“Sofri perseguição da gestão Gomide”, diz denunciado pelo MPGO

07 setembro 2017 às 11h08

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Dentista chamado de funcionário-fantasma pelo Ministério Público se defende e faz graves acusações

Yago Sales
O dentista Marcelo Rodrigues da Silveira, que, segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), teria recebido R$ 46,4 mil da Prefeitura de Anápolis, como publicou o Jornal Opção na última edição, na gestão Antônio Gomide (PT), sem prestar os serviços, afirmou que, por denunciar irregularidades na Saúde, sofria “perseguição”. Ele se defende e afirma que não é “funcionário-fantasma e mentiroso”.
Ao Jornal Opção, Silveira, que foi presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), disse que teve de recorrer ao Ministério Público para ser chamado para o cargo de protesista. “Passei em 2009 em segundo lugar e, mesmo o município precisando de profissional, não me chamavam. Então fui ao MP e pedi sua intervenção. Apenas em março de 2010 fui para o CEO (Centro Especializado Odontológico) do bairro Maracanã. Fiquei até outubro.” De lá, segundo o dentista, ele foi mandado para o Jardim Progresso. “Mas não tinha estrutura. Criaram uma estrutura para justificar minha ida para lá, sem qualquer justificativa”, revela.
Para a Rádio Manchester, contudo, o ex-prefeito e hoje vereador Antônio Gomide afirmou que a ideia ao transferir o dentista era “descentralizar e levar a demanda para o Maracanã”.
De acordo com Silveira, a ex-primeira dama Ana Cláudia Dezzen Gomide coordenava o CEO e teria ficado “nervosa” quando soube que ele havia ido à Vigilância Sanitária pedir orientações sobre uma obra que ela, Ana Cláudia, queria fazer. “Mesmo que, naquele mesmo ano, já tivesse finalizado uma obra no local, a Ana Cláudia queria porque queria fazer outra. E isso é irregular”, denuncia. “O Tribunal de Contas não aceitaria duas reformas no mesmo ano”, acrescenta o dentista.
Segundo ele, quando soube que o Silveira havido ido à Vigilância Sanitária, a ex-primeira-dama teria entrado no consultório muito nervosa. “Eu atendia pacientes e estava com outro dentista no consultório.” Esta é a justificativa para que Silveira procurasse o Ministério Público para denunciar a Prefeitura de Anápolis por danos morais.
Logo depois de ter “irritado” a mulher de Gomide, o dentista foi transferido para a unidade de saúde Jardim Progresso. “Um mês depois desativaram, e terceirizaram o laboratório. Fiquei sem lugar para ir. Então decidi solicitar documentos para provar irregularidades e soube que licitaram para pagar 50% a mais. O governo federal repassava R$ 100 e Anápolis pagava R$ 150”, denuncia.
Para saber para onde seria transferido, o dentista teria se encontrado, dentro do gabinete do secretário de Saúde de Anápolis, com a ex-primeira-dama Ana Cláudia e com o coordenador de Saúde Bucal Luiz Carlos. Na conversa, Luiz Carlos teria sugerido para o dentista “ficar em casa, sem trabalhar”. Procurado pela reportagem, Luiz Carlos nega que tenha tido este encontro e “muito menos ter dito isso”.
Sem nenhum documento, o dentista assegura que ficou à disposição do Conselho Municipal de Saúde. Ele afirma ter procurado o Ministério Público e o secretário de Saúde, Roberson Guimarães, para averiguar a legalidade. “O promotor não soube responder e o dr. Robson procurou o jurídico da prefeitura, que não viu problemas”, disse. “Eu poderia ter ficado em qualquer lugar, mas prestei uma assessoria técnica ao Conselho Municipal de Saúde e cuidava de avaliação de contas, geria comissões, pareceres e denúncias.”
“Eu cumpria horário no município. Se tem algo errado, é o desvio de função. Nada foi feito escondido. O secretário, o prefeito e o promotor sabiam de tudo. Eu cobrava a minha realocação.”
Outro Lado
Para o Jornal Opção, Luiz Carlos, explicou, ainda que o dentista tinha uma prerrogativa até 2012, cumprindo parte do horário no Conselho. “Ele mesmo veio com essa prerrogativa. Dezembro de 2012 venceu o contrato e, como ele era credenciado, não comissionado nem mesmo concursado, foi exonerado”, explica Luiz Carlos.
A reportagem procurou Ana Cláudia, mulher de Gomide, mas ela não foi encontrada. O ex-prefeito e atual vereador Antônio Gomide contestou o termo “funcionário-fantasma” usado pelo próprio promotor Arthur José Jacon Matias e utilizado pela reportagem: “Que funcionário-fantasma é esse que você escutou?”, perguntou Gomide, informando que voltará a se pronunciar quando for notificado.
O caso
Na edição 2199, o Jornal Opção revelou que o ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou cinco pessoas ligadas à Gestão Gomide, de Anápolis, por ato de improbidade administrativa. E que na administração da área todos sabiam e nada faziam sobre Marcelo Rodrigues da Silveira, que recebia sem trabalhar na função de protesista. A denúncia foi ajuizada por meio de uma Ação Civil Pública (ACP) na 11° Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis. O contrato de Marcelo Rodrigues vigorou entre 1° de março de 2010 e 31 de dezembro de 2010 e, posteriormente, prorrogado até 31 de dezembro de 2012.
O dentista, diz a denúncia, teria prestado apenas dez meses dos dois anos e dez meses em que permaneceu como dentista credenciado do município de Anápolis. Segundo a denúncia, os gestores que sabiam de tudo, mas não fizeram nada e, por isso responderão por improbidade administrativa, são: a ex-secretária da Saúde de Anápolis Irani Ribeiro de Moura; o ex-diretor de Saúde Bucal do município Luiz Carlos Teixeira Silva Júnior; o ex-secretário de Saúde Roberson Guimarães e o ex-prefeito Antônio Gomide.