Se a equipe econômica tivesse conseguido, além de acabar com a recessão, acelerar pra valer o crescimento, o ministro seria o candidato ideal do centro. Do jeito que está não vai dar

Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles: ele quer ser candidato, mas está difícil | Foto: Reprodução

O ministro da Fazenda, autêntico czar da economia no governo de Michel Temer, tem ventilado que poderá ser candidato a presidente da República no ano que vem. Ele tenta despertar a atenção do presidente da República e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o que poderia franquear o seu acesso a uma parcela do PMDB e do DEM. Meirelles seria mesmo o nome natural a ser trabalho pelo centro, mas vai ser muito difícil, praticamente impossível para ele atingir esse objetivo e entrar na campanha com alguma chance. Basta observar as reações gerais para chegar à conclusão que seu nome não empolga ninguém.

Meirelles queria repetir a mesma fórmula usada por Fernando Henrique Cardoso em 1998, que partiu do ministério do presidente Itamar Franco diretamente para a campanha eleitoral vitoriosa daquele ano. Mas as coincidências que existem nas duas situações — Temer e Itamar chegaram ao cargo após impeachment dos titulares, Dilma Roussef e Fernando Collor, e ambos debelaram processos inflacionários e recessivos — são poucas diante de uma brutal diferença. FHC liderou uma equipe que criou o Plano Real, sucesso absoluto tanto do ponto de vista econômico-financeiro imediato como de público. Meirelles também lidera uma equipe de sucesso, que quebrou a lógica da inflação que estava em dois dígitos e fora de controle e a tendência negativa do crescimento econômico. O problema é o ritmo da retomada, extremamente lento.

Levando-se em conta que o prazo de desincompatibilização é no início de abril, a economia teria que disparar instantaneamente para viabilizar a pretensão de Henrique Meirelles. Mas como fazer isso sem criar apenas uma bolha frágil — e que seria facilmente detectada pelo mercado e pelo mundo político? Meirelles não tem resposta para isso. Ele acredita que acabou com a recessão, o que é verdadeiro, sem dúvida, mas não há efetiva e concretamente nenhum dado que assegure que não haverá recaídas.

Insegurança política
A fragilidade é demonstrada em praticamente todas as áreas, da geração de empregos ao crescimento do PIB e, no mesmo diapasão, crescimento também da dívida pública ao ritmo de 318 bilhões nos dois últimos anos. Isso sem falar na extraordinária insegurança política. Brasília, nesse aspecto, é uma caixa de surpresas com uma só certeza: fica sempre pior a cada dia.

Essa é outra diferença monstruosa entre os momentos de FHC e Meirelles. O primeiro participou de um governo cujo presidente não sofreu qualquer desgaste moral — o pior momento foi uma foto no carnaval carioca onde ele, Itamar Franco, apareceu ao lado de uma modelo de minissaia e sem calcinha.

Já o atual presidente, além de boa parte de seu ministério, é acusado praticamente todos os dias. Ou seja, moralmente, Itamar respaldava FHC emprestando-lhe credibilidade enquanto candidato à sua sucessão. O apoio de Michel Temer pode até somar internamente, mas publicamente é um desastre total, e conta negativamente.

Meirelles era um nome natural à sucessão quando Temer assumiu o comando do país. A adoção da linha de realismo econômico diante das trapalhadas e manobras da contabilidade criativa adotada no governo Dilma, causou um ótimo impacto inicial. Temer aumentou esse cacife ao apostar alto que seu período seria marcado pela adoção de reformas, e começou logo com a limitação do crescimento das despesas além da reposição inflacionária. Mas antes que conseguisse avançar em outras áreas vitais, foi atingido pela denúncia de Joesley Batista e seu gravador. Ele chegou até a pensar em renunciar ao cargo, informou-se nos bastidores brasilienses. E se tornou praticamente um presidente zumbi, um morto-vivo sem forças para continuar seu plano de reformas.

Assim, a possibilidade de uma candidatura Meirelles montada sob a perspectiva da competitividade é tão remota que não deve ser considerada. Ele não é o salvador da pátria que imagina ser, e a eleição pode ter uma fortíssima conotação salvacionista. l