Na cidade de Anhanguera, candidatos percorrem as 14 ruas da cidade fazendo visitas de casa em casa, gastando sola de sapato e muito cafezinho para conquistar o eleitorado

Bater de porta em porta e gastar sola de sapato. Essas são as principais estratégias de campanha na menor cidade goiana. Anhanguera fica a 214 quilômetros de Goiânia e ainda conserva o modelo “clássico” de pedir votos: visita para um café e entregas de santinhos.

Os 1.153 votos dos eleitores anhanguerinos são disputados por dois candidatos a prefeito e 25 postulantes que concorrem a nove vagas para vereador. Quando se fala que é preciso gastar sola de sapato para fazer campanha na cidade há um pouco de exagero. A cidade conta apenas 14 ruas por onde se distribuem as casas de 1.126 moradores. No ranking dos menores municípios do Brasil, Anhanguera está em 4ª lugar, tanto em área (44km²) como em população.

Essa característica de cidade pacata do interior de Goiás sofre poucas mudanças quando chega de campanha eleitoral. Tirando algumas bandeiras postas na porta de algumas casas e poucas carreatas, o município só se agita mesmo é no dia da eleição, quando recebe cerca de 300 eleitores que vem de outras cidades para cumprir o dever do voto.

Mas essa tranquilidade não significa que não haja disputa pela preferência do eleitor. Na cidade um voto pode decidir o resultado, por isso a campanha, mesmo que serena, não deixa de ser acirrada.

Candidato a vereador em Anhanguera, Rafael da Lia | Foto: Arquivo pessoal

Raphael Netto, conhecido na cidade como Rafael da Lia, é um dos candidatos a vereadores. Na última semana ele concluiu a parte mais importante de sua campanha: visitou todas as casas de Anhanguera. “A gente chega e bate no portão. Conversa um pouco e logo chamam para entrar e tomar um café. Aí já peço o voto e deixo meu santinho. É assim com todos os candidatos. Aqui todo mundo conhece todo mundo. É comum receber essas visitas”, conta.

Essa é a primeira vez que Rafael da Lia é candidato na cidade. Mas ele ele vem de família de político – tem um irmão que já é vereador. O nome escolhido por ele para campanha remete a sua mãe, Dona Lia foi bem conhecida na cidade e lembra-la ajuda a conquistar votos. “Aqui quem num é parente é amigo. Muitas vezes é preciso até calcular e dividir os votos para eleger quem é da família”, conta.

Rafael da Lia calcula que para se eleger vereador será preciso alcançar o mínimo de 60 votos. “Parece pouco, mas quando se fala em 1.153 votos em uma cidade que todos são conhecidos é difícil de chegar lá. É uma briga voto a voto”, avalia. “A cidade é pequena, mas a campanha é trabalhosa. Já fazem dias que não como em casa, porque são tantas as visitas para pedir voto e em todo lugar que chego tem café e pão de queijo”, brinca.

A campanha para quem concorre a prefeitura da cidade é muito parecida com a de vereador. Reginaldo Araújo (PSC) trabalha para se eleger prefeito de Anhanguera. Sua agenda de campanha é dominada por compromissos de visita aos moradores da cidade. “É uma campanha feita no boca a boca e olho no olho. A gente sai na rua e conhece todo mundo, sabe quem vota e quem não vota. Sabemos até quem são os eleitores que vem de outra cidade para votar”, conta.

Reginaldo Araújo, candidato a Prefeito de Anhanguera | Foto: reprodução

Reginaldo é prata da casa. Nascido e criado em Anhanguera, ele é comerciante na cidade e já foi vereador três vezes – em um dos mandatos chegou a presidência da Casa. Ele também já foi candidato a vice-prefeito, e neste ano é a primeira vez que ele tenta se eleger prefeito. “A campanha aqui é barata. Não se gasta muito. O que dedicamos mais é nosso tempo para ir conversar com os eleitores, levar os santinhos e falar das propostas para cidade”, observa.

Sobre a preferência do eleitorado anhanguerino Reginaldo diz que tudo é medido nas conversas nas ruas. “As pesquisas aqui são assim, a gente sai e fala com todo mundo e vai sentindo quem está com mais vantagem. Esse ano que acho que tá pau a pau”, acredita.

Mais eleitores que moradores

Assim como a cidade de Anhanguera, outras 57 cidades goianas têm mais eleitores do que habitantes. A informação é resultado de um cruzamento de dados do IBGE e do TSE.

Araçu, cidade que fica a 57 quilômetros da capital, é exemplo dessa situação. Segundo o levantamento do IBGE há no Município 3.785 habitantes, no entanto são 4.512 eleitores que tem a cidade como domicílio eleitoral.

Isso ocorre porque muitos pessoas que viveram na cidade acabam se mudando e não fazem a transferência de seus títulos para o novo domicílio. Em alguns casos a pessoa tem forte ligação com a cidade de origem e usa o dia da eleição como uma oportunidade de visitar os familiares e amigos.

Cidades de um candidato

Em Goiás há quatro cidades que terão uma eleição bem confortável para prefeito. Isso porque apenas um candidato se registrou para disputa. As cidades são Araçu, Davinópolis, Panamá e Mairipotaba.

De acordo com a legislação eleitoral, mesmo havendo apenas um candidato é preciso que a eleição seja realizada. O resultado também não está condicionado a um percentual de comparecimento às urnas. Caso ninguém ou somente o próprio candidato votar, será preciso organizar uma nova eleição nestas cidades de candidato único.