Em constante evolução ao longo dos últimos anos, comércio exterior do Estado é destaque nacional

A soja foi o produto mais exportado por Goiás em 2017 e ajudou na consolidação dos altos índices de vendas a outros países | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Em fevereiro, a balança co­mercial do Estado de Goiás completou uma marca histórica: 50 meses consecutivos de superávit. Ao longo desses pouco mais de quatro anos, foram US$ 14,2 bilhões em produtos importados e US$ 26,5 bilhões nos exportados.

O comércio exterior goiano sem­pre foi destaque nacional. Em 2003, Goiás inaugurou a primeira Secretaria de Estado da área no Brasil, comandada por Oví­dio de Angelis. Hoje, a Su­pe­rin­tendência Executiva de Co­mér­cio Exterior, ligada à Secre­ta­ria de Desenvolvimento Econô­mi­co, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irri­ga­ção (SED), está sob a chefia de William “Bill” O’Dwyer, que re­ce­beu o Jornal Opção em seu ga­bi­nete na quarta-feira, 27.

De acordo com ele, há quatro elementos essenciais que contribuíram para uma maior projeção de Goiás no exterior e os consequentes resultados positivos da ba­lança comercial: não houve tro­cas bruscas no secretariado, o que deu mais segurança; conscientização do empresário sobre a importância de se exportar, com geração de emprego e ren­da; incentivos do governo estadual para a captação de investimentos estrangeiros; localização es­tratégica, que conta com o Por­to Seco Centro-Oeste, e facilita o contato com embaixadas em Brasília.

Bill O’Dwyer faz questão de citar parceiros que têm ajudado o Estado na busca pela melhoria dos produtos e inserção nos mer­cados internacionais, como a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), a Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goi­ás (Acieg) e o Serviço de Apo­io às Micro e Pequenas Empre­sas em Goiás (Sebrae-GO), que atua na capacitação dos produtores e leva até eles o conceito de exportação.

Bill O’Dwyer: estabilidade do governo contribuiu com a balança comercial | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O leque de países com os quais Goiás negocia é extenso. Dos Estados Unidos ao Irã. Da Ho­landa — que é uma porta de en­trada para a Europa em virtude do Porto de Roterdã — à Chi­na. Em 2015, o Estado se re­la­­cionou com 146 países. E este é um número que só vem crescendo. Em 2016, foram 150 e, em 2017, 154. Neste ano, a perspectiva é de mais um acréscimo. Uma das nações mais cotadas pa­ra figurar na lista é o Azer­bai­jão.

Segundo O’Dwyer, o país, que fica entre o Leste da Europa e o Su­doeste da Ásia, pode servir co­mo um ponto de distribuição para toda a re­gião da Eurásia. “É um destino no­vo para investimentos, cuja lo­ca­lização é privilegiada, que estamos nos aproximando.”

O superintendente executivo ci­ta ainda outros países que já pos­suem relações com Goiás, mas que tendem a se estreitar laços ca­da vez mais. O Paraguai, que “não é mais aquele do contrabando”, e a Argentina, que vai fundar uma Câ­mara de Comércio no Estado em breve.

Além deles, os mercados consumidores de alguns países africanos e asiáticos são outros polos de interesse como África do Sul, Na­míbia, Angola e Indonésia. Is­so sem deixar de lado os Estados Uni­dos, cujo embaixador, Michael McKinley, deve realizar uma visita ofi­cial a Goiás dentro de poucas se­manas e que, conforme pontuou O’Dwyer, ficou isolado du­rante os anos dos governos Lula e Dil­ma Rousseff, ambos do PT.

O isolamento de outros países, co­mo Rússia e Irã, foi encarado pe­lo Estado como oportunidade. No caso dos russos, que sofreram duros embargos dos EUA e da Uni­ão Europeia, Goiás se beneficiou com um maior índice de ex­por­tações para lá, especialmente de commodities oriundas do agro­negócio. Os iranianos, que tam­bém tiveram embargos im­pos­tos, “viram em Goiás um se­lei­ro muito próximo e fácil de ne­go­ciar”, sublinha O’Dwyer, que es­pera ter no país persa um parceiro “constante” e “fiel”.

Além do campo

O agronegócio é, inclusive, o principal responsável pelos números expressivos da balança comercial. “Com a crise, naturalmente hou­ve diminuição na produção, mas não afetou a cadeia produtiva co­mo um todo nem causou altos ín­dices de desemprego. O agronegócio foi a nossa grande receita pa­ra que Goiás se mantivesse praticamente intacto”, avalia o superintende executivo.

Ronaldo Barreiro: mais exportações e importações estabilizadas em 2018 | Foto: Divulgação

É inegável que a maioria das ex­portações de Goiás vem do cam­po. Contudo, há empresas que vão além do agronegócio, co­mo a Syntony Trade Internati­o­nal, no mercado há mais de 14 anos, que exporta produtos alimentícios fabricados e produzidos no Brasil como açaí, goiabada, maionese de pequi, cachaça, en­tre outros para os continentes eu­ropeu, africano e asiático.

Gerente comercial, Ronaldo Bar­reiro explica que a consequência da crise foi diminuir as im­portações, que tomavam con­ta da mai­or parte dos negócios da em­pre­sa cerca de dez anos atrás, e au­mentar as exportações. A Syn­to­ny Trade International, com se­de em Goiânia, importa ma­quinários agrícolas e demais equi­pamentos principalmente da Chi­na, Itália, Estados Unidos e Ale­ma­nha.

Para 2018, a expectativa é de con­tinuação no aumento de ex­por­tações e estabilização de im­por­tações. “Queremos aproveitar ao máximo as oportunidades que o mercado vai dar com o objetivo de conseguir excelentes negócios pa­ra nós e todos os nossos parceiros”, afirma Barreiro.

Produtos farmacêuticos

Produtos farmacêuticos lideram o ranking de importações goianas | Foto: Divulgação

No que tange às importações, os produtos farmacêuticos encabeçam o ranking. De Aparecida de Goiânia, a Equiplex, que faz parte do Grupo H. Egídio, atua no ramo desde 1986 e trabalha em parceria com 12 países na im­por­tação de tecnologia farmacêutica, equipamentos para sala e so­ro hospitalar. A empresa também rea­liza exportações, em especial pa­ra os países do Cone Sul, de di­lu­entes, água para injeção, potássio, glicose e cloreto de sódio em am­polas de 10 mililitros (ml).

Heribaldo Egídio: demanda por saúde alavancou o setor farmacêutico | Foto: Divulgação

Presidente do Conselho de Administração, Heribaldo Egídio con­ta que a tendência é de investimentos pesados em inovação, tecnologia e pesquisa para o setor far­macêutico, que não sentiu os efei­tos da crise e permaneceu cres­cendo em média 12% ao ano. “A procura da população brasileira por saúde fez com que não in­ter­rompêssemos nossa programação dos últimos anos.”

Bill O’Dwyer elenca justamente a demanda do mercado interno co­mo a explicação para o alto nú­me­ro de importações de produtos far­macêuticos. “Brasileiro gosta de tomar remédio”, enfatiza. En­tre­tanto, isso não quer dizer que Goi­ás não esteja exportando tais pro­dutos. “Há indústrias farmacêuticas goianas operando na Áfri­ca”, informa.

Importar, segundo ele, não significa algo ruim, uma vez que “im­portações surgem em decorrência de exportações bem-sucedidas”. “São necessários mais in­su­mos e produtos quando as ex­por­tações vão bem, pois a capacidade do parque industrial aumenta. É um ciclo. Um país ou Estado que importa muito não está ne­ces­­­­sariamente em uma situação ne­gativa”, explica.

 

Principais parceiros (2017)

Países de destino das exportações goianas
1. China (US$ FOB 2.124.367.263)
2. Holanda (US$ FOB 536.660.319)
3. Índia (US$ FOB 390.594.879)
4. Rússia (US$ FOB 274.852.357)
5. Irã (US$ FOB 248.903.571)

Países de origem das importações goianas
1. Estados Unidos (US$ FOB 560.831.033)
2. Alemanha (US$ FOB 463.316.707)
3. Coreia do Sul (US$ FOB 346.264.447)
4. Japão (US$ FOB 239.712.796)
5. China (US$ FOB 223.279.622)

Fonte: Superintendência Executiva de Comércio Exterior

Principais produtos (2017)

Exportações
1. Complexo soja (US$ FOB 2.680.871.062)
2. Carnes, com destaque para bovinos, aves e suínos (US$ FOB 1.245.402.359)
3. Ferroligas (US$ FOB 562.052.062)
4. Complexo milho (US$ FOB 532.258.345)
5. Sulfeto de cobre (US$ FOB 429.226.109)

Importações
1. Produtos farmacêuticos (US$ FOB 1.106.201.443)
2. Veículos automóveis, tratores e suas partes 467.741.882)
3. Adubos/fertilizantes (US$ FOB 463.971.797)
4. Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
mecânicos, e suas partes (US$ FOB 294.069.370)
5. Produtos químicos orgânicos (US$ FOB 271.566.753)

Fonte: Superintendência Executiva de Comércio Exterior