Novo centro de pesquisa possibilitará estudo para medicamento contra Covid-19

30 agosto 2020 às 00h00

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“Me dá muito orgulho de atingir uma coisa tão sonhada. É gratificante – mais que isso: é uma possibilidade de dar de volta à universidade o que colhi nos últimos 30 anos de docência”, afirma Eliana Martins Lima

Um dos maiores centros de pesquisa do Brasil acaba de ser instalado no Câmpus Samambaia, da Universidade Federal de Goiás. O LIFE – laboratórios integrados para inovação em ciências farmacêuticas – é um complexo de grupos de desenvolvimento de novas tecnologias que contribuirá para a produção científica e elaboração de produtos que auxiliem a sociedade.
Com 2.300 metros quadrados, o novo parque tecnológico não é um projeto realizado pela universidade, como usualmente acontece, mas foi idealizado em função do histórico de pesquisa da professora da Faculdade de Farmácia da UFG e diretora do FarmaTec, Eliana Martins Lima. “É uma questão bem singular porque um pesquisador nunca trouxe uma infraestrutura deste tamanho para a universidade; geralmente é o contrário. É uma felicidade, uma satisfação muito grande retribuir 30 anos de docente pesquisadora com um prédio extraordinário para os colegas que colaboram conosco e para os que vierem depois”.
A pesquisa de Eliana Martins Lima já foi abordada pelo Jornal Opção, e tem como foco o desenvolvimento de novos fármacos com nanotecnologia. Entretanto, a pesquisadora afirma que as antigas condições de trabalho ainda deixavam a desejar no quesito do controle das variáveis envolvidas na realização das pesquisas. “Nossa proposta é chegar à aplicação das pesquisas em estudos clínicos. Para isso, dependemos de condições muito controladas – inclusive administrando ambientes estéreis – e hoje temos plenas condições de fazer qualquer pesquisa”.

Outro objetivo anteriormente impedido, mas que foi superado pela nova estrutura é a colaboração com a indústria farmacêutica. “Desenhamos uma área específica para essa indústria vir aqui e desenvolver produtos com nossa colaboração de forma segregada do restante dos laboratórios. Esta é uma atividade que demanda muito sigilo por conta da propriedade intelectual. Conseguiremos dar acesso à pessoas de forma adequada para evitar troca de material, contaminação e garantir a segurança dos produtos e da informação”, diz Eliana Martins Lima.
Ações do FarmaTec
O FarmaTec tem atuado durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) no desenvolvimento de novos medicamentos que podem combater o vírus de uma forma inovadora. Enquanto a maioria dos esforços da área farmacêutica se dão no sentido de reposicionar fármacos que já funcionam para outros vírus – isto é, tentar investigar efeitos de substâncias já conhecidas e aprovadas para avaliar se podem ser úteis contra a Covid-19 – a nanotecnologia pode contribuir de uma forma diferente.
O projeto aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) visa construir em escala nanométrica um sistema que simula uma célula humana, mimetizando o ambiente biológico. Esta célula sintética pela qual o vírus terá afinidade será contaminada pelo vírus, que perderá sua capacidade infectante de se replicar para novas células do corpo. “Será uma abordagem inovadora e a forma com que chegaremos a essa pequena estrutura biomimética será inovadora”, afirma a coordenadora do projeto.

Este pode ser apenas o início, segundo a pesquisadora. Caso o princípio se mostre eficaz, um desdobramento muito grande pode acontecer. “O sucesso da abordagem trará perspectiva positiva para doenças cujo mecanismo seja baseado em infecção de células por agentes estranhos. A ideia de mimetizar o alvo poderá ser aplicada de forma semelhante para diversas outras doenças”, afirma Eliana Martins Lima.
A pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, desenvolvida nos laboratórios FarmaTec, utiliza a nanotecnologia para obter a formulação. Isso quer dizer que a partícula foi construída em escala atômica e molecular. O composto – de fórmula confidencial até que seu patenteamento esteja completo – reúne centenas de moléculas e tem tamanho na ordem de dez a cem nanômetros. Cada nanômetro é um milhão de vezes menor que o milímetro, ou um bilhão de vezes menor que o metro.

“A pandemia nos fez enxergar que nós, cientistas, precisamos aplicar nosso conhecimento como forma de retribuição ao investimento da sociedade. Uma coisa que a pandemia mudou foi nossa rotina e, apesar de existir muita dificuldade, usamos toda nossa capacidade para responder aos desafios impostos pelo novo vírus”, afirma Eliana Martins Lima. Ao todo, o FarmaTec já fez cerca de 200 desenvolvimentos ao longo dos anos, entre medicamentos e cosméticos.
Nos últimos 25 anos, o FarmaTec investiu no desenvolvimento de nanopartículas para aumentar biodisponibilidade, formulação de fármacos, e outros. “Aumentamos a sofisticação e complexidade das nanopartículas, que ganharam novas funcionalidades, como não só liberar o conteúdo da molécula no local desejado, mas também encontrar alvo da doença. A medida que a patologia da Covid-19 foi sendo elucidada e os esforços para produção de medicamentos não surtiram o resultado esperado, nossa proposta foi usar nossa experiência para elaborar estruturas com uma nova proposta”, afirma Eliana Martins Lima.

Dedicação exclusiva
Eliana Martins Lima lembra ainda que a pesquisa feita dentro da universidade prescinde do trabalho dos pós-graduandos: “Os bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado serão orientados por mim e a pesquisa deles será a base do desenvolvimento desses produtos a que pretendemos chegar. Isso tem investimento imprescindível dos alunos de doutorado e bolsistas de pós-doutorado, que estão inteiramente dedicados a sua pesquisa”.