Prefeito petista não faz a pior gestão de Goiânia, como insistem alguns, mas é verdade que ele não consegue fazer o mínimo que se esperava dele, o que pode favorecer candidatos da oposição no ano que vem

Prefeito Paulo Garcia: administração de tom cinza apático dá a impresão de que ele largou a Prefeitura pra lá | Foto: Alberto Maia
Prefeito Paulo Garcia: administração de tom cinza apático dá a impresão de que ele largou a Prefeitura pra lá | Foto: Alberto Maia

Henrique Morgantini
Especial para o Jornal Opção

Paulo Garcia não faz a pior gestão de Goiânia. Con­de­nar a administração do petista ao fracasso pleno como é recorrente verificar na análise de leigos em gestão pública, adversários ou nos gritos da torcida pelas ruas é, naturalmente, desmerecer tudo o que já foi feito de ruim no passado. Comparativamente, está deixando a desejar com o que se esperava: a realização do mínimo. Mas Garcia, que projeta sua imagem e semelhança no seu trabalho como agente público, sugere que o efeito da inércia abateu em cheio a ambos: o homem e seu trabalho.
Mas a realidade é que o atual governo metropolitano está distante do mínimo ideal e, o que é mais grave ainda: está distante de ter conserto. A este ponto, o prefeito teria total condições de reerguer sua imagem como gestor e realizar algumas ações marcantes para que o eleitor se lembrasse dele num espectro diferente do atual. No entanto, o que reverbera do Paço Municipal é uma apatia coletiva, na qual o chefe do Executivo dá à sua administração um tom cinza apático e hepático. A impressão é que Paulo Garcia não largou a Prefeitura pra lá, ele largou a política de lado.

São incontáveis os exemplos de administrações goianas e de outros Estados e municípios brasileiros nos quais houve uma recuperação “milagrosa” – pelo menos em tese digna de intervenção divina – quando já jogavam uma pá de cal por sobre seus comandantes. A mais recente e mais próxima foi a de Marconi Perillo em 2012, superando crises pessoais de imagem e da própria administração. Mas, para isto, é preciso querer.
Pode ser que Paulo queira e consiga. E, neste caso, este artigo estaria jogando erroneamente uma pá de cal na carreira do prefeito de Goiânia. Caso ele não se recupere, tudo aqui estará certo e nada muda na vida de ninguém. Logo, esta pode ser uma análise no estilo “Gato de Schroedinger”: está ao mesmo tempo certa e errada.

Mas não é sobre o Gato da Caixa, nem sobre a gestão de Paulo Garcia que devemos nos ater e, sim, aos desdobramentos que ela pode causar para as eleições do ano que vem. O impacto do atual governo nas impressões do eleitor podem mudar a forma de pensamento e seleção do goianiense a ponto de colocá-lo em uma situação à qual ele não queria realmente estar.

De plano, a primeira reação será o encolhimento sumário da participação e da importância do Partido dos Trabalhadores no processo eleitoral de 2016. Se em todos os municípios e Estados brasileiros geridos por quadros petistas, há o desgaste evidente por conta da superexposição da legenda na mídia como integrante de esquemas de corrupção governamentais, em Goiânia ao invés de haver uma minimização deste linchamento, a tendência é que a resistência do eleitor cresça. Isto porque Garcia vem reforçando as razões para se evitar mais uma gestão do PT na cidade.

Neste caso, ambos cenários – municipal e federal – funcionam como muleta e porrete. Garcia pode culpar o governo Dilma e o PT pelo prejuízo da sua imagem e minimizar sua responsabilidade no sangramento do PT goianiense. Assim como recai sobre ele o risco de ter falhado na missão de fazer a sua parte, que seria realizar uma administração satisfatória, a fim de dirimir a ideia consensual do “cidadão de bem” que acha que ser patriota e inteirado à política nacional significa gritar “Fora PT”, como um mantra a favor do fim de todos os males do mundo. O comportamento de cachorro de Pavlov nunca fez tanto sentido nas manifestações pelo Brasil, isso para citar só mais um experimento.

É preciso lembrar que em um município como Anápolis, gerido há seis anos por petistas (Antônio Gomide e, atualmente, João Gomes) o enfrentamento existe e praticamente não há as estocadas do “efeito PT” na imagem destes quadros. Uma administração presente, próxima e proativa remove qualquer mancha. Perillo é, novamente, exemplo mais que recente e próximo: conseguiu abrir obras em todos os cantos de Goiás e colocou sua gestão à frente de sua imagem. Melhor escudo e lança não há.

Portanto, o PT tem hoje a perspectiva de, assim como a população, ser refém das ações do atual prefeito. Pode ter de recuar da condição de detentor da máquina administrativa para ter de viver o suspense de ver sobrar um espaço numa chapa majoritária no ano que vem.
Eventos recentes corroboram com este cenário, como a proximidade de Ronaldo Caiado – com ou sem o seu DEM – a Iris Rezende, o que afastaria o PT da já tradicional aliança com o PMDB. Na última semana, ainda outro cenário se deslindou, num indicativo de que o sinal amarelo está aceso a todos os partidos que têm a ver com Garcia: o próprio PMDB já estaria estudando a possibilidade de se lançar ao pleito com uma chapa pura, desvinculando-se tanto do PT como do DEM.

Pelo menos foi esta a declaração do deputado estadual José Nelto, um dos grandes jogadores do cenário político estadual. Mas, independentemente de posições estratégicas para a negociação pessoal, a fala de Nelto revela que o PMDB quer se descolar não somente do PT de Dilma, mas, principalmente, do fardo de ter de explicar à população sobre a responsabilidade da indicação de Iris a Paulo Garcia.

Acontece que na oposição municipal, que intersecta com a base marconista, também existe o “Efeito Paulo Garcia”. A atual gestão de viés profundamente político pode servir como lição ao eleitor de que o perfil de escolha deve ser revisto. Com isso, pode colocar no centro das atenções do eleitor um candidato com o perfil técnico, administrativo, pragmático, um típico “gerentão”, o tocador de obras e administrador. O sujeito que não faz política ou que não é muito dado ao trato de aliados e partidos, mas um administrador no estilo “pego e faço”.

E, neste clima, a base estadual tem pelo menos dois nomes extremamente competitivos: Jayme Rincón (PSDB) e Vanderlan Cardoso (PSB). O primeiro reúne qualidades importantes no universo da base do governador: tem confiança, intimidade e uma relação política em sintonia com o principal cabo eleitoral em questão. Além disso, pode se apresentar ao eleitor como um administrador adequado para o momento, que seria o de “consertar Goiânia” com obras, intervenções na infraestrutura e afins, tudo tendo como pano de fundo sua longeva passagem pela Agetop.

Recém-chegado à base política de Marconi Perillo– ele próprio ainda não se confirmou –, Vanderlan Cardoso tem ainda mais a mostrar. Possui popularidade e penetração eleitoral decorrentes das duas eleições que disputou ao governo, além de possuir um currículo com gestões inquestionáveis na cidade de Sena­dor Canedo. Embora diminuta se comparada à capital, a pacata Canedo é vizinha próxima de Goiânia e há muito já ecoou as qualidades de Cardoso ao eleitor local.

Pesa, certamente, contra o ex-prefeito o fato de que não é um tucano ou mesmo um marconista de carteirinha. Se o nome de Rincón pode gerar descontentamento em outros quadros do PSDB e da base, a possibilidade de ver Cardoso furando a fila das candidaturas é capaz de criar um clima de golpe, revolta e indignação. Nada que uma boa conversa palaciana não seja capaz de resolver com serena tranquilidade e pressão. Afinal, a política tem dessas coisas.

O fato preponderante é que, em se persistindo os sintomas da gestão de Paulo Garcia, pode haver uma mudança no eixo da análise para a escolha do voto do eleitor goianiense. O próprio Iris Rezende, quase sempre tido como um candidato imbatível para a capital, pode entrar nesta ciranda e ter seu perfil afetado. Como padrinho de Garcia terá muito a explicar, bem como sua carreira de político ao extremo pode ser sublimada deixando de lado a característica de tocador de obras que, reconhecidamente, o peemedebista lendário também tem.
Portanto, se não é decisiva como administração, a gestão de Paulo Garcia tem o poder de ser definidora do pensamento do eleitor com vistas às eleições do próximo ano já que, mais do que nomes, será levado em conta o perfil que cada um dos postulantes irá apresentar para convencer o goianiense de como serão seus próximos quatro anos.