O PT tem nomes, mas…
21 novembro 2015 às 13h32
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Partido conta com pré-candidatos viáveis para disputar a prefeitura, mas há duas barreiras: o desgaste da sigla em nível federal e a falta de aliança
Cezar Santos
Adriana Accorsi, Hum-berto Aidar, Luis Cesar Bueno, Edward Madu-reira e Marina Sant’Anna. São esses os nomes que o PT tem mais em evidência, os mais citados na imprensa, para a disputa ao Paço Municipal no ano que vem. São bons nomes, sem dúvida.
Sem fazer maiores considerações sobre as respectivas tendências dentro do partido, comecemos por Adriana, deputada estadual em primeiro mandato, mas que chegou “chegando” à Assembleia, a mais votada do PT. Delegada de carreira da Polícia Civil goiana, tem desenvolvido um trabalho destacado na Assembleia, focado na segurança pública (é presidente da Comissão da área) e aos ditos “movimentos sociais” ligados a entidades franjas do PT, como o Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sintego) e Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Filha de Darci, que foi prefeito da capital, Adriana carrega um nome que tem peso na política goianiense. Mesmo sendo uma petista “antiga”, digamos assim, a deputada faz política sem radicalismo e tem linguagem polida, de respeito aos adversários. E considerações sexistas à parte, o fato de ser mulher pode ser um chamativo ao eleitorado feminino de Goiânia.
Humberto Aidar é um veterano no Palácio Alfredo Nasser e também foi vereador em Goiânia. Político de posicionamento firme, várias vezes manifestou sua vontade de disputar a Prefeitura de Goiânia. Também de trato polido, franco, é fácil imaginar que faria muito boa figura numa campanha, até pelo talento inato como comunicador, já que é um radialista conhecido. Ligado à Igreja Católica, tem boa inserção nesse meio.
Também deputado estadual, também veterano na Assembleia Legislativa, Luis Cesar Bueno reúne experiência e histórico de atuação com entidades sindicais e populares. É articuladíssimo nas internas do partido e transita muito bem em entidades da sociedade civil. Nos últimos anos tem radicalizado seu discurso oposicionista ao governador Marconi Perillo na tribuna da Assembleia, escorregando às vezes para acusações infundadas, talvez pela impaciência de se ver submerso pela bancada governista. Esse discurso radical pode ser um problema? Talvez.
Edward Madureira é um novato no PT. No ano passado saiu candidato a deputado federal sem sucesso. Está suplente. Ex-reitor da Universidade Federal, acaba de ser nomeado secretário de Ciência e Tecnologia Para Inclusão Social do governo federal, um cargo que lhe dará certo destaque, embora o afaste um pouco de Goiânia. É um dos mais qualificados quadros do PT no País, não só de Goiás.
Marina Sant’Anna é uma antiga conhecida do eleitorado goianiense e goiano. Vereadora por três mandatos, foi candidata a prefeita de Goiânia e a governadora. Ocupou cargos nos governos municipais petistas na capital. Como suplente, acabou assumindo cadeira na Câmara dos Deputados. Também é muito articulada e, igualmente a Adriana Accorsi, com potencial de atrair o eleitorado feminino.
Como se vê, bons nomes não faltam ao PT para disputar a Prefeitura de Goiânia em 2016.
Mas o partido vem sofrendo enorme desgaste no plano federal, por conta do governo desastroso de Dilma Rousseff, que está jogando a economia do País no buraco. Também corroem a imagem da sigla as seguidas denúncias de envolvimento de filiados em casos de corrupção, como o mensalão e o atual petrolão. Delatores têm dito que dinheiro desviado da Petrobrás financiou campanhas de Lula e de Dilma à Presidência.
Já se cristalizou em grande parte da clase média nas grandes cidades, com mais acesso às informações, a noção de que o PT é um partido de corruptos. A situação chegou a tal ponto que a sigla vem sofrendo um processo de desfiliações pelo país afora. Muitos prefeitos petistas deixaram a legenda justamente com medo do desgaste na reeleição.
É bom que se diga que muito de ruim que está acontecendo atualmente no governo Dilma é remanescente dos dois governos Lula, ele mesmo sob suspeita de várias irregularidades e um enriquecimento totalmente fora de explicação. São fartas as evidências de que o ex-presidente, o ícone maior do partido, se locupletou no cargo.
Sem aliança
Outro complicador para o PT goianiense é a praticamente dissolvida aliança com o PMDB, que não vai abrir mão de ter cabeça de chapa, mesmo porque o nome pré-candidato do partido, Iris Rezende, lidera as pesquisas com certa folga. Sem o PMDB, o PT não se cria, a prova foi a campanha ao governo no ano passado, quando o candidato petista, Antônio Gomide, teve apenas 10% dos votos.
Resumindo: desgaste de imagem e isolamento, os problemas do PT são.
Mas, que nada!, esses problemas não são tão grandes assim. Pelo menos é o que pensa o presidente regional do PT, Ceser Donisete Pereira. Segundo ele, o mais importante o partido tem, que são nomes com história e bom relacionamento na sociedade. Ele compara que outros partidos podem não ter os problemas do PT, mas não têm bons nomes.
“Temos cinco pré-candidatos viáveis em Goiânia, nomes com história no partido, lideranças de muito tempo de luta. Mesmo o professor Edward, que é novo como filiado, já tinha uma relação com o PT. Então temos o principal, e sem divisões, como está ocorrendo em outros partidos, onde vemos que há brigas”, diz Donisete, referindo-se ao PSDB.
O dirigente admite que seu partido sofre o problema do desgaste, do envolvimento de petistas com corrupção, do governo Dilma pouco eficiente, da economia que patina, etc., mas relativiza isso como influenciador no pleito local. “Pouco eleitor se deixa levar por problemas nacionais na hora de votar para prefeito. As pessoas conhecem o candidato, sabem onde ele mora, a relação é mais direta, diferente do pleito nacional. Aliás, lembro que houve uma época que Lula tinha mais de 90% de aprovação e mesmo assim o PT fez poucos prefeitos.”
Sobre o isolamento político do partido, agora sem o PMDB, Ceser Donisete também admite problemas, mas levanta o que — quem diria! — considera um trunfo: a gestão de Paulo Garcia em Goiânia, que ele vê como positiva e com potencial para atrair aliados. “Paulo começou a gestão com problemas, mas tem recuperado sua imagem e a administração entra nos eixos. Ele certamente vai influenciar positivamente na sua sucessão em Goiânia. E isso é mais forte que a influência nacional.”
Ceser Donisete é bastante otimista sobre a “atratividade” de Paulo Garcia, e acredita que ela possa puxar três ou quatro partidos para uma aliança com o PT no ano que vem. “Somos governo em Goiânia, isso é importante. Se os partidos perceberem que temos chances de ir ao segundo turno, isso pode puxar para uma coligação. Eles vão querer indicar o vice, vão querer fazer vereadores. A perspectiva de poder atrai aliança”, diz o dirigente petista.