O caso controverso foi revelado pelo Jornal Opção em dezembro do ano passado

Mesmo após repercussão do caso, há reclamações de não ter havido resposta por parte da Unimed / Foto: Fábio Costa

Quase um mês após a publicação da reportagem do Jornal Opção sobre a polêmica envolvendo a Unimed e o Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia, o Ingoh, em que médicos hematologistas foram à Justiça exigir a disponibilização por parte da operadora de planos de saúde das faturas e auditorias apresentadas pelo instituto, alguns dos profissionais ainda se queixam de não terem recebido qualquer resposta da cooperativa médica.

A ação judicial de Produção Antecipada de Provas data de maio de 2019 e, atualmente, encontra-se suspensa. No processo, 20 médicos hematologistas pedem a entrega de todas as faturas e auditorias apresentadas à Unimed pela empresa Ingoh nos últimos cinco anos. O pedido é feito baseado na suspeita levantada de que a Unimed estaria privilegiando o Ingoh com a aprovação irregular de contas sem qualquer auditoria, o que, conforme os médicos, teria gerado superfaturamento de materiais de consumo e aprovação de exames de maneira anômala e sem qualquer verificação, além de tratamento desigual ao instituto em relação às demais clínicas credenciadas.

De acordo com um dos médicos hematologistas que ingressaram com a ação, não houve qualquer resposta da Unimed ou disponibilização das contas e auditorias solicitadas até o momento. “Não tivemos nenhuma resposta da Unimed, não veio nenhum documento, nenhuma explicação oficial, nada”, conta.

Segundo ele, o grupo de médicos denunciou alguns dos casos que foram levantados por eles e anexados na ação judicial. Entre as situações citadas no processo na Justiça está, como exemplo, a apontada aprovação por parte da Unimed de repetidos exames de biópsia de medula óssea alegadamente realizados para um único paciente no mês de setembro de 2018. Uma vez que o exame gera um ato de coleta de material, a agulha de mielograma, usada para aspiração da medula óssea, teria sido trocada pela agulha de biópsia óssea.

Fachada do Ingoh, em Goiânia / Foto: Fábio Costa

No processo, os profissionais da medicina argumentam que a substituição teria provocado um superfaturamento, cujo valor gira em torno de R$ 320 por cada unidade de agulha utilizada. Ao invés de ser repassado para os médicos responsáveis pelo procedimento, o pagamento era feito para o Ingoh e somava-se à quitação dos demais materiais necessários para a realização do exame, como consta na denúncia.

Uma outra médica hematologista, que está entre os 20 médicos autores da ação, não quis comentar o caso que se desenrola na Justiça, mas adiantou que “não possui nenhuma desavença com a Unimed”.

A Unimed foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento desta matéria, não enviou retorno à solicitação de esclarecimento. Na época da publicação da primeira reportagem sobre o caso, em dezembro do ano passado, a cooperativa médica, na figura do Conselho de Administração, admitiu ter sido notificada extrajudicialmente por “alguns médicos cooperados solicitando providências no sentido de averiguar a existência de possíveis irregularidades concernentes à auditoria das contas e faturas relacionadas aos prestadores de serviços de hemoterapia e afins”.

Ela também informou que prontamente o Conselho de Administração “decidiu instaurar a abertura de uma sindicância interna por meio de um procedimento administrativo, que teve a coordenação do Conselho Fiscal (órgão social eleito para esse fim, reconhecido e determinado por lei), com a participação do coordenador do Conselho de Especialidades, de duas médicas hematologistas e de membros da Diretoria, dando transparência e maior celeridade em todos os trâmites necessários”. E finaliza com a afirmação de que, no que concerne à conclusão dos trabalhos, “a comissão não identificou nenhuma irregularidade”.