Quem é João Justino, o novo arcebispo de Goiânia

19 dezembro 2021 às 00h00

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Com extensa formação intelectual e de origem pastoral, João Justino deverá assumir arquidiocese em uma transição tranquila

No dia 16 de fevereiro de 2022, João Justino de Medeiros Silva tomará posse como o quarto arcebispo de Goiânia. Nascido em Juiz de Fora e tendo construído sua trajetória em Minas Gerais, o bispo deverá encontrar uma arquidiocese complexa e estruturada, com seus processos bem organizados pelo antecessor Dom Washington Cruz – mas também ávida por energia e novidade. Com extensa formação intelectual e experiência pastoral, autoridades próximas a Dom João Justino apontam que o bispo tem habilidade nas áreas de cultura e educação.
O quarto de cinco filhos do casal Justino Emílio de Medeiros Silva e Maria de Lourdes Medeiros Silva, João Justino nasceu no dia 22 de dezembro de 1966 em Juiz de Fora. Em 1984 entrou para o Seminário Arquidiocesano Santo Antônio, em Juiz de Fora, onde estudou filosofia e teologia. Concomitantemente, se graduou também em ciências sociais pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES). Aos 26 anos de idade, João Justino já havia concluído o mestrado e doutorado em Teologia pela Universidade Gregoriana, em Roma.
Aos 30 anos, iniciou a vida sacerdotal na Paróquia Bom Pastor. Ao longo de oito anos como sacerdote e como professor no seminário arquidiocesano de Juiz de Fora, o “padre João”, como era conhecido, se tornou amigo próximo dos fiéis e dos trabalhadores da paróquia. Uma dessas amizades, que o padre João cultiva até hoje, é a de Teia, que em conversa com o Jornal Opção contou que se lembra com carinho e admiração do padre João.
Teia trabalha como coordenadora na paróquia desde antes de 1996, quando João Justino foi apontado pelo pároco da época, dom Walmor Oliveira de Azevedo. “João é um grande amigo. É uma pessoa afável, das mais tranquilas que conheço. Sempre me admirou o seu discernimento como padre, sua habilidade de escuta, e sua sensibilidade no trato com as pessoas. Ele foi professor e diretor do curso de Teologia do Seminário Santo Antônio, onde fui sua aluna, e lembro-me que todos os estudantes ficavam espantados com seu preparo – mas, ao mesmo tempo, ele é muito simples e humilde”, recorda Teia.
Teia afirma se recordar com especial carinho das missas que o padre João celebrava nos domingos às 10 horas da manhã – a missa das crianças. “Era uma missa muito bem feita, celebrada com especial atenção, e tinha muita tranquilidade para lidar e ajudar as crianças. Algumas chegavam até nós com problemas e, quando saíam da escuta com ele, eram outras. Sempre apaziguava e ouvia a todos com atenção. Nunca ouvimos nenhuma palavra áspera com relação a ele, nenhuma polêmica, nenhum problema. Quando o Papa Bento XVI o nomeou bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte, a cidade sentiu tanto sua saída que uma caravana com três ônibus foi acompanhá-lo em sua ordenação episcopal.”

Na arquidiocese de Belo Horizonte, dom João Justino foi o bispo que coordenou a ação evangelizadora e pastoral, o funcionamento e a infraestrutura da Cúria Regional em oito municípios. Esteve em permanente contato com religiosos e fiéis para escuta, orientações e avaliações. Também nesta época, os relatos de colegas padres a respeito de João Justino são lisonjeiros, especialmente sobre sua profunda cultura e conhecimento de diversos idiomas.
Em 2015, foi eleito para o cargo mais importante que ocupou até então, o de presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo para qual foi reeleito em 2019 e deve ocupar (concomitantemente com a administração da arquidiocese de Goiânia) até 2023. Em 22 de fevereiro de 2017, foi nomeado pelo Papa Francisco, como arcebispo coadjutor de Montes Claros.
Expectativa
Wolmir Therezio Amado, ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), foi o responsável por escrever o texto-base que guiará as ações da CNBB para a Campanha da Fraternidade de 2022, que tem como tema “Fraternidade e Educação”. Dentro da CNBB, Wolmir Amado conheceu o bispo Justino e tem mantido contato com ele desde então, auxiliando no processo de transição entre os arcebispos.
Sobre o que dom João Justino deverá encontrar em Goiânia, Wolmir Amado é tranquilizador: “Acho que a arquidiocese está bem assentada. Não há crises. Deverá ser uma transição harmoniosa, de diálogo e de recíproca aceitação. A conjuntura é completamente diferente da de 2000, quando havia tensão. O que podemos esperar é o que qualquer bispo faz quando assume uma administração: chega devagarinho, observando, ouvindo, conhecendo aos poucos o funcionamento da arquidiocese, e aos poucos vai dando seu tom.”
Wolmir Amado ainda ressalta a capacidade que acredita que João Justino tem: “Ele é um homem muito preparado, sensato e equilibrado. Acredito que terá muitas oportunidades para deixar sua marca. João Justino vem de origem pastoral, tem experiência na administração de dioceses, e tem vocação educacional, social e cultural. Então eu acredito que essa inclinação deverá ser expressada nos próximos anos: o diálogo com o mundo da ciência, da cultura, da política, do esporte, enfim, com toda a sociedade”.

Chamado
Nesta quinta-feira, 16, o arcebispo eleito esteve em Goiânia para conhecer a residência episcopal, onde irá morar e também a Cidade da Comunhão (Centro Pastoral Dom Fernando). Dom João Justino iniciou o dia celebrando a Santa Missa no Seminário Santa Cruz, com presença de seminaristas, diáconos e padres formadores. Depois, tomou café da manhã e teve a oportunidade de uma conversa descontraída.
Ainda pela manhã, seguiu com reuniões reuniu-se com os reitores dos três seminários: Seminário Maior Interdiocesano São João Maria Vianney, Seminário Propedêutico Santa Cruz, Seminário Menor Arquidiocesano São João Paulo II. Em seguida, encontrou-se com os membros da reitoria da Pontifícia Universidade de Goiás (PUC Goiás) e, depois, com Dom Washington Cruz, administrador apostólico, e Dom Levi Bonatto, bispo auxiliar. Na oportunidade, trataram de questões diversas, principalmente relacionadas a assuntos pastorais da Arquidiocese.
Encerrando a manhã, Dom João teve o primeiro contato com os padres (clero) da Arquidiocese, aos quais dirigiu palavras de fraternidade, alegria e ânimo para a missão. Logo após, eles puderam conversar durante o almoço. Na parte da tarde, o arcebispo conheceu a Catedral e a Cúria Metropolitana (centro administrativo da Arquidiocese).
Em entrevista ao Programa Pai Eterno, da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), Dom João Justino afirmou ter acolhido o chamado do Papa Francisco para servir a Arquidiocese de Goiânia com surpresa, mas que ao receber a missão, se recordou do texto do livro de Gênesis: “Sai de tua terra e vai para uma terra que eu, teu Deus, te indicarei. Farei de ti uma nova geração” (Gênesis 12, 1-4).