Inconsistências no cronograma vacinas contra Covid-19, pelo Governo Federal, dificulta retorno das aulas presenciais

30 abril 2021 às 22h30

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Caso doses sejam entregues no prazo certo, Governo Estadual pretende vacinar servidores da Educação até final de julho e retomar aulas em agosto
Na última semana o governador Ronaldo Caiado anunciou a vacinação dos servidores da Educação para o mês de maio, em evento em Goianira. “Antes do final do mês de maio vocês já vão entrar na vacinação”, prometeu o gestor estadual, ao assinar ordem de serviço para a construção de uma quadra de esportes em um colégio da rede pública. A intenção do governador em priorizar os educadores é que as aulas retomem logo no início do segundo semestre de 2021, em todo Estado.
“Hoje, eu diria a você que, com a vacinação, no dia 2 de agosto nós estamos trabalhando com uma possibilidade muito grande e real de retornarmos com as aulas presenciais”, confirmou a secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, ao Jornal Opção.

“O governador inicia o processo de vacinação a partir da segunda quinzena de maio, e é claro que ele vai seguir o Plano Nacional de Imunização com relação ao critério da idade. Vamos continuar aí [a partir dos] 59 anos… Até porque quem tem acima de 60 anos já está vacinado. Então com 59, 58… E assim sucessivamente até chegar aos 18 anos”, afirmou.
“Não acredito que a gente consiga, iniciando na segunda quinzena de maio, todo mundo [vacinado] até o final do mês, mas até o final de julho. Eu creio que, se o Ministério da Saúde mantiver fidelidade em relação ao envio das vacinas, será possível vacinar todos os servidores da rede pública estadual, privada e municipal da Educação Básica até o final de julho”, informou.
Segundo Gavioli, a vacinação não será razão para relaxar nas medidas de segurança no retorno das aulas. “Não será flexibilizada. Mesmo com a vacinação, vamos seguir rigorosamente as normas do COE e o protocolo de segurança do gabinete de crise que foi elaborado já também com a secretaria de Educação”, garantiu.
O professor Glauco Roberto Gonçalves, do Centro de Ensino e Pesquisa aplicada a Educação (Cepae) da UFG, lembrou que o Ministério da Saúde não tem cumprido com o cronograma de distribuição das vacinas contra Covid-19. “Se a gente pensar, desde o começo da vacinação e da aprovação das vacinas no Brasil, as datas têm sido constantemente alteradas e os prazos estendidos”.
Impactos da falta de aulas

Ele pontuou os prejuízos da falta de aulas presenciais para os estudantes. “A gente sabe que as escolas fechadas têm muito desdobramentos, e desdobramentos muito profundos, e consequências ainda que a gente vai passar muito tempo sentindo desse ano sem aulas presenciais”, disse. “A gente sabe que tem muitos estudantes da rede pública que só comem, ou que tem a escola, como um uma garantia de alimentação diária. Isso já é um ponto absurdo. Para não falar nos processos cognitivos, de ensino, de conteúdos e de formação acadêmica desses estudantes. Também humana, porque a escola é um lugar de convívio e essa é uma dimensão muito importante do sentido da escola”, aponta.
“Então a escola é um lugar de comer, é um lugar de conviver, de aprender. A ausência em caráter presencial gera, como eu já disse, uma série de problemas, de ausências que são muito profundas”, reforçou.
Para Glauco, mesmo que a vacinação dos profissionais da Educação ocorra no prazo estimado, ainda é cedo para planejar um retorno. “Vacinar os professores e as professoras, os profissionais, coordenadores, diretores de escola, ainda não é o suficiente para que o retorno às aulas presenciais se dê de maneira e adequada, porque isso só vai acontecer quando todo conjunto da comunidade escolar estiver vacinada”, opinou.
“Em suma para que as escolas voltem de maneira segura, todos que a frequentam precisam antes ser vacinados, do contrário a gente vai gerar um locus de contágio muito eloquente e muito significativo, que vai ampliar essa tragédia que está em curso no Brasil”, argumentou. “As crianças são muito enérgicas, e que bom que as crianças tocam o rosto, colegas, muitos objetos, vão tirar essa máscara, vão se aproximar, que é próprio dessa intensidade, dessa energia da infância.”
Escola na pandemia
Coordenador do projeto “Escola na pandemia”, Glauco explica que se trata de um levantamento realizado a partir de abril de 2020, que se estendeu ao longo de alguns meses até junho do mesmo ano, em que ele coletou denúncias, depoimentos, entrevistas e formulários pelas redes sociais, que agora ajudam a compor o projeto de pesquisa do Centro de Ensino e Pesquisas Aplicados em Educação da UFG, para compreender a escola como ambiente de convívio social e de troca.
“A escola tem essa dimensão um pouco apagada, pouco observada e tratada, mas é extremamente importante essa função da escola”, ressalta. “Ainda mais nesse mundo em que os jovens, as crianças, têm pouca oportunidade de convívio social coletivamente. Então, a escola é um lugar, por excelência, desse convívio entre jovens, entre crianças.”
“Quando a pandemia começou, eu tentei observar as consequências dessa quebra. É algo que eu sigo tentando entender agora e o que eu posso dizer é que a escola constitui um pilar muito importante na vida de, não só dos jovens, das crianças, mas dessas famílias todas que compõe a sociedade brasileira, porque a escola é um lugar onde tem comida, convívio, ensino, aprendizagem e se concretiza um projeto de sociedade”, conta.
“A escola na pandemia está tentando acolher depoimentos, abarcar um olhar, um estudo sobre essas dimensões da perda do convívio escolar e as aflições todas que passam por isso de jovens e crianças que não tem estrutura necessária para ter um ensino remoto minimamente eficaz. Seja, porque a casa não tem internet, ou porque tem a internet só no celular com um pequeno banco de dados . Como é que se lê textos, como é que se escreve no celular? A grande maioria das casas não tem computadores e internet, ou mesmo um ambiente adequado pra estudar, sobretudo na rede pública”, pondera o pesquisador.