“As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem”, Chico Buarque

Os jovens da geração Z (nascidos entre fim da década de 1990 e início da de 2010) têm sido alvos de críticas, especialmente pelas gerações mais antigas. O relatório “Tendências de Gestão de Pessoas”, do Ecossistema Great People & GPTW, apontou que 51,6% do mercado de trabalho afirma ter dificuldade para lidar com as diferentes gerações e 68,1% indicou que se relacionar com a Geração Z é um desafio. Thaise Helena, proprietária de uma empresa de recrutamento e seleção, explicou que os contratantes citam problemas com compromisso, vestuário e comportamento. Além disso, denotam preferência por contratar pessoas da Geração Y, “fechando o sinal para os que são jovens”.

Para além do mercado de trabalho, o goianiense Augusto Narikawa, mestre em Educação e Linguagem e Tecnologia, é professor universitário e faz uma análise mais profunda da Geração Z. “Essa geração não se segura muito, não tem aquela ideia de fazer uma trajetória longa ou de construir uma história longa em um emprego. Se não está feliz no trabalho, procura outro. Não é uma geração que se ocupa muito em construir a longo prazo e não se apega em carros e casas. Pelo contrário, são mais focados no bem estar do que na construção de um plano de carreira”, disse, ao Jornal Opção.

As gerações estão cada vez se subdividindo em gêneros, classes e raças distintas. Tão logo emergem, multiplicam-se os grupos e tribos, simbolizados por suas preferências estéticas, comportamentos e valores por vezes muito semelhantes e relacionados com o contexto histórico em que cresceram. Atualmente, existem cinco grupos geracionais coexistindo no ambiente de trabalho: os Veteranos, os Baby Boomers, a Geração X, a Geração Y e por fim a Geração Z.

“Quando você pega, por exemplo, a geração mais antiga, com mais de 60 anos, eles vão ter uma maior dificuldade com essa geração que está chegando. Muitos estão fazendo cursos para entender essa geração”, explica Narikawa, que também presta consultoria para empresas. Apesar da maioria já ter deixado o mercado de trabalho, ainda há veteranos com a carteira de trabalho ativa. Esse grupo abrange as pessoas nascidas no período após a Primeira Guerra Mundial e durante a Segunda. 

São gerações diferentes e há um “conflito gigante”, segundo Narikawa. Tanto que os 50+ estão voltando com força ao mercado de trabalho porque algumas empresas não conseguiram se adaptar a esse processo. “Eles são seguros, tratam assunto coletivos, têm mais foco e agem dentro do padrão que se espera em uma empresa mais tradicional”, avalia o pesquisador. 

“Geração Z traz leveza, mas traz descompromisso”, pontua Thaise Helena. Para ela, essa geração vivenciou a tecnologia muito fortemente e isso levou ao individualismo. “Outro fator é a criação. As gerações passadas compensaram a ausência da criação dos filhos e a forma de compensar acabou gerando uma bolha em cima de vocês, que são capazes e conseguem realizar qualquer coisa”, explica a recrutadora de RH. Assim, os jovens se cobram mais e estão sempre se questionando “o que eu preciso fazer além do que está sendo feito?”. 

Outro ponto citado pela especialista em Recursos Humanos é que, para a Geração Z, a aparência física não interfere na competência profissional. Dessa forma, se sentem livres para vestir o que quiserem e onde quiserem, fato que incomoda os recrutadores. Segundo Thaise, porém, as empresas estão se adaptando e se tornando mais flexíveis. Como exemplo, citou a Latam que recentemente liberou o uso de tatuagem para os Comissários de Bordo. “Quando o líder consegue interpretar e entender, o resultado é magnífico”, destaca Thaise Helena. 

A principal mudança talvez seja na concepção do trabalho. Augusto Narikawa, que tem 42 anos, lembra que sua geração é muito focada na ideia de status, cargo, emprego por muitos anos, tornando-se mais presa nesses contextos. Para os Millennials, estar 14h ou 15h em uma empresa é “normal”. Já a Geração Z só quer fazer o trabalho dela e ir pra casa, construir as coisas, se divertir e viajar. 

Os profissionais de RH afirmam que os candidatos da Geração Z não se vestem adequadamente (58%), não fazem contato visual (57%), têm exigências salariais irracionais (42%), não se comunicam bem ( 39%) e não parecem muito interessados ​​ou engajados (33%). Os dados foram revelados pelo estudo do software para currículos ResumeBuilder.

Para Augusto, quando falamos sobre gerações, vão existir pessoas muito boas e pessoas com problemas de caráter como qualquer outra geração. “Meus alunos da faculdade são jovens [Geração Z] extremamente capacitados e voltados ao trabalho. Eles não são muitos apegados a regras. Eles são mais sensíveis e preferem deixar a aplicação financeira e os planos de salário de lado. Esse é o grande choque”, avalia o professor e pesquisador.

Augusto Narikawa, professor universitário, mestre em tecnologia, educação e linguagens | Foto: Arquivo

O nascimento dessa geração vem sendo apontado para a primeira metade da década de 1990, enquanto seu final ainda é indeterminado. Isso se deve ao fato de tratarmos de uma geração atual, cujo os integrantes possuem entre 20 e 25 anos de idade. Por nascerem neste cenário atual e amplamente conectado essa geração trás consigo um conceito de mundo sem nenhum limite temporal o geográfico.

Além disso, os jovens nessa faixa etária “têm muita facilidade e domínio das novas tecnologias e senso de urgência em conhecer e se conectar a todas as possibilidades de intercâmbio virtual. Com toda esta interação tecnológica, a Geração Z passa boa parte do tempo encerrada em seu mundo particular, muitas vezes sem conversar com ninguém, nem mesmo com os pais, o que causa carência dos benefícios decorrentes das relações interpessoais”, analisaram as escritoras Maria de Lourdes Borges e Adelina G. da Silva.

“Não vou me matar de trabalhar por uma empresa que não me dá condições para eu crescer ou pra eu ter qualidade de vida. Prefiro ganhar menos, ter mais tempo de vida e mais tempo para me divertir”, traduziu Narikawa sobre o pensamento dos jovens. Segundo o professor universitário, a nova geração não tem aquele sentimento, quase que religioso, das gerações passadas sobre o trabalho.

A frase “o trabalho edifica o homem” pode ser encontrada em diversos trechos da Bíblia Sagrada, como por exemplo em Eclesiastes 9:10. Os valores das gerações passadas caracterizam-se pelo trabalho, família, moral e amor à pátria. No Brasil, esta geração cresceu na era da escassez, de alimentos, empregos e diálogos.

Já a Geração Z nasceu em uma era marcada pela queda da tradição cultural ocidental. O mundo saiu da “sociedade da disciplina” e entrou em uma sociedade focada no desempenho. Essa pressão por ser “a melhor versão de si mesmo”, no entanto, deságua em uma geração de ansiosos e deprimidos, onde o mal do século são os problemas de saúde mental. “As pessoas já chegam cansadas”, reflete Augusto Narikawa.

O mestre em tecnologia, educação e linguagens afirma que a mudança na forma de encarar o trabalho se deu por um adoecimento mental das gerações passadas. “A minha geração também adoeceu,  infartou e morreu. Se você analisar bem a geração Y, vai perceber que muitos executivos morreram muito jovens”, destaca Narikawa. Já as novas gerações priorizam a saúde mental em detrimento ao trabalho e encaram a função como direito e não privilégio.

No século passado, era comum ouvir “graças à empresa construí minha casa”. Atualmente, os valores foram invertidos e as pessoas dizem “graças ao meu trabalho eu consegui”. Para Augusto Narikawa, o ambiente de trabalho precisa ser saudável e mais despojado e a Geração Z encara isso como “resistência”, até porque o colaborador feliz produz muito mais.

Relacionamentos são mais líquidos

Apresentado por Zygmunt  Bauman, sociólogo e filósofo polonês, o amor líquido é um tipo de relacionamento que é caracterizado pela falta de compromisso, pela fragilidade e pela busca constante de algo melhor. Nesse sentido, o amor líquido representa o momento em que nossas relações não conseguem acompanhar a rapidez com que o mundo evolui.

Não podemos consertar tudo, e o amor líquido corresponde ao esforço real que fazemos para manter o sentimento vivo em nossos relacionamentos. O amor líquido é descartável e pode ser trocado a qualquer momento, sem compromisso e com relações frágeis, onde parceiros são trocados constantemente em busca de “algo melhor”. Esse tipo de amor escorre por entre as mãos, não assume forma, se dispersa e não tem firmeza.

Diana Godinho nasceu em 2003, é natural de Goiânia, mas atualmente mora nos Estados Unidos como recipiente de uma bolsa completa na Stetson University. Ao Jornal Opção, ela explicou que se envolve em diversas áreas sociais no Brasil e internacionalmente também. “Acho sim complicado criar algo duradouro na minha realidade. Eu nunca estou em um país ou lugar por muito tempo, e a vida é muito corrida com diversas atividades todo o tempo”, conta a jovem.

Atualmente, está de férias na capital goiana com a família, mas logo parte em viagem para a Costa Rica. “Isso resulta em relações mais líquidas e não algo sólido por falta de tempo e distância”, analisa Diana Godinho. Além dos relacionamentos interpessoais, ela também acha que a Geração Z lida com o ambiente de trabalho de maneira diferente das outras gerações.

“Sinto que damos muito mais enfoque em saúde mental por exemplo e nos colocamos em primeiro lugar antes do trabalho com a questão de trabalhar para viver e não viver para trabalhar como nas gerações passadas. Acho que a visão da geração Z é incompreendida mas as empresas em si precisam da nova geração para inovar”, explica a aluna da Stetson University.

Diana Godinho, de 21 anos, é natural de Goiânia e bolsista na Stetson University, Estados Unidos | Foto: Arquivo

Já Átila Marques, de 27 anos, é pré-candidato a vereador (PRD) por Goiânia e se define “100% geração Z”. Ele foi candidato a deputado estadual, em 2022, como décimo suplente e conta que tem um abrigo animal há um ano, atuando na causa animal há mais de 5 anos. Além disso, conta que há 10 anos faz trabalho social com pessoas em comunidades carentes e também é empreendedor.

Em suas multifunções, também é jornalista/repórter e graduado em direito. “Eu me proponho a fazer um monte de coisa e às vezes mais coisas do que eu consigo, mas eu estou sempre colocando um próximo desafio. Eu acho que é isso que me move”, destaca o jovem ativista.

“Eu que estou incluído nisso às vezes não me vejo como Geração Z”, explica Átila. No entanto, relata que quando para e analisa, perebe as características de sua geração como totalmente diferente das gerações passadas. “São livros e capítulos totalmente diferentes”, avalia. Para ele, há uma ruptura geracional entre a geração dele e a geração dos pais.

“A tecnologia entrou de maneira absurda e eu cresci na internet, no computador, especialmente no YouTube de forma muito intensa. A velocidade da informação e a quantidade de informação mudou completamente nossa visão de mundo. Eu tenho uma cabeça que já está formada, da mesma forma que a geração anterior já tem uma visão pré-programada do que vai olhar, analisar e entender o mundo”, explica Átila Marques.

Segundo sua análise, a próxima geração, de seus filhos, também vai criar uma ruptura geral por causa da Inteligência Artificial (IA), que vai mudar toda a forma de trabalho, de comunicação e de acesso ao conhecimento. “Também haverá uma ruptura geracional, mas será diferente da minha. Por mais que a minha já se difere significativamente da dos meus pais, que não eram tão diferente das dos meus avós”, reflete.

“Somos uma era de muita informação e pouco discernimento”, já dizia Bauman. A asfixia provocada pelo excesso de informação fragmentada imobiliza milhões de pessoas, que ainda precisam filtrar dados reais dos falsos. Muitas entram num círculo vicioso, tratando a informação como um ativo diferencial. Em tempos de alta competitividade, isso contribui para o adoecimento da sociedade na era da tecnologia da informação. A sensação de desatualização constante é comum, refletindo o impacto negativo desse excesso informacional na saúde mental e no bem-estar das pessoas.

“A gente não consegue se comunicar tão bem. A maioria dos jovens têm uma dificuldade muito grande de se expressar e de serem compreendidos. Os pais não conseguem se comunicar tão bem com essa geração porque os valores são diferentes e as mudanças foram ocorrendo de forma abrupta, em pouco tempo”, reflete o político. Nas gerações passadas, as mudanças tecnológicas levavam muito tempo. “Hoje é um mundo que muda mais rápido”, complemente Átila.

Como ponto negativo da Geração Z, ele acentuou que os jovens evitam ou postergam as responsabilidades. Como exemplo, citou atividades como: tirar a carteira de motorista, sair da casa dos pais, se casar ou arrumar um emprego fixo.

Átila Marques, de 27 anos, é pré-candidato a vereador (PRD) por Goiânia | Foto: Arquivo

Liberdade sexual

Quanto à liquidez nas relações, Yuri Baiocchi, de 24 anos, avalia que é uma questão de perspectiva e, sobretudo, de qualidade em que se aplica a um trabalho, a um bem de consumo ou a uma relação amorosa. “Não há porque insistir em algo que não seja bom. Acho que de certa forma, já começamos a imitar a tecnologia. Isso não significa, entretanto, que não haja relacionamentos duradouros. Há, é claro. Contudo, isso significa que esses relacionamentos duradouros são em tese mais saudáveis e plenos em liberdades individuais do casal do que os mesmos relacionamentos duradouros do passado”, explica o pesquisador.

Ele lembra que o divórcio no Brasil é uma conquista recente. Antes, existia apenas o desquite. O casamento homoafetivo também é uma novidade recente, embora a homossexualidade sempre tenha existido. Pessoas LGBTQIAP+ tinham que se enquadrar no único formato de relacionamento permitido e viver nele até que a morte os separasse.

“Sem dúvida, há mais liberdade sexual”, destaca Yuri, embora mulheres e LGBTs ainda não tenham alcançado um patamar de igualdade e equidade em relação a homens héteros. “Porém, é um movimento que não começou agora na minha geração, isso já se anunciava desde antes, de décadas atrás — nas músicas, nos ídolos, nos filmes, nos movimentos artísticos e sociais, na moda. Sem dúvida, houve gerações mais transgressoras. Somos apenas o resultado disso”, analisa.

Os jovens da década de 60/70, por exemplo, viveram uma efervescência inédita de questionamentos dos costumes, da política, da arte e da religião estabelecidas. O período foi marcado por um crescimento econômico do segundo pós-guerra, boom na natalidade, advento dos contraceptivos em pílulas, escalada militar da guerra do Vietnã e forte influência de religiões orientais como o budismo e o hinduísmo no Ocidente.

Além disso, a era foi marcada pelo uso de drogas psicodélicas, especialmente do LSD, e pela eclosão do movimento negro, feminista e homossexual, bem como a militância estudantil universitária e as manifestações multitudinárias. A contracultura foi uma espécie de atitude desafiadora, de mentalidade revolucionária, de desejo de realizações imediatas, que perpassou essa geração identificada emblematicamente com a revolta.

Cerimônia de abertura do festival de Woodstock – Foto: Mark Goff/Domínio Público via Wikimedia Commons

“O interessante, para quem pesquisa História como eu, é você pegar os livros eclesiásticos que se encontram arquivados no IPEHBC da PUC Goiás e notar a quantidade de nascimentos de filhos naturais, isto é, os ditos filhos sem pai. A cada dez nascimentos, quase a metade se encontrava nesta situação. Personagens importantes da história goiana advieram desse tipo de arranjo familiar”, destaca o pesquisador Yuri Baiocchi.

Era algo tão recorrente que passou a ser normal na sociedade daquela época. Para Yuri, isso mostra que “não há nada de novo no front” e que, talvez, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

Questionado quanto à dificuldade na construção de algo sólido, Yuri questiona se sólido é o que dura ou se sólido é o que racha. “Na engenharia, calcula-se o aumento do volume dos corpos, isto é, a dilatação térmica. Grandes estruturas, como a Ponte Rio-Niterói ou mesmo os prédios mais altos são exemplares com essa tecnologia. O que previne o risco de ruptura, digo, de queda, é justamente a elasticidade”, explica.

“Para os saudosistas de plantão, devemos mencionar a violência doméstica como normalidade antigamente, a mulher fora do mercado de trabalho e sem direitos eleitorais… O novo formato, claro, é decorrente dos muitos avanços que tivemos. Pela primeira vez, não há essa preocupação massiva de casamento como prioridade de vida”, continua Baiocchi.

Para ele, as pessoas despertaram para si mesmas. Com o avanço científico e a produção de métodos contraceptivos, até mesmo as pessoas que se casam mais cedo, se veêm tendo filhos cada vez mais velhos. “Não há dificuldade na construção de algo sólido. Os sujeitos não mudaram. Mudou o mundo que hoje aceita que tenham outras prioridades”, avalia.

Desde a década de 70, 80, vem diminuindo a taxa de fecundidade no território brasileiro de forma significativa. Na década de 60, por exemplo, essa taxa estava em torno de seis filhos por mulher; na década de 80, eram quatro filhos por mulher; no ano de 2000, essa taxa de fecundidade era de 2,2 e, em 2020, uma média de 1,65 filhos. O comportamento demográfico atual, principalmente nesse quesito de natalidade, tem se tornando semelhante ao dos países mais desenvolvidos.

As novas gerações demonstram mais preocupação em seu próprio bem-estar, abandonando a concepção antiga de trabalho alienante, repetitivo e dissociado do desejo do individuo. A etimologia da palavra trabalho vem do latim tripalium ou tripalus, nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo tripaliare cujo primeiro significado era “torturar”. A Geração Z prioriza a produtividade em detrimento da quantidade, privilegiando o tempo, o desejo e as relações humanas.

“Trata-se de uma geração que não parece ser escrava de sua própria ambição, pois não tem grandes ambições. Existe uma mentalidade preservacionista em relação ao meio-ambiente. É a primeira geração que quer conhecer o mundo, não dominá-lo”, finaliza o jovem, que é pesquisador nas áreas de História, Literatura e Artes Visuais.

Além disso, é coordenador do “Projeto Lavras de Goiás” (Oak Foundation); coordenador de Patrimônio da AMA Jaraguá; membro da Diretoria Executiva e do Conselho Curador da Fundação Cultural Casa de Frei Simão Dorvi; co-fundador do Arquivo dos Indígenas e da Cultura e do Orgulho Negro de Goiás e autor de projetos; marchand.

Yuri Baiocchi, de 24 anos, pesquisador nas áreas de História, Literatura e Artes Visuais | Foto: Arquivo

Jovens empreendedores

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto IBOPE MÍDIA, cujo objetivo era a investigação das motivações das gerações Y e Z, aponta que para esta última geração o estudo é prioridade, 73% dos pesquisados deseja ingressar em uma universidade. Ainda é possível observar que, 66% querem viajar para o exterior e 31% pagaria qualquer preço por um equipamento eletrônico.

A pesquisa também aponta os jovens dessa geração como mais empreendedores, menos focados no dinheiro e mais predispostos a trabalharem de casa. Estes dados corroboram para o surgimento de uma geração mais ansiosa, proativa e conectada, a qual se vê diante de um mercado carente de mão de obra e consecutivamente com mais concorrência.

Em Goiás, há mais de 2.100.000 entre 10 e 29 anos, de acordo com o último Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Veja o gráfico abaixo, com a cor vermelha representando o sexo feminino e a cor azul o sexo masculino.

Pirâmide Etária do IBGE em Goiás | Foto: IBGE

Keven Vidda Cristão, de 29 anos, é pai da Liz, empreendedor e engenheiro. Deixou a profissão de engenharia para empreender em busca de liberdade e governo em 2021 com um projeto de cafeterias temáticas em Goiânia. Hoje está como CEO e Co fundador da eFreela, uma startup para gestão e contratação de mão de obra freelancers.

A empresa atua no segmento de bares, restaurantes e eventos que conta com mais de 40 mil profissionais cadastrados em sua base de talentos e mais de R$3Mi pago aos freelancers nos primeiros 12 meses.

“Existe uma nova tendência econômica no mercado chamada de “Gig Economy”, ou economia do bico, onde cada vez mais pessoas buscam gerar renda em vez de procurar um emprego tradicional. Esse fenômeno reflete um desejo crescente por flexibilidade e menor compromisso com responsabilidades fixas”, explica Keven Vidda.

A ascensão das grandes empresas de tecnologia, como Uber, iFood e até mesmo o eFreela, tem facilitado essa mudança, oferecendo plataformas que permitem trabalhos autônomos e temporários colaborando para esse tipo de mudança de comportamento.

O Jornal Opção questionou Keven como ele avalia os relacionamentos entre os chamados nativos digitais. As relações, sejam amorosas ou não, são mais líquidas? Há certa dificuldade em construir algo sólido (duradouro)?

“A geração atual é marcada por uma abordagem cada vez mais imediatista, reflexo das mudanças na maneira como lidamos com as situações. No passado, assistir a um desenho ou filme exigia esperar pela programação da TV ou pela disponibilidade em uma videolocadora. Esse contexto cultivava resiliência, paciência e a capacidade de lidar com processos mais longos”, explica o jovem empreendedor.

Em sua análise, nota-se um impacto direto nos relacionamentos. “Muitos jovens buscam resolver questões rapidamente, sem o devido planejamento. Vivemos em uma era de likes e comentários, onde a busca por aceitação e validação é constante. Esse comportamento pode levar a relacionamentos superficiais e dependência da opinião alheia”, analisa Keven Vidda.

Para ele, é essencial reconhecer esses desafios e trabalhar para desenvolver habilidades que promovam conexões mais profundas e autênticas.

Keven Vidda Cristão, pai da Liz, empreendedor e engenheiro | Foto: Divulgação

Por fim, Augusto Narikawa, reflete que a Geração Z é uma geração que busca seu lugar no mundo, assim como os outros buscaram, mas que “são muito incompreendidos”.

“Eu tenho muita fé nessa geração. Vamos tentar nos desculpar mais, ter mais empatia, tentar diminuir as barreiras que nós mesmos levantamos para trabalharmos na construção de uma sociedade menos combativa, resistente ao novo e mais harmoniosa”, conclui o professor Narikawa.