Com o tecido certo, uma máquina de costura e força de vontade, os afetados pela crise do coronavírus veem a possibilidade de conseguir um dinheiro extra

Costureira há 20 anos, Kátia Regina viu na pandemia uma oportunidade de confeccionar e vender máscaras | Foto: Maria Mariana

Sempre foi comum observar nos noticiários, nas reportagens feitas em países como a China, um grande fluxo nos centros urbanos de pessoas que usam máscaras nas ruas. O fato podia ser explicado pelo altíssimo índice de poluição atmosférica em algumas localidades. Para se ter uma ideia, em 2015 o governo de Pequim chegou a decretar “alerta vermelho” e restringiu atividades de fábricas e recomendou à população o uso das máscaras. Porém, os asiáticos, assim como os europeus e americanos – o que inclui os brasileiros, que estão ao sul da América -, passaram a usar essa proteção como forma de se prevenir contra uma ameaça ainda pior: o novo coronavírus. E como toda demanda possui sua oferta, ainda mais num contexto de aumento da informalidade, trabalhadores têm encontrado na confecção das máscaras uma forma de obter uma renda que contribua nesse período de crise.

A procura pelas máscaras de proteção teve um aumento massivo em Goiás desde que o governador Ronaldo Caiado (DEM) decretou o uso obrigatório do acessório de segurança para aqueles que precisarem sair de casa. A decisão foi embasada inclusive em um posicionamento do Ministério da Saúde, que emitiu a Nota Informativa nº 3/2020, na qual afirma que “pesquisas têm apontado que a utilização de máscaras caseiras impede a disseminação de gotículas expelidas do nariz ou da boca do usuário no ambiente, garantindo uma barreira física que vem auxiliando na mudança de comportamento da população e diminuição de casos [de contaminação pela Covid-19]”.

Muitas pessoas, principalmente aquelas que tiveram suas ocupações afetadas pela crise gerada pelo Sars-CoV-2 e as medidas de contenção do novo coronavírus, acabaram vendo nisso uma oportunidade de complementar a renda com a fabricação de máscaras caseiras para venda. É o caso, por exemplo, da costureira e modelista Kátia Regina, de 51 anos. Kátia costura há cerca de 20 anos e sempre pegou encomendas de roupas e lençóis para fazer. Com a obrigatoriedade do uso das máscaras, passou a confeccionar o item de proteção nas mais variadas estampas e modelos para comercializar. São máscaras brancas, pretas, xadrez, com estampa de cãezinhos, florais. Uma para cada gosto e tipo de pessoa.

Kátia afirma que não teve dificuldade para aprender a confeccionar as máscaras, uma vez que se tratava de algo já de sua área de ocupação. “Por conta da pandemia, eu via a necessidade que as pessoas tinham em utilizar máscara. Porém, não tinha mais máscara descartável pra vender. Então comecei a fabricar. Não precisei ver nenhum tutorial, fiz a partir do modelo da máscara descartável. Como eu sou modelista, consegui tirar o modelo”, descreve.

Kátia utilizou uma máscara cirúrgica como modelo para fabricar as suas | Foto: Ton Paulo/Jornal Opção

Cada máscara tem o valor de R$ 5. A costureira consegue vender cerca de 15 por semana. Entretanto, alguns fatores dificultam a comercialização do produto. A fabricação informal é um deles. “Em relação às vendas, é complicado por conta de nota fiscal. Tem lugares que não pegam para vender e não compram porque [a máscara] não tem nota fiscal. Então tem que ser de boca a boca, um amigo indica pra outro, compartilha nas redes sociais”, explica.

Outro ponto que acaba por ser um empecilho para a confecção das máscaras são as medidas restritivas do comércio impostas pelo governo estadual como forma de evitar a propagação do vírus causador da Covid-19. O último decreto, publicado no dia 20 de abril, chegou a flexibilizar alguns segmentos comerciais. Porém, só aqueles considerados atividades essenciais. “O comércio fechado dificultou na produção por conta dos materiais, porque quando falta alguma coisa não tem para onde correr para comprar”, revela Kátia.

A bombeira civil Mônica Valente, de 36 anos, é outra que viu na fabricação de máscaras uma forma de aumentar sua renda. Mônica conta que faz as máscaras, que também são personalizadas, há cerca de um mês, depois que viu nos noticiários que o governo havia recomendado o uso do item de proteção por parte da população.

Mônica relata que teve que assistir a um tutorial no YouTube para aprender a fazer as máscaras. Assim como Kátia, a bombeira aponta que o comércio fechado é um dos principais problemas na hora de comprar material para a confecção. Mônica usa um perfil no Instagram para a divulgação das máscaras, que são feitas numa confecção. “Dependendo da quantidade eu entrego, a pessoa busca na fábrica ou envio pelo correio”, explica.

A bombeira civil Mônica Valente, que normalmente atende ocorrências de risco, também entrou no negócio de máscaras | Foto: Arquivo pessoal

A bombeira civil também revela medo diante do cenário atual. Mônicae teme uma suposta negligência em relação à Covid-19. “Tenho medo de a população não estar nem aí com esse vírus e a política de Goiás também não.”

Máscaras caseiras devem seguir padrão recomendado pela Anvisa

Prevenir-se contra o coronavírus com o uso de máscara é uma das principais recomendações das autoridades sanitárias. Todavia, esses utensílios possuem padrões que devem ser rigorosamente atendidos.

De acordo com a Anvisa, a máscara deve ser feita nas medidas corretas para cobrir totalmente a boca e o nariz, sem deixar espaços nas laterais. Deve ser confeccionada com tecido confortável e adaptar-se bem ao rosto, para evitar sua recolocação toda hora. Para a confecção da máscara, são recomendados tecidos 100% algodão ou cotton. Também pode ser utilizado o “tecido não tecido” (TNT), feito de material sintético, desde que o fabricante garanta que o produto não causa alergia e seja adequado para uso humano.

Ainda conforme o órgão, devem ser evitados os materiais que possam irritar a pele, como poliéster puro e outros tecidos sintéticos. As máscaras podem ser feitas em casa, mas também podem ser adquiridas no comércio ou diretamente de artesãos. É importante lembrar que seu uso é por um período de poucas horas, em situações de saída da residência, e sempre com respeito ao distanciamento entre as pessoas. Além disso, não devem ser manipuladas enquanto a pessoa estiver na rua. Antes de serem retiradas, deve-se lavar as mãos.

É importante ressaltar que o uso de máscara de proteção não substitui, de forma alguma, os procedimentos de higienização. Segundo o médico infectologista Mateus Westin, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “o grande risco da recomendação do uso de máscara para a população em geral, mesmo para quem não apresenta sintomas da infecção, é as pessoas caírem na falsa sensação de segurança por estarem usando as máscaras e relaxarem com as medidas mais robustas, que vão impactar a cadeia de transmissão”.

De acordo com o especialista, “o isolamento social, a higienização frequente das mãos com água e sabão, ou álcool gel a 70%, evitar ao máximo tocar o rosto” são as principais medidas de prevenção contra o coronavírus. E, caso seja inevitável sair de casa, manter o distanciamento mínimo de dois metros de outras pessoas.