Influenza preocupa organizações nacionais e mundiais

17 março 2019 às 00h00

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Segundo OMS, próxima pandemia é imprevisível, mas inevitável. Dado o aumento da globalização, urbanização e mobilidade, contágio será maior e mais rápido

Cem anos atrás a gripe espanhola, “a mãe de todas as pandemias”, matou 5% da população global. Em 12 meses cerca de 50 milhões de pessoas morreram – mais do que na Primeira Guerra Mundial, mais do que a AIDS em toda sua história. Entre as vítimas, o então presidente do Brasil, Rodrigues Alves, que morreu no contágio em 1919. Apesar de os sintomas daquela infecção serem diferentes (as vítimas da gripe espanhola sangravam pelo nariz, olhos e ouvidos), o vírus que a causava era o influenza H1N1, contra o qual lutamos até hoje.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um bilhão de casos de influenza aconteçam anualmente, ocasionando 290 a 650 mil óbitos em todo o mundo. De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), no ano de 2018 o Brasil teve 35.534 casos e 5.270 óbitos pela de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Os números de casos reportados de SRAG quadruplicaram em Goiás nos últimos seis anos.
Enquanto o fardo econômico de uma pandemia severa, como a de 2009, gira em torno de 500 bilhões de dólares, o custo estimado para sua prevenção é de apenas U$ 4,5 bilhões. Para mitigar os impactos do contágio, a OMS lançou na segunda-feira, 11, suas Estratégias Globais do Influenza para 2019-2030. O plano é considerado pela organização o maior em relação a este problema. Entre as metas está a vacinação dos grupos vulneráveis em todo o mundo.
O vírus é especialmente problemático porque possui a capacidade de se recombinar e passar por mutações periódicas que dificultam seu reconhecimento pelo sistema imunológico. Por isso, todos os anos, centros de vigilância recolhem amostras das cepas dos vírus circulantes na população local e enviam as análises à OMS, que, com base nesses dados, geram orientações para laboratórios criarem as vacinas.
Segundo o Sinan, no ano passado 57% do total das amostras do influenza recolhidas correspondiam ao vírus tipo A H1N1, 24% ao tipo A H3N2 e 10% ao tipo A não subtipado. Por isso, as vacinas distribuídas pelo SUS de 15 de abril a 31 de maio na Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza serão trivalentes, imunizando aqueles que a receberem contra essas três cepas do vírus.
Em Goiás

Houve um salto de 426 casos anuais em 2013 para 1.584 em 2018 no Estado de Goiás. Segundo a infectologista Renata Bernardes, isso na realidade se deve a uma melhora no sistema de notificação e não a um surto da doença. “Houve também no ano de 2017 uma redução na vacinação. Então, em 2018, aumentou o número de casos, alguns com gravidade. A mídia noticiou óbitos e a população voltou a buscar a vacina”, afirmou a profissional.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que 107,14% da população prioritária foi vacinada em 2018. Isso significa que, além de 1.301.902 pessoas nos grupos de risco, foram aplicadas 92.957 doses em pessoas fora do público-alvo. De acordo com Renata Bernardes, “se atingirmos a meta de 95% do grupo prioritário vacinado, acabamos fazendo um bloqueio para as outras pessoas também – o vírus circula menos e o risco de pessoas não vacinadas contraírem a doença diminui”.
A médica infectologista afirmou ainda que um dos principais empecilhos é que muitas pessoas associam a vacinação apenas a casos de gripe sórdida e só a procuram quando já estão doentes. A profissional e a Secretaria de Estado da Saúde lembram de hábitos importantes para a prevenção, como cobrir o nariz e a boca com lenço ao tossir ou espirrar; lavar as mãos com água e sabão com frequência; evitar tocar olhos, nariz ou boca; não compartilhar objetos de uso pessoal; manter os ambientes arejados e evitar aglomerações.
As categorias consideradas de risco e que receberão a imunização pelo SUS são: pessoas de 60 anos ou mais de idade, crianças de seis meses a seis anos de idade, gestantes, puérperas (até 45 dias após o parto), trabalhadores de saúde, professores, povos indígenas, portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade sob medidas socioeducativas, a população privada de liberdade e os funcionários do sistema prisional.