgão: cinco dias após o recebimento pela Prefeitura da verba do governo federal que cabe a essas instituições.

“Não tem mais jeito, não temos de onde mais tirar”, contou a presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de Goiás (Fessanta) e superintendente geral da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Irani Ribeiro de Moura.

Diante da situação que definiu como caótica, e uma vez que considera esgotada as tratativas com a Secretaria Municipal de Saúde da capital, Irani se reuniu na tarde desta terça-feira, 1º, com o secretário de Estado da Saúde, Sérgio Vencio. A ideia, segundo ela, é transferir a gestão dessas unidades de saúde ao Estado para que o serviço não seja interrompido.

 “Estamos chegando num momento de exaustão. Todos os hospitais estão sufocados. Procuramos o Estado porque Goiânia está dentro de Goiás e um problema da capital é também um problema estadual”, alegou a superintendente.

Segundo a presidente da Fessanta, a transferência da gestão para o Estado seria o último recurso para salvar os hospitais filantrópicos. “Vamos exaurir as discussão com todos os gestores para que a gente não precise fechar as portas”, comentou.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que “as discussões apresentadas pelos representantes da Fessanta estão sendo avaliadas, diante dos vários problemas que impactam o setor, fundamental para o atendimento SUS em Goiás”. 

A nota diz ainda que “gestores e técnicos da pasta se colocaram à disposição para traçar alternativas e ajudar na busca de soluções”.

Atraso de repasses

A superintendente da Santa Casa de Goiânia relata que teriam ainda procedimentos realizados em 2021 pela Santa Casa de Goiânia (60 leitos destinados a pacientes de Covid) pelos quais ainda não teriam sido pagos. “Salvamos muitas vidas e até hoje não recebemos”, reclamou.

Outra questão apontada por Irani é com relação aos marcapassos. “Compramos o aparelho por 55 mil reais e o Ministério da Saúde paga apenas 16 mil por eles. Há um ano foi compactuado que o município pagaria a diferença da defasagem, mas até hoje ainda não recebemos nada”, relatou a presidente da Fessanta, que denuncia ainda que a entidade que gere teria “parada” na Prefeitura R$ 12 milhões.

Além disso, Irani diz que os recursos que deveriam ser repassados mensalmente, não estariam chegando todos os meses. Segundo ela, o Ministério da Saúde já demora 60 dias para fazer os repasses. Esse seria o prazo para auditar e conferir se a assistência devida foi realmente realizada.

No entanto, a superintendente afirma que a Secretaria Municipal de Saúde demoraria ainda cerca de 40 dias para realizar a transferência do dinheiro. “Mesmo se não tivesse atraso, já seria difícil por conta da defasagem da tabela. Mas os cinco dias estão virando 45”, reclamou.

População é quem sai no prejuízo

A presidente da Fessanta diz ainda que para que os hospitais funcionem, existe o compromisso de pagar os funcionários, comprar os insumos necessários e pagar os fornecedores. “E eles nos dão um prazo máximo de 30 dias para realizar o pagamento”, comentou.

Apesar de Goiás possuir mais de 30 hospitais filantrópicos, hoje a Fessanta conta com 14 instituições associadas em Goiás, dentre elas a Associação de Combate ao Câncer em Goiás, as Santas Casas de Misericórdia de Goiânia e Anápolis, a Fundação Banco de Olhos da Capital e o Hospital do Câncer de Goiás Francisco Camargo. Juntas, possuem cerca de 1,5 mil leitos disponíveis e realizam anualmente em torno de meio milhão de atendimentos, entre consultas e exames, além de cem mil internações e 30 mil cirurgias por ano.

A reportagem do Jornal Opção entrou em contato com a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS), que ainda não deu retorno. O espaço permanece aberto.

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