Corrupções intensificam desigualdades. E, no caso da saúde, pessoas pobres e grupos marginalizados são os mais duramente atingidos. A dependência do serviço de saúde, mais que empurrar as pessoas para a pobreza, por vezes, as levam à morte.

Um exemplo disso é o da paciente Tatiany Aparecida Soares Santos, de 44 anos, que aguarda há um ano para retirar o útero devido a um mioma. “Eu sinto desconforto na menstruação e dor”, relata a moradora do setor São José.  Miomas são tumores uterinos benignos formados por tecido muscular. De acordo com especialistas, quanto maiores ou mais próximos ao endométrio, podem causar menstruações irregulares, hemorragias com consequente anemia, cólica, dor as relações sexuais, aumento do volume abdominal, e até alterações do hábito intestinal e urinário.

Outro caso é do pai da Ivanildes da Silva. Com medo, ela teme que o pai perca a visão. O senhor Sebastião da Silva Santos, de 74 anos, espera há praticamente 5 anos por uma cirurgia de catarata. “Ele está praticamente não enxergando mais. Sente muita coceira no olho. Tenho medo que tenha piorado e de que ele não enxergue mais e nem possa fazer mais a cirurgia”, desabafa a filha.  Catarata é a opacidade parcial ou total de uma lente natural que temos dentro do olho, chamada de cristalino. Mais uma doença considerada comum na população idosa e uma das principais causas de cegueira no mundo, e que pode ser revertida com cirurgia simples.

À reportagem, Ivanildes disse que o pai mora em Uruana e já procurou a Secretaria de Saúde inúmeras vezes. A resposta é sempre a mesma: “não temos médico”. Desesperada com a situação, Ivanildes conta que uma irmã aguardou três anos para fazer uma cirurgia no ombro, e acabou perdendo o tendão devido à demora. Ela tem receio de que o mesmo aconteça com o pai.

Esses relatos mostram a lentidão da fila para cirurgias eletivas no Sistema Único de Saúde (SUS). Aliado à lentidão, casos de desvios por corrupção pioram o quadro.

Enquanto esses pacientes aguardam anos na fila do SUS, a Polícia Civil de Goiás deflagrou nesta quinta-feira, 9, operação de combate a fraudes e corrupção no sistema de regulação médica estadual.

De acordo com os investigadores, operadores do sistema de regulação recebiam até R$ 5 mil para realizarem inserções fraudulentas na fila de espera por cirurgias eletivas, consultas médica, exames e até internações, gerando prejuízo aos usuários do sistema de saúde e ao sistema médico-hospitalar. “Pacientes que naturalmente estariam na posição 500 pagavam e subiam na fila. Procedimentos que demorariam dois anos, de forma natural, estavam sendo realizados em prazos curtos”, explicou o delegado responsável, Danilo Victor.

De acordo com a PC-GO, a maioria dos casos investigados se refere a procedimentos cirúrgicos para fins meramente estéticos.

Suspeita-se que, só nos últimos 06 meses, apenas um operador tenha feito mais de 1.900 inserções fraudulentas no sistema de regulação médica estadual, considerando que alguns operadores sequer são vinculados a Unidades de Saúde do Estado ou dos municípios.

Operações como essa mostram uma “pandemia ignorada”, uma vez que sua presença enfraquece significativamente o desempenho do sistema de saúde, e afetam as regiões mais carentes, tornando inacessível acesso a procedimentos básicos, como os ouvidos pela reportagem do Jornal Opção.