Irapuan Costa Junior: “Jornal Opção é uma publicação que aprofunda os fatos”
21 novembro 2015 às 13h53

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Como articulista e colaborador, ex-governador se tornou peça importante para um veículo que priorizou a valorização da análise ante o simples recorte dos acontecimentos

Frederico Vitor
O ex-governador de Goiás Irapuan Costa Junior foi peça fundamental para a fundação do Jornal Opção, que completará 40 anos de existência no dia 19 de dezembro. O ex-chefe do Executivo estadual, que governou de 15 de março de 1975 a 15 de janeiro de 1979, foi entusiasta de um veículo que faria muito mais do que um simples recorte dos fatos. Nascia um jornal com a missão de ir além, de levar as notícias aos leitores com exatidão, juntamente com a análise aprofundada dos acontecimentos. É justamente esta tônica que ainda norteia os rumos editoriais do semanário.
Outro fato que merece relevância foi o ambiente de liberdade em que o Jornal Opção foi fundado, apesar de que, na época, o Brasil vivia sob o comando de um regime militar. O general Ernesto Geisel ditava as ordens no gabinete da Presidência da República e o País caminhava para um abrandamento político, restituindo liberdades individuais. Nesta atmosfera, o veículo fazia um jornalismo que se propunha a esmiuçar as entrelinhas do poder e os fatos que pautavam a sociedade. Sem poupar críticas pontuais feitas com inteligência aos Palácios do Planalto e das Esmeraldas.
Consulta às edições da época mostra manchetes em letras garrafais convocando os leitores a tomarem conhecimento, em textos consistentes, dos bastidores do poder. Reportagens não poupavam críticas a políticos, principalmente acerca das decisões e diretrizes governamentais tomadas por Irapuan Costa Junior à frente do Executivo estadual.
Na edição número 75, por exemplo (de 15 de março de 1977), o Jornal Opção fez um balanço dos dois primeiros anos da administração de Irapuan. O veículo fez uma análise concisa deste primeiro período da gestão e ressaltou os principais feitos, como a implantação do Sistema de Transporte de Massa de Goiânia que, mais adiante, se tornaria o Eixo-Anhanguera. Além disso, a construção do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia) merecia amplo debate por ser um marco para nova direção econômica pretendida para o Estado. A reportagem assinalava que a iniciativa do Daia sinalizava uma tentativa de diversificação da economia goiana que, naqueles anos, era predominantemente agropastoril.
Em relação ao Eixo-Anhanguera, o Jornal Opção levantou grande debate em sucessivas edições, que traziam diferentes pontos de vistas em relação à escolha do melhor modelo de transporte de massa em Goiânia. Incluindo uma ampla discussão sobre o metrô. Inicialmente, se projetava um trem de superfície sobre a Avenida Anhanguera. O cérebro do projeto, o urbanista paranaense Jaime Lerner, veio à capital de Goiás a pedido do governador e do presidente Ernesto Geisel. O Jornal Opção, entusiasta do assunto, chegou a enviar um repórter para entrevistar Lerner em Curitiba.
Na edição de número 47, publicada em 9 de novembro de 1976, o Jornal Opção trouxe como manchete a visita do presidente Geisel a Goiânia, na inauguração do sistema de transporte que atualmente é o Eixo-Anhanguera. O veículo foi um dos poucos que conseguiu entrevistar o chefe do Executivo federal. A vinda do general à capital foi noticiada como essencialmente política. O jornal defendia que Irapuan Costa Junior “era o homem certo para construir em Goiás uma obra política e administrativa à imagem e semelhança de Geisel.”
Sucessão de governo
Não somente o fatos administrativos do governo eram objetos de análises do Opção. Na medida em que o governo de Irapuan se aproximava do final, havia atenção editorial em relação ao processo sucessório. Os diferentes grupos ligados às estruturas do governo, divididos em alas divergentes quanto ao abrandamento do regime, se articulavam para ascenderem ao poder. Na edição 141, publicada no dia 15 de abril de 1978, o veículo defendia o comportamento e a isenção de Irapuan Costa Junior. “A sua atuação esteve sempre acima de qualquer suspeição”, assinalava trecho de reportagem de manchete.
O ex-governador dizia em entrevista que o próximo governador necessitaria de uma bancada federal majoritária e atuante, além de maioria tranquila na Assembleia Legislativa. “Será imprescindível para ele o respaldo da classe política”, afirmava. Por conta da sucessão Irapuan Costa Junior foi várias vezes visitar o presidente Geisel no Palácio do Planalto, em Brasília.
Diante das movimentações em torno da escolha de um sucessor de Irapuan no governo estadual, o Jornal Opção era crítico ao modo como o processo foi tocado. As análises eram duras em relação à forma burocrática, fechada: “Ora, nada disso será possível com as soluções de gabinete, com os ajustes a portas fechadas, com a escamoteação dos direitos que o povo tem de participar. Sabe o governador e sabemos todos nós que unanimidade não é sinônimo de liberdade. Mas deve saber igualmente que há no povo a mais extraordinária capacidade de análise dos fenômenos políticos e sociais.”
“Pode acontecer — o que nos parece pouco provável — que o candidato seja uma surpresa para o próprio governador, recrutado fora dos nomes que a pesquisa e a opinião pública projetaram, o que não anula uma liderança que se revelou captando as aspirações maiores da comunidade. Seja como for fica a esperança de que esta será a última eleição indireta, devolvendo-se ao povo o direito de escolher livremente os seus governantes. O povo erra às vezes. Mas não abre mão de uma prerrogativa que confirma a sua soberania”, diz um inflamado trecho da reportagem.
“O Jornal Opção sempre foi um veículo diferenciado”

A reportagem foi até o escritório do ex-governador Irapuan Costa Junior para entrevistá-lo, em busca de memórias sobre aquele período de gestação do Jornal Opção. Receptivo, o hoje empresário não hesitou em dizer que o veículo continua diferenciado, fiel a sua proposta inicial de fazer um jornalismo analítico e crítico dos principais fatos em debate na sociedade.
O sr. foi governador de Goiás de 15 de março de 1975 a 5 de janeiro de 1979, época em que o Jornal Opção se consolidava. Como via o semanário naquele contexto em que inexistia um jornalismo de análise?
Na época, esta ideia foi trazida pelo jornalista Herbert de Moraes, que considero um visionário. Ele teve apoio muito grande de Melchior Duarte, que era meu secretário de Governo, uma pessoa que conhecia muito bem o meio empresarial e jornalístico de Goiás. Recebemos a ideia de fazer um jornal diferente e analítico com muito entusiasmo. De fato, o Jornal Opção sempre foi um jornal diferenciado.
Qual era o diferencial do Jornal Opção em relação às outras publicações?
O Jornal Opção entrava muito mais no assunto. Não era apenas um jornal noticioso, se preocupava em ser uma alternativa. O jornal perseguia mostrar os reais motivos dos fatos políticos e culturais, numa interpretação precisa.
Que tipo de apoio o sr. deu ao Jornal Opção?
Não me recordo bem, mas era o mesmo apoio que dávamos aos outros jornais, sempre por meio de anúncios. Apoiávamos de uma maneira ou outra, com informações e abrindo arquivos do Estado para pesquisas. Também participávamos ativamente, como fiz várias vezes no Jornal Opção, escrevendo artigos. A ajuda vinha até mesmo com recursos. Na época, procurei dar todo apoio institucional possível.
O sr. lembra qual foi o impacto causado pelo Jornal Opção na época, ou seja, um jornal analítico que aprofundava as principais discussões da sociedade em pleno regime militar?
O Jornal Opção sempre foi diferente. Os leitores procuravam o jornal porque não queriam simplesmente saber dos fatos. O leitor gosta de saber dos bastidores e aprofundar mais no assunto para ter conhecimento sobre o que gerou o fato. Por isso insisto, o Jornal Opção sempre foi diferenciado.
Na primeira edição do Jornal Opção, publicada em 19 de dezembro de 1975, havia uma discussão em relação ao metrô de Goiânia, algo que, 40 anos depois, ainda se discute, porém em forma de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O sr., na época, conseguia enxergar que o jornal tinha proposta de pautar o governo em diferentes discussões da sociedade?
Nós sabíamos que o Jornal Opção era um veículo que promovia um debate mais profundo dos assuntos mais comentados pela sociedade. Nós fazíamos uma aposta, mas não sabíamos o que poderia acontecer. Mesmo porque muitos jornais tiveram a vida muito curta e, até hoje, muitos órgãos de imprensa surgem para fechar as portas mais adiante.
O Jornal Opção é um veículo de ideias e propostas. Por conta disso, às vezes, havia críticas pontuais em relação ao governo estadual. O sr., como governador, como lidava com essa situação?
Sempre procurei enxergar isso com muita naturalidade, tanto em relação às críticas favoráveis quanto desfavoráveis. Isso faz parte da democracia. O Brasil naquela época estava se redemocratizando e o governo do presidente Ernesto Geisel dava abertura que, aliás, enfrentava dois tipos de oposição. Uma era da parte mais dura do regime que não queria abertura, já a outra era a esquerda armada que queria outro regime forte. Ou seja, eles queriam verdadeiramente um regime ditatorial no lugar do militar que governava o Brasil. Embora o governo daquela época fosse de austeridade e mais duro, nunca poderia ser chamado de ditadura.
Como era a imprensa, tanto local quanto nacional, na época em que o sr. governou Goiás?
Estamos falando de uma época de abertura, portanto a imprensa não se diferenciava muito do que ela é atualmente. Embora naquela época houvesse censura, ela que não era generalizada. A censura visava muito a questão da esquerda armada, e se tentava evitá-la para que sua divulgação não fosse ampliada. Mas, atualmente, temos outro tipo de censura, que é a econômica. Nessa época a censura de fato estava praticamente extinta por conta da distensão promovida pelo presidente Geisel e pelo general Golbery do Couto e Silva. Não se usava naquele período a censura econômica como se usa atualmente. A imprensa teve um grau de liberdade bastante brando, e noticiava fatos que hoje, provavelmente, não noticiaria. A greve dos caminhoneiros deflagrada na semana passada, por exemplo, teve uma cobertura muito pequena dos órgãos de imprensa. Isso se dá porque o governo pressiona, de maneira geral, para evitar a amplitude deste fato. As grandes paralisações praticamente não saíram nos jornais.
Como o sr. enxergava o jornalista Herbert de Moraes?
Herbert sempre foi um idealista, um jornalista pioneiro neste novo tipo de imprensa que é representada pelo Jornal Opção. Um homem visionário que sempre foi um batalhador.
Atualmente, o jornalismo impresso, principalmente o diário, está suplantado pela internet. Ou seja, as notícias já chegam perecidas nas bancas de jornais. Já o Jornal Opção apostou no jornalismo analítico acerca dos acontecimentos. O sr. já percebia tal característica em meados da década de 1970?
Não porque naquela época ainda não existia esta discussão na imprensa, por isso considero o Herbert um visionário. O jornalismo instantâneo, que superou o impresso na rapidez de informar, foi surgir na década de 1990, com o advento da internet. A televisão conseguia trazer as notícias com maior agilidade, juntamente com o rádio, porém o jornalismo destas mídias não aprofundava os fatos. O rádio foi diminuindo a influência por não trazer imagens.
O sr. é colunista e colaborador do Jornal Opção. Como avalia o veículo atualmente? Continua um jornal diferenciado?
O Jornal Opção luta com dificuldade por ser um veículo regional. Goiás, apesar de pertencer ao grupo das dez maiores economias do Brasil, ainda é uma unidade federativa periférica do ponto de vista econômico. Isso se reflete em todos nós e não é diferente em relação ao Opção. Eu diria que a profundidade do jornal é muito grande. Se fosse editado em São Paulo, por exemplo, teria uma projeção como tem o “Valor Econômico”, ou seja, muito voltado para análise da política e economia. Mas estamos em Goiás, um Estado de economia deficiente. Nosso potencial econômico é grande, mas ainda é baseado na agropecuária. Somente agora que a indústria está despontando. O Jornal Opção é um veículo que luta bravamente e está se impondo principalmente no meio eletrônico. Em números de acesso, diria que deve ser o principal veículo em divulgação virtual.

O sr. disse que Goiás ainda é um Estado periférico e distante das grandes decisões do País. Como era o Estado na época em que o sr. governava?
Mais difícil ainda porque era essencialmente agrário. Havia quase que uma monocultura do arroz. Naquela época havia um incentivo muito grande do governo federal e se começou a plantar o algodão na região do município de Santa Helena que depois se expandiu para a soja. Ao mesmo tempo, houve um aumento muito grande da área pastoril, isso porque o capim braquiária se adaptou muito bem ao Cerrado.
O sr. foi idealizador do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), que foi objeto de muita discussão Opção naquela época. O sr. já projetava que a cidade se tornaria o maior polo industrial do Centro-Oeste?
Fizemos um esforço muito grande para realizar aquele distrito e conseguimos inaugurá-lo com a presença do presidente Geisel. Atualmente, quem vê o Daia, consegue perceber que de fato foi uma obra de sucesso, assim como também a implantação do Eixo-Anhanguera, que foi bastante discutido pelo Jornal Opção. Nós conseguimos apoio do governo federal para efetivar ambos os projetos. Válido ressaltar que Anápolis sempre teve uma excelente localização, no entroncamento de leste-oeste e norte-sul, entre Goiânia e Brasília, duas importantes capitais. O anapolino, de maneira geral, sempre teve esta visão industrial. O Daia foi algo que realmente deu certo, um dos distritos industriais mais exitosos do Brasil. Foi muito bem estruturado, tanto que cresceu enormemente.
Sobre o Eixo-Anhanguera o sr. trouxe um urbanista de outro Estado para pensar em um grande projeto de transporte de massa em Goiânia. Isso suscitou amplo debate no Jornal Opção, acompanhado de críticas.
Perfeitamente. O paranaense Jaime Lerner fez o projeto e recebemos muitas críticas por isso. Mas o Eixo-Anhanguera está aí até hoje. Ninguém fez mais nada de expressão no transporte de massa para Goiânia depois disso.
Já se falava em metrô e o Jornal Opção levantou a discussão. Como o governo daquela época projetava uma obra de tal magnitude?
Era um metrô de superfície que iria substituir os ônibus do Eixo-Anhanguera. Não seria propriamente um VLT, que somente agora poderá do papel. Naquela época, seria uma obra com recurso federal, já que o Estado passava por uma situação financeira muito complicada.
Atualmente, Goiânia tem o segundo maior polo aeronáutico de manutenção de aeronaves civis do Brasil. Em breve, o novo terminal aéreo de Goiânia será inaugurado, depois de uma década de atrasos. Em seu governo se falava em expandir o Aeroporto Santa Genoveva?
Não. Naquela época a aviação comercial era muito mais restrita do que é atualmente. O aeroporto da capital atendia bem a demanda. Mas já se pensava, chegamos até mesmo a fazer alguns estudos, em um aeroporto maior, mas não era algo prioritário. Embora naquela época o movimento de aeronaves em Goiânia fosse algo extraordinário.
A Base Aérea de Anápolis (BAAN) foi inaugurada em 1972, antes de seu governo e da fundação do Jornal Opção. Mas o sr. era presidente da Celg. De que maneira o sr. contribuiu para a instalação daquela unidade militar de defesa aérea, que é a mais importante do País?
Lembro-me que, quando presidente da Celg, os militares nos procuraram para que pudéssemos levar energia elétrica para o canteiro de obras. E nós lavemos em 1971. Demos todo apoio possível, e percebíamos que naquela altura as obras estavam caminhando em um ritmo muito rápido.