Sem poder contar com nova candidatura de Marconi Perillo em 2018, vencer a disputa pela Prefeitura da capital se tornou desafio

Afonso Lopes

É óbvio que para qualquer partido ou grupamento político, vencer as eleições na sede do maior colégio eleitoral do Estado é muito importante. Mas nem sempre é absolutamente vital. Para a base aliada estadual, que não poderá contar com o governador Marconi Perillo diretamente, vencer em Goiânia, no ano que vem, tornou-se uma questão decisiva. A capital soma mais de 20% de todo o eleitorado goiano, e a ressonância política das ações tomadas aqui repercutem em todo o Estado. Em um jogo que se prevê antecipadamente como bastante equilibrado na sucessão de Marconi, fincar a bandeira nesse território poderá ser uma enorme vantagem.

É claro que perder no ano que vem não tira automaticamente todas as chances de um candidato da base aliada estadual vencer em 2018. A questão, porém, é que as oposições tendem a usar Goiânia como um importante bunker, e poderá se aproveitar da ausência direta de Marconi em 2018. Até porque se imagina que a disputa será no corpo a corpo, sem favoritismo.

2006

O quadro para 2018 é diferente daquele vivido em 2006, quando Marconi também não pôde concorrer a novo mandato de governador. Na época, o candidato foi o então vice-governador Alcides Rodrigues, que mesmo partindo de números insignificantes nas pesquisas, venceu o primeiro turno e sacramentou a eleição no segundo turno contra Maguito Vilela, do PMDB, que passou a campanha quase toda esbanjando favoritismo.

Mas qual seria a diferença entre 2006 e 2018 para a base aliada? Goiânia era governada por Iris Rezende, eleito em 2004, e, portanto, uma derrota em Goiânia no ano que vem apenas recriaria o mesmo cenário de 2006. O cenário poderá até ser o mesmo, mas o enredo, não. Em 2006, Marconi foi candidato ao Senado no auge da popularidade e o eleitor sabia de antemão que ele retornaria em 2010, como acabou ocorrendo. Desta vez é diferente também por esse aspecto. Mesmo que não seja candidato a presidente ou vice e dispute uma das duas vagas do Senado que estará disponível em 2018, a perspectiva é que os planos futuros do governador devem ser outros, em nível nacional. Ou seja, sem retorno em 2022. Isso, evidentemente, muda conceitualmente a percepção do eleitor, e iguala o jogo eleitoral do Estado.

Os pensadores políticos tanto da oposição como da base aliada já fizeram esse tipo de avaliação. Mais ainda Marconi Perillo, que é um craque na antecipação de cenários políticos, e que costuma se posicionar com antecedência. Todos sabem que as melhores chances de vitória do grupo que governa o Estado desde 1999 estão cravadas na disputa por Goiânia agora em 2016.

Iris de novo?

O mais significativo problema para os opositores é a total falta de alternativas. Há uma dependência absoluta em torno de Iris Rezende. Já a base aliada começa a perceber uma inflação de candidaturas em seu quintal. Qual é a melhor situação? Nem uma e nem a outra. Para a oposição, seria bom contar com algum outro candidato realmente competitivo para preservar Iris Rezende para a disputa pelo Senado, em 2018. Para a base, seria ótimo ter pelo menos um nome com largo favoritismo. Não tem.

Nem mesmo o delegado Waldir Soares, com sua votação impressionante para deputado federal no ano passado, pode se apresentar como favorito. Internamente, sim, mas também pela força de recall das eleições anteriores, e não exatamente por potencialidade eleitoral para prefeito no ano que vem. Seu discurso, incrivelmente vitorioso em 2014, terá que mudar radicalmente. Na eleição de deputado o eleitor escolhe alguém que transmita mais ou menos aquilo que ele pensa sobre determinados temas. Foi este o caso de Waldir com o tema da segurança pública. Na disputa pela prefeitura, a visão e exigência do eleitor muda sensivelmente, passando a exigir não somente a consonância com uma temática, mas com o conceito administrativo da cidade. Em outras palavras, na prática Waldir terá que passar por uma vigorosa migração de imagem, o que sempre é uma coisa bastante complica e incerta.

É verdade que Iris, embora favorito como sempre, é menos favorito do que nas vezes anteriores que disputou o cargo. Há o desgaste natural do aval que ele deu em 2012 na campanha que elegeu seu vice, Paulo Garcia, que cristalizou imagem negativa desde 2013. Além desse fato, a disputa interna entre o seu grupo e o grupo liderado pelo prefeito Maguito Vilela jamais foi tão explícito. É certo que um torcerá bastante contra o outro porque ambos não conseguem mais dividir os mesmos espaços.

Os maguitistas tem investido todas as fichas de 2018 numa possível candidatura do deputado federal Daniel Vilela a governador. Os iristas são o principal empecilho, fato admitido por todos em off.

Por outro lado, Maguito terá problemas para manter seus domínios em Aparecida de Goiânia, segundo maior colégio eleitoral de Goiás, e que funcionaria como principal base de apoio de uma possível candidatura de Daniel. O grupo maguitista na cidade tem apenas um nome, Euler Moraes, mas ele tem que remar um oceano inteiro para se viabilizar. Isso significa que o prefeito Maguito Vilela vai ter que trabalhar 24 horas dia na campanha do seu candidato para não correr maiores riscos. Iris, nesse caso, ficaria num plano secundário para ele também por essa razão.