Parque Tecnológico pode revolucionar agronegócio com energia fotovoltaica
18 fevereiro 2017 às 10h52
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Sebrae, iniciativa privada e governo estadual analisam proposta de utilizar área do Parque de Exposições Agropecuárias da capital para criar polo de formação de mão de obra qualificada para o setor econômico no Estado
A área conhecida como Pecuária de Goiânia, o Parque de Exposições Agropecuárias de Goiânia, que pertence à Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), pode ganhar uma nova destinação, além de receber a Festa Agropecuária do Estado de Goiás. Casa da Festa Agropecuária, que em 2017 chega a sua 72ª edição, o local fica praticamente sem ser utilizado no restante do ano.
Marcada para acontecer entre os dias 19 e 28 de maio, a agenda do Parque de Exposições Agropecuárias de Goiânia recebe poucos eventos isolados ao longo do ano. Por isso, não só para pensar em uma nova utilização da área, o deputado Francisco Júnior (PSD) convidou, em 2015, representantes de três setores para discutir a criação de um projeto que possa ocupar a área da SGPA na capital com o objetivo de trazer desenvolvimento ao mercado do agronegócio.
Das primeiras conversas surgiu a proposta de apresentar um projeto para criação do Parque Tecnológico de Agronegócios. Identificado como interlocutor da iniciativa, o deputado tem atuado em conjunto com Paulo Araújo, que é consultor nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e Sílvio Sakata, representante da China Tomorrow (Chint), um conglomerado de empresas chinesas.
Em todo o Brasil existem 94 iniciativas de parques tecnológicos, 28 deles em fase de operação. O número representa a criação de 32,2 mil empregos diretos, de acordo com números do Ministério de Ciência e Tecnologia. Mas não há qualquer iniciativa voltada para a área do agronegócio. “Essa seria a primeira com foco nesse setor de atividade econômica”, explica o parlamentar.
O que é
Com foco em um mercado que tem cada vez mais avanços tecnológicos, a proposta é incrementar a formação de mão de obra e fomento à geração de tecnologia de energia sustentável no agronegócio. Tudo parte do que é chamado de tríplice-hélice, a base dos parques tecnológicos. O que isso significa? É a união das iniciativas privadas, públicas, por meio dos governos federal e estadual, e das instituições de ensino superior.
O consultor nacional do Sebrae explica que a proposta, que envolve a geração de tecnologia, empregos e formação de mão de obra especializada para o agronegócio, passa pelo setor de pesquisa e desenvolvimento. E isso exige a instalação do campus de uma universidade no local. Várias possibilidades têm sido estudadas, entre elas a parceria com instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (ICNA).
“É uma proposta inteligente à SGPA para ocupar aquela área, sem retirar a feira daquele lugar, e potencializando a atividade que já acontece naquele espaço”, afirma Francisco Júnior. O projeto já começa a ser estudado, com elaboração e assinatura de protocolos de intenção para buscar parceiros interessados em participar da iniciativa do Parque Tecnológico de Agronegócios.
A atual fase da proposta se encontra nos Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE), que dura geralmente de três a seis meses. Depois de levantados os dados e a possibilidade de o projeto ser implementado, será iniciado o planejamento para transformar a iniciativa em números. Em seguida vem a fase de estágio e, por último, a implantação. Por alto, sem qualquer estudo concluído, há uma estimativa inicial que pode variar entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões para que o parque seja implantado.
Sair do papel
A busca de parceiros já foi iniciada. O consórcio chinês Chint é o primeiro interessado, atraído pelo recém-lançado Programa Goiás Solar, do governo estadual. De acordo com Sílvio Sakata, o foco é a produção de energia fotovoltaica, com estruturação de captação de luz do Sol como fonte sustentável.
“O momento é muito interessante, pois nós estamos trazendo esse grande consórcio chinês que desenvolve e implementa tecnologias de energia, sobretudo fotovoltaica. Nós queremos aliar o desejo da Chint, que é a terceira maior empresa provedora de energia da China, e que já participa de projetos em diversos países, inclusive o Brasil, em especial Goiás.”
Geração de emprego, formação de mão de obra qualificada, produção de tecnologia. De olho, por exemplo, na Feira Tecnoshow, em Rio Verde, o deputado cita que o Parque Tecnológico pode ser um fornecedor de tecnologia agropecuária para o evento. Em conversas já iniciadas com o presidente da SGPA, Tasso José Jayme, com o vice-governador José Eliton, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e deputados federais, a proposta tenta atrair novos parceiros e empresas.
A iniciativa apresentada pelo representante da Chint é a de que o conglomerado chinês seja a empresa-âncora do Parque Tecnológico, o que possibilitará a transferência de tecnologia em parceria com o governo estadual e o setor privado, com entrada de outras empresas no projeto. A implantação da proposta passa por aprovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio de um comitê que precisa chancelar o projeto. A partir da aprovação do ministério, o projeto entra na fase de captação de recursos.
Recursos
No Brasil, os números apresentados pelo consultor nacional do Sebrae apontam que os parques tecnológicos representam mais de 30 mil empregos formais, com atuação de cerca de 4 mil mestres e doutores. “Estamos falando de empregos qualificados”, resume Paulo Araújo.
Os números de recursos aplicados em parques tecnológicos em todo o Brasil giram em torno de R$ 1,25 bilhão vindos do governo federal, R$ 2,43 bilhões de Estados e prefeituras e R$ 2,11 bilhões da iniciativa privada. São 29.909 empresas com 1,8 mil empregos voltados para institutos de pesquisa. Além dos 28 parques já em funcionamento, 24 estão em fase de conclusão para iniciarem as atividades.
Das iniciativas iguais à proposta para a área da SGPA em Goiânia, de criação de um parque tecnológico, são seis no Nordeste, quatro na Região Norte e três no Centro-Oeste. Sul e Sudeste têm a maioria desses projetos, com 34 na primeira e 33 na segunda. No Centro-Oeste, são dois no Distrito Federal e um em Goiás, de acordo com os dados do ministério.
Áreas de atuação
De todos os parques, instalados ou não, 36 são voltados para a área de tecnologia da informação. Os outros setores que as propostas abrangem incluem energia, biotecnologia, saúde, petróleo e gás natural e telecomunicações. “O agronegócio, com apenas 11% das iniciativas, ainda é uma área pouco explorada pelas propostas de parques tecnológicos no Brasil. A gente está no caminho certo para que essa ideia vire realidade em Goiânia”, aponta Paulo Araújo.
Pela proposta, os beneficiados não seriam apenas o mercado na formação de mão de obra e iniciativas de pesquisa no agronegócio, mas tornaria Goiás capacitado na tecnologia e na captação de energia fotovoltaica, considerada uma energia limpa.
“Essa energia é uma matriz avançada que diminui a necessidade de investimento na rede de linhas de transmissão, porque não é preciso levar para outro lugar, já que ela é consumida no local em que é produzida”, explica Sakata. Nesse sentido, a proposta entra na rota da meta nacional, que é de fazer a energia fotovoltaica chegar a 5% da produção total de energia no Brasil até 2022.
Atualmente, apenas 0,01% da energia gerada no País vem dessa fonte energética. Para Sakata, é preciso desmistificar no meio empresarial o que vem a ser essa nova energia e quais são as vantagens dela. “E o parque tecnológico de Goiânia pode ser o local de se desenvolver e diminuir os custos de equipamentos utilizados na produção da energia fotovoltaica”, pontua o representante da Chint.