Os caminhos da direita para as eleições de 2024 em Goiás
30 abril 2023 às 00h00
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Goiás é um dos estados com o eleitorado mais conservador do Brasil. O resultado das eleições de 2022 mostra essa realidade: no estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve 58,71% dos votos válidos no segundo turno. Um dos expoentes da direita no estado, o governador Ronaldo Caiado (UB), foi reeleito no primeiro turno com 51,81% dos votos. Wilder Morais (PL), do mesmo partido do então presidente Jair Bolsonaro, foi eleito senador com 25,25% dos votos e ao menos 13 dos 17 deputados federais e 35 dos 41 deputados estaduais eleitos no último pleito são de direita ou de centro-direita.
Dentro deste cenário, cada vez mais políticos ligados à direita têm ganhado força, não só em seus municípios, mas no contexto estadual. Se a eleição que mais importa é a de 2026, as articulações os pleitos municipais já preparam o terreno para o futuro. Partidos, candidatos, gestões municipais, regionais e mesmo a nacional fazem suas apostas e criam suas lógicas de ação. Nas quatro cidades mais populosas do estado despontam candidatos de direita de fato competitivos pela corrida ao Paço.
Um dos nomes mais fortes da direita em Goiás é o do vice-presidente do União Brasil e presidente do Detran Goiás, Delegado Waldir. O ex-deputado federal recordista de votos em Goiás foi candidato ao senado em 2022, mas não se elegeu. Segundo ele, a direita em Goiás está fortalecida e segue em crescimento pelas mãos do governador Ronaldo Caiado.
“Em Goiás a direita está mais forte do que nunca, comandada pelo governador Ronaldo Caiado, que é da direita raiz, de verdade, há mais de 40 anos. No momento estou focado na presidência do Detran, que é o órgão mais importante do estado, mas já conversei com Wilder Morais (PL) estreitando diálogo para que direita possa voltar ao poder nacionalmente”, afirma Waldir.
Para o delegado, a direita será competitiva em todo o estado em 2024. Para isso, precisa se unir e parar com “fogo amigo”, segundo ele. Waldir acredita que a oposição bem feita vai ser determinante para o sucesso da direita em 2026. “Tenho falado sobre a necessidade de acabar o com o fogo amigo. Acredito que a direita vem forte para 2024 e também para 2026 e no Brasil todo. A esquerda tem se atrapalhado, tropeçando nas próprias pernas e em seus erros. Tenho certeza de que 2024 será a ponte para 2026, e a direita deve estar presente”, disse o delegado.
Fator Bolsonaro
Mesmo sem conseguir se reeleger, o ex-presidente Jair Bolsonaro é a figura mais forte dentro da direita no Brasil. Sua atuação nas eleições de 2024 será fundamental para que os candidatos que defendem as suas bandeiras sejam eleitos. Formar uma base de prefeitos e vereadores em todo o Brasil em 2024 é o primeiro passo para pavimentar o seu possível retorno ao Palácio do Planalto em 2026.
O ex-presidente assumiu a cadeira de presidente de honra do partido e disse que vai trabalhar para que a legenda e aliados consigam eleger pelo menos 60% dos prefeitos nas eleições municipais de 2024. Como fará o papel de principal opositor do PT no Congresso, o PL acredita que será o maior beneficiado nas eleições municipais. O partido considera vantajosa a manutenção da polarização entre Lula e Bolsonaro e faz de tudo para que o governo federal fique preso nas próprias turbulências e se desgaste nos próximos meses.
“Não é só PL fazer prefeituras”, afirmou Bolsonaro em vídeo publicado nas redes sociais. “É, juntamente com o PP e outros partidos, colaborar pra gente fazer 60% das prefeituras pelo Brasil”, disse. Bolsonaro afirmou que depende dos parlamentares no Congresso para manter o legado que construiu à frente da presidência. De acordo com ele, a eleição de “praticamente 20% das bancadas” do PL e partidos aliados forma a “maioria dentro do Congresso. Nós queremos o melhor para o nosso país. Tenho certeza que vocês conduzirão o Brasil para um porto seguro”.
Ainda não há uma agenda fechada de viagens pelo país, mas a expectativa é de que a caravana comece pela região Nordeste, segundo interlocutores ligados a Valdemar Costa Neto, presidente do PL. O partido trata como muito provável a inelegibilidade do ex-presidente, embora considere a prisão difícil. Os abalos na imagem de Bolsonaro, avalia a legenda, não serão suficientes para inviabilizar a força do bolsonarismo.
Segundo interlocutores, o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, quer que o partido tenha candidatos em todos os municípios brasileiros, com a meta de fazer ao menos mil prefeitos no País. Costa Neto afirma que, caso Bolsonaro se engaje nas campanhas municipais, o número pode chegar a 1,5 mil. Ele diz acreditar que os nomes de direita devem estar ligados a Bolsonaro no PL e que esse movimento deve se repetir em outras capitais.
Para o ex-deputado e candidatado ao governo de Goiás, Major Vitor Hugo (PL), o momento da direita é de consolidação, sobretudo após os números das eleições de 2022. Mesmo ficando em terceiro lugar na corrida pelo Palácio das Esmeraldas, Vitor Hugo analisa às eleições do ano passado como positivas e projeta caminhos para 2026.
“O ano de 2024 vai ser determinante para preparação para 2026”, disse Vitor Hugo. “Nas eleições de 2022, o PL se tornou um dos maiores partidos do Brasil. O partido tem as maiores bancadas do Congresso. Em Goiás, são um senador, quatro deputados federais e três estaduais, o que com certeza projeta ambições para as eleições municipais.”
Sobre a participação de Bolsonaro nas campanhas municipais, Vitor Hugo acredita que o ex-presidente deve se envolver nas campanhas, demonstrando o seu apoio formal aos candidatos, com a gravação de vídeos e divulgações. “Pretendemos fazer 50% dos prefeitos do Brasil e para isso acredito que vai haver a participação direta do presidente Bolsonaro. Acredito que ele vai se envolver, estive com ele na semana passada e ele já afirmou isso, então o objetivo agora é trazer mais prefeitos e consolidar às bases”, disse Vitor Hugo.
Goiânia
Em Goiânia, os nomes de Rogério Cruz (Republicanos), Gustavo Gayer (PL), Vanderlan Cardoso (PSD), Delgado Waldir (UB), são possíveis representantes da direita como candidatos à prefeitura. A corrida pelo Executivo da capital está aberto e apresenta várias características únicas. Pela primeira vez em anos, um figurão da política local não desponta como grande favorito. Isso projeta uma eleição fragmentada e disputada, na qual cada voto pode fazer a diferença.
O deputado federal Gustavo Gayer é o nome mais forte no momento e, ao que tudo indica, deve ser candidato novamente, desta vez pelo PL. Na convenção em que assumiu o comando do partido, em Goiânia, Gayer desconversou sobre a possível candidatura e disse que está focado em sem mandato na Câmara e em fazer oposição ao Governo Federal.
Entretanto, circula nos bastidores que Gayer e o deputado estadual Eduardo Prado (PL) já teriam um acordo e seriam pré-candidatos a prefeito e vice, respectivamente, de Goiânia. Durante a posse de Gayer, o senador e presidente estadual do partido Wilder Morais foi um dos que endossou o coro pró Gayer em 2024. “O Gustavo pode ser candidato a prefeito de Goiânia”, afirmou Wilder Morais. “Do estado inteiro – é nossa maior liderança, o mais votado de nosso partido, então ele tem todas as chances.”
Ainda correm por fora nomes como do senador Vanderlan Cardoso (PSD) e do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (Patriota), que tenta viabilizar candidatura por via judicial. O atual prefeito e natural pré-candidato a reeleição, Rogério Cruz, terá a máquina ao seu lado, mas deve encontrar dificuldades em seu projeto.
Aparecida de Goiânia
Em Aparecida de Goiânia a situação é semelhante. Se Gustavo Mendanha pudesse concorrer novamente em 2026, o tópico se enceraria aqui. Mas, diante da lei que limita as reeleições, a atuação do ex-prefeito mais votado do Brasil (proporcionalmente falando) no segundo município mais populoso de Goiás será apenas nos bastidores.
O deputado federal Professor Alcides deve ser candidato pelo PL. Wilder Morais gosta do nome. “Tem todas as prerrogativas e chances de ganhar a eleição lá, estamos torcendo para isso”, afirma o senador. Alcides tem bagagem e histórico de relacionamento com Aparecida.
Há outros nomes: André Fortaleza (MDB), presidente da Câmara Municipal, e Veter Martins (Patriota), deputado estadual que foi vice de Mendanha no primeiro mandato. O atual prefeito, Vilmar Mariano (MDB), enfrenta o mesmo dilema de Rogério Cruz: vai ter dificuldades para se reeleger em 2024.
Anápolis
A cidade de Anápolis é considerada estratégica do ponto de vista político. Vista como um grande reduto bolsonarista, a direita vem retomando sua força no município, mesmo com a forte presença do PT, sobretudo com os irmãos deputados Antônio Gomide (estadual) e Rubens Otoni (federal).
Major Vitor Hugo não descartou disputar a prefeitura de Anápolis. “Fizemos uma boa campanha (para governador) por lá, tive 46 mil votos e cerca de 23% dos votos da cidade. Enquanto deputado pude enviar quase R$ 15 milhões em emendas para o município Tudo isso nos leva naturalmente para lá, mas ainda é muito cedo para definir alguma coisa”, afirmou o ex-deputado.
Wilder Morais também considera o nome do ex-deputado federal Major Vitor Hugo para disputar a prefeitura de Anápolis, mas disse que há mais opções. Entre elas, seu segundo suplente e vereador pelo PL, Hélio Araújo. Márcio Correa (MDB), Leandro Ribeiro e até mesmo a primeira dama, deputada Vivian Naves, pelo PP, também são nomes cogitados.
Rio Verde
Em Rio Verde, reduto do agronegócio goiano, o atual prefeito Paulo do Vale (UB) também está em seu segundo mandato e não pode ser reeleito. Seu filho, Lucas do Vale, foi eleito para Assembleia Legislativa e surge como um possível nome. A deputada federal Marussa Boldrin (MDB) é jovem e tem aspirações ao Executivo.
Outro nome da direita local que chega forte é o do ex-coronel da PM, Ricardo Rocha (Patriota). O ex-policial militar declarou que respeita as lideranças políticas rio-verdenses, mas que pretende sim ser candidato a prefeito.
“Conheço a classe política da cidade. Respeito as lideranças do Paulo do Vale (UB), Dr Juraci Martins (PSD), Heuler Cruvinel (Patriota), Lissauer Vieira (PSD), Dr Osvaldo Fonseca (MDB), deputados vereadores. Tenho bom relacionamento de amizade com todos eles. Todavia, tenho sim interesse em colocar meu nome à apreciação do povo que mora na cidade de Rio Verde neste pleito que se aproxima”, disse Ricardo Rocha. Segundo o coronel, sua relação com Rio Verde e sua atuação política ao lado do ex-presidente Bolsonaro o credenciam para às eleições.
“Construí a minha família na cidade de Rio Verde. Tenho laços familiar e de amizade na cidade. Conheço Rio Verde com a palma da minha mão. Meu domínio eleitoral é na cidade. Sempre apoiei os candidatos policiais militares a vereador e com êxito. Conheço a administração pública na sua essência. Tenho espírito público e sempre servi a todos de igual forma e com esmero e comprometimento”, afirmou o militar.