Segurança Pública, Saúde e política: o que qualifica Caiado para a candidatura à presidente

01 março 2025 às 21h00

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O Palácio das Esmeraldas considera que os indicadores na segurança público será o carro feche do programa de governo de Ronaldo Caiado em uma eventual candidatura a presidência da República. Apesar disso, outras entregas importantes que destacam, qualificam e credenciam o governador goiano para esta disputa. Ao assumir o governo em 2019, a situação fiscal, na Saúde, Educação e Segurança Pública eram muito distantes dos balanços alcançados nos últimos anos da gestão.
Quando assumiu, o estado enfrentava uma crise fiscal severa, caracterizada por um déficit financeiro bilionário, atraso no pagamento da folha dos servidores público, além de uma dívida com fornecedores. O rombo fiscal era estimado, à época, em R$ 3,4 bilhões — ou seja, a diferença entre as receitas previstas para aquele ano versus as despesas. Caiado herdou do governo anterior (Marconi Perillo e José Eliton, ambos do PSDB) o atraso no pagamento dos salários dos servidores públicos.
A dívida consolidada líquida de Goiás correspondia a quase 200% da Receita Corrente Líquida (RCL), o que restringia a capacidade do Estado de contrair novos empréstimos ou realizar investimentos. O Estado tem em caixa um montante de aproximadamente R$ 14 bilhões que serão liberados para investimento a partir da saída do Regime de Recuperação (RRF), enquanto a dívida consolidada líquida foi entregue em quase 200% da Receita Corrente Líquida (RCL).
Saúde
O secretário de Estado da Saúde, Rasível dos Reis lembra que no início da gestão, os hospitais privados que prestavam serviços para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) estavam em situação igual ou pior que Goiânia, no ano passado. “Ao contrário da gestão passada, que entrou o governo com dívidas com esses hospitais, prejudicando o atendimento à população, o governador deixará a gestão com todas as dívidas pagas, tudo em dias”, pontua.
Ele argumenta que houve um freio na corrupção e a fiscalização de contratos, por meio dos programas de Compliance, em especial na Saúde. “Tinham várias Organizações Sociais (OS) em alguns hospitais que tivemos grandes problemas, tivemos suspeita de corrupção e uma série de irregularidades, mas todas que houveram esses indícios”, aponta.
Entre as entregas, Rasível destaca a regionalização dos serviços de saúde e ampliação da estrutura hospitalar e de serviços especializados. “O governador se preocupou em ampliar e modernizar as infraestruturas já existem, criar as policlínicas para aliviar a saúde nos municípios, embora o grande marco da gestão será a inauguração do Hospital de Cora, destinado para crianças com câncer com o que há de melhor na medicina”, reforça.

Politicamente, a profissão de Caiado, cirurgião ortopédico, pode pesar à favor. “É o único governador médico no Brasil, ele tem uma sensibilidade para a saúde, tem um cuidado muito grande com as pessoas e ele sempre frisa para que a gente coloque o paciente no centro do debate”, aposta. Rasível argumenta ainda que a experiência na intervenção na saúde da Capital, determinada pelo Tribunal de Justiça diante das intensas crises vividas pelos goianienses, garantiu ao governo mais experiência.
“Tivemos uma inversão do fluxo, com os pacientes de Goiânia indo para os municípios da Região Metropolitana, sobrecarregando a saúde dessas cidades. Não fosse a estrutura do Estado, e a ação rápida, com a ativação de mais de 750 leitos, a situação em Goiânia poderia comprometer toda a rede estadual”, diz.
Dados na Saúde
Leitos gerais
2018: 1.635
2024: 3.741
UTIs
2018: 267
2024: 779
UTI adulto:
2018: 212
2024: 595
UTI pediátrica
2018: 45
2024: 117
UTI neonatal
2018: 10
2024: 67
Enfermaria
2018: 1.368
2024: 3.006
Cidades que contam com leitos
2018: Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia – 3 municípios
2024: Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Uruaçu, Trindade, São Luís dos Montes Belos, Senador Canedo, Santa Helena, Rio Verde, Porangatu, Pirenópolis, Nerópolis, Morrinhos, Mineiros, Luziânia, Jataí, Jaraguá, Itumbiara, Goiás, Formosa, Ceres, Catalão, Caldas Novas, Águas Lindas – 24 municípios e 46 unidades hospitalares.
Na segurança, o trunfo
Entre os destaques está a redução da taxa de homicídios dolosos em 55%, no comparativo entre o primeiro ano de mandato e o ano passado. Aliados atribuem esse indicador a uma somatória de ações, em especial a integração das forças policiais e o aprimoramento dos batalhões operacionais, além da formação de um número substantivo na área da inteligência. O governador, aliás, tem sido uma das principais vozes entre os governadores que compõem o Fórum de Governadores, na crítica à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do SUS da Segurança Pública, proposto pelo Governo Federal.
Os governadores avaliam que a proposta retira o poder de influência dos Estados, além interferir na autonomia dos Estados no comando das polícias militares. Ele protocolou um contraproposta própria para inibir o que ele chama de “cortina de fumaça” para “concentração de poder”. No documento, o governador propõe dar mais autoridade para os entes federados legislarem sobre questões penais, como crimes contra o patrimônio, meio ambiente e contra a dignidade sexual. O mandatário estadual também pontuou o contingenciamento de recursos dos fundos de segurança para estados que optem por não seguir as diretrizes de segurança do governo federal.
Comparação ideológica e política entre Caiado e Bolsonaro
Caiado e Bolsonaro tem muito mais desencontros do que encontros. Apesar da declaração de voto no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, o governador Ronaldo Caiado (UB) já era alvo das críticas de Bolsonaro. A cisão ocorreu durante a pandemia, quando o ex-presidente criticava as medidas sanitárias e Caiado, médico que é, optou pelo caminho que salvou vidas. As diferenças entre as duas lideranças são claras.
O cientista político Guilherme Carvalho, publicou um artigo no Jornal Opção desta semana, em que evidencia as diferenças entre Caiado e Bolsonaro em termos de conservadorismo, enquanto valores. Carvalho pontua que a “verdadeira essência do conservadorismo não reside na retórica, mas na prática responsável, na prudência e na capacidade de gerar resultados concretos”, escreveu.

Sobre as diferenças, ele disse: “Caiado tem muito menos a ver com o Bolsonaro do que parece. Ele representa valores muito menos extremados, ele representa aquilo que seria uma direção de direita racional”. A disputa em 2026, deve seguir uma tendência de direita autenticamente conservadora, e não uma reacionária como Bolsonaro, tendo em vista que o ex-presidente está inelegível até 2030.
Carvalho crava que o apoio do Bolsonaro a Caiado em 2026 é muito difícil e que outros candidatos despontam na possibilidade ter o ex-presidente no palanque. No entanto, mesmo Tarcísio de Freitas (Republicanos), preferência para substituir Bolsonaro na campanha presidencial, tem resistência em deixar o atual partido para se filiar ao PL, onde estaria sob intensas pressões do ex-capitão do exército. “Bolsonaro vai ser candidato em 2026. Se o TSE bloquear a candidatura, ele vai encontrar outro candidato da direita que seja mais próximo dele para impor o nome à vice-presidência, seja o filho ou a esposa, pois são as únicas pessoas que ele, de fato, dialoga”, aposta.
Crime | Variação 2023-2024 | Variação 2018-2024 |
---|---|---|
Estupro | -6% | -10% |
Homicídio Tentado | -2% | -21% |
Roubo a Transeunte | -29% | -88% |
Roubo de Veículos | -27% | -93% |
Roubo em Comércio | -30% | -87% |
Roubo em Residência | -17% | -79% |
Roubo de Carga | -68% | -97% |
Furto de Veículos | -21% | -68% |
Furto em Comércio | -16% | -87% |
Furto em Residência | -18% | -79% |
Furto a Transeunte | -25% | -88% |
Homicídio Doloso | -12% | -55% |
Latrocínio | -84%- | -84% |
Lesão Seguida de Morte | -52% | -52% |
Roubo a Instituição Financeira | -100% | -100% |
Segurança pública é o grande case, um hub da gestão do governador Ronaldo Caiado (UB). “É utilizado até como modelo de política pública por outros Estados”. “Tanto pelo ponto de vista efetivo quanto pelo ponto de vista da percepção da população, que é, no fim das contas, o que importa. Só que a gente está falando de 3% da população brasileira. Se depender só de Goiás ou o Caiado estava eleito no primeiro turno”, argumenta Carvalho.
Para o cientista política, em algumas regiões, justamente onde a violência é uma preocupação maior das populações, o governador não é tão conhecido. “Um dado muito importante da revista Quaest mostra que aqueles que conhecem dentre aqueles que conhecem todos os candidatos tem preferência em votar em Caiado. Ou seja, ele é o candidato mais provável de crescer dentre todos os candidatos da direita”, explica.

Esse crescimento, no entanto, vai depender da comunicação para conseguir colar a plataforma que ele vai escolher para mostrar à população brasileira para se desgarrar do pelotão. “Se for contra alguém de um Estado maior no ponto de vista populacional e econômico, é claro que tem mais chances de sair na frente na largada. Mas ele tem políticas públicas para expor e segurança pública é a principal no desenvolvimento, mas não é a limitação também”, aponta. São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Paraná, são os locais onde Caiado pode ser começar a ser procurado como uma candidatura viável justamente por essa atuação nessa pasta.
O governador de Goiás é aprovado por 86% dos eleitores goianos e desaprovado por 12%, segundo a pesquisa Quaest. Por sua vez, a gestão foi considerada positiva por 70% e regular para 22%. Outros 6% classificaram como negativa. Entre as áreas de atuação do Governo de Goiás, a segurança pública foi a mais bem avaliada, na qual 69% dos entrevistados consideram as ações policiais positivas.
Minas, Mato Grosso e o Norte em jogo
Minas Gerais, que também vive uma alta dos indicadores de violência, como o número de assassinatos, que cresceu 3,7% entre 2022 e 20223, é também o Estado decisivo para qualquer candidato à presidência da República. São cerca de 16 milhões de eleitores, além de alguns dos principais atores políticos do país. É de Minas Gerais, por exemplo, a presidência do Senado Federal, comandado por Rodrigo Pacheco (PSD). A legenda, sob o comando de Gilberto Kassab, elegeu o maior número de prefeitos nas eleições municipais de 2024 e será um importante player para quem deseja a principal cadeira da República.

PSD, aliás, que foi rejeitado publicamente por Bolsonaro, que proibiu qualquer aliança com o partido de Kassab. Por isso, e por compor o governo de Lula 3 (PT), tem o apoio em aberto para o candidato que se mostrar mais competitivo. Apesar de estar no Governo Federal, Kassab tem dado entrevistas dizendo que Lula não deve disputar a reeleição. Ou seja, o caminho está aberto para novas alianças.
Se o caminho é a composição com os partidos do Centro, além da segurança, a agricultura também entra no negócio. Além de figurar como um dos principais líderes do setor, o goiano também está à frente do Fórum dos Governadores. “O agronegócio é a grande vantagem do Caiado, a liderança dele nesse setor faz com que ele seja bem visto”. No Mato Grosso, por exemplo, o governador tem uma importante aliança com Mauro Mendes (PSDB). “No norte ele não teria problemas em atrair as lideranças do agronegócio, local onde o União Brasil tem capilaridade”, aponta Carvalho. No campo ideológico, Caiado sempre foi a principal voz de oposição ao PT, desde a sua candidatura a presidente pela primeira vez em 1988.
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