A eleição para prefeito de Goiânia será disputada daqui a dez meses, em 6 de outubro de 2024. O quadro permanece aberto, com nenhum pré-candidato — a rigor, ainda não existe nem pré-candidatos — deslanchando. Nenhum deles passa dos 30%.

Os eleitores de Goiânia têm o histórico de não votar em políticos tidos como aventureiros e sim de escolher políticos com experiência em gestões anteriores   — casos de Nion Albernaz, Iris Rezende, Maguito Vilela, por exemplo. Em 2020, Maguito Vilela (MDB) e Vanderlan Cardoso (PSD) — gestores experimentados — foram levados pelo eleitorado para a disputa do segundo turno. Ganhou Maguito Vilela — aquele que, além de ter sido governador de Goiás, administrou Aparecida de Goiânia por dois mandatos, foi senador e vice-presidente do Banco do Brasil. Em suma, venceu o mais gestor.

Uma pesquisa qualitativa que circula em Goiânia, nos gabinetes de políticos da base governista, mostra que os eleitores continuam apostando na figura do gestor. Noutras palavras, querem para governar os destinos da cidade um político que tenha experiência administrativa comprovada. Sintomaticamente, os dois líderes nas pesquisas de intenção de voto são Gustavo Mendanha (que dificilmente será candidato, exceto se o TSE decidir em contrário a lei atual) e Vanderlan Cardoso. O primeiro foi prefeito de Aparecida de Goiânia por cinco anos e três meses. Foi eleito e reeleito. Vanderlan Cardoso, como prefeito, “inventou” Senador Canedo como cidade. Antes era uma espécie de “bairro abandonado” de Goiânia.

De olho na questão “gestor”, o MDB deve apostar suas fichas no empresário Jânio Darrot, que, como prefeito de Trindade em dois mandatos, praticamente reinventou a cidade, que deixou de ser um município-dormitório. Ao mesmo tempo, ele venceu na iniciativa privada, num país em que é muito difícil um empreendedor sobreviver, dadas as inconstâncias dos governos. Costuma-se dizer que é mais fácil o homem ir à Marte do que ser empresário no Brasil.

O União Brasil pode bancar o deputado estadual Bruno Peixoto, que administra a Assembleia Legislativa — cuja estrutura é similar à de médias e, até, de grandes cidades de Goiás. Seu orçamento supera o de muitas prefeituras goianas. Em linhas gerais, pode-se sugerir que o presidente é o prefeito da Alego. Ao mesmo tempo, gere uma escola de democracia, pois os 41 deputados representam, no mais das vezes, posições distintas e contraditórias.

Não se pode ignorar o nome de Adriana Accorsi, do PT, que disputará a prefeitura pela terceira vez. A petista não tem experiência no Executivo, mas tem ampla experiência política. E é preciso ressalvar que é filha de Darci Accorsi, que foi um prefeito eficiente e bem avaliado pelos goianienses. Ele criou o Parque Vaca Brava, que hoje reúne multidões, durante a semana e, sobretudo, aos sábados e domingos.

Adriana Accorsi conta com o apoio do presidente Lula da Silva, que tem estima pessoal pela deputada federal. O PT tem bom histórico em Goiânia, com três prefeitos: Darci Accorsi, Pedro Wilson e Paulo Garcia — todos professores. Adriana Accorsi é delegada da Polícia Civil.

Para entender as preferências dos eleitores — alguns especialistas dizem que os mesmos só decidem o voto bem perto do dia da eleição —, o Jornal Opção ouviu cientistas políticos e pesquisadores.

“Mendanha ganha no primeiro turno

Para o sociólogo e cientista político Khelson Cruz, o eleitor goianiense escolhe seu candidato a prefeito com base na sua capacidade de gerir a cidade.

Khelson Cruz diz que não é à toa que Gustavo Mendanha desponta na liderança das pesquisas espontânea e estimulada. “Na minha avaliação, Mendanha, se pudesse ser candidato, ganharia no primeiro turno. ”

O expert insiste que a experiência administrativa bem-sucedida — e não apenas o fato de já ter sido prefeito — é vista como vital para os eleitores de Goiânia. Khelson Cruz sublinha que Goiânia tem o histórico de não eleger prefeitos somente porque tem o apoio do governador, assim como o apoio do presidente da República não é preponderante na escolha do candidato.

Goiânia sempre se mostrou muito independente por ser muito politizada e autônoma, pontua o sociólogo. De acordo com Khelson Cruz, apesar de o governador Ronaldo Caiado (UB) estar muito bem avaliado não somente em Goiânia, mas em todo o Estado, não conseguirá transferir votos a ponto de eleger o seu indicado. “Ser bem avaliado não significa transferência de votos. ”

Khelson Cruz avalia assim a candidata do PT: “Adriana Accorsi é maior e melhor que o PT. Se ela fosse de qualquer outro partido de esquerda, poderia ser bem-sucedida”. O cientista analisa que o PT, a sigla, mais atrapalha do que ajuda a petista.

O professor e consultor de marketing político Marcos Marinho esclarece que o eleitor de Goiânia não gosta de aventura quando o assunto é escolher seu prefeito. “O eleitor da capital escolhe aquele candidato que tem capacidade de entrega, que já é experimentado como gestor e tocador de obras, ainda mais agora que a cidade precisa muito. ”

Marcos Marinho, professor e consultor de marketing político l Foto: arquivo pessoal

Marcos Marinho frisa que Gustavo Mendanha aparece liderando as pesquisas de intenção de voto porque geriu a Prefeitura de Aparecida de Goiânia com eficiência. O mesmo ocorre com Jânio Darrot e Vanderlan Cardoso, que têm know how no campo administrativo.

“O que mais se leva em consideração em uma eleição municipal é se o candidato irá resolver os problemas da cidade, como coleta de lixo, água, luz, saúde, educação, infraestrutura”, registra o consultor. Para Marcos Marinho, o mero discurso de pautas morais não emplaca, embora exista o peso advindo do conservadorismo, mas, por si só, não será decisivo. (Sublinhe-se que a pauta de um candidato a prefeito não é a mesma de um candidato a deputado.)

Pensando na possibilidade de o candidato ter condições de entregar obras está será uma oportunidade ímpar para Adriana Accorsi (PT). “Temos um cenário de uma administração municipal que é considerada fraca e alinhada às pautas bolsonaristas. Por outro lado, o governo Lula da Silva ainda terá pela frente três anos no mínimo no comando do país, o que significa mais investimentos nas cidades onde o prefeito for do mesmo grupo político, o que é natural na política. ”

Contudo, o consultor postula que o simples fato de ser indicado pelo governador ou pelo presidente não significa que o candidato terá êxito compulsório. “Há um somatório de variáveis. Na base de Ronaldo Caiado, os nomes que estão sendo colocados já têm um certo nível de gestão. Bruno Peixoto, por exemplo, faz uma gestão na Assembleia Legislativa, como se fosse a administração de alguns municípios goianos. ” Marcos Marinho, no entanto, avalia que o apoio do governador ou do presidente chancela o candidato que tem experiência e, além disso, conta com esses apoios.

Para Marcos Marinho, Adriana Accorsi, além de ter o suporte do partido que governa o país no momento, tem um bom relacionamento com Ronaldo Caiado. “Analisando o panorama existente, as características individuais poderão ter um peso de decisão e também a proximidade com o Estado e Federação. ”

O cientista político Josimar Gonçalves reverbera o que dizem seus colegas de profissão. O especialista ressalta que o eleitor de Goiânia prefere depositar seu voto de confiança em quem já mostrou capacidade de gestões anteriores. Por esse motivo, Gustavo Mendanha lidera seguido por dois experientes políticos. “Esse comportamento eleitoral na capital é natural e relevante. ”

Josimar Gonçalves cientista político l Foto: arquivo pessoal

Para Josimar Gonçalves, nem o partido do governador nem o próprio gestor estadual têm grande influência na decisão do eleitor, independentemente se a cidade é Goiânia ou um pequeno município do interior. De acordo com o cientista político, o aspecto apoio do governador não tem sido relevante nas eleições de 1988 até 2020. O expert afirma que menos de 20% desses candidatos conseguem se eleger para prefeito no Estado.

Em relação à preferência do eleitor por políticos que já foram prefeitos em cidade do entorno de Goiânia é exatamente pela experiência em administrar. “Já foram testados e aprovados em gestões anteriores, com grande visibilidade na mídia goianiense, mostrando algumas mazelas, mas também o que fizeram de bom para essas cidades. ” Josimar Gonçalves anota que o eleitor goianiense é antenado com a política e decide seu voto com inteligência.

Segurança: divisor de água

Kim Macherini, sócio do instituto Santa Dica e cientista social, avalia que Goiânia tem a peculiaridade de votar em gestor desde eleições passadas. O eleitor da capital não gosta de aventurar-se quando ao assunto é administração. O cidadão busca aquele que tem o senso de responsabilidade com a cidade.

Kaumer Nascimento: pesquisador e sócio da Santa Dica l Foto: arquivo pessoal

O pesquisador sublinha que algumas questões serão consideradas pelos eleitores nas eleições de 2024, como a questão da Comurg, coleta de lixo, quedas constantes de energia e iluminação pública, que incomodam muito o morador de Goiânia. “O candidato precisará ir além do discurso, tem de mostrar que sabe governar. ”

Kaumer Nascimento, pesquisador com mais de 30 anos de experiência e sócio do instituto Santa Dica, complementa a fala do colega ao pontuar que alguns candidatos que aparecem neste momento são mais exploração política do que a ideia de se ganhar uma eleição.

Para Kaumer Nascimento, o perfil de Vanderlan Cardoso, Gustavo Mendanha e Jânio Darrot são muito semelhantes. Eles têm experiência em administrar grandes cidades que contam com um orçamento considerável, porém sofrem com muitos problemas sociais, de infraestrutura, transportes, saneamento e saúde. Ou seja, são problemas parecidos com os de Goiânia.  Ao mesmo tempo, dois deles, Vanderlan Cardoso e Jânio Darrot, têm expertise na iniciativa privada.

Tanto Kim Macherini como Kaumer Nascimento sugerem que o apoio do governador e a gestão de orçamento respeitável na Alego têm importância, mas não é garantia imperativa de vitória. “O trabalho de Bruno Peixoto não é visto pela população, não tem visibilidade, está muito distante do cidadão. Apenas por ser presidente da Alego, não o potencializa como um candidato competitivo contra ex-prefeitos com experiências em gestão. ”

Kim Macherini pondera que, pelo fato de muitos bairros populosos de Aparecida de Goiânia conectarem-se com a capital, é natural que Gustavo Mendanha tenha a preferência por ser bem conhecido pelos eleitores dos dois municípios, assim como Vanderlan Cardoso, em Senador Canedo.

Kim Macherini cientista social e sócio da Santa Dica l Foto: arquivo pessoal

O pesquisador considera que independentemente de contar com o apoio presidente Lula da Silva, Adriana Accorsi carrega uma experiência política que a credencia como uma boa opção para o eleitor. Contudo, a bênção do petista-chefe fortalece a deputada para uma disputa que se prenuncia acirrada. Mesmo não tendo experiência como gestora, é uma postulante consistente.

De acordo com Kaumer Nascimento, Adriana Accorsi tem a seu favor o nome do pai, Darci Accorsi — que fez uma administração bem-avaliada pela população.

O pesquisador ressalta que agentes vistos como “de fora da política” — independentes financeiramente, como Vanderlan Cardoso e Jânio Darrot — são uma credencial a mais na disputa.

Kim Macherini ressalva que as eleições municipais de 2024 serão diferentes de todas as outras, por conta da questão ideológica que vem predominando no debate político nos últimos anos.

Pensando nisso, o especialista enfatiza que tanto o presidente Lula da Silva como o governador Ronaldo Caiado terão peso importante na tomada de decisão do eleitor. Kaumer Nascimento enfatiza que o governador irá interferir muito mais que o presidente, justamente pela boa avaliação de seu governo (é um gestor visto como eficiente). “O pilar da segurança pública poderá ser um divisor de água em 2024. ”

Outra razão pela qual o governador dobrará os esforços para eleger o seu candidato é porque tem pretensão de se lançar como o nome da direita para concorrer à Presidência da República em 2026. Para isso, quanto mais prefeitos do seu lado será melhor”, aponta Kaumer Nascimento

Kim Macherini avalia que numa eleição altamente competitiva, como se anuncia para a de 2024, sairá na frente aquele que tiver a menor rejeição possível.

O pesquisador Rui Melo, do instituto Observatório, alega que não fará nenhuma avaliação neste momento. Considerado um ás das pesquisas qualitativas, ainda é muito cedo para conclusões peremptórias sobre favoritos e mesmo sobre as posições dos eleitores. “Só teremos dados concretos em meados de 2024. Nenhum cidadão escolhe com um ano de antecedência. Por tanto, ainda não se pode ter um perfil ideal e qualquer dado agora é mera ilação. ”

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