O difícil caminho para a Câmara dos Deputados
03 maio 2014 às 11h49
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As cinco armas mais usadas nas campanhas por deputados federais vencedores
Afonso Lopes
Não chega a ser um vestibular de medicina, mas as vagas para deputado federal são intensamente disputadas. E, pior que o vestibular, não depende do saber acadêmico. Aliás, pouco ou nada valem os títulos neste caso. Aqui, o que realmente importa é a técnica precisa, a dedicação total e uma boa estrutura geral de campanha. Sabe aqueles cabos eleitorais que ficam agitando desanimadamente as bandeiras de candidatos a deputado federal nas calçadas de praças e avenidas? Esqueça. Não ficam lá para ganhar votos. É só demonstração de presença da campanha. As armas que realmente contam e somam votos são outras.
Câmara dos deputados só tem 17 vagas para goiás
1 – Estrutura de campanha
É aqui que a coisa começa realmente a pegar ou não. E entenda-se essa estrutura de campanha como forte apoio financeiro, ótimos profissionais e grande capacidade de organização. A maioria das campanhas derrotadas pecam exatamente neste aspecto, que é basilar.
Olhares experientes percebem candidaturas de fortíssimo potencial na disputa somente observando a estrutura. O contrário é verdadeiro. Estruturas acanhadas dificilmente terminam vitoriosas.
Mas se não pode comprar o voto do eleitor, onde é que se gasta tanto dinheiro numa campanha de deputado federal? Xeque-mate: nos gastos não declarados. Entre eles, o maior é o que sustenta apoios nos diretórios municipais e nas dobradinhas com candidatos a deputado estadual. Quando se diz que fulano perdeu algumas bases, está se dizendo, em outras palavras, que um outro candidato foi lá e adquiriu o pacote todo. É um toma e ganha lascado esse, mas não tem outro jeito diante da legislação eleitoral que se tem no Brasil.
Vez ou outra se lê no noticiário político que um candidato abriu mão do apoio de determinado diretório e o “repassou” para um candidato aliado. Isso não acontece por acontecer. Algumas vezes, o tal diretório iria encarecer muito a logística de campanha e renderia menos votos que um outro mais em conta. Então, há o tal repasse para algum interessado. Claro que com troca, ou de apoio direto – dinheiro – ou permuta de diretórios: o candidato cede esse aqui e recebe aquele ali. É aqui também que está o mercado dos prefeitos e vereadores. Quando se fala em “invasão das bases”, é alguém reclamando que tem a direção do diretório, mas as bases foram solapadas pelo concorrente.
Outra fonte de despesas fortíssimas são as dobradinhas. Normalmente, os candidatos a deputado federal vasculham a influência dos estaduais em suas regiões e acertam a parceria. Quem banca as despesas, e não apenas de “santinhos”, é o federal.
O restante da tal estrutura de campanha é manter uma agenda permanente de contatos, a montagem de boa equipe profissional de atendimento e de encaminhamento das questões. Nessa soma aí estão os deslocamentos constantes pelos diretórios, santinhos, cartazes, gasolina, e demais salamaleques que compõem o cesto.
Candidatos à reeleição geralmente fazem campanhas muito mais baratas – mas ainda assim são caríssimas. É que boa parte dessa estrutura toda é construída durante o mandato, e aí é só ampliar aqui e ali, consolidar uma outra coisa e seguir em frente. Quem não consegue fazer isso durante o mandato, babau. Perde a reeleição.
2 – Dobradinhas com candidatos a deputado estadual
Normalmente, os diretórios municipais sofrem fortíssima influência dos políticos locais. Muitos deles são montados durante anos. E é assim que nascem fortes candidatos a deputado estadual. Os federais percebem essas movimentações e se aproximam desses líderes locais, que normalmente tem curto fôlego financeiro.
Se o diretório é importante (número de eleitores na cidade, popularidade de seus líderes, quantidade de vereadores e etc) e o candidato estadual é realmente competitivo, e por isso mesmo disputado pelos federais, muitas vezes leva quem consegue oferecer maior apoio. Em alguns casos, o federal coloca parte de sua equipe no comando das ações de campanha na área do diretório.
Dobrar com candidatos fracos e sem qualquer projeção na região é jogar dinheiro no lixo, não rende nada. Mas é certo que nem todos os nomes preferenciais para a disputa estadual vencem. Mesmo quando perdem, para o federal pouco importa. O que interessa mesmo é quantos votos ele foi capaz de angariar.
3 – Fechar as regiões
Há deputados que tem votos em quase todas as cidades. Ou são muito conhecidos no estado todo ou são candidatos à reeleição. Não tem outro jeito. Ninguém consegue juntar dinheiro suficiente para fazer campanha de deputado federal no estado inteiro.
Então, é melhor mapear bem a potencialidade das regiões e investir em uma ou duas, no máximo, de maneira a garantir somente aí a vitória. O ideal é manter quase toda a estrutura concentrada numa regional mais ampla do que manter duas ou mais distantes uma da outra. E é importante também avaliar corretamente o tamanho do bolso. Deixar uma região ou diretório sem oxigênio financeiro é pedir para ser solenemente traído e trocado sem qualquer pudor.
Graças a esse tipo de trabalho, fechado em regiões, é que em quase toda eleição surgem eleitos inesperados. Quando todo mundo imaginava que o famoso tal venceria, um outro recebe bem mais votos e é eleito.
4 – Saber mapear a votação
Eleição, definitivamente, não é coisa para amadores. Bons candidatos sabem como esquadrinhar as próprias potencialidades e até as dos demais concorrentes mais fortes. Quando não sabem, contratam profissionais que conhecem do riscado. Fazer um bom mapeamento é vital para saber se precisa aumentar ou se de manter a estrutura. E esse é um trabalho feito constantemente. O quadro eleitoral pode sofrer mudanças quase semanalmente. Quando se erra nestas contas, dorme-se eleito e acorda em alguma suplência.
Os melhores profissionais dessa área trabalham com margens de erro de avaliação. Estabelecem um plano de votação 20% superior ao que se calcula ser necessário para garantir vaga na própria coligação. E trabalham sempre com essa folga. Por mais realista que sejam esses mapeamentos, e por melhor que tenham sido trabalhados, quase nunca o resultado das urnas obedece a lógica do mapeamento. Por isso uma margem de segurança na faixa dos 20%. Erros acima de ou 15% no mapeamento, é derrota certa.
5 – Assessoramento profissional
É frase da sabedoria malandra brasileira: o único amador que deu certo no Brasil foi o Aguiar. Refere-se ao líder empresarial Amador Aguiar, fundador do Banco Bradesco, o maior da rede privada no Brasil. É a mais pura verdade. Em qualquer área de atividade, não há muito espaço para o amadorismo. Na política, então, ela é quase completamente proibida – as exceções são os conhecidos cacarecos que vencem eleições de vez em quando.
Montar uma equipe de trabalho profissional na campanha é fundamental. E esse assessoramento é vital em todas áreas, da comunicação à logística, da coordenação geral aos coordenadores setorizados. Imagine, por exemplo, o candidato passar a noite toda na beira de rodovia por falta de combustível no carro sabendo que uma grande e importante reunião vai acontecer logo cedo numa cidade ainda distante 200 quilômetros. Lá se vai um ótimo investimento, até porque todas as ações de campanha, inclusive essas reuniões, custam dinheiro. Também é possível imaginar um candidato que não é informado sobre os nomes que ele deve valorizar nos discursos daqueles que ele nem pode fazer qualquer referência. Ou um candidato que não consegue dar entrevista aos veículos de comunicação local porque não teve um assessoramento eficaz que pediu espaço e “ofereceu” o candidato para entrevistas.
Enfim, a principal arma de candidatos competitivos a uma das 17 vagas de deputado federal é a estrutura de campanha. E ter uma ótima estrutura custa caríssimo. Mas quanto maior é a vivência política do candidato, menor é a necessidade de dinheiro para montar a estrutura necessária. Quanto mais curta for essa vida política, mais dinheiro vai precisar ser gasto. O duro é que alguns conseguem gastar quantidades fabulosas, e ainda assim perdem feio.