Uma homenagem a todas as vítimas que não conseguiram vencer o vírus e passaram a fazer parte da estatística trágica que se prolonga e se prolongará

Por acaso sou eu quem escreve estas linhas. Mas poderia ser você. Cada um de nós tem uma história particular com a pandemia. Dados oficiais à parte e reais em foco, no Brasil, já são certamente mais de meio milhão de mortos por ela.

O grau de anomia em que nos encontramos, porém, faz considerarmos apenas os números “oficiais” e nos esquecermos da alta subnotificação. Muito mais gente perdeu a vida para o vírus, direta ou indiretamente, sem que essa causa nunca vá constar em seus laudos. Por exemplo, quem morreu em casa, de outra doença, porque faltava leito no hospital, também foi atingido pelos longos tentáculos que o coronavírus conseguiu abrir por aqui.

Os brasileiros que ainda não choraram a morte de alguém vencido pela Covid-19, anônimo ou pessoa pública, ou estão isolados ou têm um sério problema de empatia. À exceção desses, os demais podem fazer uma lista das pessoas queridas, próximas ou famosas, que fizeram parte da própria história, de alguma forma.

Este texto é uma forma de homenagem, a partir de um ponto de vista de comoção pessoal por pessoas próximas ou públicas, a todas as vítimas que não conseguiram driblar o vírus e passaram a fazer parte da estatística trágica que se prolonga, enquanto as vacinas estão escassas e os governantes batem cabeça em relação às demais medidas sanitárias. Este texto é meu. Mas cada um tem o seu.

O humorista que nos fez melhores pelo riso

Paulo Gustavo, ator e humorista, 42 anos

Dona Hermínia entrava na casa de todo mundo com a facilidade que qualquer mãezona transita pela casa de seus filhos. A rabugice era proporcional ao tamanho do coração. Foi assim que Paulo Gustavo levou dos palcos de teatro para as telas de cinema – no maior sucesso recente do audiovisual brasileiro – sua genialidade de criação, interpretação e humor. Uma receita simples, mas muito bem trabalhada. Tanto que eu, muito pouco chegado a comédia brasileira no cinema, me rendi às risadas com a mãe estressada e superresolvida.

Desde 2015, Paulo Gustavo era casado com o médico Thales Bretas, com quem teve dois filhos, Gael e Romeu, ambos hoje com 1 ano e meio. Ainda há quem se retorça com a informação do período anterior, mas conhecer o ator, ainda que pela telinha, foi certamente a maior oportunidade para qualquer homofóbico rever seu ódio e perder seu preconceito. Seu valor naquilo que fazia pode ser aferido ao ver alguns dos maiores humoristas de sua geração – Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Tatá Werneck, entre outros – fazerem exatamente o mesmo comentário: “Era o sujeito mais engraçado que eu conheci na vida”.

Paulo Gustavo com os filhos Gael e Romeu | Foto: Reprodução

Como o próprio mesmo disse, “rir é um ato de resistência”. Muito mais no Brasil atual, sem rumo e sem vacina. Aliás, a pandemia era algo que inquietava Paulo Gustavo. Em sua última entrevista, em dezembro, para divulgar o especial de fim de ano “220 Volts”, a ser exibido pela Rede Globo, ele expôs como foi ter gravado em meio ao temor da contaminação: “A gente ficou com medo. É uma loucura gravar no meio da pandemia, aquele protocolo todo, várias pessoas no estúdio. Quando a gente entra no estúdio, tirando a gente, ator, que entra com figurino e maquiagem e tira a máscara para contracenar, parece está numa sala de cirurgia, todo o mundo coberto. Dá medo de pegar o coronavírus, mas foi legal, a gente amou fazer, a gente se divertiu muito.”

Exatos dez dias antes de ser internado, o comediante publicou em 3 de março um desabafo nas redes sociais em que reuniu várias capturas de tela (“printscreen”, ou simplesmente “prints”) sobre a gravidade da pandemia no Brasil naquele momento. E clamou: “Cadê a vacina, meu Deus? Se liga na aglomeração, gente! Sair de casa apenas quem precisa trabalhar!”

Ao ser contaminado, mesmo com todos os cuidados, Paulo Gustavo tinha asma, mas apenas isso não levaria a um quadro de tal gravidade como o que sofreu, a ponto de seus pulmões entrarem em falência e necessitar de um pulmão artificial, com a tecnologia Ecmo (sigla para extracorporeal membrane oxygenation ou, em português, oxigenação extracorpórea por membrana).

Jovem, rico, famoso, carismático, querido, no auge da carreira. Por tudo isso, a morte de Paulo Gustavo foi com certeza a que mais comoveu a coletividade dos brasileiros em toda a pandemia. O carinho foi demonstrado com um “aplaudaço” no Rio, onde morava. O Brasil já tão triste, perdeu o que restava de graça.

O homem que sempre estava disposto a se doar

José Ribamar, policial militar reformado, 72 anos

Se todo PM fosse como o “Tio” Ribamar, o Brasil seria uma imensa Londres cantada por Caetano Veloso, aquela em que as pessoas se aproximam do policial e este fica feliz em poder ajudá-las (“a group approach the policeman / he seems so pleased to please them…”). A disciplina e o entendimento do real ofício que exercia o fez começar a carreira como soldado e ser reformado como major.

Uma pessoa discreta, de poucas palavras, mas palavras essenciais. Mais: um ser humano essencial – como ouvi de um conhecido dele, da mesma paróquia em que servia como ministro da Eucaristia. Ainda novo, tornou-se o homem da casa, com a morte do pai, ajudando a mãe no cuidar das irmãs.

José Ribamar Rodrigues: dedicação total à família e a quem precisasse de sua ajuda | Foto: Reprodução

O “tio” entre aspas é porque Ribamar não foi meu parente de sangue. Mas era como se fosse, ainda mais tendo a “Tia” Feliciana como par. Famílias vizinhas, filhos amigos desde pequenos no Itatiaia. Elder, Alessandro, Euler, José Marcelo, Erlon.

O primeiro grande trauma de nossas vidas foi quando o Marcelinho perdeu a vida em um acidente, aos 9 anos. Dois anos depois, eles levaram para casa o Renato, um bebê que ficou para adoção no Hospital Santa Genoveva, onde Feliciana trabalhava. Uma criança com problemas cardíacos, autismo e síndrome de Down, quem adotaria? Renato teve Covid agora, como o pai, e como um milagre que é desde que nasceu, resistiu.

No fusquinha do tio Ribamar proclamamos a independência juvenil para baladas mais longínquas (quando esse nem se chamava balada). Quando o casal Ribamar e Feliciana se mudou para a cidade de Goiás – ele havia sido transferido para servir ao batalhão local da Polícia Militar –, a casa virou nossa pousada e Vila Boa nosso passeio principal. Sem contar a experiência se ficarmos hospedados, como grupo de jovens, no quartel da PM. Quarenta garotos e garotas, grande parte ainda menor de idade, viajando para uma Semana Santa única. Era a confiança das famílias na família Rodrigues.

Quando perdeu Feliciana, Ribamar assumiu plenamente a criação do pequeno Renato. E se tornou ainda mais dedicado ao próximo, principalmente pelo serviço na Igreja. Gestos pontuais, tão solidários quanto escondidos, como durante a vida toda, em que ajudou muita gente da forma verdadeiramente evangélica – sem que a mão esquerda soubesse o que fazia a direita. Encontrou um novo amor, Lúcia, que o acompanhou até os últimos dias.

Ribamar respeitou como poucos o isolamento, mas precisava sair para coisas essenciais, como o tratamento do filho Renato. Acabou contraiu Covid no início de abril. Relutou a procurar tratamento rápido, teve de ser internado e, com um problema preexistente em um dos pulmões, foi um homem sério, disciplinado, solidário, mas acima de tudo um homem bom. Boníssimo. Coração sem tamanho. A covid nos tirou esse grande ser humano.

Inquietude e vontade de mudar o mundo

Robson Filene, jornalista, 52 anos

Se fosse para descrever em uma palavra, Robson Filene de Oliveira era um sujeito idealista. Eu o conheci “desde sempre”, já que nossas famílias foram pioneiras da Vila Itatiaia, no fim da década de 70. Ele, uns quatro ou cinco anos mais velho do que eu, já adolescente, montou o primeiro time de futebol uniformizado da nossa rua, a R-39 – embora ele morasse na rua ao lado. Era com a camisa do Vasco da Gama, seu time do coração – carioca que era – ao lado do Goiás.

Aliás, o Batata, apelido pelo qual sempre foi conhecido, era muito bom de bola: chegou a jogar nas categorias de base do Verdão quando quem estava lá, também moleque, era Túlio Maravilha (ambos nasceram em 1969). Lá também treinava um grande amigo de colégio que morreria prematuramente: Murilo, que anos depois, já acadêmico de Medicina, integrava a equipe médica do clube quando teve um acidente rodoviário fatal.

Robson Filene: um “bon vivant” de família | Foto: Reprodução

Inquieto, Robson foi uma das grandes lideranças do Colégio de Aplicação, onde estudei a maior parte da vida escolar: foi um dos fundadores do grêmio estudantil (os grêmios foram abolidos durante o regime militar) e criador, com o colega e amigo Carlos Stival Neto, do Cajuína – que, além de nome de música de Caetano Veloso, era a sigla para o festival Canções Juvenis Interpretadas no Aplicação.

Ele se formou em Jornalismo no ano em que entrei na mesma faculdade. Décadas depois nos reencontramos noutra arena: a da política eleitoral. Em 2016, fomos candidatos a vereador e disputamos votos dos moradores da Vila Itatiaia. Quatro anos depois, em plena pandemia, eu fui novamente candidato e Robson ofereceu apoio, sem pedir nada para si. A última vez que nos vimos foi ao descer da caminhonete do Seu Leônidas, após a carreata de fim de campanha. Dividimos a carroceria, eu fazendo o papel de candidato mascarado que acena para as pessoas ele como locutor pedindo votos para mim.

Em março, dias depois de seu aniversário, um amigo em comum, Luiz Fernando, me contou que Robson estava internado com Covid-19. E na UTI. O quadro preocupou todos os amigos. Na semana seguinte, quando estava melhorando, sofreu uma embolia pulmonar e não resistiu. Abalada com a notícia, a mãe, dona Ilma, morreu dois dias depois.

Uma das últimas coisas que soube dele (por parte dele mesmo) foi a respeito de seu sobrenome um tanto original: “Filene”, na verdade, era uma espécie de corruptela de Filenir, nome de seu pai. Seria, então, um nome composto, mas que acabou virando sobrenome, já que o colocou em seus filhos Flávia, Bruno e Pedro. Robson Filene, o Batata, conseguia, ao mesmo tempo, ser um bon vivant e um sujeito bem família.

O cara que podia ser seu melhor amigo

Rodrigo Rodrigues, músico, jornalista e escritor, 45 anos

Têm pessoas que se tornam amigas ou “da família” mesmo à distância. Mais: mesmo que nunca saibam dessa amizade ou que são desta família. É algo que as tecnologias nos proporcionaram desde o século passado, seja pelo rádio, pela TV ou pelas redes sociais. O apresentador Rodrigo Rodrigues cativava pelo modo despojado e espontâneo com que conduzia entrevistas e programas de debates esportivos.

Rodrigo Rodrigues, tocando com a banda Soundtrackers vestindo o indefectível casaco vermelho de Marty McFly (De Volta Pro Futuro) | Foto: Reprodução

Mas apresentadores são muitos, a maioria competente e cativante. Só que com alguns temos mais pontos em comum: a paixão pela música que tinha RR (como era chamado pelos amigos) pela música e a proximidade da idade me trazia para gostos e linguagem bem próximos. A identificação era aquela do tipo que ocorre quando você acha que, se algum dia topar pela frente com a pessoa, vai passar a noite contando histórias diversas. A chamada boa “resenha” – não por acaso, durante anos ele conduziu, ainda na ESPN Brasil, um programa exatamente com esse nome, num bate-papo descontraído com ex-jogadores.

Cuidadoso, Rodrigo Rodrigues se testou para Covid ao saber que um colega com quem havia se encontrado tinha positivado. Ao saber o resultado, imediatamente comunicou seu afastamento da bancada do Sportv. Sentiu sintomas leves durante dias, até que, em 25 de julho de 2020, sentiu uma avalanche: forte dor de cabeça, tontura, desorientação. Era uma trombose cerebral, um dos efeitos traiçoeiros da doença. Em três dias, a vida lhe esvaía.

Rodrigo Rodrigues foi músico, jornalista e escritor – vários livros, sobre música e viagens. Teve a banda Soundtrackers, na qual ele e os companheiros tocavam trilhas sonoras de filmes dos anos 80. Uma das roupas preferidas para as apresentações era o casaco vermelho de Marty McFly, o garoto protagonista da trilogia “De Volta Pro Futuro”.

Como sintetizou seu amigo Mauro Betting, comentarista esportivo: “Jajá ele volta tocando o programa. Tocando guitarra. Tocando quem o conhece e o ama. Tocando quem não o conhece e também o ama. Tocando a gente por ser exatamente tudo isso. O RR é muito gente.”

Trajetória dedicada aos povos indígenas

Maria do Socorro Pimentel, professora, 73 anos

Era 2002 e eu estava querendo retomar a vida de aluno, com um projeto para o mestrado debaixo do braço. Não havia ainda pós-graduação em Comunicação na UFG, então eu procurava encaixar uma pesquisa na Faculdade de Letras, mas estava totalmente perdido. Sabia que teria de ser na área de Estudos Linguísticos, mas não fazia ideia de quem poderia me orientar, literal e academicamente. Olhando na lista de docentes, me pareceu adequado procurar a professora Maria do Socorro Pimentel. Gentilmente ela me recebeu e viu que meu trabalho sobre discurso esportivo nada tinha a ver com a praia dela, que trabalhava com a questão indígena. Minha tribo era outra, a de Foucault e Pechêux, e ela me recomendou a procurar a professora Kátia Menezes.

Maria do Socorro Pimentel: vida acadêmica dedicada aos povos indígenas | Foto: Reprodução

Fui muito feliz em meu trabalho e com minha orientadora, mas não esqueci a atenção e generosidade que aquela professora me dedicou naqueles minutos. Nossos caminhos se cruzaram anos depois, quando fui trabalhar como secretário do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Socorro participou de diversas bancas de qualificação e de defesa de alunos. Sempre muito solicitada, porque, como sempre, muito generosa.

Especialmente e cada vez mais dedicada à causa da educação indígena, mesmo já aposentada ela entrou de corpo e alma no projeto do Núcleo Takinahakỹ, espaço referência na universidade para a Licenciatura Intercultural, onde alunos das mais diversas aldeias se graduam para voltar às origens capacitados para repassar seu conhecimento.

Mais do que uma professora, foi uma ativista que lutou pelos direitos dos povos ancestrais até o fim da vida. Teve, em retribuição, seus alunos cantando e orando em um ritual de cura, quando foi internada com Covid-19. Na segunda-feira, 3, depois de quase um mês internada, a professora fez sua travessia, como descreveu lindamente o pajé Kaxiwera Karajá:

“Ela estava indo em direção ao Grande Lago Sagrado (…) ainda faltava um pouco, mas ela estava virada de costas para nós, caminhava em direção ao lago, muito muito atenta à beleza daquelas águas límpidas. Ela fez sua travessia. Agora, encontra-se do outro lado, acenando para nós, sorrindo e nos enviando amor e carinho. E dizendo para seguirmos adiante com sua obra, com seu legado.”

O negro que tinha perólas no sorriso

Eugenilton Nascimento, representante, 50 anos

Eu era um adolescente de 16 anos quando encontrei o Eugenilton. Era um famoso encontro de jovens católicos, o Eureka, promovido no espaço do Colégio Agostiniano. Durante um fim de semana, grupos de jovens de várias partes da cidade participavam, cada qual com uma dupla – um rapaz e uma moça. Na primeira noite, na bagunça do quarto, em meio a uma grande maioria de moleques brancos, o Eugenilton virou o “Pérola Negra”.

Era uma zoação, mas também um óbvio bullying, bem anos 90 mesmo, para assinalar que aquele sujeito alegre e divertido era diferente da maioria que ali estava. E Eugenilton levou tudo aquilo numa boa, com um humor invencível. Durante o encontro, descobrimos que o negro era, na verdade, um dos líderes da organização. Ao fim dos três dias de retiro, ele havia se tornado uma das figuras mais queridas entre nós.

Eugenilton Nascimento: trajetória sempre cercada de amigos

Participei de mais alguns Eurekas, então ajudando na faxina e na cozinha, e percebi como Eugenilton tinha uma disposição do tamanho de seu coração. Também com a mesma disposição participou, a convite de nosso grupo de jovens, de retiros e estudos que promovíamos.

Depois, passou o período de juventude e Eugenilton sumiu. Até que o Facebook promoveu um reencontro, mas daquele jeito: aceitar a amizade, ficar contente por aquele vínculo mínimo e seguir. Vi que ele tinha se tornado representante comercial e tinha então duas filhas médicas. O “Pérola Negra” estava de bem com a vida, de família formada e com o grande círculo de amigos que merecia ter.

Em agosto do ano passado, a Covid cortou sua trajetória. Eugenilton havia se tornado um ardoroso defensor do atual presidente e de algumas de suas bandeiras, como o tratamento precoce, algo que passou a compartilhar nas redes. Não se sabe até que ponto isso interferiu no desfecho infeliz, e é só o desfecho infeliz que importa agora: perdemos um homem de grande coração para o vírus.

A falta que faz o mais político dos políticos de Goiás

Maguito Vilela, prefeito eleito de Goiânia, 71 anos

O grande nome da história do MDB em Goiás é Iris Rezende. Mas o grande político, do partido e do Estado, sempre foi Maguito Vilela. Pouquíssimos nomes da democracia nacional souberam negociar tão bem e com gente de um espectro ideológico tão variado quanto ele.

Maguito poderia ter sido ainda maior do que se tornou. Em 1998, quando governador, abriu mão de uma provável reeleição para que Iris retomasse o governo, no que contavam como uma vitória certa. Talvez, fosse Maguito o candidato, não haveria o crescimento de um Marconi Perillo como fator-surpresa.

Maguito Vilela, trabalhando em sua fazenda: foto-homenagem postada pelo filho Daniel Vilela | Foto: Reprodução

Sempre com seu estilo sóbrio e discreto, Maguito fez história tanto como parlamentar como homem de governo. Neste particular, uma cidade em especial se dividiu em duas: a complexa Aparecida de Goiânia deve a ele o que se tornou hoje – uma cidade tão mais industrializada como unificada, coesa, com planejamento e projeto.

Por isso, era grande a expectativa por uma eventual eleição do ex-prefeito da cidade vizinha para dirigir os destinos da capital. Por isso, tantos goianos, como eu, apostaram tudo na recuperação de Maguito quando ele estava intubado e em estado muito grave na UTI de um dos melhores hospitais do País.

Em agosto, antes de ele mesmo ficar doente, Maguito já havia perdido duas irmãs para a Covid-19, no espaço de semanas. Foi às ruas, para fazer uma campanha de risco, menos eleitoral que sanitário, e se contaminou. Mesmo hospitalizado, a população de Goiânia continuava, a cada pesquisa, deixando bem claro que era ele quem o escolhido como próximo prefeito. E assim aconteceu.

Nunca será possível saber exatamente qual teria sido o destino de Goiânia com Maguito como prefeito. O que se pode inferir é que haveria um potencial considerável, com um gestor experiente e com extremo tato político para superar os tempos atuais tão difíceis.

Mais do que isso, a morte de um político, talvez mais do que qualquer outra pessoa pública, acaba sendo mais cruel com a família. Imagine quando o filho é também político e presidente do partido. Daniel Vilela chegou a ser acusado – de uma forma enviesada, mas foi isso – de manipular o estado de saúde do pai para favorecimento político. As pessoas (especialmente adversários) veem o que querem ver e, por isso, talvez não enxerguem nada mais do que interesse eleitoral em uma relação em que a questão política é só coadjuvante entre tantos afetos.

A foto que ilustra esta matéria é especial por ter sido escolhida para homenagear o pai e, principalmente, por mostrar que mesmo os políticos têm outro lado, longe do poder e dos discursos. Ninguém nasceu de terno.