Campanha eleitoral deste ano poderá ser decidida por agendas positivas. Ter o que mostrar pode fazer a diferença na hora do voto

Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção
Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Frederico Vitor

É a hora de vencer. Este é o pensamento da oposição em Goiás, que se movimenta para o embate eleitoral que será um marco na história política do Estado. Depois de sucessivas derrotas, por uma série de questões, a oposição se move em busca de mais consistência eleitoral e de agendas positivas.

Historicamente, a maior força oposicionista ao atual governo é o PMDB. O partido tem o maior número de prefeitos nos municípios goianos — 57 no total — e se encontra em meio a uma turbulenta fase de definição de nomes que concorrerá ao Palácio das Esmeraldas nas eleições deste ano. Hoje, o maior líder do partido, Iris Rezende Machado, e o empresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi, dividem as atenções pelo protagonismo eleitoral. Mas apesar dessa turbulência, ou talvez mesmo por causa dela, o PMDB ainda não apresentou à sociedade pelo menos um esboço de projeto de governo, tampouco uma agenda positiva que discuta projetos.

Por isso, muito se perguntam: o PMDB, neste momento, tem o que mostrar ao eleitor goiano como alternativa ao projeto marconista? O que poderia melhorar em Goiás com a sigla no comando dos rumos do Estado? Não basta à oposição apontar os erros do governo em exercício. Tem que apresentar e “vender” um projeto consistente que caia nas graças do eleitor.

Como, oficialmente, a legenda ainda não se manifestou neste sentido — um plano de governo, todo um arcabouço com tópicos para cada área da administração pública —, deve se tomar como base as últimas experiências administrativas do partido em municípios goianos importantes, como Goiânia e Aparecida de Goiânia, administradas respectivamente por Iris Rezende e Maguito Vilela.

Toma-se assim por base o que foi feito nestas gestões. Princi­pal­mente o modo de administrar destes prefeitos peemedebistas que, por coincidência ou não, foram os no­mes do partido que disputaram o go­verno estadual com o PSDB de Mar­coni em 1998, 2002 e 2010 e com o PP de Alcides Rodrigues em 2006, apoiado pelos tucanos. As administrações de Iris Rezende à frente da Prefeitura de Goiânia foi o divisor de águas para que o líder máximo do PMDB pudesse ter capilaridade eleitoral que o projetasse para um novo duelo com Marconi em 2010.

O bom gestor

Na tentativa de reinventar-se, à frente da Prefeitura de Goiânia, Iris Rezende se cercou de auxiliares novos na cena política e fez uma gestão pautada na realização de obras. Áreas antes críticas, como saúde e transporte coletivo, tiveram intervenções práticas. Todavia, o grande legado das últimas gestões de Iris Rezende na prefeitura da capital, foi a agenda positiva de obras, tais como: asfalto, construção de praças, reforma de escolas, inauguração de parques e viadutos em setores centrais.

Graças à capacidade de gestão de Iris, com um portfólio de obras e aperfeiçoamento de serviços básicos, como a criação da coleta seletiva de lixo e um vasto programa de iluminação pública, o peemedebista foi reeleito em 2008 com mais de 70% de aprovação. A maior liderança do PMDB seria, dois anos mais tarde, aclamado candidato do partido ao governo estadual unindo na chapa o PT, em correspondência à composição ao nível nacional que elegeu a presidente Dilma Rousseff.

Em linhas gerais, a reinvenção do PMDB, na figura de Iris Rezende, foi a do gestor que constrói e entrega obras, que prioriza a infraestrutura, sendo que no final do mandato tem o que apresentar ao eleitor. Há quem diga que um dos erros do PMDB na série de derrotas para Marconi foi a insistência em apenas dois nomes: Iris Rezende e Maguito Vilela.

Situação diferente vive o empresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi. O megaempresário chegou ao PMDB via acordo com a cúpula nacional do partido, sem nenhuma experiência de vida pública, seja no Legislativo ou no Poder Executivo.

Em busca de se viabilizar como candidato, Friboi tem viajado pelo Estado em encontros com lideranças regionais do partido. Até o momento não há nenhuma agenda positiva ou plano de governo a ser apresentado à sociedade por parte do pré-candidato. O que se noticia são contratos milionários com publicitários de renome nacional que podem desembarcar em Goiás para a coordenação de sua possível campanha.

A impressão é que o pré-candidato estaria mais preocupado em angariar forças regionais do partido para que não hajam ameaças internas à sua postulação ao governo estadual. Em um momento em que o eleitor busca novas práticas e menos pragmatismo político do poder a todo custo, Friboi rema contra a maré.

Vanderlan Cardoso começa agenda positiva do PSB
Candidato do PSB ao governo estadual, Vanderlan Cardoso promete divulgar logo seu projeto de governo
Candidato do PSB ao governo estadual, Vanderlan Cardoso promete divulgar logo seu projeto de governo

A combinação de partidos de oposição em Goiás denominada terceira via, composta pelo PSB, PSC e PRP, iniciou na sexta-feira, 14, em Rio Verde, no Sudoeste goiano, debates que resultarão no plano de governo do bloco político. O pré-candidato Vanderlan Cardoso (PSB) tem criticado o governo estadual, dizendo ter falta de planejamento nas ações tomadas pelo Executivo goiano. Se a intenção foi anunciada, o  fato é que o empresário e ex-prefeito de Se­na­dor Canedo não apresentou ainda nenhuma iniciativa que suscite debates junto à sociedade para uma alternativa de modelo de gestão.

O pontapé inicial para a divulgação do projeto de governo do PSB goiano e demais partidos aliados foi denominado de Diagnós­ti­co Goiás. De acordo com a assessoria do partido, o documento foi elaborado por aproximadamente 100 técnicos, dentre sociólogos, médicos, professores doutores, militares e gestores públicos efetivos. Nesta primeira fase vai apontar os problemas da administração tucana.

Já na segunda etapa, na qual se espera participação popular, serão discutidas possíveis soluções para os entraves de cada região. O terceiro estágio será a coleta de sugestões para o banco de dados que originará o Plano de Metas do PSB goiano. No evento de Rio Verde, estavam previstas discussões sobre problemas da área de educação, saúde, segurança e da administração pública da esfera estadual. Vanderlan Cardoso chegou a declarar que a Universidade Estadual de Goiás (UEG) está sucateada, e que mesmo assim há cargos na instituição ocupados por políticos. “Tem que tirar essas pessoas da UEG. Político tem que ocupar cargo de político, temos que reservar a universidade para quadros técnicos”.

Para quem anunciava há algum tempo que realizaria um trabalho no sentido de erigir uma agenda positiva na oposição goiana, o PSB e aliados deram o primeiro passo neste sentido. A pergunta é: Van­derlan Cardoso se reinventou enquanto candidato, desde a eleição em que terminou na terceira colocação com 16,62% dos votos válidos? Há uma série de fatores que podem colaborar com a resposta de tal questionamento, começando pelos aliados.

Ao colar sua imagem ao ex-governador Alcides Rodrigues (PSB), o candidato socialista corre sérios riscos de assumir desgastes. Alcides deixou o Palácio das Esmeraldas com alto índice de rejeição. Portanto, o eleitor poderá se pergunta se o empresário representaria o mesmo modelo de gestão efetivada pelo ex-governador. Outro aliado que não representa uma possível oxigenação política de Vanderlan é o publicitário e presidente do PRP regional, Jorcelino Braga.

A novidade, todavia, recaiu sobre o presidente regional do DEM, o deputado federal Ronaldo Caiado. Mesmo assim há ressalvas sobre sua presença no palanque de Vanderlan Cardoso e do governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência da República, Eduardo Campos. Isto porque o líder dos DEM tem trocado mutuamente duras críticas com a ex-senadora Marina Silva, que está abrigada no PSB e provavelmente será a vice de Campos. Contudo, o candidato socialista ao governo de Goiás já deixou claro que vai brigar para ter Caiado a seu lado neste pleito.

“Gomide vai investir mais nas pessoas do que na infraestrutura”

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“A prioridade do PT é a educação, uma inversão de prioridades de investimentos se comparado com os últimos governos que administraram Goiás após o período do governo militar.” A afirmação é de Ceser Donizete, presidente estadual da legenda do prefeito de Anápolis e pré-candidato ao governo estadual, Antônio Roberto Gomide. Na concepção petista, o Estado não poderia ser tratado de forma linear. Cada região deveria ter sua vocação econômica desenvolvida. “Temos que conciliar o ponto de vista econômico com o social. Ensino técnico e ajuda técnica do Estado com a parceria com os municípios é uma alternativa ao atual modelo”, diz.

Antônio Gomide está em busca de especialistas em áreas de governo para a composição de seu projeto de gestão. O ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edward Madureira (PT) é um destes quadros que vai colaborar na elaboração do projeto de poder do petista. Na quinta-feira, 13, o prefeito de Anápolis se encontrou com o reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wolmir Amado, também em busca de colaboração para a composição de um projeto de governo.

Com 92% de aprovação no município que ostenta o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás, Gomide é um exemplo de reinvenção da oposição. Se Júnior Friboi conseguir confirmar sua candidatura, ele e o prefeito anapolino serão os fatos novos da corrida eleitoral de 2014. Para o deputado estadual Luis Cesar Bueno (PT), a pauta de programa de governo de Antônio Gomide será diversificada, estabelecendo nova relação entre o Estado e o setor produtivo no sentido de atrair novos investimentos. “Precisamos de projetos de políticas públicas que restaurem a capacidade do Estado para garantir a qualidade de vida dos goianos, como na segurança pública, saúde e suficiência na distribuição da energia elétrica.”

“A política e o Estado estão de costas para o povo”
Cientista político Pedro Célio: “PMDB se engalfinha para definir candidato”
Cientista político Pedro Célio: “PMDB se engalfinha para definir candidato”

Para o cientista político e professor da UFG Pedro Célio, a oposição buscou se reinventar no decorrer dos anos em que Marconi ocupou o poder. Exemplo disto é o surgimento de nomes como Júnior Friboi, Vanderlan Cardoso e Antônio Gomide. Mas, ele critica o que considera desassociação da linguagem política com a sociedade. “É como se os partidos e o Estado estivessem de costas para o povo.”

Pedro Célio analisa que, diferente do PSB de Vanderlan Cardoso, que começou a realizar encontros regionais para diagnosticar e apontar saídas para os gargalos da administração, o PMDB se encontra imóvel neste sentido. “Estão se engalfinhando numa luta interna em vista de definições de candidaturas, talvez isso possa ser um erro”, pondera. Ele lembra que não há nenhum setor do partido que se mobilize ou faça apelo para se aproximar dos setores de inteligência da vida goiana na procura de levantar possíveis alternativas de gestão para o Estado.

Em relação ao PT goiano, Pedro Célio diz ter detectado dificuldades da legenda em fazer uma agenda positiva. Isso porque o peso do PT nacional reflete diretamente no sistema de poder no Estado. “O PT vem aos poucos rompendo suas bases de origem e acho que o partido não está interessado em restabelecê-las. A sigla chegou a um patamar em que se tornou uma máquina eleitoral eficiente. Mas uma hora vai apresentar defeitos.”