O inimigo está em casa: entenda os sinais de uma relação tóxica e “amor” excessivo

11 junho 2023 às 00h00

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“Sou louco por você”; “Eu confio em você, mas não confio nos outros”; “Ninguém vai te amar como eu te amo”; “Essa roupa é muito curta”. Frases como essas podem estar no ciclo vicioso de um relacionamento abusivo.
O abusador ou a abusadora demonstra no início do relacionamento um excesso de amor, de cuidado, que na maioria das vezes é entendido pela vítima como demonstrações de carinho e afeto. Ao mesmo tempo, o algoz usa da estratégia de se diminuir para iniciar uma manipulação.
Tensão, explosão e reconciliação. Esse é um ciclo comum para quem vive esse tipo de relação. Na tensão, começam pequenos desentendimentos, há brigas, xingamentos, cobranças, a autoestima da vítima é colocada para baixo, os ciúmes ficam muito presentes e o controle emocional começa a aparecer.
Na fase de explosão, o descontrole e raiva do agressor ficam mais intensos e assim podem acontecer as agressões à vítima.
Depois da agressão, há a reconciliação. Neste momento, o agressor se mostra totalmente arrependido e diz: “nunca mais vou fazer isso”. A vítima, com dificuldade de lidar com toda essa situação e com todas essas emoções confusas, acaba aceitando as desculpas.
Dependência
O senso comum tem a sensação das mulheres dependerem mais emocionalmente dos homens, do que os homens das mulheres. Porém, é equivocado pensar dessa forma. Do ponto de vista da incidência, “homens e mulheres apresentam a mesma quantidade de dependência emocional”, é o que explica o psicólogo Rodolfo Vilela, autor da dissertação, amor patológico: uma investigação em relação ao gênero, crenças sobre o amor, apego e autoestima.
O psicólogo deixa claro que isso é uma tendência, ou seja, alguns homens e mulheres podem fugir dessa observação. A diferença está no comportamento em que ambos demonstram.
“Os homens com dependência têm uma forma menos clara e objetiva de expressar uma afetividade em relação de afirmar isso nas relações. Enquanto isso, é comum as mulheres falarem de forma mais aberta e se queixarem. Então, eles manifestam a dependência de formas diferentes”
Rodolfo Vilela, psicólogo
Violência
Nas vésperas do dia dos Namorados, a ideia não é aterrorizar os relacionamentos, mas sim ascender um alerta para às vítimas. Diante disso, gostaria de pontuar o livro da jornalista Andressa Vasconcelos, que da nome ao título dessa reportagem. ‘O Inimigo Está em Casa’ é uma obra para informar o leitor sobre às tipificações de violência previstas na Lei Maria Da Penha. Além disso, mostra relatos de mulheres que sofrem todo tipo de abuso.
No capítulo, ‘A Negligência Pode Matar’ a autora relata ter presenciado um episodio de violência contra mulher quando chegava em casa e o imbróglio que foi para conseguir ajudar a vítima. O medo da vítima de denunciar, a ineficácia da polícia e a petulância do agressor, estão entre os relatos, que infelizmente mostram o quanto o ciclo abusivo ainda é pertinente nas relações.

Ciclo ‘vicioso’
“As mulheres da minha família são vítimas e atravessam gerações, ela começa com minha bisavó que foi vítima de feminicídio pelo meu bisavô”. É assim que começa o relato da autora do livro: ‘Mulheres que me Habitam’ de Cláudia Jordão.
A trilogia abre um diálogo com outras mulheres. Cláudia revela as violências sofridas por sua ancestralidade feminina, desde a sua bisavó, até ela mesma.
Entre os três eixos temáticos do livro – violência doméstica, relacionamento abusivo e violência sexual – a autora relata a reprodução da violência por gerações.
Ás mulheres crescem sendo ditadas pelas cores e roupas corretas, os brinquedos que elas podem brincar, o sexo frágil, entre outras caraterísticas comportamentais. Para os homens não é diferente, eles são criados para reproduzir um comportamento machista e patriarcal que segregam.
A autora comenta o quão recente mulheres conseguiram a garantia de direitos básicos. Você pode estar se perguntando: como esses posicionamentos estão relacionados com o relacionamento abusivo? a resposta é: o reflexo das relações fazem parte de uma construção social.
“A vítima vive dentro de um ciclo de violência em que o abusador ele vai manipulando a situação a favor dele. Então quando ele acha que a mulher vai tomar a decisão de sair da relação. Ele volta atrás. Ele começa todo processo de love bombing para fazer com que essa vítima não tome a decisão de deixar o relacionamento”.
Cláudia Jordão é dramaturga, diretora teatral, atriz e produtora cultural
Rede de apoio
O primeiro alerta é a culpa, geralmente, na maioria dos casos a vítima sempre se sente culpada pelos acontecimentos ‘errados’ da relação. O sentimento perante a relação precisa ser saudável para ambas as partes.
Por isso, colocar um ponto final na relação, não está apenas nas mãos da vítima. Ela precisa de suporte, tanto da família e amigos quanto do poder público. Com acolhimento, sem julgamentos.
A rede de apoio à vítima é fundamental, por que muitas vezes a vítima não consegue perceber os abusos, por inúmeros fatores, entre eles, a dependência emocional.
Respeitar os limites, autocuidado, autoconhecimento e acompanhamento psicológicos, são os principais fatores para conseguir escapar do ciclo que tortura e prende, principalmente ás mulheres em uma relação abusiva.