Empresários como Gabriele e Jessé se multiplicam em diversos municípios comprovando a eficácia dos atendimentos disponibilizados pelo Sebrae Goiás

Gabriele e sua sócia Bruna, em evento do Sebrae: agência no município de Goianésia foi fundamental para o sucesso / Foto: Arquivo Pessoal
Gabriele e sua sócia Bruna, em evento do Sebrae: agência no município de Goianésia foi fundamental para o sucesso / Foto: Arquivo Pessoal

Yago Rodrigues Alvim

Gabriele Zanatta é graduada em química. Ao lado de Bruna Fonseca, em­pre­endeu a Natturale: uma distribuidora de cosméticos no município de Goianésia, a 170 km da capital goiana. A formação, em área comum com o marido, Ivan Zanatta, engenheiro químico, e a vontade de ambos em ter um negócio próprio resultou na ideia da pequena empresa: um exemplo comum de em­pre­endedorismo espalhados pelo Estado de Goiás, com o apoio do Serviço Bra­sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO).

Após participar do curso de capacitação Empretec, metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada para o desenvolvimento de características de comportamento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de negócios, Ivan se animou e contagiou Gabriele com a ideia de um projeto, um negócio na área. Depois, recorreram a uma pesquisa para ter conhecimento se o terreno era seguro: se eles poderiam desenvolver, no município, uma empresa de cosméticos capilares.

A Natturale já comemora dois anos de vida. A ideia se concretizou com um casal de sócios e amigos. Esposa de Gustavo Diniz, Bruna está à frente da distribuidora com Gabriele. Na época, contou a moça, eles ainda não haviam se casado. Ele trabalhava com Ivan e com Gabriele e já pensava no matrimônio. A preocupação era levar Bruna para o município e que ela tivesse seu trabalho, para que assim se realizasse. “Enfim, estamos juntos”, brincou Gabriele ao contar a história e explicar: “O projeto da Natturale é mais para as esposas, os maridos apoiam”.

Com o apoio da Agência Sebrae, presente no município, desenvolveram um plano de negócio com os salões locais, fizeram um pequeno empréstimo, através do Goiás Fomento, e procuraram indústrias para terceirizarem as fórmulas dos cosméticos. Gabriele conta que levou um ano para abertura da pequena empresa. Entre buscar o alvará de licença sanitária, viajaram para São Paulo e Belo Horizonte, e encontraram aqui perto, em Aparecida de Goiânia, a empresa para as fórmulas. Ela vislumbra a possibilidade de uma indústria.

Empresário Jessé felicita a facilidade de acesso ao serviço: “Na porta de casa” / Foto: Arquivo Pessoal
Empresário Jessé felicita a facilidade de acesso ao serviço: “Na porta de casa” / Foto: Arquivo Pessoal

Em um evento realizado pelo Sebrae, as duas foram parceiras e montaram um estande. Ali, fazem parcerias. Gabriele comenta sobre a participação, neste ano, na Feira do Empreendedor, em Goiânia. Além disso, frequentam cursos de capacitação: “Nós aproveitamos os cursos, o que diz respeito ao nosso trabalho, seja com vendas, atendimento ao cliente, parcerias, licitações”, diz.

Sobre a presença do Sebrae no município, Gabriele afirma, assim como Gustavo, que é de grande ajuda e lhes ensinou o “caminho das pedras”. São auxílios frequentes, em qualquer eventualidade, diz ele. A agilidade e facilidade são pontos importantes destacados por Gabriele do serviço prestado pelo Sebrae.

Gustavo recomenda que as pessoas que queiram empreender, que estão começando, tanto no município ou em qualquer lugar do Brasil, saibam que têm a oportunidade de crescimento e que o Sebrae está disponível. “Uma ‘ferramenta’ que pode auxiliar as pessoas a abrirem seus negócios.”

Gabriele diz que os empreendedores são muito bem servidos. “O Sebrae ajuda demais, até em setores que não sabíamos que poderiam ajudar tanto, não só na ideia, mas na questão financeira, na busca de recursos, nas feiras.” Ela também espera que outras pessoas usufruam do serviço, pois, possibilita o sonho.

Presentes em 23 municípios, as agências Sebrae facilitam os empreendimentos e se mostram mais eficazes quando estão em locais acessíveis, disseminando informações e treinamentos / Fotos: Edmar Wellington/Sebrae
Presentes em 23 municípios, as agências Sebrae facilitam os empreendimentos e se mostram mais eficazes quando estão em locais acessíveis, disseminando informações e treinamentos / Fotos: Edmar Wellington/Sebrae

Outros lugares

Jessé Costa trabalhou até 2013 na Secretaria de Edu­cação da Prefeitura de Senador Canedo. Hoje, atua com prestação de serviço, auxílio em construção civil e prestação ao lar. Para ele, a mudança foi boa, o caminhar com as próprias pernas, apesar de mais trabalho, como diz, dá mais liberdade e é algo mais tranquilo. A vantagem, diz, é que não fica amarrado em determinações.

“A possibilidade de crescimento é maior, por isso procurei o Sebrae”, diz Jessé. Em 2005, co­nhe­ceu os serviços do Sebrae e fez seu primeiro curso. Ele pretendia se qualificar como empresário, aprender como administrar bem, vender bem, como calcular bem e por isso recorreu aos cursos, que se multiplicaram com os anos.

O pai havia falecido e Jessé precisava cuidar da mãe. Em 2008 voltou para Senador Canedo. Na capital, ele trabalhava também na área de prestação de serviços. Sobre o deslocamento, o empreendedor diz que facilitou a presença da Agência do Sebrae no município. “Está na porta de casa”, diz e acrescenta: “Não tenho que me deslocar até a T-3 [onde se localiza o Sebrae na capital goiana, no Setor Bueno]. É uma facilidade imensa.”
Consultorias, auxílio com a documentação e com a organização, registrar firma, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), encaminhamento para prefeitura são exemplos de serviços que Jessé teve com o Se­brae. “Foi sem problema, bem rápido, não tive dor de cabeça.”

Porém, para ele o município está faltando no sentido de participar. Lembra sobre um curso que foi cancelado por falta de alunos. “O empresariado local não se preocupa com cursos, está preocupado se tem lucro ou não. E ter essas noções, assistir essas palestras auxilia no retorno”, diz Jessé, sublinhando a importância do conhecimento e, assim, das ações propostas pelo Sebrae.

Sobre Senador Canedo, Jessé diz do infortúnio da maioria do empresariado estar na informalidade. “Talvez, uma divulgação maior, buscando esses empresários, ajude para que eles aproveitem mais”, diz. Afinal, há ações. E com isso felicita e agradece a presença do Sebrae e o que oferece. Jessé espera que continuem os cursos, fornecendo informações para aumentar os ganhos, as vendas e para que o trabalho cresça, melhorando o comércio local.

Descentralização potencializa o empreendedorismo 

Em 1972, após cinco meses de criação do Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa (Cebrae), Goiás teve seu primeiro Agente para auxiliar os pequenos e médios empresários. Com o comum intuito, hoje em diferente nome e organização, o Serviço Bra­sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) se expande no Estado para melhor atender os municípios mais distantes. Com isso, foi dividido em regiões.

“Antes de assumir a Diretoria Exe­cutiva do Sebrae Goiás, ainda como a­na­lista da casa, por deliberação do Conselho Estadual do Sebrae, coordenei e executei o projeto de expansão do Sebrae em Goiás, o qual denominamos de projeto de regionalização. O objetivo maior, instalar novos pontos de atendimento do Agente no Estado e modernizar a gestão e o atendimento daqueles que já estavam em funcionamento”, explica Manoel Xavier Fer­reira Filho, destacando a meta de ex­pansão e de presença do Sebrae em diversos lugares.

Primeiramente, foram criadas 11 regionais com estrutura própria, onde os recursos foram distribuídos para ponta: a descentralização. Depois, ampliando o conceito da regionalização, foi criado o que se nomeou Agên­cias Sebrae, em parceria com as prefeituras locais.

Os critérios iniciais para seleção das regionais e também Agências foram com base no histórico “Balcão Se­brae”. Uma forma diferente de trabalho, os balcões estavam instalados em 14 municípios onde um atendente auxiliava a população. Ficou ultrapassado. Alguns, que tinham melhor desempenho e eram mais bem localizados, estrategicamente, se desenvolveram como Escritórios Regionais. Inicialmente, em 2008, eram 7 regionais, com redivisões, em 2011, chegaram a 11. Os critérios são a importância do município, o número de empresas, o PIB e a localização estratégica. Os melhores resultados, as repostas das empresas contribuíram para sobrevivência e crescimento desses locais de apoio. As Agências seguem os mesmos critérios.

“Estrategicamente, o Sebrae tem unidades físicas maiores, que são os chamados Escritórios Regionais, e de pontos com uma estrutura mais enxuta, que são as Agências. Nossa proposta é de que o Sebrae cubra o Estado de Goiás com sua rede de atendimento”, simplifica o presidente do Conselho De­li­berativo do Sebrae-GO, Marcelo Baiocchi Carneiro.
Os 40 municípios mais significativos foram selecionados. O assessor de Relações Institucionais e Políticas Públicas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO), Ieso Gomes Pereira da Silva, exemplificou a Regional Nordeste, que se localiza em Posse, município a 540 km da capital. Lá, se considerar apenas o número de empresas, não haveria um agente, quando comparada a região metropolitana e do Entorno do Distrito Federal. E com objetivo que tem o Sebrae e da consciência da importância da presença de apoio, foi construído um escritório regional em Posse.

Os recursos financeiros também estão distribuídos nas regionais. Com isso, cada escritório, de acordo com sua extensão e abrangência de municípios, recebe um orçamento financeiro. O investimento viabiliza projetos no município que capacitam e ampliam horizontes empresariais e empreendedores. Metas foram definidas, como número de atendimento de empresas, implementação da Lei Geral, diversos números de pequenos negócios, microempreendedor individual e outros pontos (confira o quadro sobre a Lei Geral).

Assim, “quanto mais metas, mais recursos; quanto mais responsabilidades, mais recursos”, informa Ieso. O que se pretende é estar o mais próximo possível dos pequenos negócios, para realizar tais metas de acordo com as necessidades regionais. Mudanças eram esperadas. A distância interferia na eficácia desse auxílio no município. “Quanto mais próximo, atuando com mais intensidade, com uma quantidade maior de ações, pela facilidade e agilidade, naturalmente e não só institucionalmente, os resultados dos pequenos negócios eram visivelmente melhores”, diz Ieso.

Na avenida T-3, no Setor Bueno, em Goiânia, se localiza a sede do Se­brae. “Percebemos que quando estamos na sede e saímos, vamos para um município ou outro, e participamos de reuniões, algo estratégico, há um sentimento bom, um prazer, muito grande, em dizer ‘eu tenho o Sebrae mais próximo’ e, assim, é mais fácil ter uma consultoria, uma informação mais rápida”, informa o assessor. Ele ainda considera a internet, pois entende o benefício da ferramenta. O “entretanto” está no calor, nas relações pessoais que inspiram, incentivam, dão uma maior segurança, afinal, empreendimentos são passos e requerem coragem.

Lei Geral

A Lei Geral tornou-se obrigatória em 2006, por mais que em muitos municípios não estivesse regulamentada. Para que isso se cumprisse, a perspicácia desse calor, dessa proximidade, intuiu o espalhar, o descentralizar. Para um painel de implementação da lei, as regionais e agências são indicadores do resultado de implementação. Ieso ressalva que o trabalho poderia ser realizado pela sede, na capital, porém e “com certeza”, como diz, a localidade, a presença efetiva de um trabalho mais consistente e com mais agilidade é fácil mesurar.

Sobre as parcerias, Ieso exemplifica: “Luziânia, nossa sede localizada no Entorno do Distrito Federal, desperta o interesse dos municípios vizinhos”. Por que não em Valparaíso? Por que não em Águas Lindas de Goiás? Há uma procura pelo Sebrae que explica a diferença dos escritórios e da Agência e mostra a possibilidade da criação mesmo de uma Agência, por exemplo. “A parceria aflora”. É um interesse que parte também das prefeituras. O Sebrae estuda as possibilidades de se instalar em todos os pontos já citados. Afinal, pode ser que o Sebrae, no local, se torne obsoleto e cause prejuízo à sede, a prefeitura, como exemplos.

Depois do estudo, iniciam-se as negociações. Os papéis são designados: qual a função da prefeitura, de uma associação comercial, o empresariado e da própria figura do agente. É uma negociação longa de seis meses, um ano até. O município tem obrigações financeiras, legais com a instalação de uma Agência. Ba­si­ca­mente, pode-se exemplificar a própria implementação da Lei Geral que requer ações da prefeitura. Ou seja, requer um esforço do prefeito, da governança e do empresariado local. Se apenas uma associação comercial almeja a presença e a prefeitura é contra ou neutra, não compensa e, na verdade, se inviabiliza, explica Ieso. “Nós estamos onde o ambiente é favorável.”

Ainda sobre a temática, o assessor pontua: quando a prefeitura percebe a importância da presença da Agência no município, a viabilidade é maior. Afinal, explica, a prefeitura tem mais condições. Mesmo assim, ressalva, em um determinado momento, para sobrevivência e para que de fato seja efetivo o trabalho e auxilie na implementação, no auxílio aos pequenos empresários e diversas consequências positivas, daí se desponte, todas as entidades devem estar envolvidas.

Ieso ainda ressalta que o Sebrae é apartidário: “Mesmo, porque, quando fundamos uma Agência, não é pensando em um ano ou quatro anos de mandato e, sim, pensando e fazendo todo esforço para que ela sobreviva até quando for necessário. Com isso, dá exemplos de Agências que já estiveram em baixa, quase tiveram que ser fechadas por desentendimentos locais ou falta de apoio, e reverteram a situação, mostraram a importância, voltaram a alta, cresceram.

“Hoje, estamos com 23 Agências em funcionamento, entre elas, 3 que se­rão inauguradas”. Na manhã do próximo dia 9, será inaugurada em Sil­vâ­nia. Também no turno matutino, em Santa Helena de Goiás e, no turno vespertino, em Paraúna, serão inauguradas as Agências. “Já estão pron­tas, só faltam alguns detalhes”, diz. Os municípios de Trindade, Caçu, Mi­na­çu, Alexânia já estão com as Agências também quase prontas, po­rém sem uma data. O objetivo é ter, até o final do ano, 28 Agências em atividade. Com os escritórios regionais, serão cerca de 40 municípios atendidos.

No mapa de Goiás, existem as regionais metropolitanas, com escritório em Goiânia, central, com escritório em Anápolis, regional do Entorno do Distrito Federal, com escritório em Luziânia, nordeste, com escritório em Posse, noroeste, com escritório em Goianésia, norte, com escritório em Porangatu, regional oeste, com escritório em São Luís de Montes Belos, sudeste, em Catalão, sudoeste, em Jataí, regional sul, em Caldas Novas e, por fim, regional sul-sudoeste, com escritório em Rio Verde. Os telefones estão dispostos no site do Sebrae.

Os colaboradores da Agência são servidores da prefeitura. O espaço é cedido também. Procura-se locais de fácil acesso e boa visibilidade. A capacitação desta equipe de colaboradores é constante. Além disso, há todo apoio técnico dos Escritórios Regionais às Agências que abrangem.

Por fim, Ieso destaca: “O objetivo do Sebrae é estar cada vez mais próximo de seu cliente. É um processo de ir à frente, de melhorar as condições, procurando formas de estar mais presente nos municípios”.

A lei geral

Em 14 de dezembro de 2006, foi instituída a Lei Geral das Microempresas e Em­presas de Pequeno Porte (Lei Complementar Federal 123/2006) que pro­põe o tratamento diferenciado às mi­croempresas e empresas de pequeno porte. A Lei Geral tem o objetivo de con­tribuir com o desenvolvimento das micro e pequenas empresas, com facilidades para acesso ao mercado, ao crédito e a justiça, o estímulo à inovação e à exportação, consequentemente, criando mais o­por­tu­nidades de emprego, distribuindo renda e incluindo socialmente os cidadãos do país.

No estado de Goiás apenas 80 municípios executam, praticam a teoria da lei. Outros 189 municípios apenas a implantaram. Ou seja, a introdução da lei sua implantação é maior (está presente nos 189 municípios), porém sua execução e realidade, a implementação, é presente apenas em 80 municípios. O assessor de Relações Institucionais e Políticas Públicas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO), Ieso Gomes Pereira da Silva, explica que, atualmente, é necessário, além da a­dequação em cada município (pois os municípios têm, cada um, suas pe­cu­li­a­ridades) “tirar do papel e pôr em prática”.

Com o objetivo de facilitar a vida dos pequenos negócios, como afirma Ieso, a Lei Geral atua nos eixos de desoneração e desburocratização, do microem­pre­endedor individual, do agente de de­senvolvimento (o animador do processo de implementação da lei) e, mais importante, como ressalva o assessor, no eixo das compras governamentais.