Por que Goiás alcançou 50 meses consecutivos de superávit
01 abril 2018 às 00h00
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Em constante evolução ao longo dos últimos anos, comércio exterior do Estado é destaque nacional
Em fevereiro, a balança comercial do Estado de Goiás completou uma marca histórica: 50 meses consecutivos de superávit. Ao longo desses pouco mais de quatro anos, foram US$ 14,2 bilhões em produtos importados e US$ 26,5 bilhões nos exportados.
O comércio exterior goiano sempre foi destaque nacional. Em 2003, Goiás inaugurou a primeira Secretaria de Estado da área no Brasil, comandada por Ovídio de Angelis. Hoje, a Superintendência Executiva de Comércio Exterior, ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED), está sob a chefia de William “Bill” O’Dwyer, que recebeu o Jornal Opção em seu gabinete na quarta-feira, 27.
De acordo com ele, há quatro elementos essenciais que contribuíram para uma maior projeção de Goiás no exterior e os consequentes resultados positivos da balança comercial: não houve trocas bruscas no secretariado, o que deu mais segurança; conscientização do empresário sobre a importância de se exportar, com geração de emprego e renda; incentivos do governo estadual para a captação de investimentos estrangeiros; localização estratégica, que conta com o Porto Seco Centro-Oeste, e facilita o contato com embaixadas em Brasília.
Bill O’Dwyer faz questão de citar parceiros que têm ajudado o Estado na busca pela melhoria dos produtos e inserção nos mercados internacionais, como a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), a Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Goiás (Sebrae-GO), que atua na capacitação dos produtores e leva até eles o conceito de exportação.
O leque de países com os quais Goiás negocia é extenso. Dos Estados Unidos ao Irã. Da Holanda — que é uma porta de entrada para a Europa em virtude do Porto de Roterdã — à China. Em 2015, o Estado se relacionou com 146 países. E este é um número que só vem crescendo. Em 2016, foram 150 e, em 2017, 154. Neste ano, a perspectiva é de mais um acréscimo. Uma das nações mais cotadas para figurar na lista é o Azerbaijão.
Segundo O’Dwyer, o país, que fica entre o Leste da Europa e o Sudoeste da Ásia, pode servir como um ponto de distribuição para toda a região da Eurásia. “É um destino novo para investimentos, cuja localização é privilegiada, que estamos nos aproximando.”
O superintendente executivo cita ainda outros países que já possuem relações com Goiás, mas que tendem a se estreitar laços cada vez mais. O Paraguai, que “não é mais aquele do contrabando”, e a Argentina, que vai fundar uma Câmara de Comércio no Estado em breve.
Além deles, os mercados consumidores de alguns países africanos e asiáticos são outros polos de interesse como África do Sul, Namíbia, Angola e Indonésia. Isso sem deixar de lado os Estados Unidos, cujo embaixador, Michael McKinley, deve realizar uma visita oficial a Goiás dentro de poucas semanas e que, conforme pontuou O’Dwyer, ficou isolado durante os anos dos governos Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT.
O isolamento de outros países, como Rússia e Irã, foi encarado pelo Estado como oportunidade. No caso dos russos, que sofreram duros embargos dos EUA e da União Europeia, Goiás se beneficiou com um maior índice de exportações para lá, especialmente de commodities oriundas do agronegócio. Os iranianos, que também tiveram embargos impostos, “viram em Goiás um seleiro muito próximo e fácil de negociar”, sublinha O’Dwyer, que espera ter no país persa um parceiro “constante” e “fiel”.
Além do campo
O agronegócio é, inclusive, o principal responsável pelos números expressivos da balança comercial. “Com a crise, naturalmente houve diminuição na produção, mas não afetou a cadeia produtiva como um todo nem causou altos índices de desemprego. O agronegócio foi a nossa grande receita para que Goiás se mantivesse praticamente intacto”, avalia o superintende executivo.
É inegável que a maioria das exportações de Goiás vem do campo. Contudo, há empresas que vão além do agronegócio, como a Syntony Trade International, no mercado há mais de 14 anos, que exporta produtos alimentícios fabricados e produzidos no Brasil como açaí, goiabada, maionese de pequi, cachaça, entre outros para os continentes europeu, africano e asiático.
Gerente comercial, Ronaldo Barreiro explica que a consequência da crise foi diminuir as importações, que tomavam conta da maior parte dos negócios da empresa cerca de dez anos atrás, e aumentar as exportações. A Syntony Trade International, com sede em Goiânia, importa maquinários agrícolas e demais equipamentos principalmente da China, Itália, Estados Unidos e Alemanha.
Para 2018, a expectativa é de continuação no aumento de exportações e estabilização de importações. “Queremos aproveitar ao máximo as oportunidades que o mercado vai dar com o objetivo de conseguir excelentes negócios para nós e todos os nossos parceiros”, afirma Barreiro.
Produtos farmacêuticos
No que tange às importações, os produtos farmacêuticos encabeçam o ranking. De Aparecida de Goiânia, a Equiplex, que faz parte do Grupo H. Egídio, atua no ramo desde 1986 e trabalha em parceria com 12 países na importação de tecnologia farmacêutica, equipamentos para sala e soro hospitalar. A empresa também realiza exportações, em especial para os países do Cone Sul, de diluentes, água para injeção, potássio, glicose e cloreto de sódio em ampolas de 10 mililitros (ml).
Presidente do Conselho de Administração, Heribaldo Egídio conta que a tendência é de investimentos pesados em inovação, tecnologia e pesquisa para o setor farmacêutico, que não sentiu os efeitos da crise e permaneceu crescendo em média 12% ao ano. “A procura da população brasileira por saúde fez com que não interrompêssemos nossa programação dos últimos anos.”
Bill O’Dwyer elenca justamente a demanda do mercado interno como a explicação para o alto número de importações de produtos farmacêuticos. “Brasileiro gosta de tomar remédio”, enfatiza. Entretanto, isso não quer dizer que Goiás não esteja exportando tais produtos. “Há indústrias farmacêuticas goianas operando na África”, informa.
Importar, segundo ele, não significa algo ruim, uma vez que “importações surgem em decorrência de exportações bem-sucedidas”. “São necessários mais insumos e produtos quando as exportações vão bem, pois a capacidade do parque industrial aumenta. É um ciclo. Um país ou Estado que importa muito não está necessariamente em uma situação negativa”, explica.
Principais parceiros (2017)
Países de destino das exportações goianas
1. China (US$ FOB 2.124.367.263)
2. Holanda (US$ FOB 536.660.319)
3. Índia (US$ FOB 390.594.879)
4. Rússia (US$ FOB 274.852.357)
5. Irã (US$ FOB 248.903.571)Países de origem das importações goianas
1. Estados Unidos (US$ FOB 560.831.033)
2. Alemanha (US$ FOB 463.316.707)
3. Coreia do Sul (US$ FOB 346.264.447)
4. Japão (US$ FOB 239.712.796)
5. China (US$ FOB 223.279.622)Fonte: Superintendência Executiva de Comércio Exterior
Principais produtos (2017)
Exportações
1. Complexo soja (US$ FOB 2.680.871.062)
2. Carnes, com destaque para bovinos, aves e suínos (US$ FOB 1.245.402.359)
3. Ferroligas (US$ FOB 562.052.062)
4. Complexo milho (US$ FOB 532.258.345)
5. Sulfeto de cobre (US$ FOB 429.226.109)Importações
1. Produtos farmacêuticos (US$ FOB 1.106.201.443)
2. Veículos automóveis, tratores e suas partes 467.741.882)
3. Adubos/fertilizantes (US$ FOB 463.971.797)
4. Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
mecânicos, e suas partes (US$ FOB 294.069.370)
5. Produtos químicos orgânicos (US$ FOB 271.566.753)Fonte: Superintendência Executiva de Comércio Exterior