Os prefeitos emedebistas que jogam contra a história do MDB

10 março 2018 às 12h21

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No afã de entregar o partido aos interesses eleitorais do senador Ronaldo Caiado, Adib Elias, Ernesto Roller, Paulo do Vale e Renato de Castro fazem mais do que enfraquecer o correligionário Daniel Vilela, pré-candidato ao Palácio das Esmeraldas

O partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB) tem um histórico inegável no processo político nacional e especificamente em Goiás. Desde 1982, na redemocratização, quando Iris Rezende derrotou Otávio Lage, do PDS, candidato do situacionismo, o MDB nunca deixou de disputar a eleição para o governo. Venceu novamente o pleito de 1986 (Henrique Santillo), o de 1990 (outra vez Iris), e o de 1994 (Maguito Vilela).
Nas cinco disputas seguintes — 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014 — o MDB foi derrotado, mas cumpriu seu papel como maior partido de oposição, apresentando nome próprio para escrutínio do eleitor goiano. Em algumas dessas derrotas, a vitória escapou por pouco e aconteceu mais por erros estratégicos de seus líderes. Ficou demonstrada ressonância com boa parte do eleitorado goiano, mesmo porque continua sendo um partido de grande capilaridade no Estado.
O MDB errou muito ao longo destes 20 anos, mas, eleitoralmente, ninguém pode negar que a história do partido é de luta, de presença.
Mas eis que neste momento, ano de sucessão estadual, essa história pode mudar. A depender de um pequeno grupo, o MDB vai entregar sua força e sua história a um candidato de outra sigla para a disputa ao Palácio das Esmeraldas. E o mais curioso é que a legenda tem um nome próprio para este pleito, nome este que significa a renovação que ela tanto necessita, o deputado federal Daniel Vilela, presidente regional da sigla.
O principal partido de oposição no Estado vive o dilema da divisão interna no processo sucessório estadual e não consegue se unir no apoio ao seu filiado. Uma ala minoritária do MDB, mas de inegável influência porque integrada por prefeitos de cidades importantes, não quer a candidatura própria. Pelo contrário, essa ala advoga ceder a cabeça de chapa ao pré-candidato Ronaldo Caiado, para selar aliança com o DEM. Nesse caso, o MDB ficaria a reboque do líder ruralista.
Perfilam no bloco dos prefeitos que querem entregar o MDB a Ronaldo Caiado os prefeitos Adib Elias (Catalão), Ernesto Roller (Formosa), Paulo do Vale (Rio Verde) e Renato de Castro (Goianésia), além de mais um ou dois prefeitos de pequenos municípios. Por questão de justiça, é preciso anotar que o decano Iris Rezende, prefeito de Goiânia, também é favorável à aliança com Caiado, mas tem se resguardado num discurso partidário, como se verá mais adiante.
Há dois argumentos principais desses prefeitos. O primeiro nem é assumido de forma clara: a liderança do senador nas pesquisas de intenção de voto. O segundo, eles querem dar uma conotação mais pragmática: o MDB nas últimas cinco eleições, sendo cabeça de chapa, perdeu todas, então é hora de mudar essa história. “Nos últimos 20 anos, o PMDB sempre teve cabeça de chapa e perdeu. Esse discurso é estúpido. Mais importante que ser cabeça de chapa é a construção de uma ampla aliança com apelo popular”, disse Ernesto Roller ao repórter recentemente.
Cabe uma análise sobre esses dois argumentos. Sobre a liderança de Caiado nas pesquisas, isso é fato. Como um dos três políticos goianos mais conhecidos (os outros são Iris Rezende e Marconi Perillo) seria no mínimo estranho se ele não liderasse os levantamentos iniciais. Os outros dois pré-candidatos — o próprio Daniel Vilela e o vice-governador José Eliton, do PSDB, o nome da base governista — estão longe de ter o reconhecimento da população.
Evidentemente esse quadro mudará quando a campanha começar de fato, com a propaganda eleitoral gratuita e a exposição direta dos dois e a consequente massificação de seus nomes.
Liderança em pesquisa com muita antecedência nunca garantiu vitória na urna. A história das eleições para governo é pródiga em viradas. Após a redemocratização, talvez com uma ou duas exceções, quem começou na frente perdeu, incluindo as reversões de Marconi, que estava atrás em 1998, em 2002, em 2010 e em 2014.
Por isso, os prefeitos do MDB adeptos de Caiado não insistem muito nessa tecla de “liderança nas pesquisas” como fator fundamental para apoiá-lo, porque sabem que a questão é delicada.
O outro argumento foca no histórico de derrotas do MDB nos últimos cinco pleitos. “Não adianta o PMDB ter cabeça de chapa e perder a eleição. Nos últimos 20 anos, o PMDB sempre teve cabeça de chapa e foi derrotado. Esse discurso é estúpido. Mais importante que ser cabeça de chapa é a construção de uma ampla aliança com apelo popular”, disse recentemente o prefeito Ernesto Roller.
Essa questão também merece atenção. Em 1998, havia um anseio de mudança por parte da população, cansada de sucessivas administrações do então PMDB que já não correspondiam às necessidades de modernização que o Estado carecia. O eleitorado viu em Marconi Perillo, do PSDB, a resposta ao desgaste do partido de Iris Rezende.
Nas eleições seguintes, o MDB não conseguiu apresentar alternativas ao que a base governista vinha realizando. Em vez de propostas, a oposição ficou nos ataques sem maior fundamentação. O eleitor preferiu continuar com quem vinha governando de maneira satisfatória. Em 2006, os goianos até elegeram Alcides Rodrigues em detrimento de Maguito Vilela. A razão: Cidinho representava a continuidade do que Marconi Perillo vinha fazendo.
Por falar em Maguito, o argumento dos prefeitos do MDB contra a candidatura de Daniel Vilela também bate nesse ponto: nas cinco eleições, o partido disputou com apenas dois nomes: Iris Rezende (1998, 2010 e 2014) e o próprio Maguito Vilela (2002 e 2006). Para eles, Daniel seria tão-só a continuidade de Maguito na disputa neste ano. Como foi explicado, o MDB vem perdendo menos por uma questão de nome, mas por falta de propostas.
Iris e Maguito reforçam a importância da sigla
Há poucos dias, na entrega da reforma do novo diretório do MDB regional, em Goiânia, as duas maiores lideranças do partido, o prefeito da capital, Iris Rezende, e o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela foram uníssonos na afirmação de que “o MDB não pode se acovardar” e deixar de ter candidato ao governo neste ano.
A manifestação de Iris e Maguito reforçou o posicionamento dos diretórios municipais que se manifestaram nos 17 encontros da legenda, realizados ao longo de 2017.

Iris Rezende lembrou o histórico do partido que, por determinação dos ditadores que governaram o país entre 1964 e 1984, fazia contraposição à Arena. O prefeito citou a participação da legenda na política goiana, com candidaturas em todos os pleitos desde a redemocratização. “Já ganhamos tantas eleições, já perdemos, mas o que nós nunca podemos fazer na vida é nos acovardar. Democracia é assim: ganha e perde”, afirmou o decano.
Dias depois, Iris reforçou seu discurso partidário, em entrevista a uma rádio. Ele reafirmou que apoiará o candidato do MDB ao governo de Goiás: “Eu sou partidário. Se não houver um acordo eu vou apoiar o candidato do meu partido. Eu nunca fraquejei nessa questão partidária”, afirmou.
No evento de inauguração do diretório, Maguito Vilela foi no mesmo tom, considerando que o MDB tem “o maior líder [Iris], tem a prefeitura da capital, a prefeitura da segunda maior cidade de Goiás [Aparecida de Goiânia], e vários prefeitos. “Esse partido não pode se acovardar no momento mais crítico do nosso Estado. O MDB tem a responsabilidade de participar da eleição com candidatura própria e oferecer à população uma alternativa de renovação.”
Iris, que foi homenageado com o nome do prédio e imagens históricas como a do comício das Diretas Já, agradeceu ao presidente do MDB Goiás e pré-candidato do partido ao governo, deputado federal Daniel Vilela. O prefeito dirigiu-se ao presidente e disse que a militância do MDB é o caminho da vitória: “Daniel, com esse exército, essa amostra que vejo aqui hoje na inauguração do novo diretório, esse exército de líderes, homens e mulheres, só se perderá uma eleição se não levar com responsabilidade o processo.”

Daniel Vilela, por sua vez, afirmou que cabe ao MDB o papel de liderar o projeto antagônico ao governo dos tucanos, num recado mais que direto ao senador demista Ronaldo Caiado, que quer o apoio da sigla ao seu projeto, no que tem a concordância dos prefeitos Adib Elias, Ernesto Roller, Paulo do Vale e Renato de Castro.
“É chegada a hora do nosso partido novamente assumir sua responsabilidade de administrar com retidão e competência os destinos políticos do nosso Estado de Goiás. O MDB não pode terceirizar nenhum tipo de responsabilidade: o nosso partido é quem tem a legitimidade da oposição em Goiás”, disse Daniel Vilela.
É preciso registrar que Daniel Vilela não descartou a aliança com o DEM de Ronaldo Caiado, pelo contrário, mas deixa claro sobre quem deve estar na cabeça da chapa. Disse que está buscando manter e ampliar a aliança feita em 2014, que possibilitou a eleição e Iris para prefeito de Goiânia e de Caiado para senador.
“Buscamos o apoio de absolutamente todos os partidos, a única exceção é o PSDB. Queremos manter a composição feita em 2014, com a participação do DEM, mas sabemos ser necessário ampliar esse leque de partidos para termos êxito em 2018”, afirmou o presidente do MDB.
“Queremos manter a aliança de 2014 e ampliá-la mas, se algum partido resolver lançar candidato próprio, é legítimo, nos cabe respeitar essa decisão e buscar uma aliança no segundo turno”, disse Daniel Vilela.
Daniel está definido
Em entrevista ao Jornal Opção, o presidente do PMDB de Aparecida de Goiânia, ex-deputado Léo Mendanha, foi categórico: “Daniel Vilela será o candidato do emedebismo a governador de Goiás. Ele está definido como nosso candidato e quem disser que ‘não’ está apenas tentando retirá-lo do páreo, e isso não vai ocorrer.”
Léo Mendanha repudia definição de candidato com base em pesquisas quantitativas extemporâneas. “As pesquisas qualitativas sugerem que os eleitores querem renovar. As pesquisas quantitativas indicam muito mais quem é conhecido do que um quadro definido. O que define uma eleição é a campanha, com a apresentação e debate de projetos. Quem acredita que se ganha eleição por antecipação não tem acompanhado as eleições de Goiás nos últimos 20 anos. O eleitor quer renovação e Daniel Vilela é sinônimo de mudança.”
Mendanha afirma que Ronaldo Caiado está forçando a barra para ser “o” candidato das oposições, mas coloca que o democrata precisa “pagar” a conta de 2014. “Ele foi eleito senador porque o MDB o apoiou. Sem o trabalho de nossas bases, teria perdido a eleição para Vilmar Rocha. Agora, quando deveria retribuir, quer retirar o nosso candidato do páreo e contribui para dividir o MDB. Não é justo.”
Segundo Léo Mendanha, o emedebismo está chateado com o prefeito Adib Elias, que tem história na legenda, ao contrário de Paulo do Vale, Renato de Castro e Ernesto Roller, “cristãos-novos” no MDB e sem quase nada a ver com a história de lutas do partido.
MDB não anda na “garupa”

O deputado estadual Paulo Cezar Martins reforça o nome de Daniel como candidato. “A candidatura de Daniel é definitiva e nem discutimos qualquer outra possibilidade. Isso já está definido. O partido tem uma história”, disse.
Ele afirmou que o MDB terá candidato próprio de qualquer maneira e que, se Ronaldo Caiado quiser a oposição unida, que aceite a vice ou a vaga de candidato a senador. “O MDB não é partido pequeno que anda na garupa dos outros, como quer o senador Ronaldo Caiado. O MDB tem história e está em uma posição confortável para lançar candidato a governador. O Caiado quer que a gente vá com ele, mas de garupa. De garupa nós não vamos. A gente pode ceder a garupa, ceder a senatória, mas de garupa nós não vamos”, disse o deputado.
Há poucos dias, quando Adib Elias, Paulo do Vale, Ernesto Roller e Renato de Castro foram ao prefeito de Goiânia, Iris Rezende, para pressionar pela aliança com Caiado, Paulo Cezar Martins qualificou a atitude de “vergonhosa”.

“Na verdade, não querem união das oposições. Querem, isto sim, que Daniel Vilela e o MDB apoiem a candidatura de Ronaldo Caiado para governador. Eles estão desrespeitando Daniel Vilela, presidente do partido, e o MDB. Estão tentando jogar nossa história no lixo. É um despautério trabalhar para enfraquecer o próprio candidato e fortalecer o candidato de outro partido”, disse Martins.
O deputado lembrou ainda que, na eleição para prefeito em 2016, o DEM deixou de apoiar os candidatos do MDB em várias cidades, contribuindo para a eleição de candidatos da base do governador Marconi Perillo. “Onde estava Caiado quando os prefeitos do Democratas optaram pelo apoio a candidatos do PSDB? Marconi Perillo, e não Caiado, manda no DEM.”
Paulo Cezar não poupou críticas a Adib Elias. Disse que as gestões de Adib Elias e Nailton Oliveira [no comando partidário] não prestaram as contas do partido à Justiça Eleitoral e, por isso, a legenda perdeu o direito a ter pílulas na televisão. Segundo Martins, o MDB não recebe dinheiro do Fundo Partidário há oito meses.

“[O Fundo Partidário] está bloqueado porque Adib e Nailton não organizaram a ‘contabilidade’ partidária. Na época deles, o MDB tinha cinco deputados federais — por cada um, o partido recebia 140 mil reais, quer dizer 700 mil reais por mês. Era muito dinheiro. No entanto, nas campanhas praticamente não ajudavam os correligionários. Daniel, com pouco tempo no comando do partido e mesmo prejudicado pela não prestação de contas, apoiou prefeitos em todo o Estado, inclusive Iris Rezende, em Goiânia. O que prova que Daniel é partidário, ao contrário daqueles que combatem sua candidatura.”
O deputado disse que dos 42 prefeitos do MDB apenas 4 tinham ido ao gabinete de Iris Rezende emprestar apoio a Caiado. “A maioria apoia a candidatura de Daniel. Sublinho que os quatro prefeitos caiadistas não mandam no MDB. Eles estão na contramão da renovação. Ora, vão dizer aos eleitores que Caiado apoiou Marconi Perillo em pelo menos duas eleições, contra o MDB, e que se trata de um político tradicional, que nada tem a ver com renovação? Quando mostrarem imagens de Caiado chamando políticos para brigar, aos tapas, o que os eleitores dirão? O que Adib Elias dirá?”, foi a pergunta de Paulo Cezar Martins.