Principais cidades goianas enfrentam dificuldades para cumprir piso nacional da educação
15 abril 2018 às 00h00
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Um pouco adiantado na discussão com a categoria, Anápolis é o único dos cinco maiores municípios que concedeu parte do reajuste previsto para 2018
A crise financeira prejudica a vida da população diariamente. A recuperação da saúde econômica brasileira, que saiu há pouco do coma mas permanece internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), tem prejudicado gravemente a manutenção dos serviços das prefeituras, entes mais fracos no pacto federativo. Com poucos recursos, os prefeitos fazem o que podem – muitas vezes nem isso conseguem – para continuar com as portas das sedes administrativas abertas.
Com o anúncio do reajuste do piso salarial profissional nacional (PSPN) da educação no final de dezembro de 2017, que subiu 6,81% e ficou em R$ 2.455,35 este ano, gestores municipais têm rebolado para justificar a dificuldade em cumprir a base de vencimento estabelecida pelo Ministério da Educação aos professores da rede municipal. Mas o problema não é algo verificado apenas em 2018. Nos últimos anos, a situação de dificuldade para conceder o aumento e adequar o pagamento ao estabelecido pelo ministro da Educação gerou até determinação da Justiça para que prefeituras cumprissem o PSPN.
Das quatro cidades goianas com maior população, Anápolis é a que vive situação mais avançada na tentativa de cumprir o piso nacional da educação em 2018. No mês de janeiro, prefeitura e professores fizeram um acordo e o reajuste de 2,95% – parte dos 6,81% estabelecidos pelo PSPN – foi concedido aos 2.057 educadores efetivos. As negociações do restante do aumento ficaram para abril. “Em 2017, a inflação ficou em 4,85% e nós concedemos 7,64% de reajuste. Neste ano, em virtude do reajuste que foi dado acima da inflação, com mais de 2% de ganho real em 2017, levou o município a ficar com gasto acima do limite prudencial previsto na lei, que é de 51,3%, chegando 54,2% das receitas comprometidas com a folha de pagamento”, afirma Geraldo Lino Ribeiro, secretário municipal da Fazenda.
De acordo com o titular da Secretaria Municipal da Fazenda de Anápolis, como a Lei de Responsabilidade Fiscal prevê que gastos acima de 51,3% das receitas com funcionários impedem a concessão de qualquer reajuste, a prefeitura não tem condições – pelo menos por enquanto – de cumprir com os 3,86% que faltam de aumento para que a cidade atinja o piso nacional da educação. “Todos os professores da rede municipal estão com salários acima do piso estabelecido pelo Ministério da Educação. A média salarial em Anápolis, que inclui plano de cargos, salários e progressões, é alta.”
Segundo os dados da Secretaria Municipal de Educação, os professores que cumprem carga de 40 horas semanais têm média salarial de R$ 7.221,20. Entre os que trabalham 30 horas por semana esse valor chega a R$ 5.323,71. Já para os contratos, todos efetivos, de 20 horas semanais, a média atinge R$ 4.219,16. “Tivemos uma reunião com o sindicato no início do mês.
Além do reajuste de 2,95% concedido em janeiro, vamos começar a pagar as progressões”, descreve. Ao incluir os 2.057 professores da rede municipal, a média chega a R$ 6.590,60.
O secretário destaca que a prefeitura tem mantido o pagamento salarial até o último dia útil do mês. “Temos colocado para os professores que tudo que o município tem como fazer, dentro da lei, nós faremos. A questão financeira está sob controle.” O piso pago à rede municipal de ensino em Anápolis é de R$ 2.366.61, o que deixa o valor praticado na cidade R$ 88,74 abaixo do PSPN. Geraldo afirma que a data-base foi reajustada em 2,84%, o que melhora a situação salarial dos professores.
De acordo com o Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Ensino de Anápolis (SINPMA), que aprovou em assembleia geral um indicativo de greve para as 8 horas de 26 de abril, as negociações iniciadas neste mês precisam avançar para que piso nacional seja aplicado. Com relação às progressões verticais e horizontais, os profissionais recebem aumento a cada cinco anos, um deles vem por meio da realização de cursos de 120 horas, com reajustes de 3% no salário (horizontal).
Em Goiânia
Procurada pelo Jornal Opção, a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME) não forneceu as informações solicitadas pela reportagem até o fechamento desta edição. Depois de 37 dias de greve encabeçada pelo Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed), a prefeitura anunciou em 2017 o reajuste de 7,64%, previsto no valor do piso nacional do ano passado, no mês de maio.
Neste ano, o prefeito Iris Rezende (MDB) recebeu o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) em audiência no dia 6 de abril no Paço Municipal. O emedebista pediu à entidade um prazo de 60 dias para analisar as reivindicações dos profissionais da educação da rede municipal da capital. O Sintego informa que tentou exigir que o prefeito apresentasse uma proposta durante a reunião, mas Iris “se manteve irredutível”.
“A luta continua e a busca por negociação não vai parar até alcançarmos os resultados”, disse na ocasião Bia de Lima, presidente do sindicato. Na terça-feira, 10, representantes da entidade estiveram na Câmara para pedir apoio à pauta de reivindicação dos servidores da SME, e entre os pontos a serem negociados está o pagamento do piso salarial nacional deste ano.
O coordenador geral do Simsed, Antônio Gonçalves, demonstra insatisfação com a postura do Executivo da capital. “Os trabalhadores da educação do Município de Goiânia não receberam o piso nacional da educação que deveria estar sendo pago desde janeiro e até agora não há nenhum posicionamento da prefeitura sobre o assunto.” Ao contrário de abrir as negociações com a categoria, Antônio lembra que “acabaram de anunciar o aumento do desconto da previdência, a revisão do plano de carreira dos professores, que provavelmente é para retirar direitos”.
O Simsed diz que o prefeito e o secretário Marcelo Ferreira da Costa (SME) foram notificados em janeiro sobre a obrigatoriedade do cumprimento do piso salarial da educação. “Essa medida de pedir mais 60 para fazer estudo não passa de enrolação para ganhar tempo com a categoria. Principalmente agora que a prefeitura chega com dois projetos polêmicos.”
Para Antônio, a tática do Paço seria a de “ganhar tempo para fazer os professores esperar por mais tempo sem resistência”. “Não foi dada abertura ou possibilidade de proposta para avaliar o pagamento do reajuste. É mais uma armação do Sintego com a Prefeitura de Goiânia para fingir que está acontecendo uma negociação, sendo que não está acontecendo negociação nenhuma.” De acordo com o coordenador geral do Simsed, o Paço foge da obrigação legal de cumprir o piso dessa forma.
Sem novidade
Em 2016, a Prefeitura de Aparecida de Goiânia foi obrigada a cumprir o pagamento do piso nacional pela juíza Vanessa Estrela Gertudes, da Vara da Fazenda Pública Municipal, Registros Públicos e Ambiental da cidade. De acordo com a sentença, ficou determinado à gestão estabelecer “imediatamente o piso dos professores, no valor de R$ 2.135,64, de acordo com tabela e cálculo realizado pelo Dieese e, num prazo de 60 dias, [que] regulamente o pagamento do piso de todos os profissionais do magistério”, em ação proposta pelo Sintego.
No ano passado, o reajuste determinado pelo Ministério da Educação, de 7,64%, foi pago a partir de maio pela prefeitura aos 2.528 professores. De acordo com informações a Secretaria Municipal de Educação de Aparecida de Goiânia (Semec), o valor hoje está em R$ 2.224,36, ainda R$ 230,99 abaixo do piso nacional. A dificuldade enfrentada pela gestão da cidade é parecida com a apresentada pelo secretário da Fazenda de Anápolis. “Ainda não é cumprido devido a Prefeitura de Aparecida de Goiânia já ter atingido o índice limite da folha de pagamento”, informa o Departamento de Recursos Humanos da Semec.
Em fevereiro de 2017, a Prefeitura de Rio Verde anunciou reajuste de 8% ao piso dos professores, quando a exigência do Ministério da Educação era de 7,64%. O Jornal Opção entrou em contato com a pasta e a gestão municipal, que disseram não ter condições de fornecer as informações até a sexta-feira, 13. “O salário dos professores está acima da média nacional”, afirma a gestão.
A reportagem tentou entrar em contato com a Secretaria Municipal de Educação de Luziânia e com a prefeitura, mas não conseguiu falar com a secretária Indiana Machado ou qualquer outro integrante da gestão da cidade. Em entrevista concedida ao canal do YouTube ligado ao Executivo, Indiana disse, em setembro de 2017, que a pasta não tinha condições de conceder reajuste aos quase 1,1 mil professores. l