Serviços da Equatorial Goiás deixam a desejar, dizem empresários, moradores e prefeitos

01 outubro 2023 às 00h01

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As quedas de energia em Goiás têm gerado transtornos constantes aos consumidores. Mas o problema não é de hoje. Se antes os goianos reclamavam dos serviços prestados pela Enel, antiga concessionária, agora às reclamações estão direcionadas à nova responsável, a Equatorial Goiás. Mas depois de 9 meses, como está o serviço prestado pela nova administradora em Goiás?
Em setembro de 2022, a empresa fez a aquisição de 282,9 milhões de ações da Enel Goiás (antiga Celg D), assumindo a gestão da distribuição de energia elétrica no Estado, que atende mais de 3 milhões de consumidores. A aquisição havia sido anunciada em setembro de 2022, pelo valor de R$ 1,5 bilhão.
Dados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que os consumidores goianos ficaram 15,66 horas em média sem energia em 2022. A frequência de interrupções foi de 7,83 no ano. O recomendado pela estatal é de 12,11h e 8,56 interrupções. Os números foram atribuídos à Enel e à Equatorial, embora a última tenha assumido a concessão em dezembro daquele ano.
Entretanto, a expectativa da população pela melhoria nos serviços após a saída da Enel de Goiás acabou sendo frustrada. Os consumidores da capital Goiânia reclamam diariamente de oscilações na rede, semáforos inoperantes, e de longos períodos sem energia em suas residências. Teve até gente dizendo que já está com saudade da Enel em Goiás.
Interior
Se o problema é grave na capital Goiânia, nas cidades do interior do estado ele fica ainda mais complicado. Com pouco mais de 44 mil habitantes, a cidade de Itaberaí, localizada a cerca de 90 km de Goiânia, é um grande polo econômico de Goiás. Por lá, a situação da distribuição energética também não é das melhores. A prefeita da cidade, Rita de Cássia (PSB) afirma que ainda não conseguiu observar melhorias na rede elétrica do município.
“Até o momento não pude observar melhoras nos serviços, pelo contrário, a empresa trabalha com processos muito burocráticos e demorados. Pedimos alguns serviços urgentes e eles pedem 30, 60 dias para resolver, o que é muito complicado para nós. Estou com uma obra de asfalto, que não posso interromper, sendo atrapalhada por uma fiação que caiu”, revela a prefeita.
Rita revela ainda que acontecem quedas de energia frequentes e que já houve a necessidade de substituição de aparelhos eletrônicos na prefeitura. “Na nossa tradicional festa de agosto, tivemos várias quedas de energia. Na prefeitura, computadores tiveram de ser substituídos pois queimara com a instabilidade da rede. No hospital municipal tivemos de trocar o transformador”, afirmou.

Segundo a prefeita, em alguns bairros da cidade a constante falta de energia compromete até mesmo o funcionamento das bombas de água. “Isso pode levar até o desabastecimento de água. A crítica que faço é construtiva, acredito que a empresa tem enfrentado muitas dificuldades, mas penso que pode melhorar muito mais”, afirmou.
Empresários também reclamam
Ainda em Itaberaí, o empresário Wander Barbosa é dono de uma rede de supermercados e também reclama dos serviços não prestados pela Equatorial. Segundo ele, sua empresa está prestes a inaugurar uma nova loja na cidade de Palmeiras de Goiás, mas teme que sem os serviços de energia elétrica tenha que adiar a abertura.
“Pedimos uma extensão de rede para a cidade de Palmeiras de Goiás, ainda no ano passado que foi liberada em fevereiro, porém depois que a subestação ficou pronta eles (Equatorial) pediram seis meses para a execução dos serviços. A inauguração da loja é agora, dia 11 de outubro, loja de 5,5 mil metros quadrados que vai gerar mais de 120 empregos diretos, mas se não conseguirem ligar essa rede até o prazo, vai haver um prejuízo enorme, tanto para nós, quanto para a população”, afirmou o empresário.
Direitos do consumidor
A advogada especialista em Direito de Energia e vice-presidente da Comissão de Energia da OAB/GO, Thawane Larissa, afirma que falta investimentos na rede e manutenção adequada são as responsáveis pelas quedas frequentes de energia. “O problema não é de hoje, vem desde a época da Celg, mas de lá para cá, não foi feito muita coisa para resolver essa situação. E quem fica na mão é o consumidor”, explica a especialista.
Thawane ressalta que Goiás tem potência energética, mas a falha está na entrega dessa energia ao consumidor final. “Não temos um sistema eficiente e moderno que distribua essa potência (energética) de forma adequada. Um dos resultados é esse que estamos vendo, a energia caindo a cada 10 minutos, atrapalhando empresas, escolas e residências”, denuncia. Ela diz ainda que a falta de manutenção na rede deixa o sistema sobrecarregado e seriamente prejudicado.
“O resultado é óbvio, o sistema se torna falho, e o fornecimento fica precário”, reclama. Segundo a advogada, o consumidor que teve algum aparelho elétrico danificado devido às quedas constantes de energia deverá ser ressarcido pela concessionária que administra o serviço. Ela explica que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) garante que a concessionária deve consertar o aparelho danificado ou ressarcir clientes que tiveram prejuízo.
Qualidade da energia
A Equatorial Goiás amargou uma das últimas posições na qualidade dos serviços entre as distribuidoras de energia elétrica do país. Segundo o ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), divulgado no primeiro semestre deste ano. Entre 29 concessionárias de grande porte no Brasil, com número de unidades consumidoras maior que 400 mil, a responsável pela distribuição de energia em Goiás foi a 27ª no ano passado.
Nos três primeiros anos de operação da Equatorial em Goiás, a Aneel afastará pelo período de três anos, o risco de caducidade em caso de descumprimento dos critérios de eficiência com relação à continuidade e à gestão econômico-financeira. A Equatorial já havia informado que as flexibilizações são necessárias para garantir um período de transição, para que se tenha prazo para que os investimentos sejam convertidos em resultados, além de aprofundar o diagnóstico da situação operacional de distribuição de energia elétrica, em Goiás.
Ranking de Continuidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
Em 2022, as interrupções de abastecimento de energia totalizaram 10,93 horas – 10h56 –, de acordo com o Ranking de Continuidade, divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Trata-se do melhor resultado da série histórica, indicando que, em 2022, o fornecimento de energia elétrica ficou disponível 99,88% do tempo.
As 10,93 horas sem energia representam uma queda de 7,2 em relação a 2021, quando foi registrado um indicador de 11,78 horas. O desempenho supera, inclusive, a performance de 2020, quando o tempo médio sem energia foi de 11,5 horas.

Conforme a Agência, o resultado se deve a diversas ações:
As novas regras de qualidade do fornecimento nos contratos de concessão das distribuidoras; as compensações financeiras aos consumidores; os incentivos na tarifa por meio do Componente de Qualidade; a adoção de planos de resultados para as distribuidoras que apresentavam desempenho insuficiente; as fiscalizações da Agência e a definição de limites de interrupção decrescentes para as concessionárias.
É possível afirmar que, nos últimos três anos, os períodos sem abastecimento ficaram dentro do limite definido pela Aneel, resultado importante em um contexto de aumento do consumo de energia.
O que diz a Equatorial?
Segundo a Equatorial Goiás a companhia investiu, somente no primeiro semestre de 2023, R$ 1,38 bilhão em melhorias para o fornecimento de energia. O presidente da empresa Lener Jayme, afirmou, que os investimentos no fornecimento de energia estão sendo realizados e que a melhora ocorre e será sentida de forma contínua e gradativa.

O Grupo Equatorial Energia, desde sua chegada a Goiás, no fim de dezembro de 2022, enfrenta o desafio de uma rede obsoleta e sobrecarregada e, agora, condições climáticas adversas com temperaturas mais altas que o normal.
Para enfrentar esta situação, a Equatorial Goiás executou um programa de investimentos de aproximadamente R$ 1,38 bilhão somente no primeiro semestre de 2023, e pretende alocar muito mais recursos para evoluir na qualidade e confiabilidade do fornecimento de energia.
“Os nossos compromissos vêm sendo saldados, dia após dia. O tamanho do investimento realizado, em curto espaço de tempo, não se via há anos na distribuidora. A rede encontrada é degradada e não vendemos ilusões: os problemas continuarão ocorrendo, mas mostraremos que gradativamente vamos evoluir na qualidade da rede”, afirmou Jayme.
Ao assumir a concessão goiana, a Equatorial Goiás realizou um diagnóstico completo da rede elétrica, onde foi identificado que quase 50% das unidades transformadoras de distribuição de energia apresentam sobrecarga, 72% dos circuitos são monofásicos (com apenas um recurso de fornecimento) e 14% dos ativos da concessão depreciados.
Atuação do El Niño
Uma outra situação também vem, agora, colaborando para o comprometimento do fornecimento no estado: o El Niño, que trouxe calor excessivo para o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil e ciclones na Região Sul. Esta condição climática adversa não só impactou Goiás, mas todo o Brasil, desencadeando, por exemplo, em desligamentos das empresas transmissoras de energia, que afetam o suprimento das distribuidoras em suas áreas de concessão, além dos desarmes dos disjuntores de entrada dos clientes que não estão dimensionados para o aumento de consumo.
“Houve dois impactos na distribuição devido ao suprimento das transmissoras, ontem, em Goiânia, e mais um, no sul do estado”, comenta o presidente da Equatorial Goiás. “É um período atípico que nós vivemos. A onda de calor está afetando todos nós. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou aumento de quase 7% na demanda de carga em todo o país em função do calor e somente em Goiás, vimos este dado crescer 16% em algumas regiões de Goiás”, destacou, ainda, Lener.
Embora a Equatorial Goiás passe por esses desafios, o cliente já percebe as melhorias adotadas pela distribuidora. Em um comparativo entre janeiro e julho de 2022 com o mesmo período de 2023, o número de ocorrências informadas por consumidores diminuiu 19%, sendo que no Procon (GO) essa redução foi de aproximadamente 50% e na AGR/Aneel o decréscimo foi de 26%.
A Equatorial Goiás também evoluiu 16,7% em relação ao ano anterior no Índice de Satisfação na Qualidade Percebida (ISQP) 2023, da Pesquisa Abradee, respondida pelos clientes e realizada pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. Com esse resultado, a companhia apresentou o quarto maior crescimento de índice entre todas as distribuidoras do Brasil e o maior da Região Centro-Oeste. Esta evolução foi percebida pelo consumidor em apenas quatro meses de gestão, uma vez que os percentuais são referentes a 962 entrevistas realizadas entre fevereiro e abril deste ano, em 53 municípios.
No início de 2023, a Equatorial Goiás realizou mutirões de reformas elétricas em 92 cidades da concessão, com o objetivo de trazer maior tecnologia à rede e substituir equipamentos obsoletos por outros, mais modernos. Em parceria com as prefeituras, a companhia de energia vem implementando, desde março, campanhas de poda nas 237 cidades da concessão, e a partir do segundo semestre, um novo sistema de monitoramento de pontos de iluminação pública, também em todo o Estado, para apoiar os municípios responsáveis pela gestão e manutenção deste serviço.
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