Iris Rezende vai se aposentar?
03 maio 2014 às 12h51
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Muitos veem na renúncia à pré-candidatura do maior líder peemedebista como melancólico grand finale em sua carreira política
Um suicídio político simbólico. É assim que muitos interpretam a renúncia de Iris Rezende à pré-candidatura ao governo estadual. Nessa simbologia um tanto forçada, a atitude de Iris se aproximaria do ato final de Getúlio Vargas. Tem até carta — testamento de um, renúncia do outro.
Vargas cometeu o ato extremo, sem volta, ao dar um tiro no próprio peito, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Saiu da vida para entrar na história.
E Iris, saiu da disputa com Júnior Friboi para entrar na história? O lugar de Iris na história política de Goiás já está mais do que garantido. As supostas semelhanças entre um suicídio metafórico de Iris com o suicídio literal de Vargas acabam por aqui. A renúncia do grande timoneiro peemedebista foi apenas mais um episódio da ópera bufa de um partido de oposição que se vê irremediavelmente dividido e caminha de forma célere para perder mais uma eleição em Goiás.
Na verdade, Iris Rezende, um dos mais argutos políticos da história goiana, cometeu um erro de cálculo desta vez. O que ele fez agora já tinha feito em outras oportunidades: negacear candidatura para depois, na última hora, surgir como a solução natural, como o salvador da pátria peemedebista, sendo aclamado por seus correligionários.
Como maior liderança da legenda, as pesquisas sempre eram favoráveis a Iris Rezende. O que se repete, aliás. Nos levantamentos realizados até agora, ele é o único nome que ostenta índices a prefigurar disputa com o tucano Marconi Perillo. Como a pré-campanha de Júnior Friboi não deslanchou numa medida que inquestionavelmente o mostre competitivo, o PMDB estaria na velha situação de ir com Iris mesmo.
Dessa vez não deu certo — ou poderá dar certo ainda, como se lerá mais à frente. Os tempos são outros. Há cansaço de uma grande parte dos peemedebistas com seu líder maior. Muitos acreditam sim, que é preciso renovar, que é preciso novos nomes. Por isso, não vale — ou vale só até certo ponto — o argumento de que apenas os interesseiros estavam (e continuam) com o adversário interno de Iris .
Não se está dizendo aqui que não há interesseiros nessa história. Há sim, e muitos. Mas justiça se faça em reconhecer que há peemedebistas pró-Friboi fazendo o que julgam ser o certo para o partido. E o certo seria a renovação de nome, que no momento está em José Batista Júnior. Entre esses sinceros em acreditar na necessidade de renovação, pode-se citar assim de bate-pronto o ex-deputado Marcelo Melo e o deputado Pedro Chaves.
O maior erro de Iris, na verdade, foi exatamente não patrocinar a emergência de um nome novo em eleições passadas. Tivesse feito isso, agora ele não se veria forçado a renunciar a uma pré-candidatura sob pena de disputar uma convenção e perder.
Lá atrás, talvez há duas eleições, Iris abriu mão de coordenar o processo de renovação do PMDB. Estava confiado em que a história mais uma vez lhe seria favorável, como sempre foi, e que assim o processo continuaria em suas mãos, como uma dádiva dos céus, uma missão divina.
Os seguidores de Iris dizem que não é verdade que ele não tenha aberto oportunidade para sangue novo. Sim, claro que o prestígio político de Iris ensejou a possibilidade de gente nova se eleger. Lembremos rapidamente: Wagner Siqueira, Francisco Júnior, Agenor Mariano e até Thiago Peixoto. Mas faltou a ousadia de pegar um desses e bancá-lo numa candidatura majoritária.
Mesmo que esse novo nome perdesse, certamente que estaria pronto para a próxima eleição. Afinal, com os nomes velhos — Iris mesmo e Maguito Vilela — foram quatro derrotas em sequência, duas para cada um.
Como Iris não fez o que a história do PMDB lhe pedia que fizesse, um alienígena como Júnior Friboi chegou atropelando. Como antes Henrique Meirelles quis fazer e a força paralisante de Iris não deixou. Como quis fazer Vanderlan Cardoso, que logo percebeu que a sombra de Iris é por demais frondosa e impede qualquer nesga de sol que possa acalentar outro alguém.
A indagação neste momento é se Iris Rezende vai se aposentar politicamente. O velho líder vai se recolher aos seus afazeres empresariais — é um dos maiores plantadores de soja de Goiás — deixando a política de lado? É difícil que isso ocorra. O sangue do líder peemedebista deve ter em iguais quantidades plasma, leucócitos, hemácias, plaquetas e política.
Diz-se que Iris pode apoiar o petista Antônio Gomide. Pode ser, mas é difícil imaginar que ele trabalhe contra seu próprio partido. Então, ele vai simplesmente se ausentar do processo, assistindo de camarote a campanha eleitoral? Também é difícil imaginar isso de um político como Iris Rezende.
Antes da renúncia, nos bastidores correu que Iris disse que se não fosse o escolhido para disputar a sucessão, iria se recolher, ficar na dele, sem pedir voto para o candidato de seu partido. Em outras palavras, iria lavar as mãos. E voltaria em 2016, novamente disputando a Prefeitura de Goiânia. Pode ser que tenha falado isso. E pode até ser que tenha falado a sério.
Mas voltar a ser prefeito de Goiânia? Um pleito que ele já enfrentou e venceu por três vezes? Aliás, quatro, porque a reeleição do petista Paulo Garcia em 2012 foi única e exclusivamente pelo trabalho que o peemedebista havia realizado nos mandatos anteriores. Que desafio seria esse? Convenhamos, ser prefeito de novo seria assim um retrocesso na carreira de quem tem um currículo como Iris Rezende.
Assim que passar o impacto da derrota — sim, a renúncia foi uma derrota, embora nem os friboizistas queiram que isso se escancare nesses termos —, o grande líder deve dizer o que pretende fazer. Um derrotado tem mágoa e a mágoa não é boa conselheira. Friboi precisa de Iris Rezende. Senão na chapa, o que parece cada vez mais difícil, pelo menos o apoiando de forma explícita. Sem esse apopio, a chance de Friboi ter sucesso é mínima.
Foi a velha estratégia novamente?
Na sexta-feira, 2, o vereador Mizair Lemes, presidente do diretório municipal do PMDB, afirmou que o recuo da pré-candidatura de Iris Rezende é jogada política. Em entrevista ao Jornal Opção Online, o vereador disse: “Iris não foi [para convenção] para não haver desgaste. Ainda tem muita coisa para acontecer até a decisão final do partido”.
Questionado se essa jogada seria esperar o resultado da pré-campanha de Júnior Friboi surgir, para em seguida, caso a pré-candidatura do empresário não decole, se colocar à disposição novamente do partido, o vereador lembrou que em 1998 era para o Roberto Balestra ser o candidato ao governo estadual pela oposição, mas no último minuto foi Marconi. “Esse tipo de coisa pode acontecer.”
Essa “jogada” já tinha sido aventada por analistas políticos desde quando Friboi se colocou como pré-candidato com a anuência de Iris. Mizair disse que “tudo é possível” até a data de escolha oficial do candidato ao governo do Estado, em junho, e reiterou que Iris tem maioria nos votos em caso de convenção – mesmo discurso dos friboizistas em relação ao apoio ao empresário,
Um dos líderes do movimento pró-Iris, o ex-deputado estadual José Nelto tem opinião diferente. Ele diz que o motivo da saída de Iris do páreo foi para não dividir o partido em convenção, e que não há volta em sua decisão. “Só se o Júnior entregar os pontos. Aí ele mostra que ele não tem compromisso com o partido e que é um covarde.”
José Nelto explicou que no momento defende que Iris seja o candidato ao Senado Federal, e que caso não haja acordo entre as duas alas do partido (friboizista e irista), Iris vá com uma candidatura independente — o que não é possível, uma vez que o partido só pode indicar um candidato. “O que não pode é ele ficar de fora da disputa eleitoral.”
Questionado se não há chance para o retorno de Iris mesmo se Júnior Friboi não conseguir emplacar sua candidatura, o ex-deputado afirmou que isso já não cabe aos iristas decidirem. “O futuro do partido está nas mãos de Friboi.”
Nelto acredita que Iris tem a maioria no partido, então cabe ao líder maior do partido e seus apoiadores decidirem agora.