PL opera formatação de base anti-Caiado e anti-Daniel em grandes cidades de Goiás

09 junho 2024 às 00h00

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Apesar de um alinhamento em nível nacional entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Ronaldo Caiado (UB) – a aproximação dos dois políticos pode sinalizar, inclusive, uma aliança em 2026 -, em nível regional, o PL, presidido em Goiás pelo senador Wilder Morais, tem investido em musculatura própria para ser um partido competitivo nas eleições municipais deste ano. Lançando centenas de pré-candidatos às prefeituras e milhares às câmaras municipais nos municípios goianos, o Partido Liberal indica estar em pleno curso de enfrentamento ao projeto do governador, com a formatação de uma espécie de base “anti-Caiado” e “anti-Daniel” para impedir que o chefe do Executivo estadual eleja aliados nas grandes cidades do Estado.
Conforme mostra pelo Jornal Opção na última semana, o ex-deputado federal Major Vitor Hugo, pré-candidato à Câmara Municipal de Goiânia e figura proeminente no PL — tido como o primeiro-amigo de Bolsonaro em Goiás —, confirmou a dimensão do projeto do PL no Estado. Segundo ele, o partido tem pré-candidatos a prefeito em ao menos 150 municípios goianos; cerca de 60 pré-candidatos a vice e quase 2 mil pré-candidatos às câmaras municipais.
O partido banca nomes em municípios estratégicos para ir frontalmente contra os candidatos apoiados pelo governador. Em Goiânia, Ronaldo Caiado escolheu o empresário Sandro Mabel (UB), enquanto o PL, até agora, descarta qualquer tipo de composição com ele e sustenta o deputado federal Gustavo Gayer. Em Aparecida, o governo apoia a reeleição do prefeito emedebista Vilmar Mariano. Já o PL garante que o deputado federal Professor Alcides será o candidato da sigla, sem chances de apoiar o candidato da base governista.
Em Jataí, o prefeito Humberto Machado, filiado ao MDB, é considerado o candidato natural à reeleição. Como resposta, o presidente do PL, Wilder Morais, procurou o vice-prefeito Geneilton Assis e o convenceu a disputar a prefeitura jataiense pelo partido bolsonarista, oferecendo a ele a estrutura da legenda. Com isso, o senador criou uma divisão na base governista, uma vez que Geneilton era aliado de Humberto Machado.
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A situação de divisão entre PL e governo se repete em municípios como Catalão, onde Wilder decidiu bancar Renato Ribeiro para a prefeitura, em vez do candidato governista, Velomar Rios, do MDB. Em Rio Verde, idem. Enquanto a base governista, em uma articulação que passou pelo vice-governador Daniel Vilela e o prefeito Paulo do Vale, sustenta apoio ao médico Wellngton Carrijo, Wilder e seu partido escolheram o ex-deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Lissauer Vieira para estar no pleito municipal rioverdense.
Com exceção de municípios como Novo Gama, onde o pré-candidato do PL, o prefeito Carlinhos Mangão, é também o nome apoiado pelo governo, e em Águas Lindas, onde o pré-candidato do União Brasil, Lucas Antonietti, é apoiado por uma aliança que inclui PL e Republicanos, nos outros municípios o partido de Wilder Morais sai em campo para testar sua força.
Quanto ao Legislativo, o partido bolsonarista também ambições. Em entrevista recente ao Jornal Opção, Major Vitor Hugo revelou que o PL tentará fazer ao menos cinco vereadores na Câmara Municipal de Goiânia, o que daria à legenda uma das maiores bancadas da Casa. Atualmente, a maior bancada é a do partido de Daniel Vilela, o MDB, com 11 parlamentares.
Vale notar que a rivalização do PL não é somente com o governador Ronaldo Caiado, mas também com Vilela. Não é de hoje que Vilela cumpre a missão, incumbida pelo governador, de conduzir as articulações políticas nos interiores de Goiás e apagar os incêndios oriundos de desencontros internos.
A intenção do PL, conforme os sinais emitidos até o momento, seria não só enfraquecer o projeto de Caiado para as eleições deste ano, mas também o de Daniel Vilela para 2026. Não é novidade que Caiado vem trabalhado firme para estabelecer Daniel como seu herdeiro político daqui a dois anos. Além das articulações no interior, projetos proeminentes de Estado, como a revitalização do Estádio Serra Dourada, em Goiânia, e a condução de missões diplomáticas no exterior, ficaram a cargo do vice-governador.
Destaca-se que Caiado deixou com o emedebista a tarefa – bem-sucedida – de abrir canais de diálogo com autoridades e empresários de países como a China. Como resultado das articulações iniciadas por Vilela, que incluíram missões no país asiático e reuniões com representantes em Goiás, ao menos três empresas chinesas confirmaram interesse em se instalar no Estado: Chint Power, de soluções em energia; YTO Group Corporation, montadora de tratores; e Weichai Group, de motores elétricos.
Em on e em off, o filho de Maguito Vilela já é tido como o sucessor natural de Caiado ao governo de Goiás daqui a dois anos. A questão é que o partido de Bolsonaro também tem planos para 2026, e ele se chama Wilder Morais.
O Partido Liberal pretende lançar o senador e presidente estadual da legenda como candidato a governador, e trabalha para isso desde agora. Não à toa o alto investimento no pleito municipal deste ano – afinal, Morais precisará de uma boa base de cabos eleitorais para 2026.