José Eliton começa com pé no acelerador
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A primeira semana como governador mostrou que o ex-vice-governador pretende manter o ritmo deixado como marca registrada de Marconi Perillo. Agenda diária de Eliton não teve “refresco”
Do ponto de vista meramente administrativo, o governo de José Eliton (PSDB) não precisará de muito mais do que manter as coisas mais ou menos como Marconi Perillo deixou. A máquina administrativa funciona praticamente sozinha, por força do hábito. Aqui e ali pode precisar de algum ajuste nos próximos nove meses, mas nada de grande monta. Já pelo lado político, José Eliton está coberto de razão ao assumir o governo como se estivesse numa dessas provas automobilísticas com troca de pilotos. Na sua estreia como governador, ele manteve o mesmo pique de viagens, encontros, inaugurações e contatos com a equipe de governo que marcou o comando de Marconi Perillo.
O mais curioso em José Eliton neste início é que ele aparentemente não sentiu o peso de assumir o governo. É como se fosse para ele algo bastante natural, quase corriqueiro. Claro que estava previsto desde sempre, mas ainda assim seria normal se ele tivesse passado uma semana e mais alguns dias para se adaptar ao fato de que a partir de agora suas ações e determinações são a última palavra dentro do governo estadual.
Motivação
Há razões práticas para José Eliton fazer o possível para manter o ritmo acelerado de Marconi Perillo? Claro que há. Na reta final do prazo de desincompatibilização, e diante do precoce processo de escolha dele como candidato à reeleição pela base aliada, surgiram senões aqui e ali. Marconi não se deixou contaminar pelas desconfianças, e acrescentou que ele apostava alto na capacidade do companheiro de se impôr administrativa e politicamente durante o exercício pleno do mandato de governador.
Será essa a causa da motivação para tamanho pique de imediato? Pode ser que sim, mas pessoas próximas de José Eliton garantem que esse ritmo é natural nele, juntamente com sua gentileza. Isso, no entanto, ressalvam os íntimos, não invalida a combatividade política. Parte dessa agressividade pode ser percebida nos últimos dois anos, quando ele chamou a responsabilidade para devolver as bolas quadradas alçadas na área governista pelo perigoso adversário Ronaldo Caiado. Na maior parte das vezes, foi ele quem topou o confronto de discurso contra o democrata, poupando assim o governador Marconi Perillo de sair da prática político-administrativa para mergulhar na discussão pré-eleitoral.
Essa característica de funcionalidade da dupla deve ser levemente alterada a partir de agora. Marconi, obviamente, será o grande elã a trabalhar pela manutenção da unidade dentro da base aliada, mas uma de suas características quando entra em ritmo eleitoral é não deixar provocações mais sérias desfechadas por opositores passar em branco. Porém, se o ataque mirar o Palácio das Esmeraldas e o seu novo inquilino, é provável que o próprio Eliton dispare os contratorpedeiros. Até porque não faz mais nenhum sentido preservar o administrador e esquecer o político que vai disputar a reeleição. Cada momento em seu momento, obviamente.
Mas qual é a perspectiva predominante dentro da base aliada de maneira geral? O que se ouve à voz balbuciada é uma certa esperança com uma dose de desconfiança. A esperança se origina no fato, reconhecido até pelos oposicionistas, embora não abertamente admitido, de que o governo conseguiu escapar dos piores momentos da brutal recessão econômica de 2015 e 2016, apesar dos desgastes provocados pela reacomodação dos gastos, e deslanchou nos dois últimos anos. E quanto mais a recessão ficar no retrovisor, melhor será. A desconfiança reside no fato de que Caiado é um adversário forte, e Daniel Vilela tem um perfil bom para se trabalhar na marquetagem de campanha, com sua juventude, boa aparência e certa experiência eleitoral — disputou e venceu três eleições seguidas: vereador em Goiânia, deputado estadual e deputado federal. Em outras palavras, nenhum dos dois, nem Caiado e nem Daniel, pode ser menosprezado.
O que não preocupa os pensamentos da alta cúpula pensante da base aliada são os resultados atuais das pesquisas. A base é uma especialista de primeiríssima qualidade em virar perspectivas reveladas por sondagens realizadas com alguma antecedência. Foi assim, de virada, que a base venceu em 1998, 2002, 2006 e 2010. Eliton pisa no acelerador para manter essa tradição.