Com grandes exemplos, como Google e Apple, elas crescem no mercado e público goiano pode conhecer mais sobre o tipo de empreendedorismo

Yago Rodrigues Alvim

Diretor Wanderson Portugal: na Feira do Empreendedor 2014 o público poderá acompanhar a programação de palestras, oficinas e jogos empresariais | Fernando Leite/Jornal Opção
Diretor Wanderson Portugal: na Feira do Empreendedor 2014 o público poderá acompanhar a programação de palestras, oficinas e jogos empresariais | Fernando Leite/Jornal Opção

Empresa nascente, de serviço inovador e base tecnológica. A incerteza é alta. Não há garantia que o produto seja aceito pelo mercado. Existe um poder de crescimento ágil. A “Meca”? O Vale do Silício, nos Estados Unidos, responde Rafael Barbosa. Já Francisco Lima recorre ao conceito acadêmico: “Startup é uma iniciativa em busca de um modelo de negócio que seja repetível e escalável”. O objetivo é viabilidade. O conceito de startup, diz Paolo Petrelli, se configura numa empresa, genuinamente digital, cuja capacidade de criar produto se dá à medida que a empresa cresce o custo não cresce, proporcionalmente. Numa startup, não se sabe o que o mercado quer, é preciso validar-se.

“Muitas vezes, quando se olha para negócios digitais –– Facebook, por exemplo ––, percebe-se a mudança de posicionamento, desde a concepção da ideia até o que virou, realmente, no mercado. A rede social era voltada para estudantes universitários e, hoje, tem outra configuração. A startup não sabe o que está fazendo, enquanto não validar seu negócio e tem que conseguir mudar, rapidamente, seu posicionamento no mercado”, diz Petrelli, com base na definição da As­sociação Brasileira de Startups (Abstartups) no Centro-Oeste.

Francisco Lima: “Startup é uma iniciativa em busca de um modelo de negócio que seja repetível e escalável” | Edmar Wellington/Sebrae
Francisco Lima: “Startup é uma iniciativa em busca de um modelo de negócio que seja repetível e escalável” | Edmar Wellington/Sebrae

Repetível e escalável designa uma das principais características do negócio: a de alcançar um grande número de usuários e clientes, sem mudanças na estrutura. Francisco exemplifica, comparando que uma padaria para atender mil clientes, precisa de uma determinada estrutura. Para atender 2 mil clientes, tem que dobrar a estrutura –– de maquinário, pessoas e outros. Para uma startup, essa regra não vale. Há aumento significativo de clientes, sem um aumento considerável de estrutura.

Exemplo? O aplicativo Insta­gram. Foi vendido em 2012, por uma soma milonária. A equipe contava com 12 pessoas e atingia países, com milhares e milhares de usuários. E não houve um aumento significativo de pessoas para atender esses usuários. Normalmente, são empresas que trabalham em ambientes incertos, pois lidam com inovação. Desmistificam mercados, exploram lugares novos, inexistentes. Quando surgem essas ideias, os próprios empreendedores não estão certos da estabilidade do negócio. É um teste inicial de mercado, para que depois haja implementação.

Francisco é gestor do projeto de Desenvolvimento de Startups, na seccional goiana do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO). Na Feira do Empreendedor do ano passado, realizada pelo Serviço, já houve um espaço destinado à inovação e tecnologia, com programação até para startups. Mais informação e conteúdo estarão presentes na edição deste ano. Há um espaço exclusivo sobre startups, com atividades de workshop a palestras, painéis e sessões de Mentoring. “Serão quatro dias, com bastante conteúdo.”

Diretor técnico do Sebrae-GO, Wanderson Portugal Lemos informa que nessa edição da Feira, o Serviço e seus parceiros, de forma estratégica e planejada, trarão inovações, produtos e serviços que atendem as demandas do mercado consumidor goiano. Desta forma, o espaço destinado à Tecnologia da Informação irá apresentar as startups goianas que oferecem soluções digitais em plataformas, via internet fixa e móvel, para empresas que necessitam inovar em seus serviços e produtos.

A seccional goiana oferece para as startups, há cerca de um ano e meio, projetos voltados para capacitação, ações de mercado, tecnologia e inovação. Dentre as ações, Wanderson destaca as missões técnicas para os empresários goianos que já participaram de edições de feiras e eventos nacionais e internacionais, buscando interagir com o que há de mais moderno e com práticas que apresentem lucros e resultados positivos aos empreendedores.

“No espaço das startups na Feira, o público poderá acompanhar a programação de palestras, oficinas e jogos empresariais”, sublinha, acrescentando que os empreendedores que quiserem conhecer mais sobre esse tipo de empreendedorismo em Goiás, ou quiserem participar do projeto de startups, podem procurar os consultores do Serviço na capital e nas cidades onde há escritórios e agências do Sebrae.

Raio-X

Será realizada na Feira uma gama de ações Uma das atividades é o Desafio Like a Boss Startup. É uma simulação educacional, um workshop, emque 40 participantes trabalharão no primeiro dia da Feira, na quinta-feira, 31, o desenvolvimento de uma nova ideia. Depois, trabalharão em como validar essa ideia no mercado e por aí segue pelos principais passos para construção de uma startup. O desafio se apoia em conceitos e metodologias de concepção, design thinking, lean startup, Businnes Model Gene­ra­tion, criação de valor, prototipagem e modelagem do negócio, findando na validação mercadológica. Há orientação por instrutores. Já nas horas livres, o contato será com o público externo.

Francisco Lima diz que uma ideia é o trabalho com concessionárias. Os participantes terão que ir a concessionárias para captação de pesquisa sobre problemas, para definição das soluções que o aplicativo pode oferecer para esse mercado. Ou seja, uma validação tátil com a realidade até chegar a um protótipo do produto, mais adequado. Os 40 participantes trabalharão em grupo e apresentarão esse resultado, no último dia, domingo, 3 de agosto, para uma banca especializada, com primeiro, segundo e terceiro lugares para as melhores ideias. Por isso, o termo “Desafio”.

Quem quiser participar, há uma seleção. A inscrição é prévia, já está aberta e termina nesta terça-feira, 15. Gratuita, requer que o candidato responda um questionário base para seleção dos participantes, disponível no sítio da Feira do Empreendedor 2014 (http://www.feiradoempreendedorgo.com.br/programacao/programacao-geral/paineis/). O resultado será divulgado na segunda, 21. “Dá tempo de correr e participar”, ressalta Francisco.

Consultor Paolo Petrelli: “Desafio Like a Boss é para quem quer empreender no segmento digital” | Edmar Wellington/Sebrae
Consultor Paolo Petrelli: “Desafio Like a Boss é para quem quer empreender no segmento digital” | Edmar Wellington/Sebrae

Paolo Petrelli é consultor de mer­cado e já representou a Abs­tar­tups. Na Feira, aplicará a metodologia do Desafio Like a Boss. “É como se fosse uma oficina durante os quatro dias de evento.” O objetivo é atrair o empreendedor tanto na fase de concepção de uma ideia –– para ajudá-lo a criar o modelo de negócio e desenvolvê-lo ––, quanto o mais maduro –– para ouvir experiências de outros profissionais do mercado.

O “Like a Boss” é para quem quer empreender no segmento digital, mas não possui conhecimento necessário para evolução da ideia para internet, aplicativo, startups. “Atrairemos esses empreendedores que estão ainda crus e mostraremos a eles, ferramentas e metodologias, que serão aplicadas com dinâmicas, durante o desenvolvimento e, ao final, há a banca e premiação.”

É uma validação de hipóteses e auxílio para solução de problemas.

As startups estão em todos os setores como saúde, educação, financeiro, indústria, comércio. “Por isso, o intuito é trazer esses empreendedores e aproveitar o conhecimento de mer­cado ou a própria vontade de em­preender para desenvolver negócios, atendendo esses diversos setores”, afirma Petrelli, concluindo: “É a primeira vez, em Goiás, que acontece um workshop em que se cria uma ideia e a desenvolve, ao longo do evento”.

Outra atividade é a Sessão de Mentoring, cuja rodada colocará frente a frente o empreendedor –– que precisa ter uma iniciativa ou, ao menos, uma ideia de mercado ––, com variados especialistas, de renome nacional, com experiências diversas: em mercado de startup, busca de investimento anjo, estratégia de atuação e colaboração, dentre outras. Serão orientações especializadas, de acordo com cada problema. A atividade será realizada na tarde do sábado, 2 de agosto. A inscrição, específica, abrirá no dia 16 de julho (esta quarta-feira), no mesmo sítio citado.

Além do Desafio e da Sessão de Mentoring, serão realizadas palestras e painéis. Os palestrantes são reconhecidos no nicho de startups, também em âmbito nacional. Quem trabalha ou estuda sobre o assunto co­nhece bastante estes nomes: Edson Mackeenzy, da empresa Videolog; Talita Lom­bardi, da Startups Stars; Amure Pinho, da Blogo; e João Kepler, da Show de Ingressos.

Inovadores

Além de fazer parte de algumas empresas que cuidam do empre­endedorismo jovem –– diretor de inovação da Associação Jovens Empreendedores e Empresários de Goiás (AJE-GO) e da Confe­de­ração Nacional dos Jovens Em­presários (Conaje- GO) ––, Rafael Barbosa é empresário na startup XporY.com, que nasceu no ano passado. “O diferencial das startups, por terem solução inovadora, está no trabalho árduo com o desenvolvimento de softwares e na grande divulgação do conceito, pois as pessoas não conhecem o modelo de negócio”, explica.

Empresário Rafael Barbosa apresenta o empreendedorismo  como uma solução, um caminho para as problemáticas do país  | Edmar Wellington/Sebrae
Empresário Rafael Barbosa apresenta o empreendedorismo
como uma solução, um caminho para as problemáticas do país | Edmar Wellington/Sebrae

A XporY.com, por exemplo, tem um modelo próprio com a prática de permuta entre várias empresas (modelo forte nos Estados Unidos e em expansão no Brasil). A plataforma agrega diversos empreendimentos. Com a venda, cria-se crédito: uma moeda “Brazis”, que pode ser usada em outra negociação, e outra empresa pode aproveitar o mesmo crédito, em gráfica, mídia, móveis planejados, entre outros. É uma transação multilateral. A flexibilidade e a otimização para todos os pertencentes da plataforma são a grande novidade da XporY, ressalta Rafael.

“Para qualquer empresa ter sucesso é necessário ‘resolver a dor’, como chamamos. É necessário reconhecer as demandas do mercado. E, com o apoio do Sebrae, investigamos ‘qual é essa dor’, ‘o que quebra as empresas’”. A resposta, numa quase totalidade, é o fluxo de caixa. “Ou seja, a pessoa monta um negócio e gasta, com isso, uma quantia. Aparecem outras despesas e a empresa precisa de clientes para pagá-las. Porém, por ser nova é difícil tê-los, ao menos, na quantidade necessária. A ajuda da XporY veio dessa investigação, de quatro meses, nos Estados Unidos. A solução é ajudar, através de permuta. Adquira o que você precisa, usando o que você tem, o que dá uma grande sobrevida para as empresas da plataforma.”

Rafael ponta que quando se entra no mercado, não pode gastar muito dinheiro. Por isso, inicialmente, tinham um site com poucas funcionalidades. Os clientes entraram, começaram a utilizar e, depois que o mercado validou, contaram com um investidor de Brasília. Hoje, estão com uma plataforma moderna no ar, dando uma nova fase de crescimento, com uma rampa acelerada de adesão de clientes. Isso é um exemplo para outros negócios em fase inicial.

Sobre a participação na Feira, afirma que a expectativa é boa. “Nós, como um destaque em Goiás, teríamos que participar até como exemplo para outras startups e é uma feira de empreendedor, ou seja, potenciais clientes para nossa plataforma.” Também participará de dois painéis: um sobre investimento-anjo, pois Rafael também é representante da organização Anjos do Brasil, que fomenta o crescimento do investimento-anjo no país, e da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvol­vimento das Empresas Inovadoras, o que o qualifica para o debate no painel de inovação.

Leandro Martins: “Vamos expor nosso sistema, e como é voltado  para quem quer empreender, o enxergamos como uma excelente oportunidade para desenvolvermos contatos” | Edmar Wellington/Sebrae
Leandro Martins: “Vamos expor nosso sistema, e como é voltado para quem quer empreender, o enxergamos como uma excelente oportunidade para desenvolvermos contatos” | Edmar Wellington/Sebrae

Leandro Martins também participará do evento. O projeto do Gestor da Micro e Pequena Empresa (MPE) é um sistema de gestão voltado para prestadores de serviço. Teve início há 14 meses e há 6 começou a ser comercializado. “Inicialmente, de forma muito tímida, pois disponibilizávamos um produto muito simples e com poucas funcionalidades e, aos poucos, fomos ampliando o escopo. Hoje, já temos uma ferramenta mais madura e com mais recursos”, informa o diretor.

A startup MPE se configura por ser uma empresa de base tecnológica, na tentativa de inovar em um mercado ainda não tão adepto da tecnologia, o de microempresários do segmento de serviços. “O nosso modelo de negócio possibilita um crescimento escalar sem que o nosso custo cresça na mesma proporção”, acrescenta. O modelo de negócios pode ser repetido em vários países. O ambiente em que atuam é o mes­mo: de extrema incerteza. Leandro diz que cada nova funcionalidade ou alteração no projeto só se dá a partir de necessidades apresentadas e validadas com os clientes.

O Sebrae é um grande parceiro para o empreendedor, indispensável em um país cheio de burocracia, com poucos incentivos ao empreendedorismo e ao desenvolvimento de ne­gócios, diz. Segundo ele, houve a aproximação do Sebrae por meio do arranjo produtivo local de Tecno­logia da Informação, em 1994. Já participaram de missões nacionais e internacionais, de vários cursos e oficinas que os ajudaram a abrir a visão e a tirar sua ideia do papel.

“Na Feira, vamos expor nosso sistema em um estande e como é voltada para quem quer empreender ou aprimorar seus negócios, a enxergamos como uma excelente oportunidade para desenvolvermos um contato pessoal com nossos potenciais clientes, o que é muito valioso para empresas baseadas no mercado digital. Além de apresentar nosso sistema, tentaremos cadastrar o máximo de pessoas possíveis para serem abordadas após o evento”, afirma Leandro Martins.

Parceria

Francisco Lima conta que utilizaram muito da rede de parceiros para pensar o evento e que foi, basicamente, com a AJE-GO na proposta de painéis e palestrantes. A organizadora Alline Jajah fala sobre o convite para realizar atividades com foco em inovação, para microempreendedores e médias empresas. Portanto, gestão e produtos inovadores, tecnologias e inovação nas empresas.

Alline Jajah (esquerda) com grupo de empreendedores na sede de um dos maiores exemplos de startups: a Google | Arquivo Pessoal
Alline Jajah (esquerda) com grupo de empreendedores na sede de um dos maiores exemplos de startups: a Google | Arquivo Pessoal

Ela organiza um dos principais eventos de inovação e startups do mundo: o Startup Weekend –– pa­tro­cinado por grandes empresas, como a Google e Coca-Cola. Com o apoio do presidente do Comitê para De­mocratização da Infor­mática (CDI), sede no Rio de Janeiro, Ro­drigo Baggio, e com Amure Pinho, Jajah realizou a primeira startup em uma favela. “Foi um final de semana com vários protótipos, inícios de startups, para que solucionassem os problemas da primeira favela do Brasil, a do Morro da Providência”, diz.

“O resultado de quando se incentiva as pessoas a ter seu próprio negócio é imensurável. No Brasil, somos muito dependentes seja pela forma de governo, cultura e/ou educação. Empreendedorismo é novo no nosso vocabulário. Incentivamos as pessoas a criarem suas soluções, a serem responsáveis por seu próprio destino. Na favela, foi isso que quisemos fazer”, afirma. Realizado em abril desse ano, a iniciativa contava com 75% dos participantes moradores e eles criaram soluções para os problemas existentes.

Foram quatro pilares: Edu­cação, Cultura, Destino do Lixo e Geração de Renda. “Há muitas mães jovens, por isso, um dos projetos foi o ‘Pedacinho de Mim’, uma startup que vende enxovais fabricados pelas próprias mulheres do Morro da Provi­dên­cia. Foi criado também um game educativo, que auxilia no combate as drogas. E ainda, a plataforma Saúde, criada por um morador de 71 anos de idade. Uma solução em que pagam de 10 a 15 reais por mês, um plano de saúde, e profissionais da saúde (enfermeiros) sobem o morro e fazem exames básicos preventivos, para identificar possíveis doenças”, explica.

As plataformas receberam patrocínio, visibilidades e reverteu dinheiro para os criadores, além do bom impacto social. No geral, startups são empresas normais que precisam de investimento, cuidado, um tempo para que deem retorno. “Ter esse espaço é importantíssimo”, diz.

O Sebrae é visionário e sempre investiu nas ações com foco em tecnologia e informação, desde o primeiro organizado pela AJE. “Toda empresa precisa se diferenciar no mercado e a principal for­ma é com a inovação, seja no produto, na forma de divulgação, gestão e por aí segue.” Quem inova permanece no mercado, quem não inova sai. Por isso, um espaço importante para as pessoas se conscientizarem da importância de sair do tradicional e ver as diversas opções de mercado, ressalta Jajah.

Sobre o tipo de empreendedorismo, ela lembra que é recente no Brasil e mais ainda em Goiás. “Há dois anos se fala no Estado. Porém, há mais de dez anos já existe o termo e esse trabalho com empresas tecnológicas. O Google, Mercado Livre, Netshoes e Dafiti são exemplos e já estão fortemente no mercado.” Em outubro, a Startup Weekend será realizada e contribuirá com a capital goiana.
O empresário Rafael sintetiza: “Um assunto apaixonante, com uma série de pessoas novas que querem empreender, desenvolver algo e apresentar para o mercado esse diferencial e que esperam ter reconhecimento, êxito, o que é difícil, pela competição. Por isso, a necessidade em melhorar a divulgação sobre startups, motivar esse ecossistema, ter mais workshops e falar das dificuldades, da importância de investidores e de capital para os projetos”. Ou seja, toda informação e sua circulação é essencial para manter esse nicho vivo e para que as pessoas se motivem e cresçam, ainda mais. Empreende­dorismo, disse, é uma solução, um caminho para o país. Daí, a necessidade de um olhar mais cuidadoso.