Dados do Ministério da Saúde revelam que, em Goiás, no passado, 10,21% das crianças goianas eram obesas. Em números absolutos, isso significa que a obesidade infantil atingia mais de 34 mil crianças em Goiás em 2022. Ou seja, uma em cada 10.

O número do Estado é maior do que a média do Centro-oeste, que é de 9,43%. E apesar do recuo com relação a 2021, quando a prevalência foi de 11,65% em Goiás, para especialistas, o número ainda assim é preocupante.

De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), de 2018 a 2021, o total de crianças de zero a dez anos com obesidade aumentou 16,21% em Goiás. Já com relação ao excesso de peso nessa faixa etária, o aumento foi de pouco mais de 6%.

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) reconhece a obesidade como um problema de saúde pública. No Brasil, ainda de acordo com o Ministério da Saúde, mais de 340 mil crianças de 5 a 10 anos de idade foram diagnosticadas com obesidade.

E o alerta também vale para os adolescentes. No ano passado, 24.747 adolescentes goianos eram obesos (13,31% do total). Na comparação com 2021, quando a prevalência de adolescentes obesos foi de 14,2% no Estado, houve também uma redução.

Pandemia contribuiu para aumento dos números

Apesar disso, os números ainda não retornaram aos patamares anteriores à pandemia. Pra se ter uma ideia, a prevalência em 2018 foi de 10,01%. Em 2012, esse número era 6,42%. De 2018 a 2021, o excesso de peso neste público aumentou 3,87%. Já a obesidade cresceu 28,5% no mesmo período.

Segundo a nutricionista da Coordenação Estadual de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Nágila Araújo de Carvalho, os números guiam o trabalho da saúde pública sobre a questão em Goiás e no Brasil.

“A gente tem que avaliar com cautela os dados e continuar fazendo o trabalho de enfrentamento do problema”, avaliou a nutricionista da SES, que orienta ainda que pais e responsáveis devem prevenir a obesidade desde a gestação com uma alimentação saudável.

“Mas quando a criança já é classificada como obesa, ela precisa afazer um acompanhamento individualizado e verificar o que deve ser corrigido no seu comportamento alimentar”, alertou Nágila.

Má alimentação, menos atividade física e mais tempo de tela: as principais causas da obesidade

Para a médica endocrinologista Jéssica França, que atende no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), o crescente número de obesidade infantil tem relação com a mudança do perfil alimentar das crianças e hábitos de vida sedentários, com menos atividade física e mais tempo de tela.

A especialista desmistifica ainda a ideia errada de muitos que culpam exclusivamente os pais pelos quilos a mais das crianças. “Pensar dessa forma é limitado. Para prevenir a obesidade é preciso ações em várias esferas”, afirmou.

Como os principais “vilões” para uma alimentação saudável de crianças, a endocrinologista lista os alimentos ultra processados. “Biscoitos, bolachas recheadas, macarrão instantâneo, refrigerante, suco de caixinha, doces, guloseimas, chocolate”, enumerou.

A médica explica que o diagnóstico para obesidade se dá por meio de um cálculo que relaciona o peso e a altura de cada paciente. “Não é um valor fixo definido. Durante a consulta com o profissional da saúde, ele vai fazer a relação do Índice de Massa Corpórea”, relatou.

A professora de Nutrição da Estácio, Marcella Tamiozzo, explica que o tratamento vai depender do fator ou dos fatores desencadeantes, que podem ser distúrbios no sono (uma vez que o sono é fundamental para o desenvolvimento e funcionamento do organismo), fatores genéticos, alterações hormonais, alimentação inadequada e sedentarismo.

Para a endocrinologista, uma forma de prevenção seria oferecer uma alimentação saudável para crianças dentro de casa, diminuir o tempo de tela e. nas escolas, promover uma conscientização nutricional sobre o que é vendido nas cantinas. “Muitas vezes a criança tem autonomia de comprar e escolher lanches diários sem que um adulto a auxilie a definir o que é mais saudável”, lembrou.

Prevenção e controle

A gerente de Vigilância Epidemiológica de Agravos Não Transmissíveis e Promoção à Saúde da SES, Magna de Carvalho, avalia que o controle da obesidade entre crianças é importante por ser um fator de risco para outras doenças.

“É um problema de saúde pública e que promove consequências a curto e longo prazo. A curto prazo podemos citar problemas psicossociais com as crianças acometidas, e a longo prazo, problemas mais sérios de saúde instalados na vida adulta”, completou a professora Marcella Tamiozzo.

Para Magna, a prevenção não é uma tarefa simples, mas se apoia em tripé: “Além da oferta de alimentos saudáveis e conscientização pra educação alimentar, não tem como falar de obesidade sem estímulo à atividade física”, enumerou.

Sem tratamento adequado, segundo a nutricionista Nágila, existe a tendência de que uma criança com obesidade se torne um adulto obeso. “A obesidade tem como consequência uma série de problemas, como os cardiovasculares, articulares e emocionais”, relatou.

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